12/11/2012

A LENDA DA TARTARUGA DE HANOI



Há muito, muito tempo, quando os animais ainda falavam e as pessoas não sabiam o que era o Oppa Gangnam Style, havia uma tartaruga dourada que era venerada como um deus. Essa tartaruga chamava-se Kim Qui.

O Vietname era então governado pelo rei Lê Lợi, que passava a maior parte do seu tempo ocupadíssimo a defender o país das agressões da Dinastia Ming, os chatos manda-chuvas dos vizinhos do Norte.

Conta-se que um dia, Kim Qui emprestou a Lê Lợi uma espada mágica. Esta espada tinha o poder de derrotar o inimigo com quem o rei travasse uma guerra - e prometia uma paz duradoura a seguir.

Mas havia uma condição: a espada teria que ser devolvida.

A arma mágica foi então usada contra os chineses e a profecia realizou-se: não só a "equipa da casa" saíu vencedora, como nos anos que se seguiram, ninguém mais os chateou.

E agora há duas versões para o desenrolar da lenda:

Numa, o rei estava a dar um passeio de barco no lago quando veio uma tartaruga lançada das profundezas, deu um mortal no ar, tirou-lhe a espada da mão e no meio de relâmpagos e música à Guerra das Estrelas, levou-a de novo para debaixo de água. Nunca mais ninguém as viu (nem a espada, nem a tartaruga) e os ânimos só acalmaram quando o rei declarou que a tartaruga era nem-mais-nem-menos que Kim Qui, que voltara para reaver a sua espada.

A segunda versão é um pouco mais soft: a tartaruga aparece devagar à tona da água e com voz de anjo pede delicadamente ao rei para que este lhe devolva a espada. Ele levanta-se, a silhueta recortada contra o pôr-do-sol, os pássaros em voo migratório ao fundo, e atira a arma à água. Kim Qui leva-a então para o fundo. Para nunca mais ser vista.

Seja como for: o rei ficou muito satisfeito e mandou dar um nome novo ao lago - aquele pelo qual é ainda conhecido.

Hoan Kiem, ou traduzindo para bom português, o Lago da Espada Devolvida.

A tartaruga ganhou dimensões mitológicas. Considerada um guardião da espada, tornou-se também num símbolo de soberania do país, e por toda a cidade foi crescendo a reverência ao bicho.

Em 1967, um pescador ao serviço de uma companhia alimentar capturou um pequeno monstro no lago. Com 200kg e cerca de dois metros de comprimento, a tartaruga gigante deixou povo e autoridades atónitos. A meio da guerra com a América, houve a preocupação e a urgência de proibir que o animal fosse transformado em comida, e múltiplos esforços feitos para salvá-lo da morte eminente. Mas os ferimentos causados pelo pé-de-cabra do pescador (isso mesmo, o bicho foi capturado com um pé-de-cabra!) revelaram-se fatais - e a tartaruga morreu. Está hoje em exposição no Templo Ngoc Son, e é impressionante.

Durante muito tempo se especulou se havia ou não outros guardiões da espada. Várias pessoas juraram ter avistado tartarugas de dimensões absurdas, e num país com tanta superstição, nasceu mais uma: ver a tartaruga de Hanói - o bisavô, como é chamado, dá sorte.

Eu já a vi.

Juro que sim - e tenho uma foto que o prova (ver o link em baixo). Vi-a com o primeiro grupo da Indochina, em Outubro de 2009, e só tenho a agradecer a boa sorte que isso me deu, não só com essa primeira edição desta aventura, mas com o sucesso em que se transformou nestes últimos três anos.

No ano passado, o bisavô foi capturado. Esteve em tratamento durante alguns meses, ois tinha feridas infectadas e estava com alergias - por causa da poluição. Fica em baixo o link do post que dediquei a esta notícia, com a respectiva foto:


1 comentário:

Clara Amorim disse...

Bem, aparentemente está explicado o sucesso desta aventura pela Indochina! Mas não só pela tartaruga...!!!