30/11/2004

OUTRA VEZ EM BOMBAIM

Ontem voltei para Bombaim, mas so por tres ou quatro dias. O Bunny destruiu metade da casa, passamos a tarde em limpezas e arrumacoes. O Rajeev fez anos e tivemos jantarada e festa ate as tantas da manha, la em casa. Hoje um dos meus "sobrinhos" tambem fez anos, fomos todos almocar fora, e amanha eh a vez de uma amiga minha - a Seema. E assim completa-se o trio responsavel por esta minha rapida passagem ca por casa.

Assim que estiver despachado das festas, pisgo-me outra vez. O Abbey estava a pensar fazer uma "fishing trip" num rio nao-sei-onde, ainda estou a espera de saber se vamos mesmo ou nao. De qualquer maneira, ja tenho mais ou menos planeado encontrar-me com o Ashroft para mais dois ou tres dias no Maharastra; e depois vou para Goa outra vez, e se tudo correr bem vou passear um bocadinho pelo sul - pelos estados de Karnataka, Kerala e Tamil Nadu.

Quanto a fotos, houve um problema que vai demorar uns dias a resolver. Ja aqui esta a dos Cantinho dos Afonsos, as outras ficam por publicar ate a proxima semana.

CANTINHO DOS AFONSOS

O Cantinho dos Afonsos eh uma casa que fica no Bairro das Fontainhas, em Panjim - rodeada de outras casas com azulejos e pequenos apontamentos de portugalidade. Achei piada ao nome, aos azulejos, as cores tao portuguesas, as saudades de casa.

26/11/2004

AINDA EM GOA

Ainda aqui estou. Nao tenho feito muita praia, porque estou "condicionado" - mas em compensacao tenho andado na boa vida, muito descanso, optima comida e alguns passeios. O pessoal de Bombaim ja voltou para casa e eu continuo com o Hamid e o Shoo Shoo, os dois de Fardapur. Depois de Baga e Calangute fomos experimentar Arambol: a praia eh um espectaculo, muito calma, mas cheia de israelitas - o que por um lado da cabo do negocio aos meus amigos, e a mim da-me cabo dos nervos. Ou seja, voltamos para Calangute.

Na quarta feira passei o dia em Anjuna e ontem fomos ver Vagator.

Manel, Foca e Kamal: esquecam a primeira impressao desta praia, no ano passado! Nao sei como eh que nao gostamos do lugar, sinceramente este ano cheguei la e tive a sensacao que estava num sitio completamente diferente. A praia eh linda, muito calma, so gente porreira... uma das minhas preferidas em Goa, sem duvida. Palolem, pelo que se diz, esta a abarrotar e perdeu metade da piada, so vale pela praia em si. Mas voltando a Vagator: amanha estou la batido outra vez.

Hoje o dia foi passado em Panjim, com uma sul-africana e uma alema que conheci ontem na praia. Fomos ver a parte velha da cidade, marcar o meu regresso a Bombaim e a viagem de uma delas a Hampi, e depois levei-as a ver o novo sucesso de Bollywood, Hulchul.

Amanha, como ja disse, estou de volta a Vagator. E assim que tiver fotografias disponiveis, contem com elas.

23/11/2004

SURPRESA!

Estou em Goa.

Eu sei que parece um bocado precipitado, principalmente depois do ultimo post; mas no domingo estava a entrar em depressao so de pensar que ia ficar sozinho em Bombaim mais uns dias, e como os meus amigos de Fardapur insistiram o suficiente (nao foi preciso muito, confesso), telefonei ao meu medico a perguntar se podia vir para Goa e ele deu-me autorizacao:

"Desde que mudes as compressas e ligaduras todos os dias; desde que descanses e nao andes por la aos pulos e no mar... nao ha problema, podes ir."

Entre descansar-e-nao-fazer-nada em Bombaim... e descansar-e-nao-fazer-nada em Goa, obvio que optei pela segunda hipotese. E ainda bem. Depois de uma viagem de autocarro de quase dezasseis horas (que drama... e com a perna assim...) la cheguei a Madgao. Dez minutos de riquexo depois, o mar. Praia, areia, ondas, chapeus-de-sol, musica - adoro isto.

Nao tinha dito nada ao grupo de Bombaim. Quando cheguei, liguei-lhes a dizer que tinha um amigo portugues em Goa que estava sozinho e que ia ter com eles, e depois apareci no bar la da praia - qual nao foi a surpresa quando me viram, foi so rir. E qual nao foi a minha surpresa (um bocado pela negativa, confesso) ao ver que quase toda a gente se tinha ido embora nesse dia, e so restavam quatro... alem disso, depois de meia hora com eles, nem queria acreditar: estava tudo de trombas uns com os outros, so discutiam, um stress. Ainda tentei acalmar mais ou menos os animos, o ambiente foi melhorando durante a tarde, mas ao jantar estava quase tudo na mesma. Ainda bem que nao vim sozinho - ja me desmarquei deles, eheheh. Estou com os dois gajos de Fardapur, hoje vamos a Arambol ver a loja que um deles vai explorar, e daqui a dois dias devemos ir para la de vez: fico com eles uns quatro ou cinco dias, depois volto a Bombaim. Ah!, mas o melhor de ontem a noite foi reencontrar as pessoas que conheci no ano passado, fizeram-me uma festa enorme. O unico que ja nao esta ca eh o Sunil, o gajo que ia a guiar a mota quando tive o acidente.

Goa... se por um lado eh uma chatice nao poder tomar banho no mar e ter de estar sempre preocupado com a ferida, ter extra cuidados com areia, etc; por outro lado, nao podia estar melhor - estou em Goa! O tempo esta optimo, come-se bem e sejamos praticos: entre estar trancado numa casa em Bombaim, e trancado numa praia em Goa... ;)

18/11/2004

AZAR

Nao sei se eh a minha perna direita que nao gosta da India, ou se eh a India que nao gosta da minha perna direita.

No ano passado foi o acidente de mota em Goa... e este ano deu-me para encravar um pelo ou qualquer coisa do genero, ainda nem me apercebi muito bem o que aconteceu - so sei que a perna direita comecou a infectar e a inchar, fui a uma clinica aqui ao pe de casa e deram-me uns antibioticos, e sem saber muito bem como, dei por mim deitado numa sala de operacoes, ontem a noite, a rezar para que tudo corresse bem.

O lugar era um cenario de um filme de terror: azulejos verde-escuros, instrumentos e todo o tipo de maquinaria medica de metal, enormes, muito pesados, com um ar gasto... so faltavam os salpicos de sangue. Tinha quatro ou cinco enfermeiras ah minha volta, todas muito baixinhas (deve ser requisito aqui na India - as altas vao pra Miss Mundo). E eu deitado na cama, no meio da sala, a minha mao a apertar a da minha amiga Isa... que por sorte (e que sorte) eh enfermeira na Suica. Enfim, detalhes a parte: depois da anestesia local fizeram-me um corte de 5 ou 6 centimetros na perna, abriram a coisa e drenaram todo o pus e sei la mais o que, umas celulas mortas, nao quero saber. Depois puseram la um bocado de gaze ou algodao especial, nao sei, embebido em Betadine... e agora repouso absoluto!

Ou seja, e deixem-me abreviar a frustracao: ja nao vou hoje para Goa! Nao eh preciso dizer mais nada, pois nao? Vou ter de ficar uns dias de castigo em casa, sem me mexer, repouso (quase) absoluto.

Vou agora mudar o penso e tirar aquela coisa que esta dentro da perna, tomar uma injeccao... e posso dizer que esta tera sido a unica actividade deste (muito-muito) longo dia.

16/11/2004

VEER-ZARA

Ok, desta vez eh mesmo um titulo de um filme de Bollywood. Alias, do grande hit deste Diwali. Os melhores actores, um dos melhores realizadores indianos e uma campanha de marketing de fazer inveja a muitos filmes americanos. A receita eh quase garantida, e o filme - agora posso dizer com conhecimento de causa - eh muito bom.

A historia trata de um indiano (Veer) que esta preso no Paquistao ha 22 anos, e quando uma advogada paquistanesa vem ter com ele e lhe diz que esta disposta a ajuda-lo, ele comeca a contar a historia da sua vida. Flashback: duas decadas antes, o nosso heroi era co-piloto de um helicoptero que fazia operacoes de salvamento, e num belo dia salvou uma donzela de um autocarro que caira de uma ravina. Acontece que Zaara era uma paquistanesa que tinha vindo a India para espalhar as cinzas da sua ama indiana no Ganges, e como ele estava prestes a viajar para a sua terra natal, embarcam os dois numa viagem pelo Hindustao.

As paisagens sao o que se pode esperar de um grande classico, as musicas e dancas e planos e dramas sao do melhor que se faz em Bollywood, mas o que realmente marca este filme sao os dialogos (eu, infelizmente, fico limitado as traducoes que os meus amigos me vao fazendo durane o filme) e todas as mensagens de optimismo num futuro melhor entre o Paquistao e o Hindustao. Tanto na familia do Veer (indiana e pobre) como na de Zaara (paquistanesa e rica) se vao viver momentos muito intensos, com dialogos poderosissimos - e mesmo que a historia fosse fraquinha (que nao eh), o filme ja valia pela mensagem de esperanca numa relacao fraterna e de boa vizinhanca entre os dois paises.

BHAIDUJ E EID

Nao, o titulo deste post nao tem nada a ver com filmes de Bollywood, duplas de actores ou nomes de musicas.

O Bhaiduj e o Eid sao dois dias de festa - mais dois. Passo a explicar: 

Bhaiduj

Celebra-se dois dias depois do Diwali e eh uma especie de Natal entre irmas e irmaos. Neste caso, os irmaos nao tem de fazer nada, e sao as irmas que rezam por eles, dao-lhes presentes e doces. Eh um momento muito especial nas familias indianas; e a partir do momento em que tambem eu praticamente ja faco parte de uma, claro que tambem fui mimado pelas minhas "irmas". Rezaram por mim, deram-me presentes, partilhamos doces (o irmao da a primeira dentada, a irma come o resto) e no fim uma delas pos-me na testa uma pintinha encarnada com arroz. O Rajeev, o meu anfitriao, tem quatro irmas - o Bhaiduj em casa dos Khinchi foi so mais uma festa, mas muito especial. 

Eid

Ao contrario do Bhaiduj, que eh uma festa hindu, o Eid eh um dia muculmano. Mas como qualquer festa na India, eh celebrado por todos, seja qual for a religiao. Festa eh festa. O Eid marca o fim do Ramadao. Ou seja, acaba-se o jejum, as privacoes, e toca a desbundar. Na noite antes do Eid, eh preciso ver a Lua - e no dia propriamente dito, eh um festim.

Este ano o Eid praticamente coincidiu com o Diwali, ou seja, as principais festas das duas maiores religioes na India aconteceram num espaco de tres ou quatro dias - e o ambiente nao podia ser melhor. Hoje ah noite tenho um jantar em casa de um amigo ca de Bombaim que normalmente vive em Londres, mas veio ca passar dois meses para estar com a familia durante o Ramadao (sao muculmanos, obvio). E so por curiosidade, a avo do Sohel vive em Oeiras (!) e ele passa a vida a ir a Portugal - o mundo eh mesmo tao pequenino...

13/11/2004

FINALMENTE AS FOTOS V

Bibi-Ka-Maqbara, mais conhecido em Aurangabad pelo Mini Taj.

Obviamente que nao se pode comparar ah perfeicao do original, mas nao deixa de ser um sitio bem interessante de se conhecer. E ao contrario do outro em Agra, o MIni Taj nao chama multidoes de turistas e as suas maquinas e poses - aqui, pude passear com toda a calma, ganhando forcas para a aventura que estava prestes a comecar... os mais de 500 quilometros que fiz em cima da mota do Ashraft.

FINALMENTE AS FOTOS IV

Jodhpur, a cidade azul. Esta eh so uma parte da vista do forte sobre a cidade, mas da para ter uma ideia da coisa, nao da?

FINALMENTE AS FOTOS III

Esta ja foi tirada ha umas semanas, quando fui passear pelo Rajastao. A esquerda esta o Ishak (manda abracos ao Manel, Foca e Kamal Hassan) e o outro eh o Arif, o tal que se casou em Setembro.

FINALMENTE AS FOTOS II

Este eh o Ashraft, com quem estive a passear de mota pelo Maharastra. A mota foi comprada a meias com o Hamid, para de vez em quando fazerem algum dinheiro a aluga-la a turistas. No meu caso, a aventura comecou em Aurangabad e passou pelas grutas de Ellora (onde esta foto foi tirada), as grutas de Ajanta, Fardapur (onde eles vivem), a cratera do meteorito de Lonar; e Jaigao (de onde regressei para Bombaim), entre outras terrinhas cujo nome nao faco a minima ideia.

FINALMENTE AS FOTOS I

Finalmente consigo por algumas fotos aqui no blog. Sancha, muito e muito obrigado pela ajuda, assim que puder mando mais algumas, eheh.

Esta primeira fotografia foi tirada nas grutas de Ajanta, ja ao fim da tarde. Estava cheio de pressa porque tinha alugado um Ambassador branco (taxi) a meias com um casal indiano, e eles estavam a minha espera para voltar para Aurangabad. Os 27 templos estao mesmo atras de mim, ao longo desta enorme parede de pedra.
 

HAPPY DIWALI!

Finalmente o Diwali.

A primeira vista, o Festival das Luzes eh mais ou menos uma especie de Natal misturado com Ano Novo e Santos Populares - as ruas e as casas estao enfeitadas e iluminadas a rigor; rebentam bombinhas de Carnaval e fogo-de-artificio; as pessoas vem para a rua festejar. Mas o Diwali eh mais que isto: esta eh a altura ideal para se comprar carro, electrodomesticos, roupa, seja o que for. Comprar coisas no Diwali da sorte, e como ha promocoes em todas a lojas, melhor. No Diwali telefona-se aos amigos, enviam-se SMS com bombinas a rebentar, combinam-se noitadas de cartas, toda a gente se veste a rigor. Oferecem-se doces, enfeitam-se os carros com flores amarelas e pintam-se desenhos de todas as cores no chao, junto a entrada da casa. Acendem-se velas nos parapeitos das janelas, nos degraus, nos telhados, nos para-choques dos camioes - onde houver espaco para acender uma vela, acende-se.

A palavra Diwali tem a sua origem em Deepavali, sendo que Deepa significa Luz e Avali quer dizer Seta. Ou seja, Seta de Luzes - e eh exactamente assim que se pode descrever esta enorme festa: as luzes sao a maior expressao do espirito do Diwali, seja nas luzinhas de Natal a piscar em quase todas as janelas de quase todos os predios; na iluminacao publica que enfeita a maioria das ruas e edificios; nas arvores completamente envolvidas em pequenas lampadas; nas tais velinhas que, como ja descrevi, sao espalhadas por todo o lado, onde houver um centimetro quadrado que seja; no fogo-de-artificio que rebenta a cada instante no ceu; nos foguetes e bombinhas que os miudos lancam nas ruas;

Pobres e ricos, novos e velhos - toda a gente entra no espirito, ate muculmanos e cristaos e outros. E esta alma portuguesa que aqui anda a fazer sabe-se la o que, obviamente tambem se vestiu a rigor e foi passear pelas ruas, comprou roupa nova e jogou cartas, ofereceu doces as maes dos amigos e telefonou a toda a gente a desejar um Feliz Diwali e Bom Ano Novo. Tambem enfeitei a janela da minha casa, acendi luzinhas e velas e fui rezar num templo hindu... mas ah boa maneira catolica.

E por agora eh tudo, desejo a todos um Feliz Diwali - e para os que ja me insultaram por nao colocar fotografias no blog, fiquem a saber que ja ha algumas a caminho.

12/11/2004

DHOOM MECHALA

Corrijam-me se estiver enganado, mas acho que ainda nao falei do grande hit musical do momento: Dhoom Mechala. Desde que cheguei ha India (pouco mais de um mes!) que esta musica esta por todo o lado. Faz parte da banda sonora de um filme de accao, com muitas motas e assaltos e explosoes; e ouve-se por todo o lado, na rua, nos riquexos, cyber-cafes, restaurantes e obviamente passa duas ou tres vezes por noite em cada discoteca e em todas as festas, seja em Bombaim ou na aldeia mais remota do Rajastao... confesso que ate ja sonhei com o Dhoom Mechala. Eh daquelas cancoes que entram por um ouvido... e primeiro que saiam pelo outro, eh um drama. Ficam dias inteiros bem vincadas naquela massa cinzenta que temos entre as orelhas, ja ouviram falar? O cerebro, isso mesmo.

Mas afinal, o que tem a ver um filme sobre motas (mau, por sinal) com o meu passeio por grutas, mosteiros budistas e lagos criados por meteoritos, entre outras paisagens?

Passo a explicar:

Depois daquela primeira introducao a Aurangabad e ao mini Taj-Mahal, embarquei numa aventura que tao cedo nao esqueco: estive cinco dias a viajar de mota com um indiano pelo estado de Maharastra. Por estradas de alcatrao, buracos e lombas; por caminhos de terra, lama e pedras. Visitei as espectaculares grutas de Ajanta com os seus mosteiros budistas; as Indiana-jonescas grutas de Ellora, ao nivel de lugares tao imperdiveis como Angkor Wat (Cambodja), Borobudur (Indonesia) e afins; e ainda um lugar chamado Lonar, onde ha 5 mil anos caiu um meteorito, formando a terceira maior cratera deste genero no mundo, e onde hoje se pode ver um lago e uma paisagem de cortar a respiracao. E o melhor de tudo:P nao vem nos guias - ou seja, quase ninguem sabe deste lugar, eu era o unico turista num dos tres hoteis la do sitio.

Mas antes e depois do passeio, Faradpur - uma aldeola no meio do nada, com zero coisas de interesse para fazer, mas onde acabei por conhecer um grupo que vai provavelmente ficar para sempre: alem do tal indiano que me levou a passear, o seu irmao e o melhor amigo; e tambem a familia e a vizinhanca. Ate ja temos combinadas novas farras em Goa e, imagine-se, Damao! Sim, aquele cantinho que, juntamente com Diu, eh constantemente esquecido. Mas tambem estes lugares eram portugueses, e para me certificar disso mesmo la estarei em janeiro, se Deus quiser.

E ja que falo em Deus, uma curiosidade: estes novos amigos indianos sao todos muculmanos, e como estamos em pleno Ramadao, alguns estavam a jejuar. Era sempre uma festa quando chegava as seis da tarde e eles voltavam da mesquita, iamos todos jantar fora ou a casa de alguem, sempre tres ou quatro na mesma mota, a boa maneira indiana. E eu, esta-se mesmo a ver, radiante com esta "imersao cultural", ahahah. So pela piada ate fui ao barbeiro la da terra, no meio de uma tempestade de trovoada, vento e chuva. Nao o deixei cortar barba nem cabelo; mas fiz umas massagens no couro cabeludo, mais um tratamento qualquer a cara... and last but not least, por um dia ate aderi a moda do oleo de coco no cabelo.... Aaarghhh!!!! (percebem a onomatopeia, espero)

Ainda tive oportunidade de assistir, numa sala a cair de podre, a um novo filme de Bollywood; apesar de, so meia hora depois de estarmos na sala, termos percebido que estavamos a ver o filme errado. Mas era um bom filme, daqueles dramalhoes a boa maneira de Bombaim, com muitas lagrimas e musica e olhares e gestos e efeitos sonoros e mil-cores e herois e viloes e donzelas em perigo. (falta-me o folego!) Foram quase tres horas de sangue e lagrimas, e o filme chama-se qualquer coisa tipo "Este era o teu nome" - so pode ser um sucesso. Mas a grande estreia do Diwali eh, sem duvida, o Veer-Zaara (esse era o filme que nos julgavamos que iamos ver, asm estavamos a sessao errada). Uma grande producao, realizado por um dos maiores nomes do cinema-masala, com Sharuk Khan e alguns dos melhores actores de Bombaim... ate ha quem fale de Oscares e coisas do genero. A ver vamos.

Hoje eh o Diwali, ha muito que fazer. Ha uma semana que nao se ouve outra coisa senao bombas e estalinhos e foguetes; ha uma semana que se acendem gradualmente, por toda a India, luzes natalicias, candeeiros em forma de estrela, baloes de Santo Antonio e velas - velas por todo o lado! Penduram-se flores nos carros e nas portas das casas. Compra-se roupa nova, joga-se as cartas, visitam-se os amigos. E se ontem as ruas pareciam estar ao rubro por toda a India, hoje vai ser em grande. So enquanto escrevi este paragrafo rebentaram, na rua em frente, sete bombas (tipo Carnaval) - e muito mais se espera para esta noite de Diwali, o Festival da Luz.

Amanha conto mais qualquer coisa (la vai outro foguete)!

06/11/2004

CONTAGEM DECRESCENTE

Anda tudo doido.

Mal acabou o Navratri, comecaram logo os preparativos para o Diwali. Ontem à noite, quando deixei Bombaim, eram cada vez mais evidentes os sinais da festa rija que aí vem. Há alguns dias que vejo a cidade a preparar-se: acendem-se luzinhas de mil cores por todo o lado, as ruas estão exageradamente enfeitadas, os riquexós ainda mais coloridos do que é costume, saldos e promoções em tudo o que é loja... e claro, ouvem-se rebentar bombas e estalinhos e foguetes a cada dez segundos.

Cheguei hoje a Aurangabad, onde fico tres ou quatro dias antes de voltar para Bombaim, para celebrar o Diwali (este ano é a doze de Novembro). Fui visitar uma espécie de mini Taj Mahal, além de umas grutas aqui perto. E os préximos dias vao ser ricos em arqueologia e história: vou armar-me em Indiana Jones e conhecer finalmente as famosas grutas budistas de Ajanta e Ellora.

04/11/2004

WTF?!

O Bush ganhou?!

A America é, definitivamente, uma anedota. De mau gosto.

BUNNY

O Bunny tem catorze anos, é praticamente cego, não ouve um boi e coxeia. Tem um problema de pele que o deixa praticamente sem pelos, a barriga inchada que nem um balão, está constantemente a choramingar, cheira mal e para completar o quadro, tem sempre a pila de fora.

O Bunny é o meu roommate de Bombaim. É o cão dos meus anfitriões, que antes tinha o privilégio de viver na casa principal - mas o destino ou os deuses lá se juntaram e decidiram que o pai dos meus amigos ia adoecer, e os médicos anunciaram que não podiam ficar os dois na mesma casa, o cão e o dono. O cão mudou-se para o apartamento das visitas - o mesmo para onde eu vim viver mais tarde.

Ontem deixei o Bunny sair à rua, para fazer chichi.

Já não tem força para alçar a perna, por isso urina enquanto anda - devagarinho, quase gota-a-gota. Ao fim de dez minutos de liberdade chamei-o, o nome gritado com umas palmas à mistura; ele deve ter ouvido aquela vozinha muito ao longe e abanou a cauda, veio ter comigo, devagar.

Mas em vez de acertar na porta, chocou contra a parede da casa.

02/11/2004

JEJUM, JACKIE CHAN E YOGA AO NASCER-DO-SOL

Ontem as mulheres indianas casadas estiveram em jejum todo o dia. Não comeram nada de manhã, não comeram nada a tarde inteira - e só tocaram em comida quando viram pela primeira vez a lua.

E este é só mais um dia especial, no colorido e intenso calendário hindu. Como prova de amor pelos respectivos maridos, e de acordo com uma lenda muito antiga, as mulheres hindus fazem jejum durante um dia inteiro, e só o quebram quando alguém lhes mostra a lua. Contam os jornais de hoje que, este ano, 30% dos maridos juntaram-se às suas esposas, em solidariedade com o acto - um gesto bonito, no mínimo.

Quanto às minhas idas e voltas: estou novamente em Bombaim, depois de alguns dias no Rajastão. O reecontro com o Ishaak e o grupo de Jaipur foi engraçado, pelo menos o primeiro dia, mas confesso que ao fim de algum tempo estava farto deles, dos esquemas e dos salamaleques, e vi-me grego para conseguir ir-me embora da Cidade Rosa; além disso cheguei atrasado ;) para os anos do Marajá, por isso desta vez não consegui cumprimentá-lo; e por pouco não me cruzei com o Jackie Chan, que estava a filmar no Rajastão, quase sempre nos lugares por onde andei, mas com um dia de diferença.

Ou seja: estes foram dias mais marcados por desencontros que encontros.

E mesmo assim tive momentos especiais que recordarei com carinho, como a família de Calcutá que conheci numa viagem de comboio e com quem passei horas à conversa - convidaram-me para os visitar em Dezembro; e o condutor de riquexó de Jodhpur que me guiou nas voltas pela Cidade Azul - chamava-se Saleem e além de honesto (pouco comum entre a classe) e muito tímido... era gago.

O Saleem convidou-me para lanchar em sua casa e eu fui. Conheci o pai, a mãe, irmãs e irmãos, todos radiantes por me verem, recebendo-me sem constrangimentos numa casa muito humilde de um bairro pobre dos arredores. Como eram muçulmanos e estamos a meio do Ramadão, a família inteira estava a cumprir jejum - e por muito que eu recusasse (nem que seja por respeito), fizeram questão que eu e o Saleem comêssemos qualquer coisa. Foi um daqueles serões inesquecíveis, este de conversa e risota com pessoas de uma cultura tão diferente, mas ao mesmo tempo com tantas coisas em comum. E qual não foi a minha surpresa quando, neste país de cricket e bollywood, a conversa foi parar ao Euro2004 e às duas derrotas de Portugal com a Grécia! Que sina a minha - como se não bastasse ter assistido ao drama no estádio.




Para me despedir de Jodhpur em beleza, no último dia acordei às cinco e pouco da manhã e fui de riquexó até um pequeno templo com uma vista FA-BU-LO-SA sobre o Forte Mehrangarh e a Cidade Azul. O nascer-do-sol em si não foi nada de extraordinário, mas estar ali sentado numa plataforma de cimento, enrolado num cobertor, ouvindo o som da chamada à oração de uma mesquita ao longe... sorri na direcção do crepúsculo e inspirei esta Índia que adoro, a sua espiritualidade, a sua simplicidade, a porcaria entranhada em tudo, as cores e os insólitos. Não havia um único turista à volta, era só eu e o meu amigo gago, mais três ou quatro indianos a meditar e a fazer yoga enquanto o sol subia ao fundo no horizonte, disfarçado pela poluição.

E depois Bombaim.