26/02/2016

O QUE ME ESPERA

Depois de uma semana fantástica, ao mesmo tempo tranquila e emocionante, numa aldeia flutuante do Lago Inle; eis que chegou a altura de me "fazer à estrada" outra vez e aproveitar estas minhas férias no Myanmar para explorar um pouco.

Passei a noite num autocarro VIP que era um verdadeiro luxo, muito confortável e cheio de pequenos pormenores que só visto. Os bancos reclinavam 45°, havia televisão com filmes - tipo avião - e com ligação USB para carregar o telefone; uma assistente de bordo que além de dar instruções por microfone veio distribuir águas, sumos, biscoitos, escova de dentes, toalhitas refrescantes, um pózinho para os enjoos, um óleo tipo "tiger balm"... perdi a conta às ofertas, confesso. Até jantar incluía, o bilhete, e com direito a menu e tudo!

Enfim: foram quase onze horas entre Nyaung Shwe e Mandalay, que teriam passado num instante se não fosse uma inesperada insónia ter-me dado cabo da paciência. E não tinha os comprimidos mágicos comigo. Ou seja: cheguei a Mandalay às quatro da manhã, estive à conversa, a "fazer tempo", com uma viajante estónia, na estação dos comboios; e assim que pude fazer check-in, caí redondo na cama e dormi sei-lá-quantas horas.

E agora que estou fresco-que-nem-uma-alface, nada como enfiar-me noutro autocarro. E desta vez espera-me uma epopeia bem menos glamourosa, ao que parece.

Vou para Mrauk Oo.

Quando lá chegar, explico melhor o que é este lugar - até porque eu próprio não sei muito bem o que vou encontrar. Às vezes descrevem Mrauk Oo como sendo uma espécie de "Bagan sem turistas". Mas concerteza que há de ser mais do que apenas isso. Estou curioso.

Tão curioso que estou neste momento num autocarro que vai demorar 24 horas (exactamente, um dia inteiro!) para cumprir a distância entre este momento e aquele em que chegar ao meu destino.

O que me espera? Eu sei lá. Uma grande seca? Provavelmente. Uma emocionante jornada? Quem sabe. Uma inesquecível interação com os locais? Um looongo enjoo? A ver vamos.

Muita coisa pode acontecer. O autocarro sai daqui a dois minutos, já cá estou dentro e o panorama promete. Desde uma rapariga que já saiu para ir vomitar (e ainda nem arrancámos!), uma família com dois bebés a chorar, um jovem a ver filmes com o volume no máximo, no seu smartphone... e em pano de fundo umas rezas budistas que saem das colunas do autocarro, enquanto na TV lá à frente passam imagens de pessoas a rezar na Rocha Dourada, que é a Fátima cá do sítio.

Vai sair agora!

Ai o que me espera...

;)

25/02/2016

ESTÁ-SE BEM NO LAGO :)

Não podem ver um raio de sol, os miúdos cá de casa:





Vida santa: que saudades de ser criança.

24/02/2016

VAMOS JOGAR CHINLONE?

Num destes dias fomos passear (de barco, pois claro) ao Phaung Daw Oo Paya, o famoso templo do lago Inle que tem cinco budas "disformes", e nas voltinhas ali perto deparámos com seis homens a jogar à bola, numa espécie de vólei com pés.

Já tinha visto algo parecido no Laos e na Tailândia, mas a versão birmanesa é claramente diferente. E aproveitei para perguntar aos meus anfitriões que desporto é este.

"Chama-se Chinlone", respondeu um deles. E muito rapidamente explicou-me algumas regras. Tirei algumas fotos ao grupo e quando cheguei a casa fui investigar um bocadinho na net.

Eis o que descobri: há um desporto tradicional no Myanmar que não é bem um desporto.

Chama-se Chinlone, como me disse o Al Nyi. Tem mais de mil e quinhentos anos (!) e, para ser mais correcto, está algures entre o desporto, a dança... e algum tipo de arte marcial.

Jogam seis pessoas de cada vez, normalmente. Não há equipas adversárias e o objectivo não passa por "ganhar", mas sim conseguir o máximo de toques e passes bonitos. Os jogadores formam um círculo e vão rodando à medida que passam a bola uns aos outros, através de toques que podem ser dados com seis partes do corpo:

- os dedos dos pés;
- as laterais dos pés (interior e exterior);
- a sola dos pés;
- o calcanhar;
- o joelho.

O Chinlone joga-se descalço e há posturas “oficiais” para as mãos, braços, tronco e cabeça - durante cada movimento. E pode-se até usar, eventualmente, os cotovelos ou a cabeça. Mas não é muito bem visto. ;)

Chinlone significa "cesto redondo", em birmanês. Isto porque a bola é feita de uma espécie de verga, oca por dentro, e faz um som muito característico, que de certa forma acaba por fazer parte da estética do jogo.

Alguém quer dar uns toques?

HORAS EXTRA

Ontem estive na varanda do meu escritório até bem tarde, a trabalhar.

Entre conteúdos para o blog (gostaram das fotos dos Intha?), afinar detalhes para as próximas edições da Birmânia e escrever umas-coisas-que-agora-não-posso-dizer-o-quê-mas-a-seu-tempo-direi, perdi a noção do tempo e quando dei por mim era lusco-fusco e estava a ser atacado por mosquitos.


23/02/2016

28 CLICKS ESPECTACULARES DOS "FILHOS DO LAGO"

Chamam-se "os filhos do lago" e são um dos postais ilustrados do Myanmar.

Os Intha são um dos principais grupos étnicos do Planalto Shan e vivem nas aldeias flutuantes do Lago Inle. São conhecidos pela sua técnica de remar com uma perna "enrolada" no remo... hmmm... espera lá... mas eu já escrevi isto em algum lado, não foi?

Pois. Combinamos assim, então: para mais conversa, é ler o post anterior.

Este post é só para fotos.

Vinte e oito, entre centenas de outras que me apetece partilhar também. Vinte e oito fotos para fazer comichão, para a seguir ir espreitar quanto custa um voo para o Myanmar, porque isto na verdade só visto, isto só vivido.






















O Lago Inle é a última paragem da viagem que organizo com a Nomad à Birmânia. Para conhecer melhor o programa, faz favor de clicar aqui.

QUEM SÃO OS INTHA?

Algumas pessoas que acompanham este blog já se devem ter perguntado acerca desta família com quem estou a passar uns tempos, numa "aldeia flutuante" no meio do Lago Inle.

Por várias vezes mencionei a palavra "Intha", mas engane-se quem achou que esse era o apelido da família. Nada disso.

A palavra Intha quer dizer "filhos do lago" e é o nome de um grupo étnico que vive nas aldeias flutuantes do lago Inle, bem como nos aglomerados urbanos à volta, no Planalto Shan, naquele que é hoje conhecido por Myanmar.

Acredita-se que os Intha sejam descendentes de tribos tibetano-birmanesas que vieram da Mongólia para o Sudeste Asiático há cerca de dois mil anos, apesar de uma lenda local mencionar o nascimento da tribo (uma história que está entre o Adão e Eva e o Romeu e Julieta), que terá sido deslocada para esta zona em 1353.

São hoje cem mil. Falam um dialecto arcaico de birmanês. São budistas. E vivem essencialmente da pesca e da agricultura, além de cultivarem e produzirem tabaco, e de tecerem seda e algodão. As suas hortas flutuantes são muito famosas: crescem sobre filas de cestos de bambu cheios de lama e vegetação morta, pelo que flutuam à superfície da água. Mas a particularidade pela qual os Inthas são mais conhecidos (e fotografados) é a forma como remam.

Os Intha usam uma técnica única no mundo: remam de pé, com uma perna apoiada na ponta do barco e a outra "enrolada" ao remo. Ficam assim com as mãos livres para lançar e puxar as redes, por exemplo.

Esta técnica desenvolveu-se porque a água do lago tem muita vegetação flutuante e sedimentos a boiar - e como só levantados conseguem os pescadores ter uma melhor visibilidade enquanto remam, tiveram de encontrar uma solução que fosse de acordo com estas características. Um amigo meu aqui do lago diz que não, nada disso, esta técnica foi inventada porque assim pode-se remar mais depressa. O que só faz sentido nas corridas, que acontecem uma vez por ano... não me parece que fosse factor determinante neste processo.

Existem no Lago Inle cerca de vinte aldeias sobre estacas. Para ir de aldeia em aldeia - ou mesmo de casa em casa, como eu tenho constatato - é preciso quase sempre usar um barco. Por esta razão, os Intha sabem, desde muito pequenos, nadar e remar. Mais ou menos como os mongóis com os cavalos.

E o à-vontade deles em cima dos barcos é ainda mais escandaloso quando há um estrangeiro a bordo... mas não vou falar sobre isso agora. ;)


BOM DIA, INTHAS

Os dias no lago têm sido um verdadeiro tónico - e, curiosamente, estafantes.

São as idas ao mercado e as almoçaradas, os passeios de barco para ir a casa deste-e-daquele, as horas passadas em frente ao computador (a escrever), o barulho dos barcos a passar à frente de casa, os sorrisos incansáveis da família com quem estou a "viver", os cânticos budistas logo de manhã, a viagem de mota a Taunggyi, os mosquitos à noite...

...difícil é transmitir tudo o que estou aqui a viver.

Mas entre peripécias e curiosidades, afazeres e planos, lembrei-me ontem que ainda não expliquei quem são os Intha. Hoje vou corrigir isso.

Por agora fica o click de um pescador, mas daqui a pouco já conversamos, estou só a dar os retoques finais ao texto que vou partilhar:


22/02/2016

MAIS UM CLICK DO LAGO

Era tal o estado, ontem, que adormeci com o computador ao colo... ainda nem eram nove da noite! Ou seja: mesmo acordando às seis da manhã, fazendo as contas dá umas nove horas de sono. Vida difícil, esta do lago.

Fomos ao mercado, hoje de manhã. Fomos ao templo a seguir. Passei meia-manhã a escrever, depois almoço e conversa, uma sesta... e eis que estava aqui a fazer um apanhado de fotos do lago quando encontro esta, que curiosamente nunca "encaixei" em nenhum post ou álbum, mas que calha mesmo bem para "click do dia".

Uma semana produtiva para todos!


21/02/2016

220KM!

Hoje fui dar uma volta de mota com o "gang do lago" (o meu anfitrião e quatro amigos dele).

Fomos até Taunggyi, e depois por estradas espectaculares a serpentear as montanhas do Shan State, foram ao todo 220km, ida e volta. Fomos a uma gruta cheia de Budas, muito gira mas nada de extraordinário, o melhor mesmo foi o passeio em si.

Fica um click, tirado esta manhã quando levávamos uma das motas - de barco, claro - para terra.

Estou estafado: acho que não consigo muito mais que um click do dia, hoje.

Já são oito da noite, aqui no lago Inle. Jantei e estou deitado na minha cama, não acredito que fique acordado muito mais tempo.

20/02/2016

A VER AS PESSOAS PASSAR

Pouco depois de chegarmos ao mercado, ontem de manhã, os meus anfitriões levaram-me a um restaurante local para tomarmos juntos o pequeno-almoço. Sentámo-nos numa mesa no primeiro andar, numa pequena varanda com vista para a multidão - e enquanto eles conversavam em Intha, eu aproveitei para experimentar o zoom da máquina que me foi emprestada recentemente.

Entusiasmei-me, claro está: e o resultado é uma série de fotografias das pessoas no mercado, tipo papparazzi, feitas à distância, sem perturbar o sujeito fotográfico. O que, de certa forma, acaba por ser mais confortável para todos. ;)

Eu gosto daquilo que em inglês se chama peoplewatching. Gosto de me sentar numa esplanada, ou num ponto qualquer de observação... e observar. Ficar a ver passar.  Imaginar os mundos e as viagens de cada indivíduo que passa.

Pancadas.

De qualquer forma, fica aqui uma selecção de algumas dessas fotos que tirei a indivíduos na multidão, uma dúzia de instantes eternizados a partir do anonimato dessa varanda, numa espécie de conforto/impunidade que só a distância permite: