25/01/2013

O MEU PRIMEIRO BÚN CHẢ

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Infelizmente, não me lembro de comer o meu primeiro bún chả.

Não consigo perceber como. A sério: como é possível ter-me esquecido desse momento que deve ter sido assombroso. Uma experiência sensorial inigualável, uma conquista para o meu palato só comparável a sensações históricas como aquela que Neil Armstrong sentiu ao pisar pela primeira vez a Lua; ou a do rapazinho que gritou "terra à vista!" do alto da caravela do Vasco da Gama, quando ao fim de tanto tempo cumpriram o sonho de completar o Caminho Marítimo para a Índia; ou a da Pépa Xavier, quando finalmente comprar a sua Chanel preta que dá com tudo.

Não me lembro do meu primeiro bún chả. E hei-de chorar esta tragédia o resto dos meus miseráveis dias.

Mas sei o que é chegar a Hánôi no voo da AirAsia que chega de manhãzinha, pousar as malas no quarto e tomar um duche, deitar-me a descansar da viagem e ligar o despertador para o meio-dia. E depois: bún chả.

Sempre que venho para o Vietname, onde recebo os grupos da Nomad para o arranque das viagens na Indochina, começo a ter pesadelos, algumas noites antes. Acordo a salivar, ansioso, porque no sonho alguém segura numa tijela de bún chả, mesmo à minha frente, e não me deixa comer um bocadinho.

Mas o que é o bún chả, afinal?

No post anterior, falei de um caldo chamado nước mắm. Um caldo que é doce e amargo ao mesmo tempo - e que serve, entre outras coisas, como base para o bún chả.

No bún chả, o nước mắm é servido numa tijela com finíssimas fatias de rabanete, uns bifinhos de porco grelhados e uma espécie de mini-hamburgers de porco ligeiramente adocicados, acabadinhos de sair do carvão, ainda com crocantes migalhas caramelizadas.

Com a tigela vem sempre um prato onde se ergue um pequeno Everest de massa branca de arroz (noodles), e um fresquíssimo cesto de folhas de alface, coentros, hortelã, manjericão, cebolinho e outras ervas deliciosas cujo nome desconheço.

Falta ainda mencionar um pratinho com lima, alho fresco picado e malaguetas cortadas em pequenas rodelas - que cada um acrescenta a seu gosto. E, como acompanhamento, uns crepes chineses de carne ou de caranguejo.

O bún chả é para comer ao almoço, na rua. É possível encontrá-lo em alguns restaurantes - mas a verdadeira experiência do bún chả é na rua, sentado em bancos de plástico rentes ao chão, com Hánôi  a acontecer à volta.

Provem. Provem e por favor: não se esqueçam, como eu, da vossa primeira vez. Não estou a dramatizar, não estou a ser sensacionalista. Marquem o avião para Hánôi, que vale a pena atravessar meio-mundo só pela comida - só pelo bún chả. Vão ver. E depois vão insultar-me e querer saber porque não escrevi sobre isto antes.

Perguntem ao Tiago Costa, que hoje comeu o seu primeiro bún chả.


1 comentário:

Clara Amorim disse...

E então, Tiago? O Jorge não estará a exagerar???
Pelo teu ar na fotografia, parece que estás mesmo a gostar...! :)