31/01/2016

É SEMPRE A MESMA COISA

As intenções são as melhores, acreditem. Eu bem que tento manter o blog activo enquanto ando nas correrias da Indochina. Eu bem que tento, mas é complicado. Umas fotos no facebook e no instagram, ainda consigo. Mas o blog. O blog requer mais tempo, disponibilidade, disciplina - e carinho. ;)

Estou no Laos, em Vang Vieng, o primeiro lugar onde normalmente consigo abrandar um pouco, durante esta aventura de vinte dias pela Indochina. Vou aproveitar para pôr algumas fotos em ordem, textos, etc.

Já conversamos. Por enquanto, fica um click feito em Ninh Binh, no Vietname.


18/01/2016

OLHÁ LARANJA FRESQUINHA!

Há muito tempo que não publicava nenhum "click do dia".

Pois que a foto que se segue justifica plenamente o retomar deste bom hábito. Foi tirada hoje de manhã, durante o passeio que fiz com os viajantes da Nomad, pelo Old Quarter de Hanói.

Vai uma laranja?


CINCO DIAS DE VERÃO

Continuando a série de posts dedicados aos quinze dias mais memoráveis do "meu" 2015, passamos então ao Verão. Terminada a viagem de três meses pela Índia, voltei a Portugal e matei saudades durante dois deliciosos meses. Em Setembro voltei à Turquia, onde viajei com um grupo da Nomad durante quinze dias, e depois fui para uma pequena vila turca plantada à beira do mar Egeu, com vista para a Grécia e para os botes dos refugiados sírios que, diariamente, tentavam atravessar para o outro lado. Foi aqui que celebrei o meu aniversário, antes de seguir viagem para o Sudeste Asiático, onde por norma passo os Invernos.

15 DIAS DO ANO 15

(08) ONZE DE JULHO

No regresso a Portugal (depois da viagem de vespa na Índia) aproveitei para visitar alguns amigos pelo caminho. A primeira paragem foi no Dubai, onde estava "a minha família indiana", com quem não estava há mais de um ano. O reencontro foi um acontecimento natural, passados poucos minutos e era como se estivéssemos juntos todos os dias.

Além do calor insuportável, por esta altura cumpria-se o Ramadão, pelo que passámos grande parte do tempo em casa ou em centros comerciais. Em casa não tinhamos quaisquer restrições, pois os meus amigos são católicos (de famílias goesas); mas quando saíamos tínhamos sempre de ter mais atenção. E, claro está, aproveitámos para ir a um iftar num hotel de cinco estrelas, onde as pessoas se juntam para grandes jantaradas. Enfim: muito jejum, muito jejum... mas depois é um festim a noite toda. ;)

Alugámos um barco e passeámos pelos canais do Dubai, à noite; revisitámos alguns lugares que tinha visto da primeira vez, há três anos; e fomos até dizer olá a alguns amigos de outras paragens. Foi um dia Em Cheio, este passado com o Abbey, a Zilma, o Aaron e mais alguns amigos. A repetir, como de costume - mas, muito sinceramente, de preferência na Índia.





(09) VINTE E CINCO DE JULHO

Uma vez em Portugal, comecei a ronda de visitas e jantaradas para matar saudades dos amigos e família. E pouco depois de ter chegado, combinámos (eu e o gang) passar um fim-de-semana no Algarve - antes que chegassem as multidões.

Que boa ideia!

Num dos dias alugámos um barquinho em Faro e fomos passear por ilhas desertas e praias paradisíacas, mais parecia que estávamos algures na Tailândia. Ao jantar houve churrasco e muitos petiscos, um programa bem Português e que merece, sem dúvida, figurar nesta selecção de Quinze.

Algumas semanas depois haveríamos de nos juntar todos outra vez para uma semana em São Teotónio, no Alentejo - e, fosse esta selecção um bocadinho mais alargada, e cada dia aí passado estaria aqui "escarrapachado". ;)




(10) QUINZE DE AGOSTO

Em Agosto fiz a minha peregrinação anual à Serra da Estrela, que começa a tornar-se um (bom) hábito. Que descanso: o lugar, os sorrisos, a comida, as conversas. Os banhos no rio, os passeios pela aldeia, o dolce fare niente... e, para mim um dos pontos altos destas minhas idas à Barriosa... o Festival das Sopas de Vasco Esteves de Cima. Ou será que é Vasco Esteves de Baixo? Faço sempre confusão. Mas acho que é Vasco Esteves de Cima.




(11) VINTE E DOIS DE AGOSTO

O Verão a chegar ao fim e a minha mãe a celebrar sessenta Primaveras. E, como de costume, fresca que nem uma trintona. ;)

Foi um dia especial, com família e muitos amigos reunidos, algumas caras que não via há demasiado tempo.

E, claro está, uma boa desculpa para retribuir os mimos que recebo o resto do ano. ;)




(12) VINTE E QUATRO DE SETEMBRO

O Verão acabou com a celebração de outro aniversário: o meu. E se em 2014 passei esta data a nadar no Mar Vermelho, no Egipto - este ano mudei de ares e fi-lo no Mar Egeu, na Turquia.

Na pequena localidade de Assos, rodeada de ruínas gregas e com vista sobre a ilha de Lesbos, passei uma semana com a minha amiga Bahar, retemperando energias para a época de viagens no Sudeste Asiático, que haveria de começar em Outubro.


17/01/2016

VINTE E CINCO

Eu sei que estou em falta e ainda tenho de acabar a selecção de quinze dias do ano quinze. Não me pressionem, olha os nervos! ;)

Mas desculpem lá, não podia deixar de registar esta efeméride: começa hoje mais uma edição da Indochina, a viagem que organizo com a Nomad há seis anos... e não é uma edição qualquer. É a vigésima quinta!

A Indochina celebra as suas Bodas de Prata, portanto.

E o que dizer/fazer acerca disto? Não sei. Mas, como sabem, gosto de números gordos e curiosidades - e este é bem rechonchudo. Vinte e cinco Indochinas!

Por enquanto fica uma rápida selecção de 25 fotos retiradas do "Best of Indochina", um álbum do meu facebook; e depois vou só ali pensar no assunto e já volto. ;)





















OUTRA VEZ DEZASSEIS?!

Este post é provavelmente o mais tolo que alguma vez já escrevi. Não nos leva a lado nenhum além de uma série de coincidências que não servem para nada.

E, no entanto, não resisto a publicá-lo.

16/01/16 (ontem):

São três da manhã e estou sentado num autocarro, a viajar numa auto-estrada, a cabeça encostada ao vidro, deixando para trás o skyline brilhante de Kuala Lumpur. Não vejo as Petronas (porque a esta hora já apagaram as luzes), mas consigo imaginá-las cada vez mais pequenas, como num filme. Estou com alguma fome, não como nada desde as oito da noite. Apetece-me comer bolachas com pepitas de chocolate, daquelas caseiras, grandes. Vá-se lá perceber porquê. Não me apetece comer nada muito consistente, nem pratos quentes nem saladas frias, nem fruta ou sumos, nem sandes, nem doces - o que me apetece mesmo é umas bolachinhas com pepitas.

Uma hora depois chego ao aeroporto, entro e sigo directo para as Partidas, abrandando um pouco ao passar pelo gigantesco painel onde se anunciam os voos e as horas a que partem, onde fazer o check-in, de que porta de embarque saem.

Voo AK516, para Hanói. Sai às 06:10.

Que caos: estão milhares de pessoas para fazer o check-in. Escolho uma fila ao calhas, espero cinco ou dez minutos, praticamente não avança. Oiço chamarem os passageiros de um voo para Singapura e penso "o que era bom era se chamassem os passageiros para Hanói".

E pouco depois:

"Os passageiros do voo AK516 para Hanói queiram por favor dirigir-se ao balcão W16 para efectuarem o vosso check-in."

Ou seja: de uma fila com mais de vinte pessoas à minha frente, passei de repente para outra que... não existia. Era só eu - e uma pessoa, tecnicamente, não é uma fila. Para ser considerado uma fila tem de haver... três pessoas, pelo menos. Digo eu. Enfim: ora bom dia, portanto, passaporte, vou para Hanói, com licença e obrigado. Já está!

Com um sorriso de orelha a orelha, dirigi-me à Imigração. Carimbaram-me a saída da Malásia, depois passei pelo raio-X e fui caminhando pela zona de lojas duty-free, restaurantes e sei-lá-mais-o-quê. Continuava com fome, pois claro, ainda não tinha comido nada, por isso dei umas voltas à procura das tão desejadas bolachas... mas não encontrei nada.

Não me apeteciam noodles nem arroz, nem tostas de manteiga de amendoim ou saladas... e acabei por me decidir pelo Burger King. A sério. Pus-me na fila (três pessoas) e quando cheguei a minha vez pedi por BK Double Black Pepper. Mas eles não tinham BK Double Black Pepper. Eles só tinham Chicken Sei Lá O Quê. E eu não queria Chicken Sei Lá O Quê. Agradeci mas fui-me embora, passei à porta do MacDonalds e deu-me logo os enjoos, a pensar com os meus botões que "isto foi um sinal, não vale a pena ir à procura de mais porcaria, se não havia o hamburger que eu queria é porque não é suposto eu comer um hamburger."

Continuei pelo aeroporto fora, atravessando corredores e descendos escadas rolantes, passando por mais um raio-X, e já estava a ver a minha porta de embarque quando sou abraçado pelo aroma maravilhoso e quente a chocolate. E quando percebi de onde vinha, não queria acreditar na coincidência: uma lojinha de bolachas artesanais, feitas na hora (daí o cheiro), daquelas com pepitas de chocolate e noz-pecã, ou amêndoa e frutos vermelhos... que deliciosa coincidência.

"Ainda bem que não havia a porcaria do hamburger", pensava eu alguns minutos depois, enquanto mastigava com prazer uma das três enormes bolachas que comprei, sentado mesmo em frente da porta de embarque P1, preparado para embarcar num voo onde ocupava o lugar 6F.

E apesar do voo estar praticamente cheio, vá-se lá perceber como/porquê mas os dois lugares ao meu lado estavam vazios. Fui deitado, a dormir, durante todo o voo. Há dias de sorte.

Eu avisei que este post não levava a lado nenhum. Mas não deixa de ser curioso (pelo menos para mim, que não devo ter nada de mais interessante com que me entreter), reparar na sequência de coincidências: a chamada no check-in, as bolachas de chocolate, a fila de lugares vazios no avião. E no meio disto tudo o número dezasseis, que perseguição.

Ou então sou eu que já vejo coisas onde elas não existem. Whatever. Só sei que à chegada a Hanói dei de caras com um painel a indicar a temperatura... e adivinhem quantos graus estavam. Pois. I rest my case.

16/01/2016

INTERVALO

Interrompemos aqui a nossa emissão para informar os nossos "ouvintes" que o estamos (eu e os meus botões) em Hanói.

Depois de duas longas viagens em que assisti aos três Stars Wars (os originais) e dormi sob o efeito de comprimidos mágicos; depois de uma escala demasiado longa e demasiado nervosa em Istambul, no dia do atentado; depois de dois dias em Kuala Lumpur em que tentei pôr o sono e algum trabalho em dia, escrever, rever amigos e ir com eles jantar fora e ao cinema; depois de uma noite sem dormir para estar a horas no aeroporto; e depois de um maravilhoso nascer-do-sol hoje de manhã... aqui estou no Vietname, pronto para receber o primeiro viajante do próximo grupo da Indochina, que chega hoje à noite.

E amanhã chegam mais nove. Mais uma ficha, mais uma volta! ;)

Ou seja: agora já apetece tudo menos rever dias de 2015. Mas propus-me a esse exercício e vou terminá-lo. Vou é fazê-lo um bocadinho mais depressa, mais resumidamente. Isto de escrever um post para cada dia... nunca mais saímos daqui. Já conversamos. :)

15/01/2016

O DIA EM QUE RAPEI O CABELO NUM TEMPLO HINDU

Não consulto com frequência o meu horóscopo, apesar de achar uma certa piada e ser um "curioso"... mas se tivesse espreitado o destino dos Balança no mês de Maio de 2015, provavelmente ia ler qualquer coisa do género "altura ideal para proceder a mudanças radicais na sua aparência física", eheh.

15 DIAS DO ANO 15

(07) VINTE E UM DE MAIO

Uma semana depois de fazer uma tatuagem em Bombaim, eis-me a rapar o cabelo em Tirupati. Pois. Lembram-se? Quem acompanhou as minhas voltas no ano passado lembra-se disto de certeza.

Depois dos dias passados em Bombaim retomámos a nossa viagem em Pondicherry, onde as motas tinham ficado a arranjar. Sem mais terra para ir para Oriente, virámos então para Norte. Entrámos no Andhra Pradesh e apanhámos "em cheio" a trágica onda de calor que foi responsável por tantas mortes neste estado da Índia.

O corte de cabelo (ou melhor: a rapadela) aconteceu logo no início desta nova jornada - e aconteceu quase sem-querer, não tínhamos planeado nada daquilo. Fomos visitar o templo de Venkateshwara, em Tirupati, famoso porque milhões de peregrinos vêm aqui oferecer o seu cabelo como prova de renúncia ao Ego.



Enfim... curiosos como somos, fomos primeiro atrás dos sinais a dizer "free tonsure", depois entrámos nos pavilhões onde se rapa o cabelo... sempre só-para-ver, só-para-perceber-como-é, quem sabe falar com este ou aquele barbeiro. Nós e as entrevistas. Vínhamos todos entusiasmados com o sucesso com as hijras e o Dobhi Ghat em Bombaim. Resultado: saímos dali sem cabelo, como se sabe.

O relato mais pormenorizado pode ser recordado aqui.


E depois da rapadela começou a fase mais complicada da viagem. Física e psicologicamente. O calor sufocante, algumas diarreias e discussões, os camiões a buzinar nas autoestradas-sem-fim, os indianos sempre a olhar, sempre a meter-se, where-are-you-from, whats-your-name. E o calor, já mencionei o calor? Nunca vivera nada assim: foi, sem dúvida, um desafio hercúleo, a Índia em versão bold - mas isso mesmo, um desafio. Que viagem memorável, que alucinada celebração da Vida, de ser Humano, do poder de adaptação, de ficar chocado, de rir com as pequenas coisas, de complicar e descomplicar. As viagens são feitas disto mesmo. :)

Voltando ao que é importante neste post: o dia da Máquina Zero. Valeu pela "proeza", pelo significado que tem no contexto desta aventura, pela experiência de assistirmos a algo tão diferente. E por isso é o sétimo dos quinze dias que quero recordar aqui.

A TERCEIRA TATUAGEM

Passaram-se apenas duas semanas desde o festival em Thrissur, quando vivi outro dia que merece ser aqui recordado.

Depois de Thrissur, eu e o Luís atravessámos nas nossas vespas o Kerala e o Tamil Nadu, e fomos parar à costa leste da Índia, mais concretamente à antiga colónia francesa Pondicherry. Aqui deixámos as motas na oficina, durante uma semana, e voámos para Bombaim, onde estava o Inácio Rozeira com um grupo da Nomad.

15 DIAS DO ANO 15

(06) TREZE DE MAIO

Em Portugal é dia de Nossa Senhora de Fátima, a do Terceiro Segredo. Mas em Bombaim foi dia de fazer a minha Terceira Tatuagem. ;)

Já estava planeada há bastante tempo, esta tatuagem. Sabia perfeitamente o que queria escrever, há dois ou três anos que adiava o inevitável... e assim que comecei esta viagem à Índia soube que chegara o momento - pois todas as aventuras e todas as surpresas transformaram em urgência aquilo que era para ser "um dia destes".

"Um dia destes" foi o treze de Maio do Ano Quinze, portanto.

Depois de alguns dias com o Inácio e o Luís a aprofundar a nossa paixão por Bombaim, caminhando intensivamente pela cidade, passando uma tarde à conversa no Dobhi Ghat (onde aproveitei para cortar o cabelo), ou entrevistando duas hijras no seu próprio quarto (enquanto se arranjavam para ir trabalhar); mudámo-nos para casa da minha amiga Seema, em Andheri.

Vai-não-vai e fui mesmo: no dia treze fui parar a um estúdio em Bandra, uma zona chique de Bombaim, onde fiz finalmente a terceira tatuagem.



E o que diz, afinal, esta frase em hindi eternizada no meu braço?

Diz "sab kutch milega", que traduzindo à letra significa "vais conseguir tudo", mas que é utilizada com o sentido "tudo é possível."

E se esta frase já faz todo o sentido na minha vida (ou pelo menos na forma como encaro as coisas), esta viagem à Índia parecia feita para a tatuagem. A forma como consegui comprar a Vespa, no Kerala. Todos os pequenos acontecimentos, coincidências, pormenores e surpresas. Quando cheguei a Bombaim, sabia que não podia ir embora da cidade sem escrever esta frase no braço.

O sexto dia desta selecção de quinze valeu por este momento que ficará marcado para sempre no meu corpo, mas também por simbolizar uma semana fantástica em Bombaim, esse bocadinho de mundo que é um bocadinho de mim, e que é um mundo em si mesmo, tão especial, único, tempestuoso e frágil, uma descontrolada explosão de cores, emoções e sabores.

14/01/2016

UM DIA NO THRISSURPOORAM, UM FESTIVAL ALUCINANTE

Continuando a selecção dos quinze dias que mais marcaram o meu 2015: avancemos então ao longo do mês de Abril, depois da quinzena passada no Myanmar, e de um fim-de-semana em Kuala Lumpur... quando finalmente fui para a Índia.

Cheguei a Hyderabad na primeira semana do mês e comecei por revisitar alguns amigos, ao mesmo tempo que procurava uma mota para ir viajar com o Luís Simões, o talentoso maestro do projecto World Sketching Tour. Só ao fim de duas semanas é que finalmente comprei uma vespa, já bem mais a sul, no Kerala - e se as "peripécias" à volta de todo este processo merecem ser destacadas, nem que seja pelo significado que têm na aventura que se seguiu - ao mesmo tempo tenho que ser fiel àquilo que me propus fazer: uma selecção de apenas quinze dias. Nem mais, nem menos.

Assim sendo, há que fazer opções. Alguns dias terão de ficar "na sombra" de outros. E aquele em que comprei a mota, por muito importante que seja, terá de ficar para outros relatos. Pois neste arranque da viagem que fiz de vespa, há outro momento muito especial: o dia em que eu e o Luís assistimos ao Thrissurpooram, um festival alucinante do sul da Índia.

15 DIAS DO ANO 15

(05) VINTE E NOVE DE ABRIL

Foi sem dúvida um dos mais memoráveis de 2015, este dia em Thrissur. Logo de manhã assistimos à chegada de mais de cem elefantes ao templo principal, sempre em grupos de dez a quinze, mais a demorada, colorida e barulhenta procissão que os acompanhava. Vibrámos com os ritmos e com a dinâmica do evento, apertados na multidão, a suar o verão indiano, a rir e a saborear cada momento.




Depois de almoço enfiámo-nos (vá-se lá perceber porquê) numa confusão de sardinha em lata, os corpos esmagados entre uns-e-outros, um cocktail de suores e óleo de côco, gritos de deixa-passar, sorrisos de what-to-do, mãos atrevidas aqui-e-ali, e tudo aos saltos com a música, e empurra e puxa, mete o cotovelo, respira fundo e tira-o-pé-do-chão! Que caos. Tudo para ver uma orquestra de trezentas pessoas, teoricamente a maior do mundo, mas num espaço mínimo, nem deu para ver. Mas deu para ouvir. Aquele som antigo e hipnótico, percursão e sopro, há qualquer coisa de tribal aqui, de primitivo e mágico, frenético e vertiginoso.

Where are you from?, até no meio desta tempestade humana há quem tenha tempo e paciência para perguntar isto.

Cristiano Ronaldo!, é a reacção. Típico. Será que o famoso madeirense imagina que alguma vez alguém se lembrou de dizer o nome dele numa situação destas?

E depois da tempestade: a bonança?

Nem por isso. Estivémos a descansar à sombra do templo, mas o suficiente apenas para retemperar energias. Estávamos esgotados. Mas quando chegámos ao lugar onde ia decorrer o evento principal, depressa percebemos que ia ser igual ou "pior" que tudo aquilo que experimentáramos antes. E acabámos pro aproveitar a simpática oferta do Turismo do Kerala, que tinha montado uma bancada especial para turistas, com vista privilegiada sobre os rituais e a multidão. Nada mau.







Durante três horas testemunhámos um espectáculo único e milenar, cheio de significados que desconhecíamos, só mais tarde decifrei alguns. A troca de chapéus-de-sol em cima dos elefantes, num sensacional (e simbólico) duelo entre as duas equipas, mais o "oceano de gente" entre ambos. Foi uma experiência única, quem diria, não fazia ideia da dimensão do Thrissurpooram, eu vinha ver um festival com elefantes, sabia pouco mais que isso - mas isto é muito mais que um festival, é uma celebração grandiosa e caótica, como só na Índia, que tem tanto de festival de rock como de procissão religiosa. É a Índia com ponto de exclamação, é a tradição de mais de dois mil anos, as cores e a música e o pó, e milhares de telefones em riste a tirar fotografias e selfies.

Depois de jantar e de fazermos uma sesta, voltámos novamente ao centro da cidade. A festa continuava, estava agora espalhada pelas ruas, os elefantes em pequenos grupos, avançando lentamente pela multidão, sempre acompanhados das orquestras milenares, aquele som hipnótico, pessoas a dançar em transe, lamparinas de azeite a iluminar os rostos cansados.


No final houve fogo-de-artifício, mas ao contrário do que estamos habituados, mais do que uma harmoniosa sequência de cores e efeitos, aqui o que realmente interessava era fazer barulho. Dava a sensação de estarmos a ser bombardeados, tal o caos de explosões e ondas de choque.

Voltámos para o hotel às tantas da manhã. E apesar de nem termos bebido nada, na manhã seguinte acordámos com uma ressaca brutal, o corpo todo a queixar-se, pouca ou nenhuma vontade de arrancar e seguir viagem.

Mas arrancámos.

E seguimos viagem. Primeiro por florestas e cascatas, serpenteando montanha acima até estarmos rodeados de plantações de chá. Depois descemos pelo Tamil Nadu até chegarmos à costa oriental da Índia... e então subimos para o Andhra Pradesh, Orissa e West Bengal. Que viagem! Cada dia, uma aventura diferente.

E este do Thrissurpooram foi, entre todos, sem dúvida um dos mais memoráveis.