25/08/2011

CONTA A LENDA...

...que Solomonia Saburova, a primeira mulher de Vasily III, foi recambiada em 1520 para o Convento da Intercessão, em Suzdal. E porquê? Era infértil, diziam.

"Já para o convento, e hoje não comes sobremesa!", foram as palavras de Vasily III.

E foi - que remédio, se o tsar manda não há desculpas que valham. Entre ataques de choro, amuos e depressões várias, a Solomonia (ou dona Monia, que era como as freiras a chamavam, carinhosamente) lá ia recebendo o tsar, que vinha matar saudades dela aos fins-de-semana. Tão santa era a vida no convento que Solomonia acabou por engravidar, sem recurso a clínicas especiais nem milagres dos pastorinhos nem nada, foi assim um momento de sorte, talvez abençoado porque quando o tsar vinha matar saudades da Solomonia, matava-as no convento. Sim, os tsars podiam "matar saudades" nos conventos, tinham autorização. Porque eram tsars.

De qualquer forma, a gravidez já chegou tarde. Os advogados reais tinham posto os papéis do divórcio há algum tempo, o tribunal foi rápido a decidir porque ao tsar ninguém dizia que não; e entretanto já havia nova esposa a caminho. Não sei o nome dela - mas não se esqueçam desta senhora, ainda vai ser importante para a história.

Nove meses passaram desde aquela noite de chuva em que Solomonia se abrigou nas cavalariças, quando voltava do seu habitual passeio de fim de tarde pelos prados. Estava encharcada e começou a despir-se, quando reparou que um jovem tratador de cavalos, o Nicolai, olhava fixamente para ela.

Ah... não foi esta noite, desculpem. Foi no fim-de-semana a seguir. O tsar tinha vindo de Moscovo e apanhou uma bebedeira de vodka, entrou no convento aos gritos, acordando todas as freiras:

"Solomonia! Solomoniazinha! Anda cá ao teu tsar!"

Nove meses depois, portanto, nasceu um rapaz. Apavorada que o filho fosse visto como um potencial rival para os filhos da nova esposa do tsar, Solomonia fez o impensável: deu-o para adopção. Disse a toda a gente que o bebé tinha morrido, simulou um funeral, fez luto e viveu o resto da vida a chorar o filho.

E foi, muito provavelmente, o melhor que podia ter feito pelo rapaz - porque pouco tempo depois, a segunda mulher do czar engravidou, deu à luz um rapaz e chamou-o de Ivan. O pequeno Ivan tinha uma mau feitio terrível - daó o cognome: Ivan, o Terrível.

Ok, confesso que exagerei em alguns detalhes da lenda, chamemos-lhe temperos. Foi para ficar mais condimentada. Dizem que "quem conta um conto...", não é? De qualquer forma, o facto é que em 1934, esta lenda foi mesmo confirmada pelo Estado, depois da curiosa descoberta de um pequeno túmulo junto ao de Solomonia, na Catedral da Intercessão. Lá dentro: um vestido de bebé, todo em seda e bordado a pérolas... e em vez de ossos, encontraram apenas trapos.

1 comentário:

LV disse...

O Tsar era danadinho para a brincadeira, coitada da pobre Solomonia .....