10/02/2016

PELA NOITE FORA (DE TUKTUK)

"São cinco e trinta e cinco, liga ao driver para termos a certeza que vem."

"Ele vem."

"Liga-lhe lá, se faz favor."

O Joe marca um número no telefone, oiço-o a falar tailandês, não percebo nada. Desliga alguns segundos depois e calmamente levanta-se da cadeira onde estava sentado:

"Ele diz que está ali fora, na estrada."

"Não o vi", respondo eu. "Já fui espreitar duas vezes e não vi ninguém."

Saímos para a estrada escura e a pouco mais de cem metros lá deciframos o contorno de um tuktuk no meio das sombras das árvores e da noite. Por que raio não parou o homem à frente do hotel?

"Ele ontem avisou logo que não conhecia o hotel, Jorge. Só o liceu aqui ao lado."

O hotel (o único nesta rua quase deserta) tem um cartaz enorme com o nome, à porta. O nome que lhe enviámos, por SMS, juntamente com a morada.

Enfim. Não digo nada, quero é ir embora, eu na verdade pedi para arrancarmos às cinco da manhã, mas o driver insistiu que às cinco e meia era mais sensato, que demorávamos apenas meia hora a chegar ao lugar onde queríamos ir - o que achei estranho, pois tinha lido algures que ficava a quase quarenta quilómetros de Udon Thani... e quarenta quilómetros em meia hora, num tuktuk... não me parecia muito provável.

Mas ele é que sabe.

Ele é driver, é local, há-de saber melhor que nós. Saímos às cinco e meia, se ele diz que é melhor às cinco e meia.

Enfim: cinco e quarenta, quando arrancámos.

Por precaução tinha trazido um dos edredons do quarto onde estamos instalados. E ainda bem, porque meia hora a viajar num tuktuk às cinco da manhã, num dos invernos mais frios de que há memória na Tailândia - não é propriamente confortável. Dividimos o edredon pelos dois e lá fomos, madrugada fora, a pensar se não teria sido melhor alugarmos um carro.

C'est l'aventure!, digo sorridente para mim próprio, recordando o sábio desabafo do Djaló, o amigo guineense que fiz na Mauritânia há oito anos.

Não passaram nem quinze minutos quando o tuktuk abranda e pára. Será que chegámos? Afinal é bem mais perto do que pensava. Levanto a cabeça mas não vejo lago nenhum, estamos numa espécie de auto-estrada, na berma há uma stupa dourada de dois ou três metros de altura, rodeada de centenas de estátuas de animais, elefantes e zebras e dragões de todos os tamanhos. Só então me apercebo: o driver está a rezar. Este é dos supersticiosos. Viva a Tailândia. Apita três vezes a pedir a benção dos espíritos, diz umas palavras em voz alta e eu grito "amen!" mas para dentro... e lá vamos nós outra vez. Vamos protegidos, ao menos isso.

Seis da manhã. Seis e um quarto. Seis e meia. Estamos há uma hora no tuktuk, avançando por uma pequena estrada cheia de buracos, o céu a clarear, a bola de fogo laranja a despontar ao fundo, não há meio de chegarmos ao lugar onde queremos chegar. Eu sabia que não ia ser meia hora. Mas também não digo nada, não vale a pena dizer nada, troco um sorriso com o meu amigo Joe e chega, não é preciso dizer mais nada.

Ao menos não deve haver mais ninguém, penso. Não passámos por mais nenhuma viatura na estrada, não fomos ultrapassados por ninguém, este lugar parece mesmo remoto, somos só nós nesta estrada. Que espectáculo.

Abrandamos novamente. Será que chegámos?

Nada disso. Estamos perdidos.

O driver afinal não sabe onde fica o lugar. A sério. Pergunta a este e aquele, não devemos estar perto porque ninguém parece saber muito bem como ir lá ter. O Joe liga o GPS e começa à procura, dá umas informações ao driver ao mesmo tempo que uma senhora também parece estar mais familiarizada. E continuamos. Primeiro por uma estrada de terra batida, depois por uma de alcatrão, o sol já subiu no horizonte e são sete da manhã quando chegamos finalmente ao lago.

Demorámos uma hora e meia a chegar. Estamos enregelados. Mas com uma vista destas só conseguimos sorrir.

Chegámos.

E as fotos ficam para o próximo post.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Fotos das mais lindas que vi....!!!!!
Uaaaaaau!