07/08/2015

AS LINHAS FÉRREAS DE MONTANHA

"São excelentes exemplos de soluções corajosas e engenhosas para o problema de estabelecimento de caminhos-de-ferro em terrenos montanhosos e tão acidentados", argumentou a UNESCO quando atribuiu o título de Património da Humanidade a três das cinco linhas férreas de montanha construídas na Índia no final do séc. XIX.

A primeira a merecer o reconhecimento da UNESCO foi a Darjeeling Himalayan Railway, em 1999. Construída entre 1879 e 1881, tem treze estações ao longo de setenta e oito quilómetros; e liga a estação de New Jalpaiguri (a 100m de altitude) à de Darjeeling (a 2.200m). Experimentei-a em 2011, mas apenas de Kurseong a Darjeeling, porque parte da linha estava fechada, devido a uma enchurrada.

Em 2005 a distinção de Património da Humanidade alargou-se também à Nilgiri Mountain Railway, inaugurada pelos britânicos em 1908 e que ainda opera locomotivas a vapor. A linha tem ao todo quarenta e dois quilómetros e faz cento e oito curvas, passando por dezasseis túneis e duzenas e cinquenta (!) pontes. É um passeio que recomendo vivamente a quem esteja por perto. A paisagem é deliciosa, o comboio muito giro, e concerteza que vão conhecer gente interessante. Eu fiz o percurso Ooty - Coonor em 2005 e fiquei rendido.






Finalmente, em 2008, a linha Kalka-Shimla teve também direito a ser Património Mundial: com quase cem quilómetros, liga Kalka (650m) a Shimla (2.075m), a antiga capital de Verão da Índia, durante a ocupação britânica. Tem 919 curvas, 102 túneis e 864 pontes. Foi inaugurada pelo vicerei da Índia Lord Curzon em 1891 e há uma história comovente relativa à sua construção:

O senhor engenheiro Barog, responsável pela construção do maior túnel desta linha, aparentemente fez mal as contas quando mandou escavar o túnel, primeiro de um lado da montanha, depois do outro... pois as duas metades não estavam alinhadas. Foi multado simbolicamente em apenas uma rupia, mas não conseguiu viver com a vergonha e acabou por se suicidar dentro do túnel. Mais tarde, o engenheiro Herlington acabou por concluir a obra, com a ajuda de um sadhu chamado Bhalku, e deu ao túnel o nome do seu antecessor.

Mas histórias à parte: a viagem é um espectáculo, e recomendo-a também. Viajei nesta linha em 2007, descendo de Shimla ao final da tarde, e foi um passeio inesquecível, serpenteado pelos Himalaias.




2 comentários:

Clara Amorim disse...

Fabuloso...!

Clara Amorim disse...

Leituras em dia...!
Amanhã haverá mais, certamente...😍