Infelizmente, não me lembro de comer o meu primeiro bún
chả.
Não consigo perceber como. A sério: como é possível ter-me
esquecido desse momento que deve ter sido assombroso. Uma experiência sensorial
inigualável, uma conquista para o meu palato só comparável a sensações
históricas como aquela que Neil Armstrong sentiu ao pisar pela primeira vez a Lua;
ou a do rapazinho que gritou "terra à vista!" do alto da caravela do
Vasco da Gama, quando ao fim de tanto tempo cumpriram o sonho de completar o
Caminho Marítimo para a Índia; ou a da Pépa Xavier, quando finalmente comprar a
sua Chanel preta que dá com tudo.
Não me lembro do meu primeiro bún chả. E hei-de
chorar esta tragédia o resto dos meus miseráveis dias.
Mas sei o que é chegar a Hánôi no voo
da AirAsia que chega de manhãzinha, pousar as malas no quarto e tomar um duche,
deitar-me a descansar da viagem e ligar o despertador para o meio-dia. E
depois: bún chả.
Sempre que venho para o Vietname, onde
recebo os grupos da Nomad para o arranque das viagens na Indochina, começo a
ter pesadelos, algumas noites antes. Acordo a salivar, ansioso, porque no sonho
alguém segura numa tijela de bún chả, mesmo à minha frente, e não me deixa
comer um bocadinho.
Mas o que é o bún chả, afinal?
No post anterior, falei de um caldo chamado nước mắm. Um caldo que é doce e amargo ao mesmo
tempo - e que serve, entre outras coisas, como base para o bún
chả.
No bún chả, o nước mắm é servido numa tijela com finíssimas fatias de rabanete, uns
bifinhos de porco grelhados e uma espécie de mini-hamburgers de porco
ligeiramente adocicados, acabadinhos de sair do carvão, ainda com crocantes
migalhas caramelizadas.
Com a tigela
vem sempre um prato onde se ergue um pequeno Everest de massa branca de arroz
(noodles), e um fresquíssimo cesto de folhas de alface, coentros, hortelã,
manjericão, cebolinho e outras ervas deliciosas cujo nome desconheço.
Falta ainda mencionar um pratinho com lima, alho fresco picado
e malaguetas cortadas em pequenas rodelas - que cada um acrescenta a seu gosto. E,
como acompanhamento, uns crepes chineses de carne ou de caranguejo.
O bún chả é para comer ao almoço, na
rua. É possível encontrá-lo em alguns restaurantes - mas a verdadeira
experiência do bún chả é na rua, sentado em bancos de
plástico rentes ao chão, com Hánôi a
acontecer à volta.
Provem. Provem e por favor: não se esqueçam, como eu, da
vossa primeira vez. Não estou a dramatizar, não estou a ser sensacionalista. Marquem
o avião para Hánôi, que vale a pena atravessar meio-mundo só pela comida - só
pelo bún chả. Vão ver. E depois vão insultar-me e querer
saber porque não escrevi sobre isto antes.
Perguntem ao Tiago Costa, que hoje comeu o seu primeiro bún
chả.
1 comentário:
E então, Tiago? O Jorge não estará a exagerar???
Pelo teu ar na fotografia, parece que estás mesmo a gostar...! :)
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