Peço desculpa pela interrupção, mas já que estou em Moscovo: tenho de partilhar este momento que vivi hoje. Não é nada de extraordinário, mas tem algum simbolismo e quis partilhar.
Se qualquer forma: o blog é meu, por isso quem manda sou eu. ;)
Depois do encontro com a reencarnação do António Variações
nas profundezas do metro de Moscovo, subi as escadas rolantes e atravessei
átrios decorados com candelabros dourados e madeira escura, estátuas de
soldados e camponeses, a foice e o martelo por todo o lado, o alfabeto cirílico
em avisos oficiais e proibições, capas de jornais, publicidade, sinalética.
E como se atravessasse um portal mágico para outra dimensão,
quase tudo se desvaneceu assim que saí para a rua. Fui bombardeado com flyers e
pregões, o sol fez-me baixar o olhar e dei de caras com um passeio alcatroado,
como é costume em Moscovo, o chão pintado com publicidade a restaurantes
indianos, empresas de mudanças, sex shops, programas de televisão - tudo se
vende, em todo o lado.
Ainda atordoado com o choque entre o subterrâneo-soviético e
o exterior-capitalista, quase fui albarroado por um casal de namorados
florescentes em patins em linha, ela de mini-saia e um top com a foto da Lady
Gaga, ele de jeans rasgados e uma t-shirt a dizer IBIZA.
No ar ouvia-se um som disco dos anos 70, debitado das
colunas de som de um centro comercial com ecrãs LED a brilhar com publicidade a jóias e carros. Cruzei-me com um polícia vestido à
teledisco do Nikita, do Elton John - mas a falar ao telemóvel. Parei no
semáforo e passou uma limousine branca Hummer com música electrónica aos berros
e um casal de noivos sorridentes, e atrás uma comitiva de convidados
barulhentos e claramente bêbados.
E quando atravessei a estrada, a minha barriga
lembrou-me a longa viagem de avião em que praticamente não comi, e a manhã toda
em quase-jejum.
Precisava de comer.
Inicialmente apontara a minha atenção
para a gastronomia russa, queria comer qualquer coisa local - mas tudo o que vi
era caro, ou não captou a atenção do meu rabujento estômago. Rodeado de
estímulos capitalistas, cedi - e decidi procurar um McDonald's. Quero lá saber. Quero
lixo. Quero encher o bandulho. E três Starbucks depois... sai um Rus Burger?!
Isso mesmo. Rus Burger. O Hamburger russo. Querias local, não querias?
Eu não comi um hamburger gigante com queijo e salada ao
almoço. Não comi batatas fritas cheias de sal e óleo. Eu comi um simbolo. Hoje,
almocei numa cadeia de hamburguers russa. E viva o capitalismo! ;)
Antes que me esqueça: estou orgulhoso de mim mesmo. Este ano
gravei o mapa do Metro no iphone. De telefone em punho e atenção redobrada,
consegui safar-me... sem me perder. Não que tivesse vacilado aqui e ali - e
houve momentos em que acreditei, embora que muito brevemente, que me tinha
perdido - mas o que fica para a História é: não me perdi. É a minha pequenina
vitória do dia.
1 comentário:
Grande herói capitalista!!! :)
(porque não te perdeste no metro e porque não resististe a uma cadeia de hamburguers russa...)
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