30/06/2014

TUDO ESTÁ BEM QUANDO ACABA BEM

Cinco e meia da tarde. Tínhamos visto o último edifício e começámos a voltar para o centro de Pequim. Às seis era suposto encontrar os outros dois portugueses, que iam embora à noite. E de repente a minha mota deixou de funcionar.

A bateria que a senhora-da-loja tinha garantido que estava cheia: kaput.

Encostei a mota e procurei um ponto de referência. Havia um supermercado numa esquina. Empurrei-a até lá, a amaldiçoar a senhora e a rir com o Hugo, estacionei-a à frente da loja e telefonei à senhora.

Atendeu um homem. Não falava inglês.

"One moment, one moment", gritava-me enquanto corria pelo hutong, a chamar a mulher para me atender. Ou pelo menos era o que parecia estar a fazer, tendo em conta a respiração ofegante e os gritos pelo meio.

Veio a senhora ao telefone. Passou-o a um rapaz.

"Where are you now", pergunta-me num inglês impecável. Disse-lhe o nome da ruaescrito na placa mesmo à minha frente; e o nome do supermercado onde estacionara a mota. Ele vacilou um pouco, pediu-me para repetir, fez uma pausa e sem grandes convicções pediu-me para esperar meia hora, "vou mandar alguém para aí".

Nem pensar que ia ficar ali à espera. Tinha dois "clientes" à espera para jantar, antes de irem para o aeroporto. Tinha de ir ter com eles.

"Nada disso, esperem vocês aí na loja que eu já passo aí."

Sentei-me na mota do Hugo e fomos os dois por Pequim fora, a acelerar o que era possível - a mota não andava a mais de 35km/h - e a rir às gargalhadas. A cada buraco ou lomba, parecia que a motinha se ia despedaçar em mil pedaços.

Que final de tarde emocionante!

Chegámos às seis à lojinha de souvenirs, sempre a rir, nem sei como nos levaram a sério. Expliquei no mapa onde estava a mota, mostrei-lhes as fotografias que tirei à mota, ao estacionamento, ao nome do supermercado e ao nome da rua. Estavam fascinados com a minha solução.



O Hugo ainda disparou um "então a bateria estava carregada, hem?", mas a senhora deu-lhe uma palmada marota no rabo como que a responder tu-não-falas-assim-comigo-que-eu-podia-ser-tua-mãe. Tudo a rir.

E sem mais questões nem dramas, deram-me o passaporte e pronto: problema resolvido. A mota a meia-Pequim de distância, e nós de volta ao metro, de volta ao hutong, de volta ao hotel, para dizer adeus aos últimos companheiros de viagem do Transiberiano.

É mesmo assim: há males que vem por bem, e bens que vêm por mal, e tudo está bem quando acaba bem. E se não está bem, lá dizem os indianos, é porque ainda não acabou.

HÁ MALES QUE VÊM POR BEM

"Esquece", disse finalmente ao Hugo, um dos últimos resistentes do grupo do Transiberiano. "Vamos para Qianmen, no livro diz que há outras lojas lá. Aqui não vamos a lado nenhum."

Estávamos há uma hora às voltas na mesma rua, na rua em frente e na outra ao lado.

O Hugo tinha ficado mais um dia, depois da grande parte do grupo ter voltado para Lisboa - e a nossa ideia era passar o dia a pedalar por Pequim. O dono da minha guesthouse tinha-nos recomendado um sítio onde alugavam bicicletas, mMas não encontrávamos bicicletas nenhumas. Perguntámos ao senhor do quiosque, ao segurança do centro comercial, à senhora das flores, a três rapazes que passavam com uma bola de basquete, a um grupo de velhotes, ao porteiro de uma garagem... e nada. Algumas pessoas apontavam para ali, outras para acolá, a maioria não percebia nada do que dizíamos, ou não queria perceber.

Desistimos.

Enfiámo-nos no Metro e gozámos o ar condicionado. Depois de uma hora às voltas debaixo de um calor abrasador (céu limpo e subida da temperatura máxima, dizia o boletim meteorológico) - podem imaginar como nos soube bem.

Qianmen. Saímos para a rua, tomámos um café, andámos mais um bocadinho e no primeiro sítio onde era suposto haver uma loja de bicicletas, havia uma loja de chás. Este guia já está um bocadinho desactualizado.

Mas:

É já ali, mostraram-nos vários dedos apontados, quando perguntámos onde se podiam alugar bicicletas.

E era. Já ali. Ao fundo da rua, depois do restaurante onde duas noites antes tínhamos comido um "pato à pequim" delicioso e uma carne de burro surpreendentemente boa, também.

BIKE RENTAL, dizia um cartaz à porta de uma loja de souvenirs.

ELECTRIC BIKE RENTAL, dizia outro cartaz em baixo.

"E que tal se fossemos numa destas eléctricas?", sugeriu o Hugo.

E porque não?, pensei. E assim foi. Pagámos o aluguer e deixei o passaporte como caução, a senhora garantiu-nos a pés juntos, com uma expressão quase-ofendida quando insistimos, que as baterias estavam cheias. Deu-nos um mapa e avisou que só podíamos ir até ao perímetro da Segunda Circular (Pequim tem cinco). Sim, senhora!

E assim começou um "daqueles" dias.

A manhã quase toda a serpentear por hutongs (bairros tradicionais) e lagos, a negociar semáforos vermelhos quando não vinha ninguém, a atravessar pelas passadeiras porque scooters e bicicletas em Pequim têm estatuto quase de peão. Sentidos proibidos, sinais vermelhos, inversões de marcha - desde que haja respeito e cuidado, pode ser.

Ao fim da manhã parámos num hutong ao pé da Drum Tower e descobrimos um rooftop à sombra das árvores, que agradável surpresa, que cerveja fresquinha. O dia estava especialmente quente - ainda bem que trocámos os pedais pelo acelerador, nem quero imaginar o que teríamos sofrido numa bicicleta tradicional.


Lá está: há males que vêm por bem. Não encontrámos as bicicletas de manhã, perdemos uma hora às voltas... mas por causa disso acabámos na loja de souvenirs a alugar duas scooters eléctricas. E não podia ter sido melhor.

Almoçámos num "buraco" perto do Beihai Park que servia umas asas de frango com molho picante "secreto", entre outras iguarias. E já de barriga cheia fomos atrás de alguns prédios emblemáticos da nova arquitectura de Pequim. Que descoberta boa! O "ovo", as "cuecas", entre outros.





Já no final do dia, quando começávamos a voltar para Qianmen, a minha mota de repente deixou de funcionar. A bateria tinha acabado. E estávamos no ponto mais longínquo do dia... quinhentos metros depois da Segunda Circular.

E agora?! ;)

BOM DIA, MAO

Sim: há 37.928 fotos iguais a esta, mundo-fora por essas redes sociais e álbuns de fotografias. Sim: é um cliché. E eu com isso. Ficou gira, não ficou? ;)


NON STOP

Depois de vinte e quatro horas em Macau, cheguei há pouco mais de meia hora a Hong Kong.

Vou só poisar a mochila e tomar um duche, reencontrar sorrisos amigos e logo à tarde continuo a pôr as voltas em dia, aqui no blog.

Até já! :)

29/06/2014

SABIA QUE... #24

...a palavra que os chineses usam quando querem dizer Portugal, que é qualquer coisa que soa a "Pu Tau Ya", significa "Uva" e "Dente".

O que, na minha humilde opinião, até tem a ver connosco. Temos dente para a uva, nós os portugueses ;)

SAI UM PELO DE CAUDA ESTALADIÇA PARA A MESA DOIS

Um dos pormenores mais deliciosos de Pequim é a tradução para inglês dos nomes dos pratos, nos menus dos restaurantes. Não sei que artes e truques usam as pessoas que fazem os menus - talvez o tradutor do google dê uma ajuda, mas não chega. Nem esta ferramenta consegue ser tão criativa.

Ficam alguns exemplos de um - apenas um! - menu. O restaurante fica perto da guesthouse onde fico hospedado, quando vou a Pequim. É um restaurante familiar, de aspecto não é muito interessante... mas a comida!

Adoro, por exemplo, a Quente Detonação de Camarão à Governo. Mas nunca experimentei o Maravilhoso Aromático Pelo de Cauda Estaladiça; nem o Bife Três Bactérias a Arder.

Ficam alguns dos pratos que se podem pedir neste restaurante. Prometo que muito em breve partilho mais alguns, mas de outro menu.

Alguém é servido?








ONDE É QUE EU IA?

A última vez que escrevi aqui no blog estava sobre carris, algures no deserto do Gobi, a caminho de Pequim. E desde que atravessei a fronteira que não tenho acesso a maior parte da internet que me convém.

Temos muito que pôr em dia, por aqui.

Mas vamos por partes. Começo com um update geral, depois passarei aos pormenores.

Estive uma semana em Pequim. Primeiro com o grupo da Nomad que acompanhei no Transiberiano, com direito a muitos passeios e experiências, desde a Praça Tiananmen à Grande Muralha, passando pelo Parque Olímpico, a Cidade Proibida e o Lama Temple, o Heaven Park e as compras no Pearl Market... e claro: muitos petiscos e emoções fortes.

Depois fiquei on my own, dois dias apenas mas que valeram por muitos. O primeiro foi mais intenso, com um dos companheiros de viagem do Transiberiano, alugámos motas eléctricas e desbravámos o que havia para desbravar. No segundo dia fiquei o tempo quase todo no hotel, a fechar contas e a fazer o relatório para a Nomad.

E hoje de manhã: táxi para o aeroporto, avião para Macau, autocarro para uma pensão algures não muito longe do centro histórico. Não se está nada mal, aqui na ex-colónia portuguesa ;)


BOM DIA, INTERNET

Depois de uma semana sem acesso ao blog, ao facebook e a metade da internet que me interessa - eis que estou online outra vez.

Pequim foi ainda melhor que das outras vezes, deixou saudades, não sei quando voltarei à capital chinesa mas apetece mais do que antes. Que cidade! Que constante surpresa.

E agora: Macau.

Tenho tanto para pôr em dia. Episódios, caricatos, curiosidades e pequenos apontamentos dos dias em Pequim - e também já destas primeiras horas na ex-colónia portuguesa.

A seu tempo. Vou agora organizar ideias e fotos, materializar em textos alguns apontamentos que fiz, a ver no que isto dá em posts ;)

Por enquanto fica um click. De Macau, pois claro:


22/06/2014

A ÚLTIMA ETAPA

Arrancámos hoje de manhã de Ulaanbaatar, para a última etapa desta viagem transiberiana (e transmongoliana) que termina em Pequim. Chegamos amanhã à capital chinesa, onde ficamos alguns dias. Espero que o blogger não esteja bloqueado, para conseguir actualizar o fui dar uma volta.

Ultimamente os posts têm sido escritos meio-a-despachar, não tenho conseguido o tempo e a disponibilidade que gostaria. Mas em breve sento-me com calma e partilho um pouco mais das aventuras mais recentes. Ficámos duas noites a dormir em gers, as tendas dos nómadas mongóis, passeámos pelas montanhas até mosteiros pendurados nas rochas... que aventura boa, apesar de alguma chuva. Já tenho saudades do crepitar do fogo na salamandra, enquanto adormeço. E do céu estrelado da Mongólia.

Mas tenho de me despachar - o comboio parou apenas por alguns minutos, estamos algures a meio do Deserto do Gobi, e há que aproveitar o facto de ter rede para publicar este post.

Hoje à noite atravessamos mais uma fronteira. Já dormimos sobre carris chineses. E amanhã começa a recta final da viagem.

Quanto ao jogo de Portugal: não vou conseguir vê-lo, nem sequer através da aplicação da FIFA, porque o cartão da Mongólia deixa de funcionar assim que passarmos a fronteira. Paciência: amanhã logo se vê. Espero que a sorte nos acompanhe, desta vez. Força, rapazes!

21/06/2014

BOM DIA, UB

Depois de duas noites e dois dias a "acampar" num ger mongol, estamos de volta a Ulaanbaatar - UB para os amigos - e a contar as horas para regressar ao comboio. Amanhã partimos na quarta e última etapa desta longa aventura. E depois de amanhã chegamos a Pequim.

Mas enquanto refresco ideias e energias, fica um click feito hoje de manhã, no regresso à cidade. Logo à tarde conversamos novamente.


19/06/2014

MAIS UMA VOLTA AO PARQUE

Depois de um dia de emoções intensas em Ulaanbaatar (a seu tempo conversamos, que neste momento estou mesmo a correr), vamos daqui a pouco para o Parque Nacional Terelj, onde ficamos duas noites.

Não há wifi, não há 3G, não há praticamente rede de telefone.

E este ano não há Fartarotti - o cavalo que me atirou ao chão há três anos, num galope pela estepe mongol, que voltei a encontrar mais duas vezes. Este ano ficamos com outra família.

Até breve :)

18/06/2014

BOM DIA. STOP.

Entrámos finalmente na Mongólia, depois de cinco horas na fronteira russa e outras duas do lado mongol. É sempre a mesma coisa, é preciso paciência e muita calma, algum jogo de cintura - tudo passa.

Passou também mais uma noite sobre carris, hoje acordámos com o sol a nascer e lá fora a paisagem tinha mudado radicalmente, com gers aqui-e-ali, pessoas a cavalo, fábricas no meio de centros urbanos, um postal de verde e castanho ondulante até perder de vista. Quase não se vêem árvores.

Chegámos a Ulaanbataar, onde paramos por uma noite. Amanhã vamos para a estepe e dormimos duas noites em gers nómadas. Mas, lá está: hoje temos cidade. Hoje não saímos daqui. Parados. Temos quase sete mil quilómetros atrás - hoje fazemos apenas meia dúzia, a pé, entre o hotel e o mosteiro, a estátua do Genghis Khan, o restaurante onde jantamos e pouco mais.

E o click de hoje, à sua maneira, celebra isso mesmo: o estar parado.


17/06/2014

É UM MUNDO PEQUENO #09

É um mundo pequeno, quando entras no Transiberiano em Irkutsk, a capital da Sibéria, e percebes que no teu compartimento vão viajar três portuguesas.

Tem piada: não é a primeira vez que isto me acontece neste comboio. Neste mesmo comboio.

Há um ano foi com o Luís Simões, o guru do World Sketching Tour - e agora são três raparigas a viajar entre S. Pete e Pequim: a Vita, a Lili e a Cris.

O grupo já tinha entrado no comboio, quatro pessoas em cada cabine; ou seja, três cabines para doze pessoas. E eu. Eu fiquei sozinho numa cabine, faço sempre assim quando venho com os grupos, deixo à vontade da Sorte se fico com boa ou menos boa companhia - ou até sozinho, às vezes acontece.

Continuando: desta vez calhou-me em Sorte três portuguesas. Que coincidência. E logo em noite de jogo da Selecção. Que, como toda a gente sabe, não correu nada bem. Enfim. Mas esses são outros filmes. Aqui na Sibéria, sobre carris em direcção à Mongólia, com a Rússia a ficar para trás do lado de lá da janela, falou-se de portugalidade e vizinhanças, coincidências e vidas e o Mundo.

O Mundo - é tão pequeno, não é?

FUTEBOL, FADO E UMA FRONTEIRA

Foi uma noite estranha, a de ontem. Num comboio entre a Sibéria e a Mongólia, de cachecol com as cores de Portugal ao pescoço, a beber vodka e a olhar para o telefone, que nos ia actualizando, de dois em dois minutos, acerca da evolução do jogo.

Que triste fado, que pesadelo deve ter sido. Mas este não é um blog sobre desporto ou música, por isso abstenho-me de comentar a bola. O mais próximo que me atrevo são mesmo as t-shirts e curiosidades do Ronaldo à volta do mundo, os bocadinhos de portugalidade que vou encontrando. Pouco mais.

Estamos agora na fronteira com a Mongólia, ainda no lado russo, o comboio vai ficar aqui parado cinco horas. E nós à espera. É mesmo assim, não vale a pena desesperar, entrar em stress e ansiedades, porquê-isto e porque-não-aquilo. Ao fim da tarde seguimos viagem e entramos finalmente na Mongólia. E amanhã de manhã chegamos a Ulaanbataar.


16/06/2014

QUE NERVOOOOS

Isto de Portugal jogar à mesma hora em que estou "enfiado" num comboio, algures entre a Sibéria e a Mongólia... isto não é coisa que faça, ó Sina minha! ;)

Já temos os cachecóis prontos e não tarda vamos pintar os rostos com as cores da bandeira. Parece tontice e se calhar é mesmo... mas que mais podemos fazer? Tenho o telefone com a bateria carregada e a esperança de ter rede durante a viagem. O que sei que é difícil, pois em regra só mesmo junto às cidades e ajuntamentos urbanos é que isso acontece - e ajuntamentos urbanos é algo cada vez mais raro, quanto mais viajamos para leste. A ver vamos.

Contudo, fica aqui expresso o meu voto de um grande jogo, daqui da Sibéria somos treze a torcer por Portugal, a enviar energias, a desejar que esta estreia no Mundial 2014 seja feliz.

Força nas canetas, Ronaldo! Dêem o vosso melhor, rapazes!

Hoje no Transiberiano o vodka bebe-se nos copos do KFC ;)

BOM DIA, CAPITÃO!

Metade Capitão Iglo, metade Capitão Gancho... e mais outra metade de Capitão Roby, porque não?

Na volta de barco pelo lago Baikal "levámos" com este bem-disposto ;) capitão. Perguntei-lhe se podia tirar-lhe uma foto e ele lá rosnou uma espécie de "vá lá, mas despacha-te com isso".

Acho que resultou bem.

Mas hoje o meu coração está com outro capitão. Com ele e com toda a "nossa" infantaria. Que puxem dos galões e disparem os respectivos canhões. Hoje temos uma batalha para vencer.

Bom tarde e uma boa semana, e que hoje se grite bem alto o nome de Portugal!


RECORDAÇÕES DO BAIKAL

Não te volto a "pôr a vista em cima" tão cedo, Baikal. Espero voltar aqui e explorar um pouco mais deste bocadinho de mundo que te rodeia - mas não sei quando será possível. Vai-na-volta e é a última vez, sabe-se lá que reviravoltas me esperam.

Mas uma coisa é garantida: sendo este o último grupo do Transiberiano que acompanho - a partir do próximo ano "passo a pasta" a outro líder da Nomad -, não acredito que volte tão depressa a estas bandas. É que tenho tanto mundo por conhecer... ;)

Mas espero voltar.

E para não me esquecer da tua cara, Baikal, publico aqui os últimos retratos que fiz teus. Estavas de boa cara, sorridente e brilhante.








NO LAGO BAIKAL

Chegámos ontem a Listvyanka, nas margens do lago Baikal, e aqui passámos um domingo solarengo e pacato, passeando à beira da água, ou mesmo de barco num tour simpático ao fim da tarde - houve até quem tivesse mergulhado nas águas gélidas. Diz o povo que são dez anos a mais, que se ganha por tal proeza.

No lago Baikal a rede de telefone é fraquinha, não tive hipótese de me ligar à internet com o computador. Mas hoje estamos de volta a Irkutsk, acabámos de comer um strogonoff delicioso (mas em doses pouco coincidentes com a fome que tínhamos, admito) e agora o grupo foi dar uma volta e eu vim tratar da papelada com o hostel. Daqui a pouco encontramo-nos outra vez, regressamos à estação de comboios e aí vamos nós outra vez, sobre carris, pouca-terra-pouca-terra até Ulaanbataar, a capital da Mongólia.

Quanto ao jogo de estreia da nossa selecção no Mundial de Futebol, teremos de nos contentar com as actualizações possíveis via telefone e internet, quando houver rede. Que pena. Mas vamos equipados com os cachecóis e até tinta para o rosto. Levamos vodka russo e o espírito dos Conquistadores. E se tivermos de gritar goooooolooo nem que seja vinte minutos depois da bola entrar na rede, assim o faremos.

14/06/2014

CADA VEZ QUE O COMBOIO PÁRA

Sempre que paramos em alguma estação, ligo o 3G do telefone e tento actualizar qualquer coisa no blog, no facebook - ou simplesmente ler e-mails e notícias.

Com a loucura do futebol no auge - confesso que tenho pena de não estar a acompanhar melhor o Mundial -, vejo-me obrigado a procurar as soluções possíveis para me manter a par do que se passa. Assim sendo, quando hoje acordei às três da manhã por sentir o comboio parar, logo me lembrei que ia ter o sinal no máximo; logo, ia ter internet. Liguei o telefone, abri o browser e inteirei-me das novidades do México-Camarões e do Espanha-Holanda.

Parece-me que vai ser assim, esta primeira fase. Provavelmente não vou ver um único jogo, mas concerteza hei-de inteirar-me sempre que puder :)

Estamos neste momento algures na Sibéria, não sei dizer o nome da paragem mas sei que estamos a quatro fusos horários e a mais de quatro mil quilómetros do ponto de partida. Impressionante. Amanhã de manhã chegamos a Irkutsk e completa-se a primeira parte desta aventura, que liga Moscovo ao lago Baikal.

Até já - e bons jogos de futebol :)

CANDEEIROS DE CRISTAL?

Às vezes, quando o comboio pára, aparece gente a vender de tudo um pouco.

Refeições completas, fruta, bebidas. Loiça ou jogos de copos. Cobertores, relógios de parede, animais empalhados, bonecas e bibelots vários. Há quem venda candeeiros de cristal - mas quem é que compra candeeiros de cristal numa viagem de comboio?

Diz alguém que "se estão a vender, é porque estão a comprar", e só pode ser verdade. Mas não deixa de ser um-tanto-ou-quanto estranho...


PAPAROCA

Há quem prefira saladas, outros ficam-se pelas sandes, uns misturam noodles com ingredientes vários, ou couscous, sopas, purés instantâneos. Variedade de refeições não falta, no Transiberiano. O limite é a imaginação.

Normalmente fazemos umas compras antes de embarcar no comboio. Mas há quem prefira o vagão-restaurante, claro. Cada pessoa tem os seus gostos, feitios, manias e disponibilidade. O que interessa é chegar ao fim do viagem satisfeito.

Fica uma foto-exemplo de algumas opções ao almoço, ontem. A ver se um dia destes partilho aqui umas receitas, para inspirar futuros viajantes ;)


13/06/2014

SABIA QUE... #23

...as cúpulas em formas de cebola, nas igrejas russas, representam a chama de uma vela acesa?

A vela tem uma simbologia muito forte em quase todas as religiões - é portadora da luz, e a luz é símbolo da vida, da esperança e da fé.

Na Rússia, as igrejas têm sempre cúpulas em forma de uma "cebola", muitas vezes douradas, mas há muitas variações: várias cores, padrões, materiais.

Ficam alguns exemplos:








3.333

Passaram já três-mil-trezentos-e-trinta-e-três quilómetros desde que saímos de Moscovo.

Estamos em Novosibirsk, a maior estação da linha Transiberiana, depois de mais uma noite e mais um dia de muita conversa, paisagens, leituras e vodka. O grupo tem uma energia muito boa, já há alcunhas, privates, selfies e momentos para lembrar mais tarde. As provodnitsa eram muito simpáticas, houve até quem lhes tivesse oferecido umas flores. Só rir. Hoje de manhã alguns estavam de ressaca, depois de uma noite a beber com os russos.

Já todos tomaram banho, alguns foram passear pela cidade, temos ao todo seis horas em Novosibirsk. Gosto desta "paragem técnica", tento sempre marcar os comboios assim quando organizo a viagem. Dá para desentorpecer as pernas, respirar outros ares, refrescar corpo e ideias. Estou neste momento a guardar as malas, a actualizar o blog e o facebook - e daqui a pouco, quando os primeiros voltarem à "base", também vou reabastecer.

Quando arrancarmos outra vez, hoje à noite, teremos Irkutsk como destino. Aí ficaremos uma noite, junto à margem do lago Baikal. Mas cada aventura a seu tempo. Até lá, temos mais duas noites no comboio, muito carril pela frente - e mais conversa, paisagens, leituras e vodka. ;)

ENTRETANTO, NO METRO

Ja estamos em Novosibirsk, no coração da Sibéria: parámos para um duche e jantar, ficamos aqui meia dúzia de horas e logo à noite prosseguimos viagem para Irkutsk, o destino final desta primeira parte da viagem.

No entanto, neste post quero voltar um pouco atrás e lembrar a volta que demos no metro, há três dias, visitando algumas das estações mais emblemáticas de Moscovo.

Não é a primeira vez que partilho aqui imagens e curiosidades acerca do espectacular Metro da capital russa. Fi-lo em 2011 e 2013 e de certeza que hei-de repetir a proeza no futuro. Este mundo subterrâneo é um universo à parte, só quem já viu é que sabe.

Ficam então algumas imagens, por agora dispenso a prosa ;)