22/12/2013

A PROPÓSITO DE FRIO E MONGES

Há poucos dias partilhei no facebook um screenshot que mostrava parte de um chat com o meu amigo Jay, um noviço que vive num mosteiro budista, nos arredores de Luang Prabang.

O Jay é um miúdo de dezasseis anos, sobre quem conversaremos um dia destes, tem uma história de vida engraçada - mas que, para o momento, não interessa conhecer.

Passaram quatro dias desde a primeira conversa acerca do frio, da rapadela na lua cheia, do desconforto... e as temperaturas em Luang Prabang mantêm-se. "Diz" que melhorou ligeiramente, mas cá entre nós: nem se nota.

Ou seja: comecei a ficar preocupado com o Jay, que muito provavelmente continuava a "rapar" frio depois de rapar o cabelo. Anteontem ao fim da tarde enviei-lhe uma mensagem, voltou a responder-me que estava constipado e que sentia frio. Então perguntei se precisava de alguma coisa, medicamentos ou algum agasalho... e aqui começou o insólito que deu origem a este post.

É que o Jay respondeu que precisava de roupa.

Assim que cheguei ao hotel, perguntei ao Kham - o recepcionista - que tipo de roupa é que podia dar a um monge budista, ao que me respondeu:

"Nenhuma. Eles só podem usar o robe laranja - e pouco mais. Não lhe podes dar camisolas nem cachecóis ou casacos. Mas se quiseres podes dar-lhe um cobertor, ou um edredon."

Claro que enviei uma mensagem ao miúdo, a perguntar o que queria dizer com "roupa". E como não me respondeu até ao fim do dia, tentei investigar. Toda a gente me dizia o que o Kham já me tinha dito.

E eu que já tinha fisgada uma camisola Ralph Lauren. ;)

Passou-se mais uma noite. Hoje de manhã peguei na mota e fui ao mosteiro do Jay, que fica a uns quinze minutos daqui, a norte da cidade, junto à margem do Mekong. Recebeu-me com um sorriso enorme, ficámos à conversa quase uma hora e entretanto esclareceu-me acerca do que precisava: um robe. Disse-me que o robe o protegia do frio e que ficaria muito agradecido... e à tarde lá fui dar uma volta pelas ruas de Luang Prabang, à procura de uma loja que vendesse artigos para monges budistas.

E agora o insólito.

A propósito de frio e monges.

Eis-me numa loja a perguntar por robes de monges... mas robes de inverno! Ahah. A senhora a olhar para mim tipo "este-gajo-é-doido" e eu a insitir que tinha de ser robe de inverno, que protegesse do frio, não podia ser um robe qualquer. A senhora lá acabou por desistir de tentar perceber o que eu queria... e anunciou que não tinha tal artigo. Acabei por comprar uma espécie de camisola interior de lã - côr-de-laranja, pois claro - que os monges podem usar por baixo do robe, quando faz frio. E comprei também um gorro de lã amarelo.

Depois fui à procura de mais lojas, mas ninguém sabia do que estava à procura. Ou seja: no final acabei por voltar à loja original, e já em desespero comprei um robe laranja "normal".

"Já leva o gorro e a malha... tudo junto com um robe normal há-de protegê-lo do frio", pensei.

E pensei bem.

Porque quando voltei ao mosteiro, no final da tarde, e entreguei ao Jay os artigos que tinha comprado, os seus olhos brilharam e o sorriso abriu-se ainda mais que o normal.

"Era isto mesmo que queria", disse-me a segurar o robe. E depois pegou nas outras coisas e agradeceu profundamente.

3 comentários:

lv disse...

É muito gratificante fazer feliz alguém. Ainda bem que o conseguiste e nesta quadra natalícia sabe tão bem ....
Tenho muito orgulho de ti ... eheheeh :)

POC disse...

Tenho quase a certeza que estive exactamente no mesmo sítio em que estiveste, nesse mesmo mosteiro.

Estive pouco tempo no Laos, o suficiente para adorar e querer voltar.

Clara Amorim disse...

E que quentinho ficou o Jay...! :)