MAIS DO MESMO

Bom dia, Tomsk!

O dia seguinte acordou solarengo e sorridente. Depois de um pequeno-almoço fraquinho, saí para a rua convencido que ia levar com "mais do mesmo" - mas a verdade é que o passeio acabou por ser uma agradável surpresa, com as bem-preservadas casas tradicionais de madeira, muito do género das que já vira em Suzdal, mas maiores. Agora sim, começo a gostar mais de Tomsk. Ontem conquistou-me o estômago, hoje a máquina fotográfica. Daqui a nada estou a casar-me - mas primeiro tenho de encontrar um daqueles cadeados pirosos para prender a uma ponte. Ah: e uma noiva.

É mesmo gira, a cidadezinha, não é?

Depois das voltinhas matinais, regressei ao sítio dos crepes. Mal me viu entrar, a simpática velhota disparou um "chicken cheese", eu só disse que sim e ri-me, mas ela chamou-me junto dos ingredientes outra vez. Apontou para outros, disse "qualquer coisa, tartar sauce" e eu segui a dica.

(outra vez sem palavras)

Peço desculpa pelas constantes interrupções, mas é mesmo difícil descrever aqueles crepes. E da mesma forma que é feio falar de boca cheia, sinto-me como que constrangido em escrever seja o que for, enquanto saboreio os crepes da Dona Natasha. Ou Dona Olga. Ou Dona Natália. Mais um desses nomes russos que eles têm a mania de ter, na Rússia - mas com "Dona" antes.

Depois de almoço voltei para o hotel, fiz o check out e apanhei um tram antigo para a estação. Como o próximo autocarro só saía lá para as quatro da tarde, voltei para a rua e fui saber se havia alguma marshrutka prestes a sair.

Meia hora depois: arrancámos. E que pena: nem todas as viagens de marshrutkas são "um filme". De qualquer forma, deu para fazer conversa com um estudante de nano-engenharia do Cazaquistão, que tinha vindo matricular-se na Universidade de Tomsk. O Silêncio do Costume, dentro da viatura, foi substituído por um Novo Silêncio. Em vez de enfiados dentro deles próprios, os russos nesta marshrutka viajaram concentrados nos dois estrangeiros - curiosos sobre estes estranhos seres que faziam coisas maravilhosas como... conversar.

Boa tarde, Novosibirsk!

De volta a Novosibirsk, as nossas vidas tomaram diferentes rumos. Ele foi para casa de um tio. Eu fui passear pelo centro da maior cidade da Sibéria, caminhando sempre na direcção da estação de comboios.

À noite: mais do mesmo. Repeti a sequência de eventos e movimentos que tem sido um dos símbolos desta aventura:

Joguei sudoku na sala de espera, onde
esperei que anunciassem o "meu" comboio, e então
dirigi-me à respectiva plataforma, onde
saquei do bilhete de comboio e do passaporte,
apresentei-os à provodnitsa de serviço, a quem
agradeci com um sorriso, e finalmente
entrei na carruagem,
procurei o meu lugar e
instalei-me.

Com novo entusiasmo: vamos lá para Krasnoyarsk! Temos pela frente mais uma noite sobre carris - mais do mesmo. Mas sabe bem - há que dizê-lo. Sabe bem dormir embalado pelo ritmo do comboio, sonhar mundos mágicos e acordar num lugar diferente, longe daquele onde adormecemos antes, olhar para o mapa a perceber que pouca-terra, pouca-terra, lá vamos nós em direcção ao outro lado do mundo.