Sou da opinião que muitas das nossas emoções, sentimentos e
estados de espírito estão directamente relacionados com as expectativas que criamos à volta de pessoas, acontecimentos, lugares. Quantas
vezes é que nos sentimos desiludidos ou surpreendidos; quantas vezes ficamos admirados
com isto e desapontados com aquilo... expectativas! E é na gestão destas que, muitas vezes, encontramos as nossas forças - e as fraquezas.
Se acredito que a gestão das expectativas é importantes no
dia-a-dia, imagine-se em viagem.
Em viagem, temos tendência a imaginar lugares e experiências,
a vivê-los antes ainda de os conhecermos, seja a partir de um postal enviado
por um tio quando éramos crianças, ou de um filme que vimos, fotografias,
ou um livro que mudou a nossa vida...
...e quantas vezes damos por nós a dizer "isto não tem nada
a ver com aquilo que eu estava à espera" - e esta mesma frase pode ser muito
bom sinal. Ou nem por isso.
Expectativas.
Quando, no ano passado, entrei de comboio na China,
trazia na minha bagagem emocional vários tipos de expectativas: Pequim não me
atraía por aí além - queria ver a Cidade Proibida e visitar a Grande Muralha,
mas digamos não tive noites sem sono a imaginar "e quando lá
chegares". E depois havia Xangai: há anos que lá queria ir. Havia qualquer coisa no
nome, uma mística própria dos livros a cheirar a antigo, um nevoeiro de
segredos e promessas, algo que eu próprio não conseguia explicar. Também me imaginei a passar fome - vá-se lá saber porque, mas achei sempre que não ia gostar da comida na China. E eu sou "bom garfo". E "boa colher". Eu como quase tudo.
Enfim: Xangai não esteve à altura. Não que tenha sido uma desilusão
- não vou tão longe. Gostei de lá estar, diverti-me muito, fiz amigos, passeei
à beira-rio e tirei muitas fotografias ao skyline. Mas a cidade não consta desta
lista das 11 cidades de 2011 - e penso que isso diz tudo.
Pequim.
Quem diria: Pequim.
As cores, a comida, a loucura kitsch dos chineses a querer ser modernos, coloridos, divertidos. A
sensação de chegar a um lugar conhecido, depois de oito mil quilómetros sobre
carris. E era a minha primeira vez na China - mas talvez porque tenho uma
costela asiática, havia qualquer coisa de familiar, qualquer coisa de confortável.
Como se a cidade me tivesse abraçado, à chegada, sorrindo: bem-vindo.
Pequim é a 7ª cidade na minha lista das 11 mais importantes
de 2011 - e não é inocente, a escolha deste dia. Hoje chega aqui a Moscovo o grupo da nomad que vem acompanhar-me em mais um Transiberiano - e
achei que era um bom dia para partilhar Pequim. Já falta pouco.
Ficam as fotos, e uma ansiedade enorme de entrar outra vez
no comboio para me lançar nesta louca viagem que atravessa meio-mundo sobre
carris; e desta vez vou com uma expectativa diferente, muito diferente!, da que
tinha há um ano atrás.