Quem são estas velhotas que cobrem a cabeça com um lenço
branco e marcham em frente à Casa Rosada, entoando canções e palavras de ordem
- parece perguntar um casal asiático, enquanto tiram a máquina fotográfica da
mochila.
Estas mulheres são as Mães da Praça de Maio. Concentram-se
aqui, no coração de Buenos Aires, todas as quintas às três da tarde, para
exigir notícias sobre os filhos desaparecidos durante a ditadura militar na
Argentina - e hoje viemos aqui só para vê-las.
Confesso que não estava à espera
deste aparato todo: contava encontrar meia dúzia de pessoas a caminhar em
protesto - nunca isto. Dezenas de pessoas organizadas a cantar, chorando o rapto
dos seus filhos nos anos 70, por militares do regime, só porque os pais eram
considerados "subsersivos".
Com 35 anos de existência, a associação tenta manter viva a
memória dos argentinos, no que aos desaparecidos diz respeito - mas hoje faz
muito mais do que isso. As Mães de Maio têm agora um papel muito mais activo na
sociedade, lutando por variadíssimos direitos dos cidadãos, contribuindo para
causas sociais diversas, e alertando as consciências para muitas questões.
A energia destas mulheres é incrível - juro que se sente no
ar. O sofrimento nas rugas que decoram os seus sorrisos, uma imensa doçura de
avó no olhar... é difícil de explicar. Elas não são só as mães dos seus filhos
desaparecidos. São as mães da consciência de um país. E cumprem esse papel com
dedicação, amor e muita garra.
Queria ter publicado
esta crónica no Dia da Mãe, mas infelizmente não foi possível. Partilho-a hoje,
duas semanas depois, como homenagem a todas as mães e à sua dedicação
desinteressada, apaixonada, crítica.
Mais sobre as Mães da Praça de Maio aqui.
3 comentários:
Fantástico...!
Sem palavres, que força!!!
Sem palavres, que força!!!
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