30/11/2012

O NOVIÇO JAY


"Sabaidee!", grita uma voz vinda de um templo com ar de relativo abandono, à beira de uma estrada de terra batida que segue paralela ao Mekong.

Eu estou de bicicleta, a explorar os arredores de Luang Prabang com a minha amiga Ana. Entramos no templo e "estacionamos" as bikes à sombra de uma árvore. Sentado a uma mesa de pedra está um noviço budista, vestido de laranja e cabelo rapado, com um caderno de exercícios e um dicionário à frente. Sorri e apresenta-se:

"My name is novice Jay. What's your name?"



O Jay tem 15 anos e entrou para o mosteiro há quatro. Diz que em princípio é para ficar, quer ser monge quando for grande. É muito curioso, fala pelos cotovelos num inglês impecável, apesar de alguma timidez entre frases. Conta-me as suas rotinas, diz que não se importa de acordar todos os dias às 4 da manhã para meditar, nem do facto de demorar uma hora (a pé) da aldeia até à escola de monges - onde vai estudar, cinco vezes por semana. Não faz desporto, "porque nós não podemos praticar desporto, mas não faz mal porque como não jantamos, só comemos de manhã e ao almoço, por isso é que continuamos magros".

Naquele templo vive o Jay com mais quatro noviços, para além de um monge.

Trocamos histórias dos nossos países e das nossas vidas, sobre as minhas comidas preferidas no Laos - eu quero saber se já experimentou rato e diz-me que sim, mas não gosta muito - e depois pergunta-nos se queremos espreitar o templo. Vamos lá dentro e ficamos só uns minutos, é mais um templo igual a tantos outros. À saída começo a tirar fotos das pinturas nas paredes e aproveito para perguntar:

"Estas pinturas são sobre o quê?"







Eu na verdade até sei a resposta - mas tenho de iniciar o tema. "A vida de Buda", diz-.me. Aproveito para lhe pedir que me ajude a "decifrar" alguns dos "momentos" - mas ele não sabe. Não percebo se não me sabe explicar, ou se simplesmente não conhece a história. O que não deixa de ser estranho, para um noviço.

Numa das imagens, o Buda está rodeado de uns halos psicadélicos, de várias cores. A Ana pergunta-lhe o que representam. Não sei. Está a atingir o Nirvana? Acho que sim.

"E tu? Quando meditas também vês estas cores todas à volta?"





Ele ri. Rimos todos. É bom ter a liberdade de brincar com isto - e ser correspondido.

Antes de irmos embora, sentamo-nos mais um pouco à conversa. Ele masca uma pastilha azul, diz que não faz mal, que é bom para enganar a fome. Eu peço-lhe para fazer um balão, para a foto, mas ele encolhe-se a sorrir, diz que tem vergonha. O que seria - uma foto de um "laranjinha" a fazer um balão azul. Fica para a próxima.

"Tens Facebook?", pergunta-me.

Eu congelo, por momentos - mas depois aterro e lembro-me que ele é só um puto, porque não haveria de ter Facebook?

"Escreve aí o teu nome e e-mail, que eu depois adiciono-te."


NATUREZA vs AMIZADE


Diz-se que "boda molhada é boda abençoada" - será que o mesmo se aplica na amizade?


Sempre que encontro a Ana e a Bárbara fora de Portugal, está a chover.

Ok: não foram tantas vezes assim. Encontrámo-nos em Bangalore há cerca de um mês, e esta semana em Luang Prabang. Foram só duas vezes. Mas em ambos os encontros, estava sempre "de chuva".

Na Índia ficámos por casa dois ou três dias. Passeámos um pouco e fomos comer à rua: molha. Fomos a uma festa de Halloween: molha.

E no Laos: pois. Isso mesmo. Chuva. Assim sendo, estivemos dois dias a pôr as peripécias em dia, a recordar outros momentos, mas abrigados.

Amizade em viagem é assim: são abraços de reencontro e abraços de despedida, são ambientes diferentes a emoldurar os mesmos sorrisos, é um bocadinho de casa por aí fora.

E muito sinceramente: se estiver a chover - que esteja. Raios e coriscos! Venha de lá trovoada e vendavais, enchurradas e tufões, tsunamis, terramotos e erupções: não há catástrofe natural que abale a verdadeira amizade.

E vai na volta, vistas as coisas de outro prisma, quem sabe até que a Natureza nos prega estas partidas para celebrar connosco este sentimento bom.

Já temos encontro combinado em Hanói, na próxima semana. E quem sabe, no fim do ano, em Siem Reap. Acho que não preciso de consultar o boletim meteorológico. ;)

Ainda no espírito deste post, e também do passatempo que estou a promover no facebook, deixem-me acrescentar algo sobre estas minhas amigas. Para quem ainda não reparou, a Ana e a Bárbara estão a realizar uma viagem muito bonita, que atravessa sorrisos e encontros, muito na "onda" destes que vos descrevi. O projecto chama-se "Até onde nos levam os nossos amigos" e pode ser acompanhado no facebook e aqui.

29/11/2012

INDOCHINA 13 - DE ANGKOR AO LAOS

Na sequência do post de ontem, ficam aqui algumas fotos tiradas durante a segunda metade da viagem, entre Siem Reap e Luang Prabang. Pelo meio demos um saltinho à Tailândia e visitámos Bangkok, descemos o rio Song no tubbing, continuámos maravilhados com a comida... e só mesmo na última paragem é que apanhámos chuva. Que sorte.

O grupo foi embora ontem, é sempre uma sensação estranha ver as pessoas ir embora, cruzam-se muitos sentimentos nas despedidas. Mas os ponteiros do relógio continuam a rodar, e daqui a poucos dias já estou de volta a Hanói para mais uma volta.

Cada coisa a seu tempo: e por agora, fica então a segunda parte da "reportagem fotográfica" da Indochina 13.





























28/11/2012

INDOCHINA 13 - DE HANOI A ANGKOR

O arranque da 4ª época de Indochinas não podia ter corrido melhor. Foi bom reencontrar os amigos destas voltas, ainda mais na companhia de um grupo sempre sorridente, aberto às experiências da aventura, sempre pronto para "ir".

E porque qualquer desculpa é boa para partilhar mais cores, formas, luzes e momentos - decidi postar aqui um "apanhado" do que foi esta 13ª edição da Indochina que hoje terminou.

Hoje deixo a primeira parte (de duas), que faz um brevíssimo resumo dos primeiros nove dias de viagem, atravessando o Vietname de norte a sul, seguido da descoberta de um país completamente diferente - o Cambodja.

Deixemos as imagens contar histórias, então.




























Amanhã publico a segunda parte, que vai de Angkor a Luang Prabang, passando por Bangkok e Vang Vieng.