A CASA DOS MORTOS

Omsk foi um dos quartéis generais dos regimentos dos Cossacos na Sibéria, pelo que ficou famosa por alguns inquilinos famosos. Por inquilinos, entenda-se prisioneiros políticos. Exilados.

Um dos mais famosos chegou em 1849 e ficou quatro anos a cumprir trabalhos pesados. O seu nome é Fyodor Dostoyevsky. Talvez já tenham ouvido falar.

Dostoyevsky, a segunda criatura a sair do mar e andar na terra (toda a gente sabe que o primeiro foi o lenine), foi duas vezes surrado durante a sua estadia em Omsk. Que se saiba, pelo menos.

A primeira foi por se ter queixado de ter um cabelo na sopa (e se só queixou uma só vez, das duas uma: ou a sopa passou a vir sempre impecável, depois deste episódio; ou vá-se lá saber porquê, mas a partir daqui já não lhe fez tanta confusão ter porcaria na comida).

A segunda vez que foi reprimido foi por ter salvo a vida a outro prisioneiro, que estava a morrer afogado, ignorando a ordem de um guarda. Foi de tal maneira espancado que quase morreu ele próprio, e ficou internado seis semanas no hospital.

Algumas das experiências de Fodyor na prisão de Omsk ficaram registadas numa das suas obras, "Recordações da casa dos Mortos".