08/09/2011

SAI UM CHICKEN CHEESE COM SORRISOS, SFF



Acabadinho de aterrar em Tomsk, encostei-me a um canto a estudar o mapa e as opções de transportes e estadias. Um dos meus companheiros de viagem - aquele que estava sempre quase-quase a cair para cima de mim, aproximou-se com um sorriso (novidade!) e tentou ajudar-me, mas na verdade só complicou mais. De qualquer forma, agradeci o gesto - valeu a intenção, digam o que disserem acerca do Inferno isto-e-aquilo. O sorriso valeu tudo.

Acabei por embarcar num pequeno autocarro cheio de gente, saí pouco depois na avenida principal da cidade - e munido de boa vontade, um sorriso enorme e a determinação de fazer deste dia um dia bom, comecei a minha epopeia em busca de uma cama. Perguntei em seis ou sete lugares - uns mais escondidos que outros, mais discretos, quase secretos... mas todos igualmente cheios. E sorridentes. Não sei que tipo de vodka bebe esta malta de Tomsk, mas a verdade é que há mais sorrisos. E se não são muitos, parecem muitos. O que é quase a mesma coisa.

Ao fim de mais de uma hora, encontrei o Hotel Sputnik. Um pouco mais caro do que estava à espera de gastar, mas antes assim que dormir na rua. E tinha duche quente, wifi, pequeno-almoço... só luxos!

A menina da recepção era uma simpatia, falava inglês, ria muito, quis saber de onde eu era e fez conversa enquanto não chegaram outros hóspedes. Será que atravessei a fronteira recentemente e não dei por isso?

Passei grande parte do dia no quarto, a recuperar energias da viagem na marshrutka, a adiantar trabalho no computador - e ao fim da tarde fui dar uma volta.

Eu juro que fiz um esforço para gostar. Prometo pelas almas e todos os santinhos, e que me caia um raio em cima da cabeça se não estou a falar a verdade. Eu ia cheio de boa-vontade. Eu queria mesmo gostar de Tomsk.

Mas não achei naaaada de especial.

Se tivermos em conta os lugares por onde tinha passado nos últimos dias, sem dúvida que este era o mais interessante onde pousara a mochila. Tinha um ritmo engraçado, gente nova na rua, alguma arquitectura interessante, lojas e cafés por todo o lado. Sorrisos. Os sorrisos contam tanto. Mas faltava "qualquer coisa" - querem que diga o quê?

Faltava paparoca - que a barriga já começava a dar horas.

E a cidade surpreendeu-me com um achado surpreendente. Escondido a um canto e a fumegar para a rua, encontrei uma pequena tasca que servia crepes. Estava cheia de gente - e isso era bom sinal. É sempre bom sinal, um restaurante cheio.

Entrei.

Esperei que a maioria dos clientes fosse servida, pus-me a espreitar ingredientes que não conseguia identificar e menus que não conseguia ler, ia ter de arriscar um "jantar-surpresa", mas a certa uma das cozinheiras pergunta-me qualquer coisa, numa voz cheia que, como é óbvio, não tinha tradução. Pelo menos para mim.

"Rusky niet."

Ela sorriu de orelha a orelha, fez-me sinal para a acompanhar até aos ingredientes, apontou para um deles e disse com uma gargalhada:

"Chicken cheese!"

OK, sai um chicken cheese com sorrisos e sumo de laranja, se faz favor. Deixa lá ver como é que é... hmm.... mas... (oops... fiquei sem palavras.)

3 comentários:

LV disse...

chicken cheese ... oops... fiquei sem palavras - só pode ser coisa boa .... !!!!
Espero que tenha sido uma delícia. com tanta peripécia pela viagem e depois de um belo banhinho nada mais reconfortante que um chicken cheese ....

Clara Amorim disse...

Retomamos o suspense?!!! Isso não vale!!!

Gestevam disse...

Ohh! E...