09/12/2004

DOIS MESES

ILUMINAÇÃO

Completei dois meses de viagem há dois dias - para ser sincero, não houve qualquer tipo de comemoração especial, nem tinha de haver. Passei o dia quase todo enfiado num autocarro. E, no entanto, eu gosto de números e efemérides, e nunca é demais celebrar datas.

Aqui entre nós: às vezes preciso deste tipo de incentivo como desculpa para tomar decisões e ter ideias novas. Estava eu muito bem (ou nem por isso) no autocarro entre Pune e Ratnagiri quando me lembrei que, como já disse aqui, se completavam dois meses na estrada... ou seja, o tempo total que passei na Índia, no ano passado. E por mais estúpido ou irrelevante que isto possa parecer, tive a sensação que, a partir deste momento, tudo seria novo e diferente.

Comecei a reflectir sobre o tipo de ideia que podia desenvolver num texto, no blog - e não me conseguia lembrar de nada, durante alguns quilómetros quando de repente uma luzinha acendeu-se em cima da minha cabeça. E não: não era a lâmpada das bandas desenhadas, simplesmente estava a ficar escuro e alguém acendeu a luz. Mas esses pormenores não interessam para nada agora: porque neste momento de inspiração decidi que, em vez de escrever apenas sobre as aventuras e o meu dia-a-dia aqui na Índia, já tinha experiência no terreno suficiente para, de vez em quando, deixar aqui no blog alguns apontamentos sobre o país e a sua cultura, sobre os indianos e as suas excentricidades, os insólitos e as curiosidades... sobre o tipo de observações que uma pessoa faz ao vivo, quando viaja, e que eu posso deixar aqui registado.

Hoje, no entanto, fico-me pelo relato dos últimos dias. Mas prometo que em breve começo a partilhar mais sobre este país completamente doido, capaz de nos enervar ao extremo e logo a seguir nos seduzir.

FUI DAR UMA VOLTA

Deixei Bombaim há quatro dias, acho eu (sinceramente, já não faço as contas aos dias... e confesso que estou meio perdido, no que ao calendário diz respeito). Encontrei-me com o meu amigo Ashroft e fomos de autocarro para Pune, onde ficámos apenas um dia. Lembrem-me que tenho de falar do famoso ashram de Pune, eheheh... só rir. E sobre o livro que eu estou a ler agora! Mas falo disso amanhã ou depois.

Portanto: um dia em Pune e mais outro num autocarro para Ratnagiri, seja lá o que isso for, ou onde for. E depois outro autocarro... e eis-me numa praia chamada Ganapatipule.

E como fui eu parar a um lugar chamado Ganapatipule, que nem sequer aparece nos mapas, a não ser nos mapas de Ganapatipule? (sim, eu gosto deste nome, agora que finalmente o decorei apetece-me dizê-lo muitas vezes. Ganapatipule.)

No meu passeio de mota pelo Maharashtra, há umas semanas atrás, vi num hotel uma fotografia de uma praia... uma pequena e inofensiva fotografia que me deixou a sonhar naquele lugar durante quase todas as noites até há dois dias atrás.

Perguntei na recepção onde ficava aquele pedaço de Paraíso - seria na Índia? É na Índia, sim senhor... e chama-se Ganapatipule, disse-me o recepcionista. Tomei nota do nome, até porque não o consegui decorar logo de início - e fui pesquisar um bocadinho na net, apesar da lentidão angustiante da ligação. Anotei as direcções e anunciei ao Ahsroft que não me ia embora da Índia sem conhecer aquela praia.

E pelos vistos nem foi preciso esperar muito, porque afinal o lugar até ficava mais-ou-menos-a-meio-caminho de Goa. Passei lá uns dias, a dormir num templo hindu (isso mesmo: um cristão e um muçulmano a partilhar um quarto num templo de Ganesh!), e só me vim embora porque tínhamos encontro marcado com o Hamid e o Shoo Shoo em Goa.

Já cá estou em Vagator, fico aqui dois ou três dias a pôr a conversa e os sorrisos em dia - e depois sigo para Sul, sozinho a explorar o estado de Karnataka e quem sabe um pouco mais.

Amanhã falamos de Pune, do ashram, do livro que eu estou a ler e de algumas curiosidades. Pode ser? :)

Fui!

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