06/05/2013

A RECTA FINAL

O trecho até ao último refúgio foi o mais fácil de todos, nesta caminhada. O que não quer dizer que não tenhamos demorado mais tempo que o normal. Fácil ou não, continuamos a avançar devagar. Maldito joelho.

Mas fez-se bem. O tempo tinha melhorado, no regresso do Vale Francês, e assim continuou no final da tarde, sem chuva, as nuvens lentamente a dispersar, o céu cada vez mais azul, lembrando o dia da ascenção às Torres. Sempre em amena cavaqueira, discutimos histórias e História, filosofias e tradições, religião e cusquices - penso que foi, das caminhadas que fizemos até agora, aquela em que mais falámos. Excepção feita ao período em que atravessámos uma vasta área de floresta queimada, triste vestígio do incêndio de que já ouvimos falar várias vezes. Foi um momento de silêncio, aquele em que mergulhámos ao deparar com as árvores e o chão preto - e só conseguimos reagir para amaldiçoar a irresponsabilidade e a má sorte de quem causou isto. 


Chegámos tarde ao refúgio, já noite outra vez - mas ainda a tempo de jantar. E que belo repasto nos esperava. Aliás: este refúgio de Paine Grande é de um nível bastante superior aos outros. Também um pouco mais impessoal, confesso, por ser maior - por parecer-se mais com um hotel do que um refúgio. Mas foi bom: chegar e comer logo uma refeição farta e quente; e como já era tarde e muita gente estava a dormir, atribuiram-nos uma camarata só para nós, para não incomodarmos quem já estava na cama. Gosto disto.

Na manhã seguinte, chuva e vento outra vez. As dores no joelho continuavam na mesma. O plano inicial era subirmos a "última perninha do W" (última para nós, porque vimos da direita para a esquerda - a lógica diz que é a primeira) e descermos de novo até ao refúgio, a tempo de apanhar o barco de regresso a Puerto Natales. Mas os planos foram feitos para serem alterados, ao que parece. Tivemos a sorte de ver as Torres del Paine rodeadas de um azul celestial, sem uma única nuvem a atrapalhar. E no meio de um dia chuvoso e cinzento, o céu abriu-se para nos mostrar o Vale Francês, ontem. As dores são muitas, o ritmo é lento, se formos ao Glaciar Grey corremos o risco de não voltar a tempo do barco. E a chuva - não apetece nada caminhar à chuva.


Estamos contentes com tudo aquilo que vivemos nos últimos quatro dias. Decidimos não subir ao Glaciar Grey. Fica para a próxima. Vamos voltar para Puerto Natales no barco da manhã e descansar um ou dois dias, antes de avançar novamente.

E a verdade é que, com a caminhada extra no primeiro dia, acabámos por fazer um "W" à mesma. Só não foi o "W" do costume.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Digamos que foi um "W" lesionado!!!;)
Mas, ainda assim, Wonderful!