31/05/2013

SURPRESA Nº 4: BACALHAU

O segundo autocarro do dia chegou ao seu destino, Punta del Diablo, já noite cerrada. Como foi uma viagem não planeada, decidida "em cima do joelho", não tínhamos qualquer expectativa sobre o que nos esperava. O novo plano era ficar ali uma noite e sair, na manhã seguinte, para Cabo Polónio, o tal muito bem recomendado, e que nem ficava longe.

Mas assim que chegámos, percebemos que este lugar não tinha nada a ver com a ibizesca Punta del Este. Fomos largados numa estrada de terra batida, perto de um pequeno restaurante praticamente vazio - que era a única porta aberta. Tudo o resto estava de luzes apagadas.

Tínhamos encontrado no guia um hostel chamado "El Diablo Tranquilo" e perguntámos por direcções a uma pessoa que estava à porta do restaurante.

"Segues por aquela rua, viras na terceira à direita, ou será na segunda... bem, mas depois é a primeira à esquerda e sobes... tens o hostel do lado direito... não, do lado esquerdo... é mais ou menos por aí", e apesar de tudo lá fomos pelas ruas largas mal iluminadas, sempre por terra batida, entre casas com "boa pinta", algures entre cabanas de praia e casas "de arquitecto". Não se via viv'alma na rua, mas também não nos sentíamos ameaçados.

A primeira impressão de Punta del Diablo não podia ser melhor. Apesar de ainda nem termos a noção de onde estávamos, apesar de estarmos perdidos à noite numa terra que não conhecíamos... a verdade é que este lugar tinha uma energia especial.

Quando vimos uma bicicleta a descer por uma rua, acenámos a pedir ajuda. Estávamos completamente à nora. O rapaz fez sinal para sairmos da frente e passou por nós com um sorriso rasgado, mas sem conseguir parar a tempo. Não tinha travões. Mais à frente conseguiu abrandar e deu a volta, voltou para perto de nós a rir e perguntou se podia ajudar.

"Sabes onde fica o Diablo Tranquilo?"

"Sim, claro. Descem por esta rua e viram na segunda à esquerda, sobem e vão ver o hostel do lado esquerdo, mais à frente. Querem que eu vá convosco?"

Agradecemos a simpatia e deixámo-lo seguir caminho, não havia necessidade de nos acompanhar, agora que estávamos tão perto. Mas a sinceridade do gesto tocou-nos, e chegámos ao Diablo Tranquilo com um sorriso estampado nos rostos.

No hostel estavam mais de dez pessoas a beber e à conversa, o lugar parecia muito simpático e com "boa onda". Mas estávamos cansados e cheios de fome, por isso largámos as mochilas na camarata e saímos quase de imediato, à procura de comida.

E agora entra o bacalhau.

Apesar da grande surpresa do dia ser Punta del Diablo propriamente dita, penso que essa surpresa só seria completamente revelada na manhã seguinte. Por isso dividi os relatos de hoje em quatro, com as pequenas quatro surpresas... e a quarta, que é a estrela deste post, é o bacalhau.

Quando finalmente nos sentámos à mesa de um restaurante (vazio, mas era o único ali perto e estávamos cheios de fome), muito nos surpreendeu o facto do menu conter dois pratos feitos à base de bacalhau. Pedimos duas Patrícias e depois de estudarmos todas as opções, decidimos experimentar:

O Bunty pediu o Bacalhau à Veneziana com papas de milho, uma receita renascentista - segundo o menu - inventada por Miguel Angel Buonarotti, que segundo a wikipedia era um escultor, pintor, poeta e engenheiro italiano, um dos melhores do seu tempo, o primeiro a quem foram dedicadas duas biografias, e que teve uma influência sem paralelo no desenvolvimento da arte ocidental. Nunca tinha ouvido falar do senhor, mas o bacalhau estava óptimo e fiquei curioso ;)

E porque queríamos experimentar mais que um novo sabor, pedi os raviolis de bacalhau com molho de tomate e amêndoa. Que combinação de sabores! Estava óptimo, muito saboroso... mas apetecia-me algum picante. Falta um bocadinho de picante.

O Bunty vinha traumatizado com a falta de picante na Argentina, apesar de ter gostado da comida lá. Em Montevideo também não tivémos sorte, a única coisa que nos deram nos restaurantes fora pimenta preta - que não é bem um picante, convenhamos.

Por isso, quando pedimos neste restaurante se tinham picante, qual não foi a surpresa quando nos trazem um piri-piri. E, caso, prefiram, têm aqui Tabasco. Ou então malaguetas esmagadas.

A mesa quase encheu com as quatro opções de picante que nos ofereceram. E nós saímos para a rua de barriga cheia, felizes e satisfeitos por estes primeiros momentos em Punta del Diablo.

Vamos a contas: mais do que apenas o bacalhau, neste post há a surpresa do picante, a surpresa do hotel, a surpresa desta simpática terrinha chamada Punta Del Diablo.

O Cabo Polónio que se "ponha a pau", que este lugar está mesmo a pedir para ficarmos só mais um bocadinho....

SURPRESA Nº 3: URBANIZAÇÕES

A terceira surpresa do dia não foi bem uma surpresa. Na verdade já tinha a impressão de que Punta del Este não devia ser nada de especial... mas mesmo assim alimentámos esperanças e acreditámos que valia a pena ficar aqui uma noite, seguindo na manhã seguinte para Cabo Polónio, que nos fora muito bem recomendado.

Logo aos primeiros metros percorridos no perímetro urbano da localidade percebi que este lugar não era para nós. Urbanizações ao estilo mediterrânico, relvados e palmeiras, tudo muito "organizadinho", planeado ao pormenor, mais um Algarve, mais uma Ibiza. Igual em todo o lado. Alguns prédios ao longe, rodeados de um mar e um céu cinzentos - prometia chuva.

É assim a vida: nem todas as surpresas têm de ser boas.

Ou seja: a primeira coisa que fizemos, mal saímos do autocarro, foi perguntar quando é que partia o próximo.

E a segunda coisa que fizemos foi atravessar a estrada até à praia, para fotografar uma famosa estátua de uma mão gigantesca a "sair" do areal, que aparece em tudo o que é postal - já vínhamos com intenções de a fotografar.



Chama-se "La Mano" e foi criada pelo artista chileno Mario Irrazaba, em 1982.

E ao contrário da versão que nos fora "vendida" - que a estátua é uma homenagem (mórbida, digo eu) aos afogados -, afinal o monumento celebra "a presença do Homem na Natureza". É o que diz a placa, pelo menos.

Eu "cá" gosto mais dos afogados.

E por falar em água: começou a chover. Voltámos para a estação, mas tínhamos duas horas até ao próximo autocarro, que ia para Punta del Diablo. Eu continuava com dores no joelho, não me apetecia grandes passeatas com vista para as urbanizações - por isso fiquei a escrever um pouco. Já o Bunty estava cheio de energia, tinha visto ao longe um farol que queria fotografar - e foi dar uma volta pelo centro da cidade.

SURPRESA Nº 2: CIRCO

Já na estrada a caminho de Punta del Este, vimos um circo montado junto à estrada, nos arredores da cidade - um circo chamado Portugal.

Com direito a bandeirinhas das quinas e tudo!

Foto "roubada" a www.portaldocirco.com.br

Como tínhamos wifi no autocarro, fui logo investigar e descobri que a grande atracção deste circo com 72 anos e oito gerações de histórias, é o Globo da Morte, com seis motas em perigosas acrobacias. Tem uma tenda com capacidade para três mil pessoas e 130 artistas, dos 4 aos 88 anos. Já percorreu toda a América Latina, Europa e parte de África.

Reparei que, numa entrevista, o director Silva diz que o circo não tem animais, o que achei logo "muito à frente"... mas depois de mais algum google descobri que tal facto se deve a um episódio que causou alguma polémica no Brasil e no meio circense, em que os bichos terão sido apreendidos pelas autoridades locais - por alegadamente sofrerem maus tratos.

De qualquer forma, fica registada o segundo pequeno momento-surpresa do dia: senhoras e senhoras, aplausos para... Circooooo Portugaaaaal! ;)

SURPRESA Nº 1: EMPANADAS


O dia em que saímos de Montevideo foi recheado de inesperados pormenores, de pequenos nadas e surpresas.

Mal saímos do hotel passámos numa loja de empanadas em que tínhamos reparado na noite anterior, com o objectivo de levar algumas para a viagem de autocarro até Punta del Este - e não é que, além de sabores típicos como carne de vaca, galinha ou vegetais... os senhores faziam uma originalíssima e deliciosa empanada de dulce de leche!

Exactamente, não me enganei: empanada de dulce de leche.

Pesando bem os prós e os contras, depois de ter provado uma e repetido a dose: ainda bem que só estivemos um dia em Montevideo. Empanadas de dulce de leche? Perigosíssimo!

Muito perigosíssimo :)

HASTA LA VISTA, MONTEVIDEO!

Avançamos? :)

30/05/2013

SABIA QUE... #07

...o nome completo do Uruguai é "República Oriental do Uruguai".

Uma vez que ainda não consegui ultrapassar esta (espera-se breve) fase de posts acerca de nomes, cá vai mais um. O Uruguai não se chama Uruguai. Chama-se República Oriental do Uruguai.

E porquê Oriental? Porque há muitos asiáticos no país? Porque os uruguaios têm os olhos em bico e comem com pauzinhos? Porque há muitos restaurantes chineses? Ou será que, noutros tempos, houve uma República Ocidental do Uruguai?

Nada disso: o nome advém do facto de, geograficamente, o país estar situado na margem oriental do rio Uruguai (cujo nome, na sua origem Guarani, significa "rio onde vivem os pássaros pintados").

Antes da Independência, o Uruguai chamava-se Província Oriental, e ficava a este da Província de Buenos Aires. O adjectivo acabou por se manter, mesmo depois da Independência (em 1828), mas agora com um significado diferente. Agora o país nem tem bem nome: é a república que fica a oriente do rio Uruguai. :)

PORONGO

Antes de avançar para o nome que serve de título a este post, gostava de esclarecer aqui um mal-entendido: ontem comentei acerca do facto de quase toda a gente no Uruguai andar com uma caixa de binóculos a tira-colo... pois bem: afinal não é uma caixa de binóculos.

Mereço um calduço pela estupidez.

Enfim: a tal sacola/embalagem que toda a gente leva de um lado para o outro, serve para levar o termos e a chávena do mate. Dah!

Mas voltando ao título do post: refere-se ao nome "institucional" da tal chávena com a palhinha, de onde toda a gente bebe o mate. Porongo. Mas perguntem a quem quiserem, ninguém a vai reconhecer por este nome. O Uruguai conhece-a por mate, tão simples quanto isso. E a palhinha também tem nome próprio: chama-se bombilla.

E para que não fiquem a pensar que estou a exagerar com esta conversa do mate ser uma obsessão nacional, desafiei-me a mim próprio a realizar um pequeno exercício. Sentado à espera do autocarro que nos ia levar de Montevideo para Punta del Este, concentrei-me nas pessoas que passavam e decidi-me a tentar fotografar algumas, durante um ou dois minutos, não mais que isso. Para ver quantos traziam o mate.

Das quinhentas e trinta e oito pessoas que passaram em pouco mais de noventa e nove segundos, oitocentas e doze traziam o mate com elas ;) e eu fotografei umas cinco ou seis. Depois seleccionei três fotos para ilustrar o fenómeno. A sério: são três fotos tiradas quase de uma só vez, em pouco mais de um minuto. A quantidade de gente com o termos debaixo do braço, ou a beber da palhinha, ou a encher a chávena com água quente... inacreditável.




EINSTEIN

Podemos ter "passado ao lado" das estátuas da Mafalda, Capuchinho Vermelho e Dom Quixote, em Buenos Aires... mas esta do Einstein não escapou.

E tu, Alberto, o que fazes aqui em Montevideo?

:)


FERNANDO & FERNANDA

Não sei porquê, mas ontem deu-me para escrever posts com nomes nos títulos... e parece-me que a façanha se vai repetir hoje outra vez. Deve ser qualquer coisa na água de Montevideo, que dá para isto.

O título de hoje, por exemplo, tem origem num "cadeado do amor" colocado numa pequena fonte, em Montevideo. Um cadeado, no meio de milhares!

Antes de escrever o texto deste post, fui dar uma vista de olhos pelo blog... e não é que há mais de um ano que não publico aqui fotos de cadeados?

Já é tempo de rectificar esta situação - especialmente porque dei de caras, em Montevideo, com a tal fonte cujo gradeamento estava, desculpem-me o latim, "pejado" de cadeados.

Deixo-vos algumas imagens e prometo que vou andar mais atento, a ver se encontro mais:






29/05/2013

BASAJO

Hoje estou numa de nomes... foi a Eládia Isabel que nos trouxe da Argentina para o Uruguai, a Patrícia gelada que nos refrescou as gargantas ao almoço, foi o porquê desta cidade se chamar como se chama.

E só falo dos outros?

Não: deixem que partilhe qualquer coisa sobre o meu nome.

É que aqui na América do Sul, pelo menos nos países de língua espanhola, já percebi que quando me perguntam o nome (na recepção dos hoteis, ou para comprar bilhetes de autocarro), se quiser ser entendido e que o escrevam bem à primeira, tenho de dizer:

Ror-re Basajo.

PATRÍCIA

Chegámos a Montevideo de manhãzinha - tão cedo que decidimos queimar tempo no terminal de autocarros, antes de ir procurar um hotel. Enquanto tomávamos o pequeno-almoço, comecei a reparar que imensa gente trazia caixas de binóculos. Nunca tinha visto nada assim, e até comentei com o Bunty que devia haver algum parque natural ali perto, onde se pode ver pássaros, porque não vejo outra explicação para tanta gente andar com caixas de binóculos a tira-colo.

Outros pormenores em que reparámos, tanto no terminal como durante o dia, nas volats que demos pela cidade: é comum ver pessoas a abanar a cabeça ao som de música e a cantarolar; e há uma obsessão com o mate. Já se via muita gente em Buenos Aires a beber a dita bebida através de uma chávenas especiais com a palhinha... mas aqui é a loucura. Quase toda a gente anda com a chávena e o respectivo "termos": no autocarro, nos jardins públicos, enquanto passeiam - é, literalmente, uma obsessão nacional.

Acabámos por ficar a descansar no quarto, de manhã, depois de encontrarmos um hotel. Estávamos cansados da viagem nocturna - mesmo assim saímos a tempo de almoçar. Atravessámos meia cidade a pé até ao Mercado, onde comemos um arroz de marisco que não estava nada de especial... mas fomos "apresentados" à Patrícia e gostámos logo dela.


Durante toda a tarde, caminhámos. Num ritmo mais lento do que é costume, porque ainda não estou recuperado das mazelas do trekking no Chile, mas caminhámos. Vimos o mausoléu do General Artigas, algumas igrejas e um antigo teatro, passeámos pelas ruas da cidade velha... e se por um lado a cidade não tem nada de espectacular, por outro existe um charme discreto nos pormenores, no potencial por explorar, na tímida simpatia das suas esquinas, das pessoas, do ar que se respira.
Gostei de Montevideo. Não da forma quase violenta com que me apaixonei por Buenos Aires - mas gostei. Apetece ficar um bocadinho mais, explorar melhor, perceber a sua mentalidade.

E no entanto não tínhamos muito tempo, as dores no joelho continuavam a influenciar o ritmo... precisávamos de praia. Precisávamos urgentemente de areia entre os dedos dos pés, de mar e uma toalha estendida, de dias inteiros sem fazer nada.

Decidimos ficar apenas uma noite. Amanhã prosseguimos viagem.

MONTEVIDEO


Há pelo menos duas versões acerca da origem do nome Montevideo. Uma diz que foram os Portugueses que, ao lá chegarem, disseram "Monte vide eu!"... ou seja, "eu vejo um monte!". A segunda explicação tem a ver com o registo feito pelos Espanhóis num mapa, onde identificaram o lugar da cidade como "Monte VI De Este a Oeste", ou seja, o sexto monte a contar de este para oeste.

ELÁDIA ISABEL

Só no último dia em Buenos Aires é que fomos experimentar o flan con dulce de leche do Café Tortoni - o mais antigo café da cidade, uma espécie de Brasileira cá do sítio, ponto de paragem obrigatória em todos os roteiros turísticos. Ou seja: não eramos os únicos saloios a tirar fotografias à sala, a olhar demoradamente para cada pormenor, a apontar, olha ali...

É inevitável, às vezes não há como dar a volta: somos turistas, pois somos, não me venham cá com a história do viajante, etc... somos estrangeiros, podemos disfarçar e mais-não-quê, ter uma postura mais assim, fazer opções que consideramos diferentes, originais, mais terra-a-terra, o-que-for. Nas reacções às nossas acções, nas pegadas que deixamos, por mais ao-de-leve, naquilo que representamos para quem vê de fora, não deixamos de ser: turistas.

Enfim: continuemos.

Fomos ter com o Álvaro e a Marta ao princípio da noite e jantámos - uma espécie de despedida, até um dia destes, abraços e beijinhos e saudades. Levámos as mochilas para o restaurante e depois do jantar seguimos em passo apressado na direcção do rio: tínhamos encontro marcado com a Eládia Isabel. E não queríamos chegar atrasados. Porque a Eládia Isabel não espera por ninguém.

Ora a Eládia Isabel... como explicar. Como descrevê-la, se eu próprio dormi o tempo quase todo.

Tem nome de cantora pimba, mas não é muito dada a espectáculos. A Eládia Isabel faz o que tem a fazer. Bem... a Eládia transporta pessoas - não, esta não é a melhor forma de a apresentar, escrito assim até consigo imaginar uma mulher com pessoas às costas.

Ok, cartas na mesa: a Eládia é um barco. Pronto, já disse.

Imaginem um cacilheiro chamado Eládio Clímaco, ou Rute Marlene... é mais ou menos isto, mas em vez de fazer a travessia de Lisboa para o Barreiro, a Eládia transporta pessoas da Argentina para o Uruguai, e vice-versa. Chique.

E não é a única. Eu cá não sou de falar mal dos outros, eu nem tenho nada a ver com a vida das outras pessoas, cada um faz o que quer, cada macaco no seu galho... mas disse-me um passarinho que há outros a fazer o mesmo: o Luciano Frederico, por exemplo. E a Sílvia Ana -  para a frente e para trás, cheios de turistas a atravessar o Rio de la Plata...

Mas porquê a Eládia? Porquê a Eládia Isabel e não outro barco qualquer?

Porque não havia uma Constança Teixeira da Cunha. Se eles tivessem um barco chamado Constança, eu ia.

Não. Agora a sério: porquê a Eládia?

Não foi por amor, concerteza. Nem que seja porque nem a conhecíamos, ainda. Não sabíamos se era bonita, se era simpática, se era eficiente. Se era de boas famílias. Só escolhemos a Eládia por conveniência, admito. Porque saía de Buenos Aires à noite e isso dava jeito... e porque era mais barata.

Desembarcámos no Uruguai a meio da noite, nem sei bem a que horas, parecíamos zombies a chegar a Colónia del Sacramento, mas nem vimos nada da cidade, passámos do interior do barco para o interior de um autocarro e dormimos até ao sol nascer. Até chegarmos a Montevideo.

Já agora: alguém sabe se os cacilheiros têm nomes?

28/05/2013

TOCA-A-ANDAR

Ainda há muito para contar sobre o tempo passado em Buenos Aires. Peripécias e curiosidades, saídas à noite, jantaradas e conversas, mais passeios a pé, insólitos e até coisas que ficaram por fazer.



Mas é hora de avançar com o relato.

Não queremos deixar a Eládia Isabel à espera.

SÓ PARA CONTRARIAR

Tenho fotos do singelo túmulo da Evita, de coloridos vitrais dentro de alguns mausoléus; tenho até lendas para contar sobre algumas das pessoas que aqui estão sepultadas. Se fosse partilhar tudo agora, ficávamos mais uma semana nisto. Fica para outra oportunidade - apetece mudar o tom, agora. Apetece um pouco de côr.

E para contrariar os tons cinzentos de Recoleta, nada como mudar de bairro.

Noutra tarde chuvosa fomos com os nossos anfitriões para La Boca. Almoçámos num El Obrero, um clássico de Buenos Aires que fica um bocado isolado - nunca aqui teríamos vindo se não fosse o Álvaro, e ainda bem que viémos - e depois seguimos para o Caminito.

O Caminito é o postal de Buenos Aires.

Fachadas coloridas, cartazes vintage a anunciar espectáculos de tango... e muitos turistas. Confesso que achei um bocado forçado, pareceu-me pouco "real" - mas sem dúvida que é uma festa para a máquina fotográfica. Na tarde em que lá fomos estava a chover, por isso andámos a correr de alpendre em alpendre... mas a teimosia de turista foi mais forte que a meteorologia, e conseguimos "apanhar" pormenores e panorâmicas, fazer retratos, inventar um bocado.

Depois dos cinzentos do último post, fica então um bocadinho de côr. Só para contrariar.








UMA MANHÃ EM TONS DE CINZENTO

No primeiro dia em que visitámos o Consulado do Uruguai em Buenos Aires, aproveitámos para conhecer o famoso Cementerio de la Recoleta, onde - para além de vários Presidentes da República, Prémios Nobel e outros notáveis e artistas - está sepultada a sempre-querida Eva Péron.

Descrito pela BBC, CNN e guias vários como um dos mais bonitos cemitérios do mundo, este lugar é hoje um dos pontos turísticos mais famosos da cidade. Não podíamos não vê-lo, apesar de sabermos que podia ter um travo a Disneyworld.

Admito que não senti isso. Havia muitos turistas, é verdade. Mas a carga emocional que está aqui entranhada é mais forte que os flashes, os mapas desdobrados e os uaus. 

Talvez porque o lugar é-o-que-é, ou porque o céu estava carregado de nuvens (chegou mesmo a chover, durante a volta), ou porque nesse dia talvez tivesse acordado um bocadinho mais em baixo... não sei porquê - mas o facto é que foi uma manhã cinzenta

Enfim: nem todos os dias podem ser coloridos. E as seguintes fotos são reflexo disso mesmo.







Sobre esta última foto, falamos um dia destes. Agora preciso de ir apanhar um bocadinho de ar fresco.