"Sabaidee!", grita uma voz vinda de um templo com ar de relativo abandono, à beira de uma estrada de terra batida que segue paralela ao Mekong.
Eu estou de bicicleta, a explorar os arredores de Luang Prabang com a minha amiga Ana. Entramos no templo e "estacionamos" as bikes à sombra de uma árvore. Sentado a uma mesa de pedra está um noviço budista, vestido de laranja e cabelo rapado, com um caderno de exercícios e um dicionário à frente. Sorri e apresenta-se:
"My name is novice Jay. What's your name?"
O Jay tem 15 anos e entrou para o mosteiro há quatro. Diz que em princípio é para ficar, quer ser monge quando for grande. É muito curioso, fala pelos cotovelos num inglês impecável, apesar de alguma timidez entre frases. Conta-me as suas rotinas, diz que não se importa de acordar todos os dias às 4 da manhã para meditar, nem do facto de demorar uma hora (a pé) da aldeia até à escola de monges - onde vai estudar, cinco vezes por semana. Não faz desporto, "porque nós não podemos praticar desporto, mas não faz mal porque como não jantamos, só comemos de manhã e ao almoço, por isso é que continuamos magros".
Naquele templo vive o Jay com mais quatro noviços, para além de um monge.
Trocamos histórias dos nossos países e das nossas vidas, sobre as minhas comidas preferidas no Laos - eu quero saber se já experimentou rato e diz-me que sim, mas não gosta muito - e depois pergunta-nos se queremos espreitar o templo. Vamos lá dentro e ficamos só uns minutos, é mais um templo igual a tantos outros. À saída começo a tirar fotos das pinturas nas paredes e aproveito para perguntar:
"Estas pinturas são sobre o quê?"
Eu na verdade até sei a resposta - mas tenho de iniciar o tema. "A vida de Buda", diz-.me. Aproveito para lhe pedir que me ajude a "decifrar" alguns dos "momentos" - mas ele não sabe. Não percebo se não me sabe explicar, ou se simplesmente não conhece a história. O que não deixa de ser estranho, para um noviço.
Numa das imagens, o Buda está rodeado de uns halos psicadélicos, de várias cores. A Ana pergunta-lhe o que representam. Não sei. Está a atingir o Nirvana? Acho que sim.
"E tu? Quando meditas também vês estas cores todas à volta?"
Ele ri. Rimos todos. É bom ter a liberdade de brincar com isto - e ser correspondido.
Antes de irmos embora, sentamo-nos mais um pouco à conversa. Ele masca uma pastilha azul, diz que não faz mal, que é bom para enganar a fome. Eu peço-lhe para fazer um balão, para a foto, mas ele encolhe-se a sorrir, diz que tem vergonha. O que seria - uma foto de um "laranjinha" a fazer um balão azul. Fica para a próxima.
"Tens Facebook?", pergunta-me.
Eu congelo, por momentos - mas depois aterro e lembro-me que ele é só um puto, porque não haveria de ter Facebook?
"Escreve aí o teu nome e e-mail, que eu depois adiciono-te."