28/12/2004

TSUNAMI

Não se fala de outra coisa por aqui - e de certeza que não há-de ser diferente em Portugal e no resto do Mundo. A dimensão da tragédia que se abateu hoje de manhã nesta zona do globo não tem precedentes.

Fui dar uma volta aqui pela internet e parece que já se contam mais de 28 mil mortos e 30 mil desaparecidos.

Estou neste momento em Bombaim, na costa ocidental da Índia, depois de ter passado o Natal em Goa. Estou no "lado certo", portanto. Aqui o tsunami só chegou nos telejornais.

Não há muito mais a dizer, por agora. As imagens que passam na televisão falam por si, e os números só confirmam o horror que se está a viver aqui na Índia, na Indonésia, no Sri Lanka e nas Maldivas, e até na Malásia e Birmânia.

E na Tailândia! Phuket, Phi Phi e o "meu paraíso secreto", Railay... tudo virado de pantanas, mil mortos entre os quais 700 estrangeiros... :(

Volto para Goa daqui a pouco. Já estão comigo a Joana e a Assunção, chegaram ontem à tarde e ao choque natural de chegar à Índia pela primeira vez, estão também a viver este drama emocional que concerteza vai marcar a História deste nosso mundo.

25/12/2004

FELIZ NATAL (DE GOA)

Pelo segundo ano consecutivo, não passo o Natal em casa.

No ano passado pareceu-me um feito inédito. Achei que não voltava a acontecer. Fiquei em Bangkok, onde fui ao cinema e passei a tarde numa piscina com vista para o skyline da cidade. Estava, nessa altura, já na fase final da viagem que serviu de inspiração para este blog.

E agora estou em Goa - quem diria.

Ontem celebrei a véspera de Natal com um jantar muito especial, em casa de um amigo do Caxemira, que cozinhou uma galinha com coentros deliciosa, para mim e mais três pessoas. Eu era o único católico, os outros muçulmanos.

Mas o espírito de Natal ultrapassa credos, e foi realmente uma noite especial.

Depois de jantar saímos para uma festa trance, algures numa floresta não muito longe daqui... mas confesso que no meio destas voltas todas, o coração estava em Sintra. Quando telefonei para casa a desejar boas festas, deu-me um aperto ao ouvir a minha família, do outro lado.

Hoje à noite volto para Bombaim, de autocarro. São catorze ou dezoito horas, conforme o trânsito e o estado de espírito do driver. Daqui a dois dias chega a minha prima Joana e a Assunção, uma amiga da "velha guarda" - ficamos uns dias por Bombaim e depois passamos uma semana juntos em Goa. Calha bem, com as saudades que "bateram" hoje. ;)

20/12/2004

OM BEACH

Tem nome de mantra e ares de paraíso.

Mas não... não vou dizer mais nada sobre esta praia nos arredores de Gokarna - esperem pelas fotografias e confirmem com os próprios olhos.

UMA SEMANA DEPOIS

Eu sei que já passou praticamente uma semana desde a última vez que escrevi alguma coisa - azar!

Mas como dizem os ingleses, "no news is good news", e se não tenho partilhado nada aqui no blog é porque tenho andado ocupado nas voltas da boa vida.

Portanto: a última vez que vim aqui ao cyber-espaco (gosto da expressão, posso?) estava em Bangalore, a tal cidade muito europeia para a India... mas muito indiana para a Europa.

Depois de Bangalore fui para Mysore - que, apesar das expectativas, revelou-se uma surpresa boa. Claro que os inúmeros palácios por todo o lado ajudaram... bem como a ida a um templo no topo de uma montanha, onde fiquei a conhecer a estátua gigantesca de um touro preto, que obviamente é a reincarnação de um qualquer deus hindu (dizem que a estátua cresce um centímetro por ano). Mas o que mais me impressionou - surpresa! - foi o Palácio do Marajá. Não: desta vez não conheci o senhor em pessoa, parece que este vive não-sei-onde e só aqui vem de vez em quando - por isso ficou combinado para outra altura ;)

Vale a pena visitar a cidade, nem que seja pelo Palácio. Nenhuma foto faz justiça ao monumento - e infelizmente só tenho fotos exteriores, uma vez que era proibido levar a câmara para dentro do mesmo.

Enquanto estava em Mysore, ainda fui visitar uma terrinha não muito longe, que em si nem era nada de especial, mas que tinha um forte bem giro - e também o Palácio de Verão do Sultão Tipu.

Mas adiante, porque a praia espera-me. Estou estafado: tantas voltas e palácios depois, preciso de descansar. É que depois de Mysore ainda fui para Madikeri, uma cidadezinha no meio de montanhas, numa área conhecida pelas suas plantações de café, banana, arroz e pimenta. Fiquei em casa de uma família no meio da floresta, sem electricidade e com uma casa-de-banho espectacular, que tinha lareira para aquecer a água; e aqui passei uns dias, servindo a casa de base para vários trekkings entre aldeias e plantações de café, campos de arroz e montanhas, etc. Muito giro. E muuuuuuuito cansativo.

Ontem estive das sete da manhã às dez da noite em quatro autocarros. Primeiro da aldeia nas montanhas para Madikeri; depois de Madikeri para Mangalore; e daqui para Kumta... e finalmente para Gokarna, onde estou. Mais ou menos duzentos quilómetros a sul de Goa. O lugar é lindo e ainda nem vi as praias, que dizem ser do melhor.

Preciso de descanso, já disse.

Preciso de me deitar um bocadinho à sombra de alguma palmeira a ouvir o mar. E assim que puder, assim que tiver energias... volto aqui e conversamos. Espero que não passe mais uma semana.

14/12/2004

A CRÓNICA DO KARNATAKA

E depois de Goa: Hampi.

Confesso que não fazia parte dos meus planos iniciais, vir agora a Hampi - estava a guardar esta volta para quando a Joana e a Assunção viessem a Goa, no fim do mês. Mas afinal elas têm ainda menos tempo que o previsto, por isso devemos ficar só por Bombaim e pela antiga colónia portuguesa - o que já não é nada mau, acreditem.

Ir a Hampi implicava pelo menos dois dias e três noites, no mínimo... por isso decidi aventurar-me agora, e não me arrependo nada.

Hampi é aquele tipo de lugares que... é obrigatório. Pronto, já disse.

E com isto não devia ser preciso dizer mais nada, mas deixem-me explicar melhor o que é Hampi.

Hampi é uma antiga capital de um império qualquer, não me perguntem agora o nome porque não me lembro - mas só para terem uma ideia do fausto que a dada altura se viveu, contam os antigos que há uns quinhentos anos chovia ouro por lá. As ruas da cidade eram decoradas com diamantes, rubis e outras pedras, e o rei de vez em quando tinha a mania de oferecer ao povo o seu peso em ouro. Claro que depois de muitas guerras e saques e séculos de abandono, resta pedra e pouco mais. Mas que ruinas!!! São quilómetros e quilómetros (e quilómetros!) de templos e monumentos, uns em bom estado e outros mais degradados; e estátuas, aquedutos e todo o tipo de intervenção na paisagem que se pode esperar de uma "cidade perdida", incluindo uma espécie de praca que é o exlibris de Hampi, onde está uma enorme carruagem de Vishnu, em pedra, mais um pavilhão onde as colunas fazem música, quando se bate nelas - e que aparece em tudo o que é postais. Dizem os guias que o rei Não-Sei-Quantos ficou de tal forma impressionado com esta praça que a considerou bonita demais até para um rei, e por isso mudou-se para outro palácio, por não se considerar digno de viver ali.

Estou a viajar pelo Karnataka, portanto.

Depois de dois dias a passear numa mota alugada pelas ruínas de Hampi; depois de uma breve passagem por Hospet e algumas aventuras de riquexó; estou finalmente em Bangalore, capital do estado e uma cidade muito ao estilo europeu, nem parece que estou na India. Relativamente limpa, cheia de jardins e parques e avenidas enormes, centros comerciais e lojas... enfim, estou aqui há sete ou oito horas, já me fartei de passear e estou quase de partida outra vez, apetece-me qualquer coisa mais calma.

Vou hoje à tarde para Mysore, dizem que é um espectáculo bonito de se ver, uma espécie de Sintra daqui da zona - a ver vamos.

10/12/2004

EU (EM GANAPATIPULE, SEM LIGADURA)

Sim: sou eu.

Sim: em Ganapatipule (adoro este nome).

E sim: já não tenho a ligadura na perna.

Tirei esta fotografia no primeiro dia em que tirei a ligadura; na verdade ainda tenho a compressa, mas aqui não se vê. Já estou quase "curado", já sou eu que limpo a ferida todos os dias, já mudo a compressa e até voltei a pôr a ligadura, mais por uma questão de conforto que outra coisa. E quando voltar a Goa, daqui a uma semana ou duas, estarei pronto para me vingar e ficar horas e horas no mar.

GANAPATIPULE

Deliciem-se, babem-se, chorem e façam o drama que quiserem fazer. Batam com as mãos no peito, arranquem os cabelos e desmaiem entre gritos, se forem mais facilmente impressionáveis e adeptos do estilo Bollywood.

Senhoras e senhores: apresento-vos a praia de Ganapatipule, onde estive uns dias (e onde espero voltar em breve).

Um paraiso perdido a quinhentos quilómetros de Bombaim e trezentos de Goa. 


UMA MANIF

Centenas de mulheres a desfilar pelas ruas de uma aldeia, gritando palavras de ordem que não entendo. Um boneco deitado num caixão com a fotografia de um homem que não reconheço. Outro boneco enforcado - mas a fotografia colada no rosto é a do mesmo homem que está no caixão. Nos cartazes, palavras numa língua que não consigo ler.

Pergunto ao meu amigo Abbey o que se está a passar, se é alguma manifestação a favor dos direitos da mulher, uma greve por melhores condições de trabalho, ou alguma coisa do género... mas não. Nada disso. Longe disso. O senhor nas fotografias é um actor de Bollywood que, numa entrevista transmitida esta semana na televisão, fez um comentario pouco simpático sobre a aldeia onde estas mulheres vivem. E vai daí, cartazes e caixão e uma forca.

É este o poder de Bollywood na Índia. Não são só filmes que as pessoas vão ver ao cinema - isto é quase uma religião. É uma industria que mexe com a sociedade, que a influencia, que mexe com tradições e contradições, capaz de fazer sonhar os mais pessimistas, mas também de irritar o mais pacífico dos indianos.

Este tipo de manifestações não é raro no país, fiquei a saber. Há alguns anos, por exemplo, houve motins e quase começou uma guerra civil entre hindus e muçulmanos, tudo por causa de um comentário feito por uma actriz de Bollywood.

O VENDEDOR DE BANANAS

Depois dos enfeites na autoestrada, bananas.

Infelizmente voltámos a ficar na miséria, eu e os meus amigos indianos: sem gasolina e sem dinheiro, fomos obrigados a recorrer a soluções-limite. Enquanto o Abbey e os outros vendiam o corpo aos camionistas, eu fiquei a vender babanas as pessoas que passavam - privilégios de estrangeiro.

;)

TCHIM TCHIM

Apresento-vos o grupo da quase-pescaria: eu, o Berty, o Abbey e o outro senhor do lado direito da fotografia é um amigo deles cujo nome já não me lembro. Desculpe, senhor do lado direito da fotografia.

O momento foi registado num restaurante de uma terrinha já muito perto da fronteira entre os estados do Gujarat e do Maharashtra, antes de chegarmos a casa... e antes de sabermos que o mar estava péssimo e os pescadores bêbados. Os outros pescadores.

À BEIRA DA ESTRADA

É verdade que tenho andado na boa vida - mas quando é preciso por as mãos na lama, contem comigo. A fotografia que partilho neste post é prova disso mesmo. Numa das idas-e-vindas à quinta do Abbey, ficámos subitamente sem dinheiro, e precisavamos de pôr gasolina... por isso eu e o Berty tivemos de "safar a malta". Enquanto os outros arrumavam carros em troca de umas rupias, nós arranjámos alguns daqueles enfeites que os camionistas gostam de pôr nos espelhos retrovisores e lá fomos para a beira da estrada, a ver se fazíamos uns trocos.

E por falar em estradas.

Mais um apontamento sobre este país de loucos: quando um carro ou um camião avaria ou tem um furo, os indianos NUNCA se dão ao trabalho de tentar tirar a viatura da estrada e resolver o problema em segurança na berma. Deixam-na onde estão... e esqueçam triângulos a cem metros de distância e outras mariquices às quais chamamos "medidas de segurança": aqui o pessoal arranja umas dez ou vinte pedras e faz um perímetro a volta do camião. Tipo um murinho. Tão querido. E há quem ponha também uns ramos de árvores a sair das janelas dos carros, que fofinho.

Outro pormenor: não há espelhos laterais e poucos são os condutores que usam o espelho retrovisor para se orientarem com o trânsito à volta. O que está a dar na Índia é buzinar. A buzina utiliza-se ao máximo, seja para o que for mas especialmente em ultrapassagens, sejam elas pela direita, pela esquerda, por cima ou por baixo, ou mesmo entre camiões. À noite, só se ligam os faróis em situações extremas. E sempre nos máximos.

Nas estradas da Índia, mais do que ser visto - interessa é ser ouvido.

Ou não tivessem pintado nas traseiras dos camiões: HORN OK PLEASE.

PS: o primeiro parágrafo deste post é brincadeira.

BOMBAIM É UMA FESTA

Uma não: muitas.

Mas a internet é tão lenta aqui, mas tão lentaaaa... que entre todas as fotografias já tiradas em Bombaim e que se vão acumulando todas as semanas, decidi partilhar apenas uma. Esta foi em "minha" casa, na festa de anos do meu anfitrião, o Rajeev. Ao meu lado está a Poonam (irmã do Rajeev) e outro amigo, o Moonty.

Reparem nos postais atrás de nós: a Torre de Belém e o Palácio da Pena.

OSHO

O Osho Ashram, em Pune, é um dos ashrams mais famosos da Índia. Passei lá no outro dia, só para dar uma vista de olhos, e confesso que já ia de pé atrás quando entrei... e muito mais, quando saí. Este ashram, como tantos outros, é um lugar para onde as pessoas vão para praticarem meditação, onde podem fazer uma espécie de retiro, provavelmente conhecerem-se um pouco mais.

Mas uma das principais diferenças do Osho para outros ashrams é que o guru defende que não é preciso muito esforco e dedicação para este tipo de retiro... ou seja, este é um lugar onde, além da parte mais espiritual, os "hóspedes" podem usufruir de ténis, jacuzzi, sauna, biblioteca, etc - tudo num lugar onde a arquitectura completa o luxo, a preços nada compatíveis com um suposto desinteresse pelo dinheiro, que o senhor Osho tanto apregoava.

Um spa espiritual, portanto.

Os "hóspedes" passeiam-se por Pune vestidos numas túnicas cor-de-vinho, falando sobre os seus encontros com a verdade e as energias superiores que emanam, e dentro do ashram vêem-se pessoas a dançar e a meditar - e há quem se entusiasme pela espécie de política de sexo livre, o que pode explicar em parte o sucesso do lugar. Para lá ficar em "retiro" é obrigatório fazer um teste de HIV, além de disponibilizar uma boa quantia de "ouro" do tesouro pessoal.

Mas há mais: comprei um livrinho do senhor, só para ficar a conhecer melhor as suas teorias... ainda só li trinta páginas e tem sido um fartote, apesar de algumas partes bem interessantes. Diz o guru que quem come pastilha elástica tem instintos homicidas, que é um assassino em potência; e diz também que a escola é má para as crianças e todos os professores têm um complexo de tirania; diz ainda que pior do que comer pastilha elástica é fumar, beber ou comer... e falar. Aliás: falar é das piores coisas que podemos fazer, e por várias vezes durante o livro ele aconselha vivamente toda a gente a calar-se.

Claro que no meio de tanta reflexão, há partes bastante interessantes. Quem sou eu para contrariar um guru. Mas a verdade é que o que me devia levar a uma reflexão sobre a vida e a minha maneira de estar e ser... está, afinal, a revelar-se uma comédia.

Outro pormenor: antes de visitar o ashram, tive de ver um video sobre o Osho e as suas técnicas e ideias. Entre imagens de passarinhos a voar, rios a correr e borboletas no ar, o senhor ia aparecendo (parece o Bin Laden, acreditem no que vos digo) e lá ia partilhando algumas ideias e verdades. Umas mais fantasiosas, outras bem profundas e verdadeiras. Mas onde eu quero chegar é a este pormenor: durante o video, o guru troca três vezes de relógio, e cada um tem mais diamantes e ouro que o anterior. Enfim: luxos de guru!

09/12/2004

DOIS MESES

ILUMINAÇÃO

Completei dois meses de viagem há dois dias - para ser sincero, não houve qualquer tipo de comemoração especial, nem tinha de haver. Passei o dia quase todo enfiado num autocarro. E, no entanto, eu gosto de números e efemérides, e nunca é demais celebrar datas.

Aqui entre nós: às vezes preciso deste tipo de incentivo como desculpa para tomar decisões e ter ideias novas. Estava eu muito bem (ou nem por isso) no autocarro entre Pune e Ratnagiri quando me lembrei que, como já disse aqui, se completavam dois meses na estrada... ou seja, o tempo total que passei na Índia, no ano passado. E por mais estúpido ou irrelevante que isto possa parecer, tive a sensação que, a partir deste momento, tudo seria novo e diferente.

Comecei a reflectir sobre o tipo de ideia que podia desenvolver num texto, no blog - e não me conseguia lembrar de nada, durante alguns quilómetros quando de repente uma luzinha acendeu-se em cima da minha cabeça. E não: não era a lâmpada das bandas desenhadas, simplesmente estava a ficar escuro e alguém acendeu a luz. Mas esses pormenores não interessam para nada agora: porque neste momento de inspiração decidi que, em vez de escrever apenas sobre as aventuras e o meu dia-a-dia aqui na Índia, já tinha experiência no terreno suficiente para, de vez em quando, deixar aqui no blog alguns apontamentos sobre o país e a sua cultura, sobre os indianos e as suas excentricidades, os insólitos e as curiosidades... sobre o tipo de observações que uma pessoa faz ao vivo, quando viaja, e que eu posso deixar aqui registado.

Hoje, no entanto, fico-me pelo relato dos últimos dias. Mas prometo que em breve começo a partilhar mais sobre este país completamente doido, capaz de nos enervar ao extremo e logo a seguir nos seduzir.

FUI DAR UMA VOLTA

Deixei Bombaim há quatro dias, acho eu (sinceramente, já não faço as contas aos dias... e confesso que estou meio perdido, no que ao calendário diz respeito). Encontrei-me com o meu amigo Ashroft e fomos de autocarro para Pune, onde ficámos apenas um dia. Lembrem-me que tenho de falar do famoso ashram de Pune, eheheh... só rir. E sobre o livro que eu estou a ler agora! Mas falo disso amanhã ou depois.

Portanto: um dia em Pune e mais outro num autocarro para Ratnagiri, seja lá o que isso for, ou onde for. E depois outro autocarro... e eis-me numa praia chamada Ganapatipule.

E como fui eu parar a um lugar chamado Ganapatipule, que nem sequer aparece nos mapas, a não ser nos mapas de Ganapatipule? (sim, eu gosto deste nome, agora que finalmente o decorei apetece-me dizê-lo muitas vezes. Ganapatipule.)

No meu passeio de mota pelo Maharashtra, há umas semanas atrás, vi num hotel uma fotografia de uma praia... uma pequena e inofensiva fotografia que me deixou a sonhar naquele lugar durante quase todas as noites até há dois dias atrás.

Perguntei na recepção onde ficava aquele pedaço de Paraíso - seria na Índia? É na Índia, sim senhor... e chama-se Ganapatipule, disse-me o recepcionista. Tomei nota do nome, até porque não o consegui decorar logo de início - e fui pesquisar um bocadinho na net, apesar da lentidão angustiante da ligação. Anotei as direcções e anunciei ao Ahsroft que não me ia embora da Índia sem conhecer aquela praia.

E pelos vistos nem foi preciso esperar muito, porque afinal o lugar até ficava mais-ou-menos-a-meio-caminho de Goa. Passei lá uns dias, a dormir num templo hindu (isso mesmo: um cristão e um muçulmano a partilhar um quarto num templo de Ganesh!), e só me vim embora porque tínhamos encontro marcado com o Hamid e o Shoo Shoo em Goa.

Já cá estou em Vagator, fico aqui dois ou três dias a pôr a conversa e os sorrisos em dia - e depois sigo para Sul, sozinho a explorar o estado de Karnataka e quem sabe um pouco mais.

Amanhã falamos de Pune, do ashram, do livro que eu estou a ler e de algumas curiosidades. Pode ser? :)

Fui!

04/12/2004

OLHA EU

Olha eu em Vagator.

T-shirt nova, todo vaidoso. A praia é linda, o mar um espectáculo... mas até o paraíso pode ser um lugar angustiante. Não posso ainda tomar banho no mar, por causa da ligadura que tenho na perna.

Imaginem a minha infelicidade.

VAGATOR

Eu com os meus dois amigos de Fardapur, o Tarely (mais conhecido por Shoo Shoo) e o Hamid.

Na rocha por baixo de nós, uma cara esculpida. Shiva.

O responsável foi um hippie inglês, há uns vinte ou trinta anos ou mais. Há quem faça rabiscos e outros grafittis, outros esmeram-se um bocadinho mais e depois dá nisto.

E já agora aproveito para chamar a atenção a outro pormenor desta fotografia: a minha perna direita... sim, o famoso pêlo encravado de que já falei aqui, ou seja lá o que foi que me levou à faca naquele hospital de Bombaim.

Há vidas. ;)

FINALMENTE AS VACAS

Ainda não tinha partilhado aqui nenhuma fotografia de vacas, desde que estou na Índia.

Eu sei que é quase imperdoável... mas só quase!

Estava à espera de um daqueles "momentos", até agora não tinha apanhado nada de especial - até que enfim encontro um grupo destes sagrados animais em amena cavaqueira, a trabalhar para o bronze numa bela praia de Goa.

Que queridas, e que santas... mas cuidado com os montes de bosta que deixam espalhados pela areia. 

BRAGA?

Adivinhem onde é que esta foto foi tirada.

Em Braga?

Nada disso: em Panjim, a capital de Goa.

FÁBRICA ORIENTAL

Panjim é uma delicia.

Pormenores como este encontram-se por todo o lado, e para qualquer tuga de passaporte e de coração, é de ficar todo babado.

03/12/2004

SERÁ DESTA QUE EU ME PISGO?

Eu sei que era suposto já me ter ido embora de Bombaim. Eu sei que no último post eu disse que estava prestes a deitar-me à estrada - mas ainda aqui estou.

What to do?, como se diz por aqui em jeito de conformismo.

Depois do triplo-aniversário de amigos houve uma mega-festa numa das melhores discotecas cá do galinheiro, e achei que justificava ficar mais um dia. E depois veio um canal de música fazer uma reportagem, ou um documentário, sobre o meu amigo Abbey, e queriam os amigos dele a contar histórias pessoais.

Ou seja: aqui o vosso amigo vai ser uma estrela da TV indiana, eheheh.

No próximo dia nove vão para o ar os meus cinco minutos de glória: eu, a falar de outra pessoa! ahah

Mas foi giro, e a apresentadora também.

Adiante:

Ontem acabei por ir com o Abbey e uns amigos para a quinta de um deles, junto da fronteira com o Gujarat, supostamente para uma pescaria que depois não acomteceu - e voltei há bocadinho, estafado apesar de não termos posto sequer um pézinho na água. O mar estava péssimo, o dono do barco estava bêbado - acabámos por ficar em casa à conversa, a beber e a cantar à volta da fogueira.

Hoje há mais uma festa em Bombaim, dizem que vai ser boa. E eu não tenho coragem de ir embora.

Mas amanhã estou definitivamente de partida, por muito ressacado que esteja. Estou farto de tanto adiar o passeio, e cada dia a mais em Bombaim é menos um dia no resto da Índia.