Uma vez estava na Embaixada da Índia, a preencher
formulários para pedir o visto, quando se gerou uma discussão entre a menina do balcão e uma senhora do lado de cá, porque o visto não estava pronto a horas, ou
não podia ser feito com a rapidez que essa pessoa exigia - não me lembro bem do
drama em concreto.
Mas lembro-me perfeitamente que a menina do balcão ouviu com calma as queixas da indignada senhora do lado de cá, e depois contra-argumentou
com um exemplo, não me recordo ao certo qual, mas vamos admitir que o termo de
comparação era um talho.
E sendo um talho, o discurso foi mais-ou-menos este:
"Minha senhora, é um erro acreditar que pedir um visto
é como encomendar quinhentas gramas de carne. Estamos numa Embaixada,
não estamos num talho - e o visto não é uma peça de carne. É um documento oficial, emitido por uma representação
diplomática, que lhe dá autorização para entrar em território de uma nação soberana. O visto,
minha senhora, nem sequer é um dado garantido. A senhora faz o pedido e o
embaixador pode ou não concedê-lo. Por norma, a aprovação demora "xis"
tempo. Mas excepcionalmente pode demorar mais - e até pode nem ser concedido, o
visto."
A menina atrás do balcão tinha toda a razão. Habituámo-nos a
dar como garantidas uma série de coisas, procedimentos e resultados - e ficamos
muito indignados quando não corre tudo como pensamos que era suposto correr.
O que me remete para uma frase que li no outro dia no
facebook:
"As pessoas hoje sabem o preço de tudo. Mas já ninguém
sabe o valor de nada."
3 comentários:
Verdade, verdadinha...!
Os dados adquiridos já eram e a conjuntura é diferente.
Assusta-me este caminho para a anarquia, do querer tudo o que cada um deseja!
Excelente visão e exemplo!
Depende.
Se os serviços indicam uma data para a entrega do visto ou do que quer se seja, terão de a cumprir. Se não cumpriram, tem de se perceber a razão.
Falta de gente? Incuria?
E no caso de não estar pronto a tempo, informar a pessoa, antes desta se dirigir aos serviços.
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