10/11/2014

UM DIA INESQUECÍVEL

(parte 2)

O dia foi realmente fértil em pequenos grandes momentos.



Resumindo, porque nem sei muito bem que sequência/lógica dar a isto: tínhamos saído das grutas-disneyescas quando nos metemos por um caminho que ia dar a umas cascatas impressionantes. Não tão altas quanto as do primeiro dia - longe disso -, mas com um cenário à volta impressionante.

Entusiasmado com a beleza do lugar e o decorrer de um dia tão cheio, um dos rapazes começou a "picar" os outros para darem um mergulho com ele. Começou a despir-se e confesso que até me arrepiei só de ver. Nem me passava pela cabeça mergulhar - que frio.

Aliás: a maioria do grupo começou por resistir, como eu. Mas o entusiasmo de um ou dois começou por contagiar os outros. E a verdade é que, aos poucos, quase todos acabaram - acabámos! - por entrar na água. Só os monges não foram, alegando qualquer coisa a ver com os robes. Mas todos os outros, incluindo eu, acabaram por mergulhar.

E como ninguém vinha preparado para o banho, claro que fomos todos para dentro de água de cuecas. O pior, claro, foi quando saímos. Não havia toalhas nem nada onde nos secássemos, e vestimo-nos ainda molhados.

(Esta pequena inconsciência acabou por se revelar uma enorme estupidez, já se está mesmo a ver. "Apanhei" a gripe que dia e meio depois me obrigaria a voltar mais cedo que o previsto para Mandalay... mas enfim, essas são outras voltas, não têm nada que vir aqui estragar o mood deste post).

Olha nós no banho:

Seguimos viagem molhados, portanto. A pé até ao parque de estacionamento junto ao acesso às grutas, onde ficava o restaurante de um amigo dos meus novos amigos, que também tinha vindo à cascata connosco.

Mal chegámos ao pé das motas, o rapaz mandou-nos sentar e ofereceu-nos um chá quente. E depois voluntariou-se para nos emprestar umas toalhas e uns longyis. Sequei a cabeça, tronco e membros - e passei o resto da tarde com um longyi enrolado à cintura. E as calças num saco de plástico.

Mas ainda mais simbólico do que este gesto simpático, foi quando nos estávamos a ir embora e reparámos que tínhamos um furo no pneu de trás da mota. Os monges e os outros estavam já a sair e tivemos de os mandar parar. O meu driver avisou-os de que íamos precisar de consertar o furo, antes de prosseguir. Achei que a tarde tinha terminado naquele momento. Com arranjos e voltas, o mais provável é que anoitecesse entretanto. Mas é a vida. Tinha sido um dia bom, até então.

E o que fez o miúdo do restaurante?

"Levem a minha mota", acenando com as chaves na mão. "Eu vou com esta à oficina e depois encontramo-nos."

Não nos conhecia de lado nenhum - nem a mim nem ao driver. E mesmo assim.

É verdade que estávamos com os amigos dele. Mas perguntem-se: qual a probabilidade de uma coisa destas acontecer em Portugal? Ou em qualquer outro país ocidental?

Ainda recusámos a oferta, dissemos que tratávamos nós do assunto - mas ele insistiu. Não deu qualquer hipótese, não tínhamos como recusar. Ou seja: fomos ver mais grutas e cascatas e sei-lá-o-quê... mas na mota de um perfeito desconhecido.



O resto da tarde continuou como tinha de continuar. Muitas fotos e mais risota, histórias de vida partilhadas, muito inglês praticado. E a certa altura lá apareceu o rapaz do restaurante a sorrir, todo ele a irradiar luz e energia, e eu estava rendido - absolutamente rendido. Aquele sorriso. O absoluto desinteresse. Noutras latitudes teria pedido logo por dinheiro, uma qualquer compensação. Nada disso. Perguntámos-lhe quanto tinha custado o arranjo, queríamos pagar - mas não aceitou dinheiro, não quis saber de obrigados nem sefazfavores. Estava feliz por ter sido útil, e por saber que tínhamos visitado todos os "lugares secretos" da sua terra.


Ao fim da tarde voltámos ao mosteiro, ia haver aula de inglês. Os meus novos amigos monges convidaram-me a assistir e eu aceitei, mas quando lá cheguei o professor pediu-me para ser eu a dar a aula. Durante uma hora respondi a perguntas e partilhei histórias acerca da minha família, do meu país, da minha cultura. Que momento.

Quando finalmente voltámos para Pyin Oo Lwin, o mundo era um lugar diferente. O meu mundo, pelo menos.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

So we're mates...!;) I'm an English teacher too! hehehe
E cá para mim, aqueles monges tinham só os robes vestidos (no underwear, I mean!!!)...