04/05/2013

DE VOLTA À ESTRADA

O quarto dia no Parque Nacional Torres del Paine acordou chuvoso e cinzento, mas depois do descanso, tínhamos mesmo de avançar. O meu joelho estava um bocadinho melhor, o entusiasmo em alta - tomámos o pequeno-almoço, despedimo-nos dos novos amigos e por volta das oito e meia estávamos a sair.

O objectivo de hoje era avançar pela "base do W" até ao Acampamento Italiano, e conforme:
- o ritmo conseguido
- as dores no joelho
- as condições climatéricas
podíamos continuar directos até ao fim, ou guardar aí a mochila grande, subir até ao Vale Francês (na perna do meio do W) e descer outra vez, apanhar novamente a mochila e continuar até a Paine Grande, o último refúgio, o destino inevitável do dia de hoje.


Com novo arco-íris a acampanhar-nos durante parte do caminho, avançámos por praias de seixos junto ao lago, embrenhámo-nos na floresta - e apesar de um ritmo relativamente lento e uma chuva miudinha que insistia em ir-e-vir, chegámos ao Acampamento Italiano com os espíritos em alta. Decidimos subir um pouco a montanha, mesmo que não conseguíssemos chegar ao coração do Vale Francês - pelo menos tentávamos ver alguma coisa. Rochas e subidas íngremes, não foi nada fácil... e a descida prometia ser ainda pior, porque este joelho permite-me subir com alguma dificuldade, mas para descer é um inferno. De qualquer forma, estávamos inspirados - e a paisagem que nos acompanhava ia melhorando, à medida que subíamos. Glaciares, montanhas cheias de neve de onde caíam blocos de gelo, rios e cascatas, árvores derrubadas e muita, muita pedra.

Decidimos que voltaríamos para baixo ao fim de duas horas de caminhada, estivessemos onde estivessemos, para ter tempo de almoçar, voltar para trás e chegar ao Acampamento Italiano com tempo suficiente de fazer o restante caminho até ao próximo refúgio. Mas claro que à medida que subíamos e perguntávamos às pessoas que passavam para baixo onde ficava o mirador, íamos ficando mais perto, e a vontade de avançar "só mais um bocadinho" era mais forte que a urgência de descer. Caminhámos quase três horas até que começámos a discutir a hipótese de voltar para baixo.

E só quando nos cruzámos com o casal húngaro, com quem passáramos parte da tarde de ontem, que decidimos voltar. Vinham desiludidos, porque o céu estava tão carregado e o nevoeiro tão cerrado, que fora impossível ver o Vale Francês, a partir do mirador. Parámos um pouco para conversar, tirámos algumas fotos todos juntos - e quando eles retomaram a sua descida, nós invertemos a direcção e também começámos a voltar.


Mas o Destino tinha planos bem concretos para nós, e por milagre ou magia ou pura sorte, a meio da descida as nuvens começaram a afastar-se, e exactamente na altura em que passávamos um descampado a que algumas pessoas chamam "o primeiro mirador", eis que o Vale Francês aparece a brilhar ao sol, mesmo à nossa frente.


Ok: não é a vista do último mirador, onde supostamente estamos rodeados, a quase 360º, por montanhas. Mas mesmo assim era uma vista espectacular, com os pináculos das montanhas a enxotar as nuvens, o céu azul a sorrir para nós, estão a ver, valeu a pena, ainda bem que vieram, agora voltem com calma e segurança.

E assim foi. Depois das fotos e dos uaus da praxe, voltámos até ao Acampamento Italiano, pegámos na mochila grande - ou pegou o coitado do Bunty, que eu tenho levado a pequena o caminho todo, desde que me magoei - e lá avançámos, a sorrir com as voltas da Sorte, em direcção ao último refúgio.

2 comentários:

Clara Amorim disse...

Que cenário fabuloso...!

kyta disse...

Exótico!