04/12/2013

A EPOPEIA DA AMIGDALITE (parte 2)

Continuemos então com os dramas desta semana à volta das minhas amígdalas:

Onde é que nós íamos? Hmmm... deixa cá ver.

Hànôi, no quarto dia de sofrimento. ;)

Chegaram as dez pessoas que me estão agora a acompanhar em mais uma viagem pela Indochina: passei o dia entre o hotel e o aeroporto, cheguei ao hotel às nove da noite e sentei-me com o grupo no restaurante ao lado, onde vou muitas vezes jantar quando estou sozinho na cidade. Já me conhecem ali, é pequenino e calmo, come-se bem. O lugar ideal para deixar dez pessoas que (ainda) não se conhecem, numa cidade estranha, a partilhar uma refeição.

Pois: porque desta vez desculpem lá, mas tenho de "abandonar o barco" mais cedo.

Cada minuto: uma preciosidade. E eu tenho MESMO que descansar.

Pedi uma pizza individual, o rapaz trouxe-a numa caixa para eu comer no hotel e recusou-se a receber qualquer dinheiro. Eu bem que tentei, mas ele apertou-me o braço e disse:

"Jorge, eat your pizza and get some sleep, I wish you get well soon."

E fraquinho como eu estava, a precisar de miminhos e cutxi-cutxis, só me faltou chorar ali à frente de toda a gente ;)

Fui para o quarto, portanto. Febre outra vez a roçar os 39C, suei mais duas ou três t-shirts durante a noite, meti antibiótico e tudo o que tinha a "meter, dormi das dez da noite às oito da manhã, três ou quatro idas à casa-de-banho pelo meio, mais bochechar água salgada como me foi recomendado por amigos indianos, mais eu-sei-lá-o-quê.

Amigdalite, dia 5:
Hànôi

Acordei com menos febre do que quando me deitei. Trinta e oito. Um dos meus companheiros de viagem emprestou-me um casaco, por isso saí à rua com várias camadas em cima, incluindo uma espécie de toalha/pano que comprei no Curdistão, enrolado ao pescoço, parecia que ia para uma expedição no Pólo Norte.

Lá fora: um dia maravilhoso.

Céu azul daqueles que tão poucas vezes acontecem nesta cidade. Uma luz de Outono cheia de melancolia, as ruas ainda tímidas - activas mas a despertar. Passámos a manhã às voltas pelo Bairro Antigo, como é costume neste primeiro dia de aventura. Andei um bocadinho mais devagar mas o grupo não pareceu importar-se muito ;) e tive de abdicar da minha bia hoi. Que bem que me costuma saber aquela cerveja artesanal fresquinha logo às dez da manhã...

Entretanto "tenho" duas pediatras, uma enfermeira e uma farmacêutica no grupo - e foram unânimes quanto ao facto do antibiótico que me foi dado não ser o correcto.

"Este é para abcessos."

Ok.

Começamos do zero?

A sério. Só a mim.

Fomos a uma farmácia e lá comprei a poção mágica certa, mas convém-me tomar o veneno mais dois dias, para completar o tempo, bla bla, etc etc.

Passeatas, farmácias e mercados. Motas carregadas até ao infinito, comida fresca a passar à frente do meu nariz, enfeites de Natal e brinquedos e o caos das compras. Buzinadelas. Passarinhos nas suas gaiolas. Crianças a correr e a rir. E quando chegámos ao bun chá, para almoçar naqueles banquinhos de plástico tão típicos rentes ao chão, parecia que tinha andado uma semana inteira sem parar. Fiz-de-forte e tentei dar ares de quem está em cima do acontecimento - mas só me queria deitar. Doíam-me as pernas, pele e pelos e ossos, doíam-me os pulsos como se alguém me tivesse agarrado com toda a força, doía-me o corpo todo como se o trânsito de Hanói, todas as três milhões de motas, em vez de andarem à minha volta tivessem passado por cima.

Comi o bun chá. Comi - mais ou menos. Petisquei. Pela primeira vez na minha vida, e espero que a última: não acabei um bun chá.

Isto está mesmo mau.

Findo o almoço, dei uma horinha livre para café, descanso e/ou compras - e fui deitar-me. Mas já sabia que não ia ter energias para acompanhar o grupo na parte da tarde. Por isso: o que é que eu fiz?

Em primeiro lugar: parabéns a você. Uma das meninas do grupo fazia anos e o Trung, o gerente do hotel, notou nisso ao fazer o check in. Comprou um bolo e flores (!) e a Catarina apagou as velas antes do passeio de mota. Foi um momento especial, com um bolo personalizado, concerteza que não se vai esquecer deste aniversário :)

Mas voltando ao drama...

Convoquei dez motas para um passeio ao Templo da Literatura, Mausoléu do Ho Chi Minh e Pagoda de Um Pilar. A maior parte dos drivers já conhece o roteiro, já fez isto comigo várias vezes - e foi a esses que me dirigi. Vocês tomem conta do meu grupo, eu hoje não os acompanho, vou ficar aqui a descansar.

Dei o briefing ao grupo, expliquei-lhes o que iam ver, os tempos em cada sítio, a que horas nos encontrávamos. E fiquei a vê-los partir, naquela rua apertada, de perfil recortado no sol, qual western... hmmm ok. Mas deu-me um aperto, como uma galinha que abandona os seus pintainhos pela primeira vez, para que se aventurem sozinhos. Eles são só uns pintainhos.

E eu: uma galinha?

Ok: é da amigdalite.

Provavelmente é hora de tomar o remédio. Já volto, para ver se acabo de vez com esta epopeia.

3 comentários:

LV disse...

Oh Jorge, coitadinho de ti, lá tão longe e tão sozinho, sem ninguém para tomar contade ti.

Não demores a colocar outro post, agora estamos em pulgas para saber como se desenrolou esta amigdalite - parte 3

margarida disse...

Pobre Jorge, e nós tão longe....
Um grande beijinho e estamos à espera do resto da epopeia
Bjs Tia Guida

Joana Fragoso disse...

eu bem conheço essas dores.....que horror....mas agora que estas melhor, acaba lá de contar que estou curiosa em ler, beijos e as melhoras maninho!!!!
Saudades, muitas