04/04/2007

SUA ALTEZA

Quatro anos depois, a história repete-se. Mais ou menos.

Depois da praia voltei ao palácio, para comprar uma garrafa de água. Sentia-me a desidratar, tonto de tanta beleza natural, precisava de me sentar um bocado à sombra, descansar, descer à terra por um bocado.

Fiquei à conversa com o rapaz que vendia água de côco, a tarde passou depressa e fui convidado para jantar com a família dele. E quando o palácio fechou e os últimos turistas saíram, eis que um dos velhotes jardineiros vem ter connosco e começa a dizer-me qualquer coisa sobre passear no jardim e o rei não-sei-quê... eu não percebia nada do que ele estava a dizer, pensava que ele me queria mostrar o jardim onde os reis antes passeavam... mas eis que o rapaz dos côcos me explica que o rei ainda vive no palácio, que está neste momento a dar uma volta no jardim... e que o velhote me está a perguntar se quero conhecer Sua Majestade.

Começa a tornar-se um hábito. Há uns anos foi o Marajá de Jaipur, desta vez o Rei de Kutch. Estivemos um bocadinho à conversa, disse-me que já tinha estado em Espanha mas infelizmente nunca em Portugal, onde tem um amigo de longa data, onde sempre quis ir... mas está muito velho, já não pode viajar. E em tom de remate, mesmo antes de me ir embora (sem tirar fotografias, por muita pena minha, confesso que me senti um bocado constrangido), Sua Alteza dá-me mais um aperto de mão e diz:

“Uma vez disseram-me que Portugal é lindo na Primavera. Tenho tanta pena de nunca ter ido a Portugal na Primavera.”

Talvez um dia.

Antes que me esqueça e porque não quero ser acusado de ser mal-educado: o jantar foi óptimo. E é sempre impressionante constatar que é nestes lugares teoricamente mais simples que a qualidade de vida é melhor. O rapaz que vende côcos à porta do palácio vive com a família numa quinta com plantações de arroz, tudo propriedade deles! Gente humilde, é verdade, mas com uma casa enorme e limpa, tudo impecável, animais e terreno. Quem dera a tantos...

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