27/11/2014

MEMÓRIA DE ELEFANTE

"É melhor não ires agora, que ele está a comer," avisa-me um guia local quando percebe que estou a dirigir-me a um dos elefantes.

Páro. Não me apetece irritar um elefante, por muito dócil que seja a sua natureza.

"Não faz mal," diz um dos tratadores para o guia, fazendo ao mesmo tempo sinal para eu avançar. "Estes dois são amigos de longa data."

Sorrio - com uma ponta de vaidade, admito.

Conheço o Ramsen há três anos, desde que começámos a incluir o passeio e o banho com os elefantes no programa da Indochina. É o único macho de um grupo de uma dúzia de elefantes, um adolescente no meio de tias trintonas e quarentonas - e também o único que não foi resgatado de algum campo de trabalho. Contudo, seria muito provavelmente esse o seu destino, se vivesse noutro sítio que não aqui.

Lembro-me bem da segunda vez que visitei o Elephant Camp. O Ramsen esticou a tromba quando me viu, ficou todo agitado, dava a sensação que estava a chamar-me. Perguntei a um dos mahouts porque estava o elefante a fazer aquilo - e para minha surpresa, ele respondeu-me que o Ramsen se lembrava de mim.

"Eles têm uma memória incrível," disse-me. "Da primeira vez que nos visitaste, estiveste a alimentá-lo e à conversa com ele. Agora está a chamar-te. Ele lembra-se de ti."

E eu fiquei rendido. Para sempre.

A partir daqui, passei a dar uma atenção especial ao Ramsen, sempre que venho dar o passeio com o grupo. Temos tantas fotos juntos, passeios que recordo com carinho (e pelos vistos ele também). Tomámos banho no rio inúmeras vezes. E hoje posso dizer, com um orgulho que me empresta um sorriso rasgado de cada vez que o vejo, que somos amigos.

O elefante Ramsen - e eu.

Desta vez o Ramsen não foi passear com o grupo. Tinha acabado de dar uma volta pela selva com outros turistas, por isso o Leh, o mahout dele, levou-o para a "área de descanso". Ou seja: enquanto o grupo foi passear pela selva e pelo rio, uma volta que normalmente demora uma hora, eu fiquei ali sentado à espera e a certa altura aproveitei para ir meter conversa com o meu amigo trombudo.

Gosto de acreditar que ele fica tão contente quanto eu, quando nos vemos. Os mahouts garantem-me todos que sim, dizem que ele se comporta de maneira diferente comigo. Repito: e eu acredito. Converso com ele, juro amizade eterna, tiro selfies a ambos, faço-lhe festas.

Eis algumas das fotos feitas na sessão mais recente ;)













3 comentários:

Clara Amorim disse...

Que ternura...! :)

lv disse...

Estive a ler sobre a memória dos elefantes e de fato é um animal reconhecido pela sua grande capacidade de guardar informações.
A habilidade dos elefantes de memorizar foi forjada pelas exigências de seu modo de vida. Estão acostumados a percorrer grandes áreas, e por isso desenvolveram uma precisa memória espacial que permite recordar exatamente onde encontrar água e comida, mesmo depois de andar centenas de quilômetros.
Isso acontece em cada lugar onde estes animais cruzam, sendo que conseguem ainda lembrar-se onde há mais alimento disponível em cada época do ano. Uma manada pode, por exemplo, dirigir-se a uma determinada região apenas quando há frutas maduras.
É na realidade fantástico.

Anónimo disse...

Que linda amizade!