06/06/2016

TEERÃO - PRIMEIRAS IMPRESSÕES

No shuttle que me levou do avião para o aeroporto propriamente dito, levei logo com o primeiro "choque sensorial": o cheiro. Em contraste com aquilo a que estou habituado no Sudeste Asiático, aqui os odores corporais revelaram-se... enfim, mais fortes. Não tão intensos como na Rússia, por exemplo; mas mais ao estilo da Turquia.

O suficiente para virar a cara para o lado, portanto... mas sem chegar a ficar enjoado, com vómitos e tonturas e vontade de gritar por socorro. ;)

E por falar em socorro: depois das correrias e do stress no aeroporto de Muscat, admito que estava convencido que a minha mochila ia ficar perdida algures - por isso imaginem o meu sorriso quando a vi aparecer no tapete rolante, só faltou uma música angélica e raios de sol a iluminá-la, que sorte, foi praticamente a primeira a sair.

Troquei algum dinheiro e saí para a rua, abordei um taxista mas ele recusava-se a estabelecer um preço ou uma estimativa para a "corrida" até ao hotel, "depois logo vemos, não há problema", mas obviamente que há problema, não me vou meter num táxi-de-aeroporto sem saber quanto é a corrida, eu sei que os iranianos são muito hospitaleiros, isto-e-aquilo... mas um taxista-de-aeroporto é um taxista-de-aeroporto. E como sei que a comunidade mundial de taxistas-de-aeroporto é assídua seguidora deste blog e não procuro uma reacção ao estilo transmontanos versus José Cid: desculpem lá a generalização, eu sei que há excepções à regra e mais-não-sei-quê, mas baseio esta minha esquisitice em inúmeras peripécias e factos constatados por moi meme e muitos outros viajantes por esse mundo fora. Podem ser excelentes companheiros para ir ao cinema, fazer jogging, beber uma cerveja e comer caracóis. Mas para me levar aonde eu quero a um preço razoável: desconfio sempre.

Continuando: não fui na conversa do chico-esperto, obviamente. Insisti mas ele recusou-se a dar um preço, por isso desci até ao balcão dos táxis e mandei chamar um por 750.000 rials. Nada mau, tendo em conta que o Filipe tinha-me falado em 700.000.

Durante a viagem até ao centro, o motorista ofereceu-me tâmaras e sementes de girassol - e como não fez muita conversa, fui o tempo todo calado e a olhar pela janela. A paisagem do lado de fora, se a tivesse de comparar com as referências que trago na minha bagagem de memórias e histórias, era 50% Egipto, 20% Dubai, 20% Marrocos e 20% Turquia.


Cheguei ao hotel e paguei a corrida com duas notas de 500.000 rials. Claro que não tinha troco, o motorista, estava-se mesmo a ver, por isso sugeri ele esperar um minuto que eu ia trocar o dinheiro à recepção. Ele fez-se de simpático, "não é preciso, ora essa, deixe estar", e correu até ao café mais próximo, de onde voltou com várias notas na mão. Passou-me duas de 100.000 rials e eu fiquei à espera dos 50.000 que faltavam.

"Sorry, no change."

Enfim: não me vou chatear. Devia, eu sei - mas não vou.

Atravessei a estrada e entrei no hotel, a sorrir. Pedi a chave do quarto e um senhor de sessenta anos acompanhou-me até à porta, fez o tour do quarto, explicou-me o óbvio, não vá eu ter chegado de outro planeta e não estar habituado a coisas que para os humanos são básicas. Isto é uma janela, os cortinados abrem-se assim. Estas são as suas toalhas. Okay, thank you. Saiu em câmara lenta mas depois do dinheiro desperdiçado no táxi, estava pouco inclinado a dar-lhe uma gorjeta de 100.000 rials. Fechei a porta e respirei fundo: a primeira interacção não foi a melhor, mas não vou deixar que isto dê cabo do meu mood, pensei.

No quarto tinha um recado do Filipe com um mapa desenhado na parte de trás. Desafiava-me a ir ter com ele para tomarmos um café. Refresquei-me rapidamente e saí, estava desejoso de conhecer a cidade. Não me pareceu especialmente bonita, algumas ruas fizeram-me lembrar Ankara - o que, convenhamos, não é o melhor dos elogios... mas ao longo dos próximos dias havia de descobrir que o charme de Teerão não está na cidade como um Todo, mas em alguns Pormenores deliciosos.

Depois do abraço do reencontro, da conversa acompanhada de chá e bolinhos, saímos finalmente para jantar. Junto à Casa dos Artistas passeámos por um jardim onde fomos abordados por um jovem artista que nos desafiou a assistir à sua actuação, "começa daqui a cinco minutos ali onde estão mais pessoas". Fomos para o lugar que nos apontou, éramos uns trinta ou quarenta curiosos (nós os únicos turistas) e qual não foi a minha surpresa quando, ao som de música electrónica tocada numas colunas made-in-china, o rapaz começou a dançar... breakdance.

Desta é que eu não estava à espera!

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