18/07/2012

HOJE EM MOSCOVO


Peço desculpa pela interrupção, mas já que estou em Moscovo: tenho de partilhar este momento que vivi hoje. Não é nada de extraordinário, mas tem algum simbolismo e quis partilhar.

Se qualquer forma: o blog é meu, por isso quem manda sou eu. ;)

Depois do  encontro com a reencarnação do António Variações nas profundezas do metro de Moscovo, subi as escadas rolantes e atravessei átrios decorados com candelabros dourados e madeira escura, estátuas de soldados e camponeses, a foice e o martelo por todo o lado, o alfabeto cirílico em avisos oficiais e proibições, capas de jornais, publicidade, sinalética.

E como se atravessasse um portal mágico para outra dimensão, quase tudo se desvaneceu assim que saí para a rua. Fui bombardeado com flyers e pregões, o sol fez-me baixar o olhar e dei de caras com um passeio alcatroado, como é costume em Moscovo, o chão pintado com publicidade a restaurantes indianos, empresas de mudanças, sex shops, programas de televisão - tudo se vende, em todo o lado.

Ainda atordoado com o choque entre o subterrâneo-soviético e o exterior-capitalista, quase fui albarroado por um casal de namorados florescentes em patins em linha, ela de mini-saia e um top com a foto da Lady Gaga, ele de jeans rasgados e uma t-shirt a dizer IBIZA.

No ar ouvia-se um som disco dos anos 70, debitado das colunas de som de um centro comercial com ecrãs LED a brilhar com publicidade a jóias e carros. Cruzei-me com um polícia vestido à teledisco do Nikita, do Elton John - mas a falar ao telemóvel. Parei no semáforo e passou uma limousine branca Hummer com música electrónica aos berros e um casal de noivos sorridentes, e atrás uma comitiva de convidados barulhentos e claramente bêbados.

E quando atravessei a estrada, a minha barriga lembrou-me a longa viagem de avião em que praticamente não comi, e a manhã toda em quase-jejum.

Precisava de comer.

Inicialmente apontara a minha atenção para a gastronomia russa, queria comer qualquer coisa local - mas tudo o que vi era caro, ou não captou a atenção do meu rabujento estômago. Rodeado de estímulos capitalistas, cedi - e decidi procurar um McDonald's. Quero lá saber. Quero lixo. Quero encher o bandulho. E três Starbucks depois... sai um Rus Burger?!


Isso mesmo. Rus Burger. O Hamburger russo. Querias local, não querias?
Eu não comi um hamburger gigante com queijo e salada ao almoço. Não comi batatas fritas cheias de sal e óleo. Eu comi um simbolo. Hoje, almocei numa cadeia de hamburguers russa. E viva o capitalismo! ;)

Antes que me esqueça: estou orgulhoso de mim mesmo. Este ano gravei o mapa do Metro no iphone. De telefone em punho e atenção redobrada, consegui safar-me... sem me perder. Não que tivesse vacilado aqui e ali - e houve momentos em que acreditei, embora que muito brevemente, que me tinha perdido - mas o que fica para a História é: não me perdi. É a minha pequenina vitória do dia.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Grande herói capitalista!!! :)
(porque não te perdeste no metro e porque não resististe a uma cadeia de hamburguers russa...)