Passei a noite num autocarro VIP que era um verdadeiro luxo, muito confortável e cheio de pequenos pormenores que só visto. Os bancos reclinavam 45°, havia televisão com filmes - tipo avião - e com ligação USB para carregar o telefone; uma assistente de bordo que além de dar instruções por microfone veio distribuir águas, sumos, biscoitos, escova de dentes, toalhitas refrescantes, um pózinho para os enjoos, um óleo tipo "tiger balm"... perdi a conta às ofertas, confesso. Até jantar incluía, o bilhete, e com direito a menu e tudo!
Enfim: foram quase onze horas entre Nyaung Shwe e Mandalay, que teriam passado num instante se não fosse uma inesperada insónia ter-me dado cabo da paciência. E não tinha os comprimidos mágicos comigo. Ou seja: cheguei a Mandalay às quatro da manhã, estive à conversa, a "fazer tempo", com uma viajante estónia, na estação dos comboios; e assim que pude fazer check-in, caí redondo na cama e dormi sei-lá-quantas horas.
E agora que estou fresco-que-nem-uma-alface, nada como enfiar-me noutro autocarro. E desta vez espera-me uma epopeia bem menos glamourosa, ao que parece.
Vou para Mrauk Oo.
Quando lá chegar, explico melhor o que é este lugar - até porque eu próprio não sei muito bem o que vou encontrar. Às vezes descrevem Mrauk Oo como sendo uma espécie de "Bagan sem turistas". Mas concerteza que há de ser mais do que apenas isso. Estou curioso.
Tão curioso que estou neste momento num autocarro que vai demorar 24 horas (exactamente, um dia inteiro!) para cumprir a distância entre este momento e aquele em que chegar ao meu destino.
O que me espera? Eu sei lá. Uma grande seca? Provavelmente. Uma emocionante jornada? Quem sabe. Uma inesquecível interação com os locais? Um looongo enjoo? A ver vamos.
Muita coisa pode acontecer. O autocarro sai daqui a dois minutos, já cá estou dentro e o panorama promete. Desde uma rapariga que já saiu para ir vomitar (e ainda nem arrancámos!), uma família com dois bebés a chorar, um jovem a ver filmes com o volume no máximo, no seu smartphone... e em pano de fundo umas rezas budistas que saem das colunas do autocarro, enquanto na TV lá à frente passam imagens de pessoas a rezar na Rocha Dourada, que é a Fátima cá do sítio.
Vai sair agora!
Ai o que me espera...
;)