29/03/2013

ALTO ASTRAL


Preciso de recarregar o telefone. Comprei um cartão brasileiro em São Paulo, logo nos primeiros dias - mas fiquei sem saldo pouco depois de chegar ao Rio. Esta coisa de se pagar roaming entre estados é muito pouco amiga do bolso. Preciso de recarregar o telefone.

A caminho do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, parei num quiosque para finalmente recarregar o telefone. À minha frente: alguns adolescentes a comprar rebuçados e gelados, enquanto o velhote dentro da loja dava os bons dias a toda a gente, sorria a todos como se fossem velhos amigos, desejava um dia feliz quando se despedia.

"Quero Sensações," disse uma rapariga, apontando para uma embalagem de um snack com esse mesmo nome.

"Que coisa maravilhosa... você querer sensações. Já viu bem que coisa linda de pedir," respondeu o senhor, sorrindo, enquanto lhe entregava o produto. As pessoas à minha volta sorriam, como eu.

Quando chegou a minha vez, pedi com sotaque de Lima Duarte para recarregar o telefone. O senhor perguntou-me o número, eu disse-o devagar enquanto ele tirava nota. Ele repetiu-o, para confirmar se estava bem. Disse-lhe que sim. Repetiu segunda vez - e apercebi-me que se tinha enganado:

"Tem um 5 a mais, senhor... é 522 e não 5522."

"Eu sei," responde-me sempre a sorrir. "Era só para ver se você estava atento. Você é de onde, meu amigo?"

"Sou de Portugal."

"Isso eu sei, mas de onde?"

"Lisboa."

E de repente o sotaque muda, atravessando o Atlântico:

"Alfacinha, hem?"

Explicou-me que era de Viseu e tinha vindo aos sete anos com os pais para o Brasil. Há quase meio século. Disse-me que já tinha ido visitar os primos "à terrinha", há uns anos. Quis saber onde eu estava hospedado, "se for preciso alguma coisa é só dizer", entretanto ofereceu-me um café, e ao meu amigo Bunty, e depois a todas as pessoas que estavam à espera para ser atendidas. Sempre com um sorriso rasgado.

"Eu só quero comprar cigarros," disse uma senhora atrás de mim.

"Se é cigarro pode esperar um pouco, minha senhora, que isso faz-lhe mal."

7 comentários:

LV disse...

Sempre experiencias dignas de serem recordadas!

Clara Amorim disse...

Já o bom humor nunca fez mal a ninguém... ;)

Unknown disse...

Ahahah! Manteve-se bem disposto mas mandou uma piada à la tuga, como não poderia deixar de ser

Unknown disse...

Sim, alto astral

Unknown disse...

Sim, alto astral

Fernando Martinho disse...

Mesmo depois de tantos anos português a 100%
Mai Nada

Marina disse...

Lindo! Adorei :)