Começou hoje mais uma Indochina, com o habitual passeio matinal pelo Bairro Antigo de Hánôi, seguido de um bun cha ao almoço, e emoções fortes para a tarde, com o passeio de mota até ao Templo da Literatura, Mausoléu de Ho Chi Minh e Pagoda de Um Pilar. Chegámos agora ao hotel e os sorrisos denunciam mais um arranque em grande desta aventura.
No entanto, há um bocadinho de mim que está a ansiar por outros voos. Parto daqui a um mês - exactamente 31 dias - para a minha aventura-estreia na América do Sul. Vou começar pelo Brasil, descer a Argentina e subir pelo "outro lado", até à Colômbia.
99 dias.
Podia ser mais - mas também podia ser menos. Provavelmente, com tudo o que quero ver e fazer, não vou conseguir aprofundar demasiado, não vou poder "ficar". Mas não estou muito preocupado com isso. É só a primeira vez - assim sendo, vou dar uma volta pelos highlights, ver os lugares "obrigatórios", fazer um ou outro desvio. Para a próxima há mais.
Tenho um plano. Mas não é do meu feitio ficar limitado por um plano. É só um rascunho, é só uma intenção.
Faltam 31 dias para os próximos 99. E se, por um lado, a contagem decrescente está presente no meu subconsciente, há que aproveitar cada momento, agora com o grupo e depois com a família, em casa.
Hánôi chama Jorge Vassallo!
:)
28/01/2013
27/01/2013
UM TIRO AO LADO
Na escolha de um restaurante como em quase tudo na vida, nem sempre temos a sorte de tomar a decisão mais acertada.
Ontem à noite, por exemplo: decidimos mudar um bocadinho o registo e fomos experimentar um restaurante aqui perto, que eu já andava a "namorar" há algum tempo.
Pasmem-se: um restaurante chileno em Hánôi.
Vá-se lá saber como ou porquê, mas ao longo das últimas passagens pela cidade, criei uma fantasia à volta do restaurante. Na minha (fértil) imaginação, servia-se ali uma fusão de comida chilena e vietnamita.
E eu nunca experimentei comida chilena. Mas o facto de estar a pouco mais de um mês de arrancar para a minha aventura de estreia na América do Sul aguçou-me o apetite - e o Tiago veio atrás.
Assim que chegámos, percebemos logo que tínhamos dado um tiro ao lado.
O papel de parede a imitar tijolo, combinado com fotografias do presidente do Chile em visita de estado a Ho Chi Minh City; imagens de malaguetas de cair em cristalinos copos de água, uma estátua da Ilha da Páscoa à porta, um poster de um jogo de computador... e, senhoras e senhores: um Pai Natal a cair de pára-quedas, pendurado no centro do restaurante.
E mesmo assim: sentámo-nos.
A comida há-de ser boa.
Trouxeram-nos os menus - nada de fusão. Uns pratos chilenos, outros vietnamitas. Entretanto comecei seriamente a considerar cortar os pulsos, influenciado pela tragédia melódica de Kenny G em pano de fundo.
Não comemos mal - é um facto. O meu peixe com molho de manga estava saboroso. E o bife com molho de pimenta verde do Tiago... bem... era um bom bife com molho de tomate. O vinho não estava mau, os empregados eram simpáticos e um deles até veio contar a história do restaurante, o porquê de abrir um chileno no Vietname - mas como diria a outra: isso agora não interessa nada.
O que interessa é que o grupo da Indochina já chegou. Amanhã começa "oficialmente" mais uma edição desta viagem, que tem na gastronomia um dos seus pontos fortes. Uma boa semana a todos!
Ontem à noite, por exemplo: decidimos mudar um bocadinho o registo e fomos experimentar um restaurante aqui perto, que eu já andava a "namorar" há algum tempo.
Pasmem-se: um restaurante chileno em Hánôi.
Vá-se lá saber como ou porquê, mas ao longo das últimas passagens pela cidade, criei uma fantasia à volta do restaurante. Na minha (fértil) imaginação, servia-se ali uma fusão de comida chilena e vietnamita.
E eu nunca experimentei comida chilena. Mas o facto de estar a pouco mais de um mês de arrancar para a minha aventura de estreia na América do Sul aguçou-me o apetite - e o Tiago veio atrás.
Assim que chegámos, percebemos logo que tínhamos dado um tiro ao lado.
O papel de parede a imitar tijolo, combinado com fotografias do presidente do Chile em visita de estado a Ho Chi Minh City; imagens de malaguetas de cair em cristalinos copos de água, uma estátua da Ilha da Páscoa à porta, um poster de um jogo de computador... e, senhoras e senhores: um Pai Natal a cair de pára-quedas, pendurado no centro do restaurante.
E mesmo assim: sentámo-nos.
A comida há-de ser boa.
Trouxeram-nos os menus - nada de fusão. Uns pratos chilenos, outros vietnamitas. Entretanto comecei seriamente a considerar cortar os pulsos, influenciado pela tragédia melódica de Kenny G em pano de fundo.
Não comemos mal - é um facto. O meu peixe com molho de manga estava saboroso. E o bife com molho de pimenta verde do Tiago... bem... era um bom bife com molho de tomate. O vinho não estava mau, os empregados eram simpáticos e um deles até veio contar a história do restaurante, o porquê de abrir um chileno no Vietname - mas como diria a outra: isso agora não interessa nada.
O que interessa é que o grupo da Indochina já chegou. Amanhã começa "oficialmente" mais uma edição desta viagem, que tem na gastronomia um dos seus pontos fortes. Uma boa semana a todos!
26/01/2013
O MELHOR BÚN CHẢ DA MINHA VIDA
Depois das voltas matinais pelo Bairro Antigo, hoje decidimos ir à procura de um bún
chả que, segundo alguns insiders, é o melhor do mundo.
Pesquisei a morada na net, tirei nota mental do mapa e lá fomos nós, Hánôi acima, debaixo de um céu que teima em ficar cada vez mais carregado, sem necessariamente descarregar em chuva, granizo ou outros fenómenos fantástico-meteorológicos.
Foi por um triz que encontrámos o lugar. Até já tínhamos passado o sítio certo, mas os números das portas deixaram de fazer sentido e resolvemos dar uns passos atrás à procura do Bún Chả 34 - e lá estava, um cartaz meio escondido pela sombra de um telhado de zinco, pessoas em pé à conversa, em frente a uma loja fechada, bancos de plástico e baldes cheios de água - mas não havia "cozinha", não havia sinais de ser servida ali comida e, por momentos, pensei que tivéssemos chegado tarde demais.
Aproximámo-nos de uma árvore cheia de molhos de chaves pendurados e uma senhora fez-nos sinal para entrarmos por um corredor escuro e sujo - o que fizemos, já a sorrir, ou não fossemos ambos adeptos de experiências "fora do baralho".
O corredor dava acesso a um mini pátio onde, a um canto, uma mulher cozinhava o que já se adivinhava, pelo aspecto, um bom bún chả. Havia uma espécie de garagem cheia de gente sentada rente ao chão, quase em silêncio, concentradíssimos na comida. Mandaram-nos sentar no "pátio", numa mesa improvisada a partir de um contraplacado, onde já estavam dois homens a comer.
"Hai?", pergunta-me uma rapariga.
"Hai", respondo.
"Hai" quer dizer "dois".
Pousaram duas tigelas com uma quantidade de carne mais generosa que a Madre Teresa de Calcutá, um prato enorme de noodles, um cesto de verduras - e perguntaram-me se queria "nem". Eu disse que sim, e pouco depois estava mais um prato na mesa, com dois crepes chineses cortados aos bocados com uma tesoura.
O Tiago montou a câmara no tripé, pois queria filmar a experiência. Eu esperei pelo momento certo, fiz uma breve introdução, peguei num bocado de carne com os pauzinhos... e foi como se um mundo a preto e branco ganhasse cor de repente, não me consigo lembrar de outra maneira de descrever a sensação. Mas foi isso. Foi uma explosão. Nem sei que cara fiz para a câmara, porque quase me engasguei com a pressão de dar um veredicto. Queria rir e queria respirar, queria mastigar e saborear cada momento. E provavelmente fiz o ar mais enjoado do mundo.
Este foi, até ao momento, o melhor bún chả da minha vida.
E depois desta experiência, só tenho pena de estarmos quase de partida, porque seria muito interessante ir atrás do melhor bún chả de Hánôi. Quem sabe, noutras passagens por aqui, resolva investir um pouco do meu tempo a explorar a cidade com esse objectivo.
"Jorge Vassallo em Busca do Bún Chả Perdido"
Depois escrevo uns posts no blog sobre as aventuras e peripécias, publico um livro que se transforma num bestseller mundial, e um estúdio de Hollywood compra os direitos da história, o Tarantino faz um filme com o Leonardo DiCaprio a fazer de Jorge Vassallo e a Lucy Lu faz de menina que serve o bún chả, e vamos aos Óscares, e a festas com a Paris Hilton e a Pépa Xavier, já me estou a ver de flute de champagne na mão, a rir em fotografias para a Hola!, e depois crio a Fundação Bún Chả, que doa dinheiro para a preservação deste património cultural único, e o Vietname resolve agradecer-me a projecção que dei ao país e oferece-me uma ilha, onde faço festas com os meus novos amigos de Hollywood, a Angelina Jolie pede-me a casa emprestada para passar férias com os miúdos, eu ando pelo mundo fora a dar palestras sobre o bún chả... e depois vêm os boatos, a imprensa sensacionalista, os papparazzi e os escândalos, as revelações exclusivas, a queda do mito, e um dia vou à Oprah esclarecer tudo e pedir desculpas, escrevo mais um livro e ganho um Nobel... que canseira, este meu futuro!
Tudo por causa de um bún chả.
Pesquisei a morada na net, tirei nota mental do mapa e lá fomos nós, Hánôi acima, debaixo de um céu que teima em ficar cada vez mais carregado, sem necessariamente descarregar em chuva, granizo ou outros fenómenos fantástico-meteorológicos.
Foi por um triz que encontrámos o lugar. Até já tínhamos passado o sítio certo, mas os números das portas deixaram de fazer sentido e resolvemos dar uns passos atrás à procura do Bún Chả 34 - e lá estava, um cartaz meio escondido pela sombra de um telhado de zinco, pessoas em pé à conversa, em frente a uma loja fechada, bancos de plástico e baldes cheios de água - mas não havia "cozinha", não havia sinais de ser servida ali comida e, por momentos, pensei que tivéssemos chegado tarde demais.
Aproximámo-nos de uma árvore cheia de molhos de chaves pendurados e uma senhora fez-nos sinal para entrarmos por um corredor escuro e sujo - o que fizemos, já a sorrir, ou não fossemos ambos adeptos de experiências "fora do baralho".
O corredor dava acesso a um mini pátio onde, a um canto, uma mulher cozinhava o que já se adivinhava, pelo aspecto, um bom bún chả. Havia uma espécie de garagem cheia de gente sentada rente ao chão, quase em silêncio, concentradíssimos na comida. Mandaram-nos sentar no "pátio", numa mesa improvisada a partir de um contraplacado, onde já estavam dois homens a comer.
"Hai?", pergunta-me uma rapariga.
"Hai", respondo.
"Hai" quer dizer "dois".
Pousaram duas tigelas com uma quantidade de carne mais generosa que a Madre Teresa de Calcutá, um prato enorme de noodles, um cesto de verduras - e perguntaram-me se queria "nem". Eu disse que sim, e pouco depois estava mais um prato na mesa, com dois crepes chineses cortados aos bocados com uma tesoura.
O Tiago montou a câmara no tripé, pois queria filmar a experiência. Eu esperei pelo momento certo, fiz uma breve introdução, peguei num bocado de carne com os pauzinhos... e foi como se um mundo a preto e branco ganhasse cor de repente, não me consigo lembrar de outra maneira de descrever a sensação. Mas foi isso. Foi uma explosão. Nem sei que cara fiz para a câmara, porque quase me engasguei com a pressão de dar um veredicto. Queria rir e queria respirar, queria mastigar e saborear cada momento. E provavelmente fiz o ar mais enjoado do mundo.
Este foi, até ao momento, o melhor bún chả da minha vida.
E depois desta experiência, só tenho pena de estarmos quase de partida, porque seria muito interessante ir atrás do melhor bún chả de Hánôi. Quem sabe, noutras passagens por aqui, resolva investir um pouco do meu tempo a explorar a cidade com esse objectivo.
"Jorge Vassallo em Busca do Bún Chả Perdido"
Depois escrevo uns posts no blog sobre as aventuras e peripécias, publico um livro que se transforma num bestseller mundial, e um estúdio de Hollywood compra os direitos da história, o Tarantino faz um filme com o Leonardo DiCaprio a fazer de Jorge Vassallo e a Lucy Lu faz de menina que serve o bún chả, e vamos aos Óscares, e a festas com a Paris Hilton e a Pépa Xavier, já me estou a ver de flute de champagne na mão, a rir em fotografias para a Hola!, e depois crio a Fundação Bún Chả, que doa dinheiro para a preservação deste património cultural único, e o Vietname resolve agradecer-me a projecção que dei ao país e oferece-me uma ilha, onde faço festas com os meus novos amigos de Hollywood, a Angelina Jolie pede-me a casa emprestada para passar férias com os miúdos, eu ando pelo mundo fora a dar palestras sobre o bún chả... e depois vêm os boatos, a imprensa sensacionalista, os papparazzi e os escândalos, as revelações exclusivas, a queda do mito, e um dia vou à Oprah esclarecer tudo e pedir desculpas, escrevo mais um livro e ganho um Nobel... que canseira, este meu futuro!
Tudo por causa de um bún chả.
E POR FALAR EM COMIDA
Tão fortes foram as emoções de descrever aqui a experiência do bún chả, que me esqueci de partilhar o menu do dia.
Além do delicioso almoço na rua que é tema do post anterior, e de um café com leite condensado a seguir; fomos jantar a um dos meus restaurantes preferidos de Hanói - o Quan An Ngon.
O Quan An Ngon nasceu em Saigão, num mercado de comida que tinha bancas à volta e umas mesas onde qualquer pessoa se podia sentar a comer. O conceito evoluiu para um restaurante com nome próprio, com várias sucursais (e imitações) nas principais cidades do Vietname, mas manteve-se fiel às suas origens. Apesar de hoje em dia ter um ambiente muito mais "arranjadinho", o espaço baseia-se sempre numa área central onde se come em mesas corridas, rodeado de bancas onde se preparam os vários pratos. Há bancas para o peixe, outra só para grelhados, uma de sobremesas, arroz, sopas, etc, etc.
Gosto de experimentar, sempre que venho ao Quan An Ngon. O menu é tão extenso e variado - e é tudo tãããão bom ;) por isso ontem comemos:
- rolinhos frescos de salsicha de porco curada com papaia verde, coentros e lascas de pele de porco;
- massa de arroz com carne de vaca, hortelã e amendoins;
- sopa de perna de porco, erva-príncipe e gengibre;
- panqueca vietnamita com camarão, rebentos de soja e carne de porco;
- peixe frito à hanói.
Voltámos a rebolar para o hotel, portanto.
Além do delicioso almoço na rua que é tema do post anterior, e de um café com leite condensado a seguir; fomos jantar a um dos meus restaurantes preferidos de Hanói - o Quan An Ngon.
O Quan An Ngon nasceu em Saigão, num mercado de comida que tinha bancas à volta e umas mesas onde qualquer pessoa se podia sentar a comer. O conceito evoluiu para um restaurante com nome próprio, com várias sucursais (e imitações) nas principais cidades do Vietname, mas manteve-se fiel às suas origens. Apesar de hoje em dia ter um ambiente muito mais "arranjadinho", o espaço baseia-se sempre numa área central onde se come em mesas corridas, rodeado de bancas onde se preparam os vários pratos. Há bancas para o peixe, outra só para grelhados, uma de sobremesas, arroz, sopas, etc, etc.
Gosto de experimentar, sempre que venho ao Quan An Ngon. O menu é tão extenso e variado - e é tudo tãããão bom ;) por isso ontem comemos:
- rolinhos frescos de salsicha de porco curada com papaia verde, coentros e lascas de pele de porco;
- massa de arroz com carne de vaca, hortelã e amendoins;
- sopa de perna de porco, erva-príncipe e gengibre;
- panqueca vietnamita com camarão, rebentos de soja e carne de porco;
- peixe frito à hanói.
Voltámos a rebolar para o hotel, portanto.
25/01/2013
O MEU PRIMEIRO BÚN CHẢ
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Infelizmente, não me lembro de comer o meu primeiro bún
chả.
Não consigo perceber como. A sério: como é possível ter-me
esquecido desse momento que deve ter sido assombroso. Uma experiência sensorial
inigualável, uma conquista para o meu palato só comparável a sensações
históricas como aquela que Neil Armstrong sentiu ao pisar pela primeira vez a Lua;
ou a do rapazinho que gritou "terra à vista!" do alto da caravela do
Vasco da Gama, quando ao fim de tanto tempo cumpriram o sonho de completar o
Caminho Marítimo para a Índia; ou a da Pépa Xavier, quando finalmente comprar a
sua Chanel preta que dá com tudo.
Não me lembro do meu primeiro bún chả. E hei-de
chorar esta tragédia o resto dos meus miseráveis dias.
Mas sei o que é chegar a Hánôi no voo
da AirAsia que chega de manhãzinha, pousar as malas no quarto e tomar um duche,
deitar-me a descansar da viagem e ligar o despertador para o meio-dia. E
depois: bún chả.
Sempre que venho para o Vietname, onde
recebo os grupos da Nomad para o arranque das viagens na Indochina, começo a
ter pesadelos, algumas noites antes. Acordo a salivar, ansioso, porque no sonho
alguém segura numa tijela de bún chả, mesmo à minha frente, e não me deixa
comer um bocadinho.
Mas o que é o bún chả, afinal?
No post anterior, falei de um caldo chamado nước mắm. Um caldo que é doce e amargo ao mesmo
tempo - e que serve, entre outras coisas, como base para o bún
chả.
No bún chả, o nước mắm é servido numa tijela com finíssimas fatias de rabanete, uns
bifinhos de porco grelhados e uma espécie de mini-hamburgers de porco
ligeiramente adocicados, acabadinhos de sair do carvão, ainda com crocantes
migalhas caramelizadas.
Com a tigela
vem sempre um prato onde se ergue um pequeno Everest de massa branca de arroz
(noodles), e um fresquíssimo cesto de folhas de alface, coentros, hortelã,
manjericão, cebolinho e outras ervas deliciosas cujo nome desconheço.
Falta ainda mencionar um pratinho com lima, alho fresco picado
e malaguetas cortadas em pequenas rodelas - que cada um acrescenta a seu gosto. E,
como acompanhamento, uns crepes chineses de carne ou de caranguejo.
O bún chả é para comer ao almoço, na
rua. É possível encontrá-lo em alguns restaurantes - mas a verdadeira
experiência do bún chả é na rua, sentado em bancos de
plástico rentes ao chão, com Hánôi a
acontecer à volta.
Provem. Provem e por favor: não se esqueçam, como eu, da
vossa primeira vez. Não estou a dramatizar, não estou a ser sensacionalista. Marquem
o avião para Hánôi, que vale a pena atravessar meio-mundo só pela comida - só
pelo bún chả. Vão ver. E depois vão insultar-me e querer
saber porque não escrevi sobre isto antes.
Perguntem ao Tiago Costa, que hoje comeu o seu primeiro bún
chả.
O B-A-BA DA COZINHA VIETNAMITA
Diz quem sabe disto, que nas veias dos
Vietnamitas corre nước mắm.
Eu só vim
aqui para comer bun cha, sou apenas um turista - mas já vi muita coisa estranha nesta vida vadia... e nunca se sabe.
O facto é que o raio do molho está por todo o lado. Nước mắm é a base de grande parte dos pratos
vietnamitas. Pode ser molho e pode ser caldo, pode ser apenas mais um
ingrediente para "dar sabor" - mas está sempre presente. É feito de
molho de peixe, água, lima, alho e às vezes malaguetas ou gengibre (há muitas
variações) - e é absolutamente delicioso.
E a que propósito é que eu venho aqui dar lições de
culinária num blog de viagens?
Primeiro: porque, nas próximas semanas, até o
estimado leitor vai engordar - de tanta comida que aqui vai passar.
Depois: porque o meu boss está prestes a comer o
seu primeiro bun cha, e se eu quero falar de bun cha, primeiro tenho que falar de nước mắm.
Fica o apontamento. Até já.
24/01/2013
A CIDADE-COMIDA
No balanço do seu primeiro dia em Hanói, o Tiago estava a
descrever-me algumas das sensações e a confrontá-las com as expectativas que
trazia.
"A cidade cheira a comida. Há sempre gente a comer, a
cozinhar, a descascar... por todo o lado comida."
O Tiago chegou esta madrugada - é a primeira vez que viaja
nesta histérica/colorida/saborosa parte do Mundo, e eu acho que estou mais entusiasmado
em "ler" as suas reacções à Indochina do que ele. Não porque seja meu
patrão e me sinta na obrigação de "mostrar serviço" - nada disso. Mas
o Tiago é um viajante com experiência, curioso por natureza.
Por isso: vai ser interessante perceber quais são os
estímulos que mais o desafiam - e assim, eu próprio redescobrir estes universos
que às vezes já são só paisagem, que dou como garantidos.
Hoje, por exemplo: fomos dar uma volta pelo Bairro Antigo. O
meu objectivo era perder-me - mas depressa percebi que não ia conseguir. Tentei
fugir à rota que normalmente cumpro com os grupos e fomos andando pelo caótico
labirinto de ruas e motas e gente, guiados pela curiosidade, pelo instinto - mas
é difícil, quando se conhece o terreno, quando se sabe que virando à direita há
qualquer coisa de interessante, que à esquerda não vai dar a lado nenhum.
Não nos perdemos, mas consegui explorar um bocado mais que o
costume, conheci algumas ruas novas, reparei em pormenores em que nunca tinha
reparado. Nada mau, para o primeiro dia.
Tomámos o pequeno almoço às oito, no hotel. A meio da manhã
não resistimos ao apelo da cidade e sentámo-nos numa banca a comer Bánh Cuôn -
que literalmente quer dizer "bolo
enrolado" - e que é uma espécie de crepe chinês, mas onde a folha de arroz
é cozida a vapor, em vez de frita. Por dentro tem carne de porco picada e
cogumelos, e é acompanhada de uma salada de coentros e menta, e um caldo
temperado com molho de peixe e lima. Estava divinal, este nosso primeiro almoço
do dia.
Depois
vaguámos entre mercados e bancas, grelhas e restaurantes e cafés. Passámos por
um grupo de velhotes sentados à volta de uma mesa cheia de comida e bebida,
convidaram-nos a beber um shot de aguardente de arroz... môt, hai, ba, yô!... surpresa
e risadas por eu saber brindar em vietnamita e toma lá mais um shot... e mais
um... e tivemos de fugir entre muitos sorrisos e palavras que não entendíamos,
antes que o resto do dia ficasse comprometido com tanto brinde.
Às
três, almoçámos segunda vez: enguia com erva-príncipe, amendoins e pimento;
tofu frito com hortelã; beringela com porco.
Jantámos
às nove: vermicelli de caranguejo e o clássico da cozinha vietnamita, pho bo
(sopa de noodles com carne de vaca)
E
antes de voltar para o hotel, parámos num spot
que só eu conheço ;) e bebemos um café com leite condensado.
Hanói
respira comida, é um facto. Por todo o lado: o cheiro a vegetais frescos, a
grelhados, a vapor. A carne fresca, a peixe seco. Cheira a comida acabada de
fazer, a fruta pisada, a cerveja. Até as cores e os sons estão impregnados de
comida.
Eu
já sabia - mas foi bom ser lembrado.
E assim começa uma volta nova aqui no blog: nas próximas semanas vou partilhar um pouco deste lado tão fascinante da Indochina - os sabores. Não deixarei de fazer as crónicas "normais", de partilhar insólitos e curiosidades. Mas desta vez, a viagem passa também pelo prato. Espero que gostem.
HANOI, VERSÃO COUNTDOWN
Já estive em Hanói logo a seguir ao Tet, o Ano Novo Vietnamita. As ruas estavam desertas, nem-gente nem-motas nem-comércio nem-nada. Também marquei presença na celebração dos 1000 anos da fundação da cidade: milhares de pessoas por todo o lado, as ruas decoradas a rigor, muita cor e fogo-de-artifício, música, sorrisos - um ambiente de festa incrível. Já cá estive em vésperas do Natal: as árvores decoradas com neve arficial, miúdos e graúdos com chapéus à Pai Natal enfiados até às orelhas, luzes a piscar por todo o lado, as lojas a fazer descontos, as pessoas a fazer compras. Estive em Hanói na Páscoa, estive em dia de futebol, durante a visita de presidentes estrangeiros, em semana de congresso do Partido, na época dos casamentos, até no Halloween... mas nunca tinha visto a capital do Vietname antes do Tet.
Duas semanas antes do Tet. E parece que é amanhã.
No próximo dia 10 de Fevereiro, os vietnamitas celebram, juntamente com os chineses, a passagem para um novo ano. Acaba o ano do Dragão, começa o da Serpente.
E não são quase a mesma coisa?, dirão alguns.
Segundo alguns astrólogos, estes dois anos são quase opostos, em termos de simbologia. Enquanto que 2012 foi um ano marcado por um estilo mais combativo e "directo", o que aí vem exige mais flexibilidade e paciência para vencer obstáculos e alcançar objectivos.
E parece que essa "agressividade" está a "queimar os últimos cartuchos". O trânsito hoje esteve particularmente frenético, nunca a expressão "colmeia" se assemelhou tanto à imagem real daquilo que pretende simbolizar.
Mas foi um dia giro. Foi um dia às voltas, a tentar redescobrir este lugar a que já estou habituado, com o meu amigo e "boss" Tiago Costa. E a preparar o terreno para mais um grupo da Nomad.
E por falar nisso: é Hanói em contagem decrescente para o Tet, e eu para mais uma edição da Indochina. Temos tanto em comum, eu e esta cidade. ;)
Duas semanas antes do Tet. E parece que é amanhã.
No próximo dia 10 de Fevereiro, os vietnamitas celebram, juntamente com os chineses, a passagem para um novo ano. Acaba o ano do Dragão, começa o da Serpente.
E não são quase a mesma coisa?, dirão alguns.
Segundo alguns astrólogos, estes dois anos são quase opostos, em termos de simbologia. Enquanto que 2012 foi um ano marcado por um estilo mais combativo e "directo", o que aí vem exige mais flexibilidade e paciência para vencer obstáculos e alcançar objectivos.
E parece que essa "agressividade" está a "queimar os últimos cartuchos". O trânsito hoje esteve particularmente frenético, nunca a expressão "colmeia" se assemelhou tanto à imagem real daquilo que pretende simbolizar.
Mas foi um dia giro. Foi um dia às voltas, a tentar redescobrir este lugar a que já estou habituado, com o meu amigo e "boss" Tiago Costa. E a preparar o terreno para mais um grupo da Nomad.
E por falar nisso: é Hanói em contagem decrescente para o Tet, e eu para mais uma edição da Indochina. Temos tanto em comum, eu e esta cidade. ;)
23/01/2013
COMO É QUE SE DIZ NOSTALGIA EM HINDI?
Ontem deu-me para a nostalgia. Em contagem decrescente para mais um grupo da Indochina, vá-se lá perceber porquê mas deu-me para lembrar histórias da Índia.
Como tinha terminado a publicação do álbum-balanço de 2012 e queria começar um novo só com fotos da Índia, comecei a vasculhar pastas antigas... e dei por mim a viajar outra vez no subcontinente.
Contudo, não pretendo aprofundar agora história nenhuma. Para quem ainda não espreitou as fotos que partilhei ontem no facebook, ficam aqui algumas - juntamente com outras que vou acrescentar hoje. Espero que gostem.
Como tinha terminado a publicação do álbum-balanço de 2012 e queria começar um novo só com fotos da Índia, comecei a vasculhar pastas antigas... e dei por mim a viajar outra vez no subcontinente.
Contudo, não pretendo aprofundar agora história nenhuma. Para quem ainda não espreitou as fotos que partilhei ontem no facebook, ficam aqui algumas - juntamente com outras que vou acrescentar hoje. Espero que gostem.
MAIS UMA FICHA...
...mais uma volta!
Estou em Hanói - no próximo domingo arranca mais uma edição da Indochina. Hoje, mal cheguei ao hotel, fui ver os mails... e que boa notícia, para começar bem o dia.
A edição de Dezembro desta aventura já está confirmada!
Ainda há vagas - quatro, se não me engano. Por isso, a todos os que estavam a ponderar aproveitar para fazer as compras do próximo Natal em Bangkok: não se despachem, não. Isto nem esgota num instante nem nada.
De qualquer forma, tenho as energias concentradas na edição que se segue. Amanhã chega o Tiago Costa, que vai acompanhar-me e ao grupo nesta mítica viagem - já não era sem tempo, foi preciso esperar pela 15ª volta eheh.
E domingo lá chega o grupo.
Até lá, vamos conversando - aqui e no facebook.
Estou em Hanói - no próximo domingo arranca mais uma edição da Indochina. Hoje, mal cheguei ao hotel, fui ver os mails... e que boa notícia, para começar bem o dia.
A edição de Dezembro desta aventura já está confirmada!
Ainda há vagas - quatro, se não me engano. Por isso, a todos os que estavam a ponderar aproveitar para fazer as compras do próximo Natal em Bangkok: não se despachem, não. Isto nem esgota num instante nem nada.
De qualquer forma, tenho as energias concentradas na edição que se segue. Amanhã chega o Tiago Costa, que vai acompanhar-me e ao grupo nesta mítica viagem - já não era sem tempo, foi preciso esperar pela 15ª volta eheh.
E domingo lá chega o grupo.
Até lá, vamos conversando - aqui e no facebook.
22/01/2013
E DEPOIS DAS FLORES...
...hamburguers!
Isto até pode soar estranho, mas passo a explicar: os amigos com quem estava ontem têm um restaurante no Algarve que serve, segundo os entendidos, dos melhores hamburguers que há. Sempre que viajam, gostam de experimentar algumas variedades locais, por isso pesquisam na internet pelas melhores "casas", ou aquelas que servem versões originais, etc.
Ou seja, a Matilde já vinha com um restaurante "fisgado".
"Não é bem um restaurante, é mais um bar que serve hamburguers."
Vamos lá, então. É noite de novidades, de qualquer forma - e quem é que não gosta de um bom hamburguer. ;)
Saímos do Mercado das Flores e continuámos pelas ruas da Chinatown. Passámos junto a uma escola de Belas Artes onde estava a decorrer um concerto de rock, tentámos "cravar" uma cerveja mas sem sucesso - e depois mandámos parar um tuktuk, que precisou de usar uma lupa para ler a morada que lhe entregámos... medo!
Ainda a guardar a lupa no bolso, o tailandês sorriu orgulhoso e anunciou que sabia onde ficava a rua. Ao que parece, segundo o que a Matilde tinha lido na net: era um sítio chique.
Deixámos a Chinatown para trás e rasgámos avenidas vazias rodeadas de lojas, centros comerciais e neons, atravessámos a Little Arabia e a Little India, e uma zona cheia de restaurantes japoneses... e voilá! Chegámos ao Iron Fairies (sim: Fadas de Ferro).
A porta estava fechada.
Incrível: tínhamos atravessado meia-Bangkok para isto. Fechado. Fechado? Espera lá: pareceu-me ver algum movimento, luz e sombras, deixa cá ver se a porta está mesmo fechada.
E eis que a porta abre quando a puxo, e damos de caras com uma pesada cortina de veludo preto e o som inconfundível de um saxofone.
O "Fadas de Ferro" é um bar de jazz com pinta de fábrica, com uma escada em caracol que não vai dar a lado nenhum, no meio da sala; um lugar escuro, intimista e industrial ao mesmo tempo. Iniciativa de uma artista/serralheira australiana - e que tem uns hamburguers deliciosos, que são servidos numa maciça placa de madeira, com uma faca espetada no meio.
E esta, hem?
Isto até pode soar estranho, mas passo a explicar: os amigos com quem estava ontem têm um restaurante no Algarve que serve, segundo os entendidos, dos melhores hamburguers que há. Sempre que viajam, gostam de experimentar algumas variedades locais, por isso pesquisam na internet pelas melhores "casas", ou aquelas que servem versões originais, etc.
Ou seja, a Matilde já vinha com um restaurante "fisgado".
"Não é bem um restaurante, é mais um bar que serve hamburguers."
Vamos lá, então. É noite de novidades, de qualquer forma - e quem é que não gosta de um bom hamburguer. ;)
Saímos do Mercado das Flores e continuámos pelas ruas da Chinatown. Passámos junto a uma escola de Belas Artes onde estava a decorrer um concerto de rock, tentámos "cravar" uma cerveja mas sem sucesso - e depois mandámos parar um tuktuk, que precisou de usar uma lupa para ler a morada que lhe entregámos... medo!
Ainda a guardar a lupa no bolso, o tailandês sorriu orgulhoso e anunciou que sabia onde ficava a rua. Ao que parece, segundo o que a Matilde tinha lido na net: era um sítio chique.
Deixámos a Chinatown para trás e rasgámos avenidas vazias rodeadas de lojas, centros comerciais e neons, atravessámos a Little Arabia e a Little India, e uma zona cheia de restaurantes japoneses... e voilá! Chegámos ao Iron Fairies (sim: Fadas de Ferro).
A porta estava fechada.
Incrível: tínhamos atravessado meia-Bangkok para isto. Fechado. Fechado? Espera lá: pareceu-me ver algum movimento, luz e sombras, deixa cá ver se a porta está mesmo fechada.
E eis que a porta abre quando a puxo, e damos de caras com uma pesada cortina de veludo preto e o som inconfundível de um saxofone.
O "Fadas de Ferro" é um bar de jazz com pinta de fábrica, com uma escada em caracol que não vai dar a lado nenhum, no meio da sala; um lugar escuro, intimista e industrial ao mesmo tempo. Iniciativa de uma artista/serralheira australiana - e que tem uns hamburguers deliciosos, que são servidos numa maciça placa de madeira, com uma faca espetada no meio.
E esta, hem?
OLHÁ FLOR FRESQUINHA!
Ontem à noite fui dar uma volta ao
Mercado das Flores de Bangkok. Conhecido pelos locais como "o mercado na
boca do canal", ou Pak Klong Talad, este colorido e fresco bocadinho da
cidade existe há cerca de sessenta anos, neste formato. Antes foi mercado de
peixe, e antes disso um mercado flutuante - e estamos falar de muito, muito
antes. Quase trezentos anos antes.
Já tinha lido
sobre este mercado num guia - tinha curiosidade em lá ir. Nem sei como demorei tanto tempo a decidir-me. Mas ontem aproveitei que estava com a Matilde e o Luís, e desafiei-os a vir dar uma espreitadela.
Sabia que estava aberto 24 horas por dia, que a melhor altura para lá ir era a noite - de certa forma, já sabia ao que ia.
Sabia que estava aberto 24 horas por dia, que a melhor altura para lá ir era a noite - de certa forma, já sabia ao que ia.
Ou seja: nem sequer foi uma grande surpresa - o que não
tem de ser uma coisa má, tendo em conta que tinha expectativas altas.
Gostei
especialmente da mistura de perfumes, do ar fresco e das cores que brilham à
luz das lâmpadas. Gostei da actividade dos locais, pacientemente concentrados
no chamado "trabalho de chinês", ora a espetar pétalas em grinaldas,
ora a desfolhar flores, a encher sacos de plástico com pétalas de cravos, a agrupar rosas em
conjuntos de dez e vinte, a enrolar bouquets em papel de jornal, a borrifar
tudo com água, a regar, a cortar, a dar toquezinhos aqui e a arrumar ali...
Mais do que a descrição, vale a pena
ver as fotos. Que cores!
Mas aqui entre nós: tenho pena de não ser possível
(ainda) partilhar os cheiros pela net
21/01/2013
AFINAL TAMBÉM HÁ 13
Publiquei aqui há algum tempo uma foto tirada dentro de um avião da Lao Airlines, onde partilhava a curiosidade de não haver fila 13. Várias pessoas comentaram que isso é relativamente normal, porque há muitas pessoas supersticiosas que se recusam a voar na fila 13 - e as companhias preferem suprimir este número e evitar dramas desnecessários.
Se assim é - e acho que tem lógica, esta explicação - então encontrei a verdadeira curiosidade. Estava a entrar num voo da Vietnam Airlines e lembrei-me de reparar se havia ou não fila 13.
E não é que havia mesmo?
Mas ia vazia. :)
Se assim é - e acho que tem lógica, esta explicação - então encontrei a verdadeira curiosidade. Estava a entrar num voo da Vietnam Airlines e lembrei-me de reparar se havia ou não fila 13.
E não é que havia mesmo?
Mas ia vazia. :)
20/01/2013
É UM MUNDO PEQUENO #03
É um mundo pequeno quando chegas ao aeroporto de Bangkok,
apanhas o comboio para o centro, uma moto-taxi até ao teu hotel - e nos últimos
cinquenta metros, que fazes a pé com a mochila às costas e a cabeça noutro
planeta, de repente ouves alguém chamar o teu nome.
Viras-te para trás e tentas encontrar, na multidão de
turistas, massagistas e vendedores, uma cara conhecida. E eis que salta à vista
um sorriso enorme, um sorriso que conheces de casa, que conheces de outras
viagens.
Recuas cinco, seis anos.
Estás no norte da Índia, a meio caminho entre Dharamsala e
Baksu, na loja de um amigo, quando ouves a mesma voz:
"Jorge?"
Nessa primeira coincidência, o tom com que foi dito o teu
nome foi diferente de agora: tinham sido apresentados num jantar em Lisboa, uns
meses antes, e ainda não se conheciam bem.
Foi uma espécie de "Jorge... és tu?"
Entre o curso de joelharia dela e o teu trekking ao topo da montanha, lá conseguiram passar algum tempo juntos. Assistiram a um
filme numa sala de cinema improvisada, na cave de uma mercearia, cujo acesso se fazia por uma escada de caracol junto às hortaliças e cenouras. Ao jantar, partilharam
peripécias de viagem, filosofias, amigos em comum.
E nos anos que ligaram essa primeira coincidência a esta,
voltaram a encontrar-se em festas, jantares, cafézinhos.
Há um mês atrás, esta amiga enviou-te um email a dizer que ia estar por estas bandas com o namorado. Quem sabe, com sorte, ainda se encontravam. Trocaste calendários e disponibilidades, ela até tentou fazer coincidir a passagem-de-ano com a tua, mas não
deu em nada.
Já nem te lembravas que esta amiga andava "por aqui".
E de repente, sem combinações nem planos nem nada, estás a
chegar do aeroporto, onde acabaste de deixar a tua mãe e uma tia, e eis que o mundo é mesmo pequeno, a tua amiga Matilde está sentada a
beber uma cerveja com o namorado e vê-te passar, levanta-se e com voz cheia de Amigo
e Abraços chama o teu nome.
"Por aqui? Que coincidência!"
É mesmo pequeno. O mundo.
17/01/2013
ERA UMA TIME OUT, SFF
Quando estou numa cidade em que sei que é publicada a Time Out, tenho por hábito comprar a
revista. Assim sendo, na semana passada, estava eu em Bangkok, entrei num 7Eleven e
depois de procurar sem grande sucesso na secção das revistas, perguntei à
menina ao balcão:
"Do you have Time Out Magazine?"
Ficou a olhar para mim com cara de boneca de porcelana, com dois
olhos enormes sem expressão, por causa das lentes de contacto pretas e das
compridas pestanas falsas:
"Tai....?"
"No, no. Time Out. It's a magazine. Time Out Bangkok... have?"
"Thai Mouse?"
"No, noooo. Time. Out."
A menina chama a outra rapariga atrás do balcão... hmmm...
espera lá... o outro rapaz... não... ok, chamemos-lhe pelo nome: um lady boy. O
7eleven é conhecido por ter uma política de recursos humanos muito aberta, dando emprego a muita gente que pode ser vítima de estigmas
e alguns preconceitos, principalmente em empresas de serviços.
Anyway: o lady boy pergunta-me o que eu quero e eu insisto:
"Time out. Do you have Time Out?"
Então ele/ela sorri, com ar maroto, e responde-me:
"Cannot, sorry... we are open 24 hours a day."
10/01/2013
É PROIBIDO FAZER XIXI NESTA PAREDE
Adicionei esta semana mais alguns "stops" ao respectivo álbum no facebook - e, desta vez, eram todos "made in Bangkok".
A sinalética revela muito sobre o espaço público, as pessoas que o utilizam, os costumes, práticas... são reflexo de tradições e traumas, da psique colectiva, da própria cultura (e contra-culturas) de um país e do seu povo. Talvez por isso me fascine tanto.
Ficam alguns dos sinais publicados ontem no facebook, mais outros que já lá estavam e uns que nem sequer lá estão. Todos têm em comum o facto de serem de Bangkok. Dos lugares reservados para monges aos balões proibidos no skytrain; aos patins em linha, que não se podem usar dentro de centros comerciais... e, como não podia deixar de ser, os mal-amados durians, esse fruto mal-cheiroso que não pode entrar em lado nenhum, nem transportes públicos nem hotéis caros, nem edifícios públicos.
A sinalética revela muito sobre o espaço público, as pessoas que o utilizam, os costumes, práticas... são reflexo de tradições e traumas, da psique colectiva, da própria cultura (e contra-culturas) de um país e do seu povo. Talvez por isso me fascine tanto.
Ficam alguns dos sinais publicados ontem no facebook, mais outros que já lá estavam e uns que nem sequer lá estão. Todos têm em comum o facto de serem de Bangkok. Dos lugares reservados para monges aos balões proibidos no skytrain; aos patins em linha, que não se podem usar dentro de centros comerciais... e, como não podia deixar de ser, os mal-amados durians, esse fruto mal-cheiroso que não pode entrar em lado nenhum, nem transportes públicos nem hotéis caros, nem edifícios públicos.
09/01/2013
12 x 9 = 2012
Ando a publicar diariamente um "balanço" de 2012 no facebook do fui dar uma volta, sob a forma de 12 conjuntos de 9 fotos, alguns comentários e até um apanhado de vários acontecimentos internacionais.
Passem por lá, espreitem as cores que se pintou o meu ano e partilhem com os vossos amigos.
Passem por lá, espreitem as cores que se pintou o meu ano e partilhem com os vossos amigos.
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