05/07/2015

A ÚLTIMA VOLTA

Cheguei a Bhubaneswar ébrio numa mistura de emoções. Estava a aproximar-me vertiginosamente do final desta viagem. Que estranho: quando não se tem uma meta final, um destino pré-concebido para celebrar uma Chegada... por um lado é uma libertação, podermos alterar a rota e o ritmo sempre e como apetecer, sem compromissos nem preconceitos... mas por outro, quando chega ao fim, é só o fim. Não há propriamente uma celebração por chegar Aqui ou Ali.

Mas eu sabia que a aventura tinha chegado ao fim. Vinha mentalizado para "encostar" a vespa na garagem, em casa do Bunty, preparado para fazer pouco e descansar uns dias em Bhubaneswar, até ao inicio do meu regresso a Portugal, que ainda vai demorar uns dias. E para o ano que vem, se o Destino e a Saúde e o Bolso e o Calendário deixarem, quero muito-muito fazer uma "segunda volta", continuar com este passeio.

E se esta viagem foi feita de imprevistos e surpresas - o final não podia ser diferente. Assim que parei a mota fui informado que íamos à tarde para Konark, pois o Bunty tinha reservado um bungalow num resort muito giro junto ao mar, e a nossa amiga Leesa já estava em Puri, numa sessão fotográfica para uma marca de roupa.

Confesso que não me apetecia muito. Se não fosse a Leesa já lá estar, provavelmente pedia-lhes para adiarmos o passeio. Estava cansado da jornada, tinha feito quase duzentos quilómetros em auto-estrada, tinha sido mordido pelo tal bicho que me deixou com a perna inchada mais de uma hora, e com dores o resto da tarde. Tinha atravessado uma fila de mais de dez quilómetros de camiões, de um lado e do outro da estrada, parados em protesto por qualquer coisa que já não me lembro, levando com o fumo dos tubos de escape durante sei lá quanto tempo. Quase atropelei um cão, já nos quilómetros finais de auto-estrada, atravessou-se de repente à minha frente quando ia a oitenta... foi por um triz, nem quero imaginar o que seria se tivesse batido contra aquele bicho - muito provavelmente o final da aventura teria um post bastante diferente, hoje.

De qualquer forma: Lotus Resort, então. Vamos lá. Quando passámos para "cima", eu e o Luís vimos este resort e ficámos tentados. Muito bom aspecto. Tomei um duche e almocei, insisti para fazer uma sesta e às quatro da tarde metemo-nos à estrada. Na minha mota.

Esta será a última volta, portanto.

Chegámos a Konark ao final da tarde, quando o nevoeiro começou a vir do mar. Jantámos e ficámos os três à conversa e a rir até às tantas, de frente para o mar. Passámos três dias em repouso absoluto, pouco mais fizemos que bungalow e praia, passeios de barco e longas refeições no restaurante do resort. Sem internet, sem rede no telefone: que bem que soube. Depois das estradas esburacadas do West Bengal. Depois do calor e da chuva das últimas semanas de viagem. Depois de quase cinco mil quilómetros de Índia.

Que bem que soube.


1 comentário:

Clara Amorim disse...

Descanso merecido... E o Lotus Resort vai valer a pena! 😉