O Vietname era então
governado pelo rei Lê Lợi, que passava a maior parte do seu tempo ocupadíssimo
a defender o país das agressões da Dinastia Ming, os chatos manda-chuvas dos
vizinhos do Norte.
Conta-se que um dia, Kim
Qui emprestou a Lê Lợi uma espada mágica. Esta espada tinha o poder de derrotar
o inimigo com quem o rei travasse uma guerra - e prometia uma paz duradoura a
seguir.
Mas havia uma condição: a
espada teria que ser devolvida.
A arma mágica foi então usada contra
os chineses e a profecia realizou-se: não só a "equipa da casa"
saíu vencedora, como nos anos que se seguiram, ninguém mais os chateou.
E agora há duas versões
para o desenrolar da lenda:
Numa, o rei estava a dar um
passeio de barco no lago quando veio uma tartaruga lançada das profundezas,
deu um mortal no ar, tirou-lhe a espada da mão e no meio de relâmpagos e música à Guerra das Estrelas, levou-a de novo para debaixo de água. Nunca mais
ninguém as viu (nem a espada, nem a tartaruga) e os ânimos só acalmaram quando o rei declarou que a tartaruga era
nem-mais-nem-menos que Kim Qui, que voltara para reaver a sua espada.
A segunda versão é um pouco
mais soft: a tartaruga aparece devagar à tona da água e com voz de anjo pede delicadamente ao rei para
que este lhe devolva a espada. Ele levanta-se, a silhueta recortada contra o pôr-do-sol, os pássaros em voo migratório ao fundo, e atira a arma à água. Kim Qui leva-a então para o fundo. Para
nunca mais ser vista.
Seja como for: o rei ficou
muito satisfeito e mandou dar um nome novo ao lago - aquele pelo qual é ainda
conhecido.
Hoan Kiem, ou traduzindo para bom português, o Lago da Espada
Devolvida.
A tartaruga ganhou
dimensões mitológicas. Considerada um guardião da espada, tornou-se também num
símbolo de soberania do país, e por toda a cidade foi crescendo a reverência ao
bicho.
Em 1967, um pescador ao
serviço de uma companhia alimentar capturou um pequeno monstro no lago. Com 200kg e
cerca de dois metros de comprimento, a tartaruga gigante deixou povo e
autoridades atónitos. A meio da guerra com a América, houve a preocupação e a urgência de
proibir que o animal fosse transformado em comida, e múltiplos esforços
feitos para salvá-lo da morte eminente. Mas os ferimentos causados pelo
pé-de-cabra do pescador (isso mesmo, o bicho foi capturado com um pé-de-cabra!)
revelaram-se fatais - e a tartaruga morreu. Está hoje em exposição no Templo
Ngoc Son, e é impressionante.
Durante muito tempo se
especulou se havia ou não outros guardiões da espada. Várias pessoas juraram ter
avistado tartarugas de dimensões absurdas, e num país com tanta superstição, nasceu mais uma: ver a tartaruga de Hanói - o bisavô, como é chamado, dá
sorte.
Eu já a vi.
Juro que sim - e tenho uma
foto que o prova (ver o link em baixo). Vi-a com o primeiro grupo da
Indochina, em Outubro de 2009, e só tenho a agradecer a boa sorte que isso me deu, não só com essa primeira edição desta aventura, mas com o sucesso em que se transformou nestes últimos três anos.
No ano passado, o bisavô foi capturado.
Esteve em tratamento durante alguns meses, ois tinha feridas infectadas e estava com alergias - por causa da poluição.
Fica em baixo o link do post que dediquei a esta notícia, com a respectiva
foto:
1 comentário:
Bem, aparentemente está explicado o sucesso desta aventura pela Indochina! Mas não só pela tartaruga...!!!
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