13/08/2013

A PIOR COISA QUE PODIA ACONTECER (parte 1)

Se não contarmos com catástrofes naturais, acidentes graves e outros eventos a abrir telejornais... qual seria a pior coisa que me podia acontecer com um grupo num Transiberiano?

Provavelmente: perder alguém do grupo em alguma estação de comboios.

Pois é: já aconteceu.

Foi há cerca de um mês, mas nessa altura andava entretido a contar histórias sobre a América do Sul... e só agora me lembrei de recuperar o sucedido. Aproveitando o facto de estar novamente a atravessar a Sibéria, eis-me finalmente inspirado para partilhar o que aconteceu.

Estávamos no primeiro comboio da aventura, entre Moscovo e Novosibirsk. Segundo dia sobre carris. Oito viajantes e eu. De manhã já tinha havido uma paragem de meia hora - e apanhei logo um susto. O comboio arrancou e não conseguíamos encontrar um dos passageiros. Tentei manter a calma e acalmar o grupo, disse-lhes que ele provavelmente tinha entrado noutra carruagem...

"Mas ele distrai-se muito a tirar fotografias, Jorge..."

Avancei pelos corredores fora, o coração quase a saltar pela boca, até que o encontro a vir na minha direcção. Entrara noutra carruagem.

Respira fundo. Está tudo bem. O espectáculo continua.

Algumas horas depois, nova paragem. Desta vez: quarenta e sete minutos. Estávamos em Yekaterimburgo. A cidade onde os Romanov foram executados. O grupo começa a sair do comboio e eu vou a correr ter com alguns, já na rua:

"Não se afastem muito do comboio. Estejam sempre à vista. Voltem com tempo", tipo paizinho.

E dez minutos antes da hora de partida, começaram a voltar. Todos - menos aquele que me tinha pregado o susto, umas horas antes.

Passaram cinco minutos - faltavam outros cinco para sair. Nada.

Mais um minuto. E outro. E mais um. E de repente toca um telefone e...

"Estamos aqui no comboio. Onde é que estás? Mas vem para cima, estamos mesmo aqui!"

Corro na direcção do telefone e tomo as rédeas:

Eu: Onde é que estás agora?

Ele: Num túnel. Perdi-me a voltar, não sei em que plataforma está o comboio.

Vejo a provitniza a dirigir-se para a porta, com a bandeirinha na mão. Tomo o lugar junto à porta aberta, a ver se atraso. Ela não fala inglês, mas explico-lhe com gestos e palavras que falta uma pessoa. Tento, ao mesmo tempo, dar instruções ao meu viajante:

Eu: Há um painel com o número 118. É o nosso comboio.

Ele: Mas se calhar já passei a saída certa, estou aqui no meio dos túneis...

Eu: Então sobe para ver se vês o comboio. Neste momento não há mais comboios. Estamos na segunda linha a contar da estação.

E de repente a provinitza empurra-me e toma o meu lugar. Abana a bandeira em resposta às outras bandeiras, nas outras carruagens, nas mãos das outras provinitzas. Não posso acreditar no que está a acontecer. O comboio arranca, ela fecha a porta e no momento em que o meu cliente me diz "estou a subir agora", vejo-o pela janela, a sair de um túnel mesmo à nossa frente.

E o comboio já partiu.

Desculpem mas preciso de sair agora, tenho o grupo deste Transiberiano à espera. Mas prometo que hoje à tarde termino a história. Até já!

3 comentários:

Joana Fragoso disse...

sei bem o que é essa sensação na barriga..... que susto maninho, bjsss

Clara Amorim disse...

Bem, já cá faltava o suspensezinho habitual...!

disse...

No fundo, tem de haver sempre uma pessoa problemática :S