08/06/2014

SAI UM DRAMA PARA O SENHOR DO QUARTO 911

Ontem foi mais um "daqueles" dias. No meio de correrias e dramas e as voltas do costume, tive várias ideias para partilhar aqui em posts ao longo do dia - mas confesso que os acontecimentos começaram a encavalitar-se uns nos outros... e aqui estou, só agora, nem sei muito bem por onde começar.

Para começar, então: estou a escrever do telefone. Mudei de hotel e não consigo ter internet no computador, vá-se lá entender estas artimanhas e/ou maus feitios, só apanho wifi no telefone. Polegares em acção, portanto, e aqui estou eu a escrever devagarinho.

Mudei de hotel, portanto. Vim do hostel para o Cosmos, esse grande símbolo da cidade, um hotel emblemático de Moscovo e que pela primeira vez faz parte desta aventura do Transiberiano. Instalaram-me no quarto 911, que curiosamente é o número das emergências nos EUA - quem diria que este número seria quase profético, à luz do drama que se segue.

Antes de sair para os meus afazeres e voltas de reconhecimento ao centro, resolvi que hoje era um bom dia para (re)começar a usar lentes de contacto. Há mais de dez anos que não usava, mas há duas semanas comprei óculos novos e ofereceram-me umas lentes para experimentar. Como em Lisboa "andava pólen no ar" e eu estava cheio de alergias, deixei as lentes para usar mais tarde.

"Não quer aprender a pôr e tirar as lentes?", perguntou-me a senhora da loja.

"Não é preciso," respondi-lhe cheio de confiança, "eu já usei lentes antes, não tem nada que saber."

Já podem começar a imaginar parte dos meus dramas de ontem, não é?

Ou seja: antes de sair, pus as lentes. Não custou nada, foi num instante, e ao contrário das semi-rígidas que usei durante um ano há muito, muito tempo, estas nem dava por elas, habituei-me logo.

Lá fui eu Moscovo fora, ora de metro, ora a pé, feliz da vida a ver o mundo de uma nova forma. Não interessa agora as voltas, mad passei a tarde toda de um lado para o outro e não tive qualquer problema. Até que as quis tirar.

Voltei para o Cosmos ao fim do dia, tinha combinado ir jantar fora com o viajante que chegara no dia antes - e fui ali num instante ao quarto para tirar as lentes.

Drama! Horror!

As lentes não saíam, por muito que tentasse. Cheguei mesmo a ver uns clips no youtube para aprender a técnica, tudo em slowmotion e com grandes planos... mas nada. Dez minutos em frente ao espelho e só me ria da estupidez da situação, até já falava comigo mesmo, a incentivar-me e a gozar com o insólito. Que momento este, para agora me acontecer isto.

Hora de jantar. Pode ser que o Hugo saiba tirar lentes, pensei.

Desci à recepção e mal o vi, fiz saber do meu drama. Mas com pouca sorte, porque ele também não sabia o que fazer. Fomos jantar ao MyMy que se lê MuMu, demos uma volta à Prospekt Mira e acabámos por voltar quase directos para o Cosmos. Eu estava a começar a ficar preocupado com o filme das lentes, queria também resolver o drama da internet no computador, tinha ideias para posts mas pouco tempo e ferramentas para isso.

Como viram, ontem não escrevi mais nada. E não foi por causa de não ter net no computador. A verdade é que não saí de frente para o espelho - e se antes falava comigo e ria-me da situação, agora já não estava a achar piada nenhuma à coisa. Vi mais videos no youtube, li acerca de técnicas alternativas, pus soro nos olhos para não ficar desidratado, rezei aos santinhos todos e invoquei energias e espíritos... mas nada. As lentes não saíam.

Comecei seriamente a desesperar. Já bufava só de olhar para as minhas trombas ao espelho (desculpem-me o francês mas é mesmo essa a expressão), tive de respirar fundo várias vezes para não desatar aos gritos ou mesmo a chorar. Por que raio não saíam as lentes?! Eu estava a fazer tudo como era suposto...

Onze e meia da noite. Tinha de ir embora, com ou sem lentes. Chegava uma pessoa às duas e meia da manhã, se saísse agora de metro podia apanhar o último aeroexpress para Domodedovo - e foi o que fiz. Toda a viagem sem poder dormir, porque tinha medo das lentes ficarem "coladas" ou-lá-o-que-é. Também não podia jogar um sudoku para me distrair, porque tinha a vista a arder. A esta altura o cansaço começava a acumular-se com a frustração - não estava propriamente sorridente.

Chegou o Leandro, o segundo viajante em doze, e voltámos para o Cosmos. Passavam das três da manhã quando saímos do aeroporto, eu queria dormir no carro mas não me atrevia a fechar os olhos.

Quatro da manhã: chegamos ao hotel. Check-in, recomendações e recados, e só depois das quatro e meia é que viltei a entrar no quarto. Tinha meia-hora para resolver a minha situação - ou não - porque às cinco esperava-me novo táxi para o aeroporto. O resto do grupo chegava às seis da manhã.

Entrei no quarto e liguei o youtube. Decidi tentar uns videos em português, vá-se lá perceber porquê. Primeiro uma
Brasileira muito profissional mas pouco elucidativa, depois uma tonta que nem os nomes dos dedos sabia dizer... mas quem diria... foi a partir do video da tonta que me inspirei para novas tentativas, segui a técnica dela a rigor... façam soar os tambores do circo... suspense... será que é desta?

Alguém atire uns foguetes, se faz favor.

Nem queria acreditar. Que peso que tirei das costas, já estava a ficar seriamente preocupado.

Mas agora não havia tempo a perder. Cinco da manhã: tinha que voltar ao aeroporto.

Resumindo o resto porque este post já vai longo, os dedos doem-me de escrever no telefone e vocês devem estar fartos de me "ouvir": apanhei o resto do grupo, voltámos se aeroexpress e metro, mais meia-hora para o check-in e formalidades, despachámo-nos às nove e meia da manhã. Ainda não tinha pregado sono. Fui ao restaurante tomar o prqueno-almoço sozinho, para descomprimir, e às dez em ponto entrei no meu quarto e atirei-me para a cama.

Bons sonhos ;)

6 comentários:

Tia M disse...

Mas que filme. Deve ter sido desesperante mesmo! Estava à espera que no final dissesse que afinal não estavam lá. Já tinham salado sem sse dar por isso.
E qual a razão para isso acontecer?
Bjs
Tia M

Tânia Magalhães disse...

E uma lentinha entrar lá para dentro do olho?! Sim, lá para dentro da órbita, onde já não servem para ver?! Ou colocar uma em cima da outra e andar o dia todo com duas lentes no mesmo olho e nenhuma no outro a achar que não se está a ver muito bem... Pudera!!! Estas e outras aventuras de quem as usa!

Lv disse...

Que horror, agora antes de as pores outra vez pensa bem na tecnica de as tirares. Pode ser que alguem do grupo te possa ajudar.
Boa viagem :)

Lv disse...

Que horror, agora antes de as pores outra vez pensa bem na tecnica de as tirares. Pode ser que alguem do grupo te possa ajudar.
Boa viagem :)

Clara Amorim disse...

Bem, eu tinha falado em peripécias no comentário anterior, mas nada que se comparasse a esta...
Ainda bem que tudo se resolveu...! :)

Joana Fragoso disse...

desculpa lá, mas eu fartei-me de rir!
sei q não tem muita piada, mas foi hilariante.
o q interessa é q as lentes sairam
bjsss