“É aquele?”, pergunto inocentemente ao velhote que decidiu ser o meu “protector” enquanto espero pelo autocarro para Mandvi.
Ele ri-se com condescendência e responde-me num tom paternal:
“Não... claro que não... o teu autocarro é um autocarro de luxo. Prateado, com DVD e assentos reclináveis e air suspension. O teu autocarro é o próximo a chegar, já te aviso.”
Espero mais cinco minutos e eis que entra na estação um autocarro que talvez já tenha sido prateado, quem sabe de luxo – há muito tempo atrás.
O pior autocarro de luxo do mundo está no Gujarat e faz a viagem nocturna de Ahmedabad para Mandvi. E eu estou prestes a embarcar.
Como já disse: em tempos este foi concerteza um autocarro de luxo, com televisão e DVD, som surround, assentos reclináveis, ar condicionado, air suspension e ABS brakes. Em tempos, concerteza.
Hoje, tem cordas a segurar as costas dos bancos ao tecto, porque de tanto reclinar, os assentos reclináveis deixaram de se aguentar na posição original. O ar condicionado não funciona, nem as pequenas luzes instaladas no tecto. As poucas cortinas ainda existentes estão imundas – a condizer com os bancos. Air suspension? Duvido. E quanto ao DVD e som surround, é das poucas coisas que ainda funciona (ou não estaríamos num autocarro indiano); mas como já é de esperar, a qualidade da imagem é fraquinha e o som vai sempre no máximo.
No pior autocarro de luxo do mundo convém viajar o mais quieto possível, sem mexer em muitas coisas. O movimento, neste cantinho ambulante do Universo, implica destruição e caos. Tocar no banco à nossa frente pode significar muito mais que um simples toque – pode ser que se fique com as costas do banco na mão. Pôr a bagagem nas “prateleiras” implica ficar com as ultimas nos braços, quem sabe.
Por isso o melhor é viajar quietinho, se possivel quase sem respirar, ligar o ipod e abstrair-me de tudo o que acontece – de estranho – à minha volta.
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