30/04/2013

PARA TI, ANTÓNIO

Na noite antes de sair para a caminhada no Parque Nacional de Torres del Paine, recebi a trágica notícia de que um grande amigo (e companheiro de várias viagens) tinha sofrido um acidente horrível, em casa - e que estava numa situação muito delicada, entre a vida e a morte. Não interessa entrar em pormenores agora - e se partilho esta informação é porque achei importante, para entender o estado de espírito com que parti para o trekking, e a motivação que este acidente me deu depois de me ter magoado.

Podia demorar-me em filosofias sobre a fragilidade da vida e de todas as coisas que damos por garantidas, as gargalhadas e as lágrimas, os pequenos prazeres, os confortos e até os dramas, os medos, as discussões. Tudo pode mudar num instante - é verdade. Mas não me vou prolongar muito nisto. Não é o lugar. Não é o momento.

Quando, na descida das Torres, me magoei no joelho, comecei por amaldiçoar a sorte e os deuses, e-agora-como-vai-ser... porque custava-me a dobrar, porque custava-me a esticar, a subir e a descer, e porque nunca tinha sentido uma dor assim. E se é uma coisa que fica. Dei cabo do joelho, tantos trekkings ainda por fazer. Dramas.

Na fase final da descida, pedi ao Bunty para ir andando à frente, sempre à vista. Se eu não demorasse muito, podia ficar a descansar junto à ponte, no caminho que segue para Los Cuernos, enquanto ele ia buscar a mochila grande ao refúgio da primeira noite. Assim, quando ele voltasse, eu estaria mais fresco outra vez - e, tinha a certeza, conseguiria fazer o caminho para Los Cuernos, o segundo refúgio, que era mais plano, sem tantas descidas e subidas.

E por falar em descidas: foi um autêntico calvário, chegar até à ponte. Parei várias vezes, inventei posições e formas de andar que atenuavam a dor, tomei um comprimido, apliquei o bálsamo... mas durante todo o caminho nunca consegui abstrair-me da tragédia que acontecera ao meu amigo António. Eu ali no meio do nada, sem saber sobre o evoluir do seu estado, e a queixar-me de uma estúpida dor no joelho - e eis que comecei a mentalizar-me que todo o meu esforço poderia ser convertido em energia, que de alguma cósmica forma atravessaria meio-mundo para o ajudar. Há quem acredite em coisas mais estranhas.

António: vou completar este trekking, com muito ou pouco esforço, com ais no joelho e uaus em meu redor - e cada momento, cada passada, cada energia gasta é um investimento. É para ti.

:(

4 comentários:

Anónimo disse...

FORÇA JORGE
E FORÇA ANTÓNIO!
as minahs energias tambem estao comvosco

Clara Amorim disse...

Que mais dizer...?

LV disse...

Muita força também Jorge o António é um super António e está a aguentar-se com todas as suas forças e tenho a certeza que vai querer ouvir todos esses relatos quando vieres a casa. Grande beijinho

kyta disse...

As melhoras ao António e sobretudo para ti, porque em Dezembro "Temos" de lá ir!!!!