20/01/2013

É UM MUNDO PEQUENO #03


É um mundo pequeno quando chegas ao aeroporto de Bangkok, apanhas o comboio para o centro, uma moto-taxi até ao teu hotel - e nos últimos cinquenta metros, que fazes a pé com a mochila às costas e a cabeça noutro planeta, de repente ouves alguém chamar o teu nome.

Viras-te para trás e tentas encontrar, na multidão de turistas, massagistas e vendedores, uma cara conhecida. E eis que salta à vista um sorriso enorme, um sorriso que conheces de casa, que conheces de outras viagens.

Recuas cinco, seis anos.

Estás no norte da Índia, a meio caminho entre Dharamsala e Baksu, na loja de um amigo, quando ouves a mesma voz:

"Jorge?"

Nessa primeira coincidência, o tom com que foi dito o teu nome foi diferente de agora: tinham sido apresentados num jantar em Lisboa, uns meses antes, e ainda não se conheciam bem.

Foi uma espécie de "Jorge... és tu?"

Entre o curso de joelharia dela e o teu trekking ao topo da montanha, lá conseguiram passar algum tempo juntos. Assistiram a um filme numa sala de cinema improvisada, na cave de uma mercearia, cujo acesso se fazia por uma escada de caracol junto às hortaliças e cenouras. Ao jantar, partilharam peripécias de viagem, filosofias, amigos em comum.

E nos anos que ligaram essa primeira coincidência a esta, voltaram a encontrar-se em festas, jantares, cafézinhos.

Há um mês atrás, esta amiga enviou-te um email a dizer que ia estar por estas bandas com o namorado. Quem sabe, com sorte, ainda se encontravam. Trocaste calendários e disponibilidades, ela até tentou fazer coincidir a passagem-de-ano com a tua, mas não deu em nada.

Já nem te lembravas que esta amiga andava "por aqui".

E de repente, sem combinações nem planos nem nada, estás a chegar do aeroporto, onde acabaste de deixar a tua mãe e uma tia, e eis que o mundo é mesmo pequeno, a tua amiga Matilde está sentada a beber uma cerveja com o namorado e vê-te passar, levanta-se e com voz cheia de Amigo e Abraços chama o teu nome.

"Por aqui? Que coincidência!"

É mesmo pequeno. O mundo.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Encontros assim inesperados? São os mais apreciados...!!!