29/05/2013

ELÁDIA ISABEL

Só no último dia em Buenos Aires é que fomos experimentar o flan con dulce de leche do Café Tortoni - o mais antigo café da cidade, uma espécie de Brasileira cá do sítio, ponto de paragem obrigatória em todos os roteiros turísticos. Ou seja: não eramos os únicos saloios a tirar fotografias à sala, a olhar demoradamente para cada pormenor, a apontar, olha ali...

É inevitável, às vezes não há como dar a volta: somos turistas, pois somos, não me venham cá com a história do viajante, etc... somos estrangeiros, podemos disfarçar e mais-não-quê, ter uma postura mais assim, fazer opções que consideramos diferentes, originais, mais terra-a-terra, o-que-for. Nas reacções às nossas acções, nas pegadas que deixamos, por mais ao-de-leve, naquilo que representamos para quem vê de fora, não deixamos de ser: turistas.

Enfim: continuemos.

Fomos ter com o Álvaro e a Marta ao princípio da noite e jantámos - uma espécie de despedida, até um dia destes, abraços e beijinhos e saudades. Levámos as mochilas para o restaurante e depois do jantar seguimos em passo apressado na direcção do rio: tínhamos encontro marcado com a Eládia Isabel. E não queríamos chegar atrasados. Porque a Eládia Isabel não espera por ninguém.

Ora a Eládia Isabel... como explicar. Como descrevê-la, se eu próprio dormi o tempo quase todo.

Tem nome de cantora pimba, mas não é muito dada a espectáculos. A Eládia Isabel faz o que tem a fazer. Bem... a Eládia transporta pessoas - não, esta não é a melhor forma de a apresentar, escrito assim até consigo imaginar uma mulher com pessoas às costas.

Ok, cartas na mesa: a Eládia é um barco. Pronto, já disse.

Imaginem um cacilheiro chamado Eládio Clímaco, ou Rute Marlene... é mais ou menos isto, mas em vez de fazer a travessia de Lisboa para o Barreiro, a Eládia transporta pessoas da Argentina para o Uruguai, e vice-versa. Chique.

E não é a única. Eu cá não sou de falar mal dos outros, eu nem tenho nada a ver com a vida das outras pessoas, cada um faz o que quer, cada macaco no seu galho... mas disse-me um passarinho que há outros a fazer o mesmo: o Luciano Frederico, por exemplo. E a Sílvia Ana -  para a frente e para trás, cheios de turistas a atravessar o Rio de la Plata...

Mas porquê a Eládia? Porquê a Eládia Isabel e não outro barco qualquer?

Porque não havia uma Constança Teixeira da Cunha. Se eles tivessem um barco chamado Constança, eu ia.

Não. Agora a sério: porquê a Eládia?

Não foi por amor, concerteza. Nem que seja porque nem a conhecíamos, ainda. Não sabíamos se era bonita, se era simpática, se era eficiente. Se era de boas famílias. Só escolhemos a Eládia por conveniência, admito. Porque saía de Buenos Aires à noite e isso dava jeito... e porque era mais barata.

Desembarcámos no Uruguai a meio da noite, nem sei bem a que horas, parecíamos zombies a chegar a Colónia del Sacramento, mas nem vimos nada da cidade, passámos do interior do barco para o interior de um autocarro e dormimos até ao sol nascer. Até chegarmos a Montevideo.

Já agora: alguém sabe se os cacilheiros têm nomes?

4 comentários:

Rosa Afonso disse...

Parece que têm :)
http://www.simplonpc.co.uk/LisbonFerries_car.html

Anónimo disse...

Bom dia!
Palmelense, Dafundo, Campolide, Seixalense, Sintrense e Trafaria-Praia.

LV disse...

Como sabes sou fã destes 2 principais ingredientes:
flan e dulce de leche, a mistura deve ser de comer e pedir MAISSSS



Clara Amorim disse...

Bem, a Eládia Isabel também serviu para outra coisa... Para nos deixares esta crónica tão bem-humorada!!!