O rapaz da t-shirt preta entrou com o autocarro em andamento e calmamente subiu para o tejadilho, onde se sentou e prosseguiu viagem.
O da t-shirt branca é o pica.
A vida segue normalmente, sobre rodas, no West Bengal. :)
28/06/2015
27/06/2015
26/06/2015
25/06/2015
FOI POR POUCO
Quando saí da estrada de alcatrão para ir à procura da "Mesquita com um Buraco", meti-me num caminho... ia a dez à hora, se tanto. Senti o pneu de trás a escorregar. Parei, mas o chão estava tão escorregadio que lá fui a deslizar.
Felizmente aguentei-me. Mas foi por pouco.
Felizmente aguentei-me. Mas foi por pouco.
24/06/2015
A MESQUITA COM UM BURACO
Durante as voltas de ontem por Murshidabad, dei por mim parado numa cancela fechada, à espera que um comboio passasse, quando reparei numas cúpulas de tijolo no meio da floresta, com um ar abandonado e antigo.
Fui espreitar.
Era uma mesquita... ou melhor, uma tentativa de mesquita. Conta a lenda que um nawab ordenara aos seus homens que construissem esta mesquita até ao nascer do sol de um determinado dia. Como na data "combinada" a mesquita não estava pronta (faltava completar duas cúpulas), os senhores foram executados e a obra nunca chegou a cumprir a sua função.
De qualquer forma, ganhou o nome de Footi Masjid, ou seja: a Mesquita com um Buraco.
Lenda ou realidade, o facto é que o lugar foi sempre negligenciado. Hoje, enquanto ruína, tem um ambiente fantástico porque não tem ninguém e não há nada à volta a não ser floresta, hortas e umas cabanas. Que paz de espírito. Mas não tenho dúvidas que tem os seus dias contados. :(
Curiosamente, os buracos gigantes que se vêm no click de hoje não têm nada a ver com esta história. Estas três cúpulas estavam completas, mas caíram no grande terramoto que abalou esta região no final do século XIX.
Fui espreitar.
Era uma mesquita... ou melhor, uma tentativa de mesquita. Conta a lenda que um nawab ordenara aos seus homens que construissem esta mesquita até ao nascer do sol de um determinado dia. Como na data "combinada" a mesquita não estava pronta (faltava completar duas cúpulas), os senhores foram executados e a obra nunca chegou a cumprir a sua função.
De qualquer forma, ganhou o nome de Footi Masjid, ou seja: a Mesquita com um Buraco.
Lenda ou realidade, o facto é que o lugar foi sempre negligenciado. Hoje, enquanto ruína, tem um ambiente fantástico porque não tem ninguém e não há nada à volta a não ser floresta, hortas e umas cabanas. Que paz de espírito. Mas não tenho dúvidas que tem os seus dias contados. :(
Curiosamente, os buracos gigantes que se vêm no click de hoje não têm nada a ver com esta história. Estas três cúpulas estavam completas, mas caíram no grande terramoto que abalou esta região no final do século XIX.
23/06/2015
NADA DE ESPECIAL?!
Há dias em que não acontece nada de especial - e que, mesmo assim, são dias Especiais.
Hoje foi um dia desses.
Não tenho aventuras fantásticas nem bollywoodescas peripécias para partilhar, hoje: não fui perseguido por uma matilha de cães raivosos, não fui convidado para o casamento de um marajá com uma actriz de cinema indiano, não fui raptado por bailarinas exóticas na sua limousine côr-de-rosa, não salvei nenhuma criança de ser pisada por um elefante descontrolado. E, no entanto, foi um dia Bom. Fartei-me de passear: ora de mota, ora a pé, sempre com uma ameaça de chuva em cima, cinzenta e pesada - mas incapaz de me roubar o sorriso que, sabe-se lá porquê, teimou em acompanhar-me o dia todo. Que coisa chata, esta. ;)
Não fiz nada de especial? Claro que fiz. Só depende da perspectiva. Hoje assumi a minha condição de turista e visitei um palácio que é um museu, que tem mil portas e um candelabro gigante oferecido pela rainha Vitória, estátuas egípcias e quadros otomanos, tronos de marfim e prata, armas que não lembram nem ao diabo, espelhos mágicos, porcelanas raras, relógios europeus e manuscritos árabes, carruagens puxadas por camelos - estes nawab (os marajás cá das redondezas) viviam bem, sem dúvida. Pena não se poder tirar fotos lá dentro, tive de deixar máquia e telefone à entrada. Mas fica na memória. Da mesma forma como não esquecerei a curiosidade e preocupação de três indianos, que depois de algumas abordagens mais tímidas não resistiram a acompanhar-me na visita ao gigantesco edifício - apesar de não falarem mais que meia dúzia de palavras em inglês. Mas lá nos compreendemos. É que se há coisa que custa a muitos indianos compreender, é uma pessoa sozinha a viajar. Alguns ficam mesmo com pena, acham-se na "obrigação" de nos entreter. Ou seja: ao fim de quinze minutos no Hazardwari, passei a ter uma escolta de três. E, claro está, no final houve sessão de selfies e trocas de contactos.
Diz o Lonely Planet que em Murshidabad, antiga capital do Bengal nas margens do rio Bhagirathi, mistura-se a vida rural com a arquitectura do século XVIII - e diz muito bem. Aqui reside a verdadeira surpresa deste lugar: no meio do "nada", entre casas de colmo com bosta aplicada nas paredes, vaquinhas a pastar em campos de erva, pequenas florestas cheias de esquilos... de repente aparecem palácios e grandiosos portões.
E foi isso mesmo que mais gostei no dia de hoje: o ambiente. É verdade que andei de ruína em ruína, visitando antigas mesquitas e palácios delapidados - mas confesso que os must-sees foram principalmente uma desculpa para passear. Chamemos-lhe referências - apenas isso. Porque pelo meio passei por aldeias e ruas-fantasma, fiz a barba numa barbearia muito castiça, cruzei-me com sorrisos por todo o lado, olhos esbugalhados de surpresa, "um turista aqui!", e fui abordado por pessoas genuinamente curiosas com a novidade. Estes entretantos, entre uma mesquita e um palácio, entre um cemitério e uma muralha - estes entretantos é que fizeram o dia. Felizmente apanhei muito pouca chuva - quase nenhuma -, as nuvens bem que ameaçaram, a trovoada ao longe fazia prever o pior. Mas fora um pingo aqui e outros ali, nada de especial. Tive mais cuidado em ter a máquina guardada, e por isso tenho menos fotos do que gostaria. Mas mesmo assim. :)
Não aconteceu nada de especial? Aconteceu, sim. Existiu, este dia.
Hoje foi um dia desses.
Não tenho aventuras fantásticas nem bollywoodescas peripécias para partilhar, hoje: não fui perseguido por uma matilha de cães raivosos, não fui convidado para o casamento de um marajá com uma actriz de cinema indiano, não fui raptado por bailarinas exóticas na sua limousine côr-de-rosa, não salvei nenhuma criança de ser pisada por um elefante descontrolado. E, no entanto, foi um dia Bom. Fartei-me de passear: ora de mota, ora a pé, sempre com uma ameaça de chuva em cima, cinzenta e pesada - mas incapaz de me roubar o sorriso que, sabe-se lá porquê, teimou em acompanhar-me o dia todo. Que coisa chata, esta. ;)
Não fiz nada de especial? Claro que fiz. Só depende da perspectiva. Hoje assumi a minha condição de turista e visitei um palácio que é um museu, que tem mil portas e um candelabro gigante oferecido pela rainha Vitória, estátuas egípcias e quadros otomanos, tronos de marfim e prata, armas que não lembram nem ao diabo, espelhos mágicos, porcelanas raras, relógios europeus e manuscritos árabes, carruagens puxadas por camelos - estes nawab (os marajás cá das redondezas) viviam bem, sem dúvida. Pena não se poder tirar fotos lá dentro, tive de deixar máquia e telefone à entrada. Mas fica na memória. Da mesma forma como não esquecerei a curiosidade e preocupação de três indianos, que depois de algumas abordagens mais tímidas não resistiram a acompanhar-me na visita ao gigantesco edifício - apesar de não falarem mais que meia dúzia de palavras em inglês. Mas lá nos compreendemos. É que se há coisa que custa a muitos indianos compreender, é uma pessoa sozinha a viajar. Alguns ficam mesmo com pena, acham-se na "obrigação" de nos entreter. Ou seja: ao fim de quinze minutos no Hazardwari, passei a ter uma escolta de três. E, claro está, no final houve sessão de selfies e trocas de contactos.
Diz o Lonely Planet que em Murshidabad, antiga capital do Bengal nas margens do rio Bhagirathi, mistura-se a vida rural com a arquitectura do século XVIII - e diz muito bem. Aqui reside a verdadeira surpresa deste lugar: no meio do "nada", entre casas de colmo com bosta aplicada nas paredes, vaquinhas a pastar em campos de erva, pequenas florestas cheias de esquilos... de repente aparecem palácios e grandiosos portões.
E foi isso mesmo que mais gostei no dia de hoje: o ambiente. É verdade que andei de ruína em ruína, visitando antigas mesquitas e palácios delapidados - mas confesso que os must-sees foram principalmente uma desculpa para passear. Chamemos-lhe referências - apenas isso. Porque pelo meio passei por aldeias e ruas-fantasma, fiz a barba numa barbearia muito castiça, cruzei-me com sorrisos por todo o lado, olhos esbugalhados de surpresa, "um turista aqui!", e fui abordado por pessoas genuinamente curiosas com a novidade. Estes entretantos, entre uma mesquita e um palácio, entre um cemitério e uma muralha - estes entretantos é que fizeram o dia. Felizmente apanhei muito pouca chuva - quase nenhuma -, as nuvens bem que ameaçaram, a trovoada ao longe fazia prever o pior. Mas fora um pingo aqui e outros ali, nada de especial. Tive mais cuidado em ter a máquina guardada, e por isso tenho menos fotos do que gostaria. Mas mesmo assim. :)
Não aconteceu nada de especial? Aconteceu, sim. Existiu, este dia.
AONDE É QUE EU VIM PARAR
Este bocadinho do Universo é Qualquer Coisa.
Que Surpresa Agradável, o dia de hoje - às voltas por Murshidabad. Cheguei agora mesmo ao quarto e depois de tomar um duche vou arrumar as ideias, organizar fotos, escrever um ou dois posts.
Até já!
Que Surpresa Agradável, o dia de hoje - às voltas por Murshidabad. Cheguei agora mesmo ao quarto e depois de tomar um duche vou arrumar as ideias, organizar fotos, escrever um ou dois posts.
Até já!
MURSHIDA-QUÊ?
Murshidabad.
Assim se chama esta terrinha onde estou agora, no estado do West Bengal, junto às margens do Ganges (que aqui tem outro nome), e a muito poucos quilómetros da fronteira com o Bangladesh.
A quem possa interessar, fica o mapa actualizado do percurso feito até agora, nesta viagem:
Nada mau, hem?
Já são quase quatro mil quilómetros.
Tivesse eu tempo e os bolsos cheios... há ainda tanto mapa para desbravar. Mas posso desde já confirmar que não vou mais longe que Murshidabad. O próximo passo é "virar à esquerda", para oeste, e começar a descer em direcção a Bhubaneswar, onde vou deixar a mota até ao meu regresso.
Assim se chama esta terrinha onde estou agora, no estado do West Bengal, junto às margens do Ganges (que aqui tem outro nome), e a muito poucos quilómetros da fronteira com o Bangladesh.
A quem possa interessar, fica o mapa actualizado do percurso feito até agora, nesta viagem:
Nada mau, hem?
Já são quase quatro mil quilómetros.
Tivesse eu tempo e os bolsos cheios... há ainda tanto mapa para desbravar. Mas posso desde já confirmar que não vou mais longe que Murshidabad. O próximo passo é "virar à esquerda", para oeste, e começar a descer em direcção a Bhubaneswar, onde vou deixar a mota até ao meu regresso.
EM RITMO DE PASSEIO
Bom dia, alegria! O dia está cinzento mas felizmente não chove.
Rebolo na cama e levanto-me, estico-me todo e penso que um dia destes
tenho de começar a fazer um yoga matinal... mas não há-de ser hoje.
Tomo um duche e peço o pequeno-almoço, que demora meia hora a chegar. Não faz mal, dá tempo de ler notícias e pôr em dia as mensagens do whatsapp.
Pequeno-almoço no bucho, deixa-me só publicar o click do dia, a foto já está pronta e tudo. E eis que de repente (ou seja, agora mesmo enquanto teclo estas letras) cai uma carga-de-água... Nossa Senhora!
Anyway... hoje não é dia de grandes viagens e indomáveis travessias. Hoje fico aqui por Murshidabad. Há um palácio-museu que dizem que é do melhor que há, mais umas ruínas impressionantes, isto-e-aquilo. O suficiente para me manter entretido uma boa parte do dia. Se a estes must-sees do guia juntarmos conversa e selfies com este-e-aquele, está o dia feito. ;)
Assim sendo: hoje estou em passeata mood. Em ritmo de contemplação, quase como no yoga.
E o click do dia, que foi feito numa das paragens que fiz ontem para me abrigar da chuva, expressa bem o feeling de hoje: com calma, sorrindo e gozando cada momento:
Tomo um duche e peço o pequeno-almoço, que demora meia hora a chegar. Não faz mal, dá tempo de ler notícias e pôr em dia as mensagens do whatsapp.
Pequeno-almoço no bucho, deixa-me só publicar o click do dia, a foto já está pronta e tudo. E eis que de repente (ou seja, agora mesmo enquanto teclo estas letras) cai uma carga-de-água... Nossa Senhora!
Anyway... hoje não é dia de grandes viagens e indomáveis travessias. Hoje fico aqui por Murshidabad. Há um palácio-museu que dizem que é do melhor que há, mais umas ruínas impressionantes, isto-e-aquilo. O suficiente para me manter entretido uma boa parte do dia. Se a estes must-sees do guia juntarmos conversa e selfies com este-e-aquele, está o dia feito. ;)
Assim sendo: hoje estou em passeata mood. Em ritmo de contemplação, quase como no yoga.
E o click do dia, que foi feito numa das paragens que fiz ontem para me abrigar da chuva, expressa bem o feeling de hoje: com calma, sorrindo e gozando cada momento:
22/06/2015
MAIS UM DIA NA ESTRADA (À CHUVA)
Passaram a correr, os dias na aldeia do meu amigo Kousik. Acabei por nem publicar muita coisa aqui, pois confesso que os dias foram vividos quase sempre num dolce fare niente que me soube às mil maravilhas. Era mesmo o que estava a precisar. Longas conversas com os amigos, refeições demoradas em família, sestas a meio da tarde e passeios de mota pelas aldeias à volta.
E de repente passou quase uma semana.
Ontem saí de manhã com o coração apertado, a família toda à porta de casa a dizer adeus. Acabei por nem avançar muito no mapa, fiz ao todo pouco mais de sessenta quilómetros e parei numa terra cujo nome não consigo pronunciar, porque começou a chover e não tive coragem de continuar.
Contudo, hoje quando acordei às seis da manhã tinha as energias todas recarregadas. Chovesse o que chovesse, eu ia andar de mota.
Tive sorte de não apanhar chuva durante a manhã. As nuvens bem que prometiam, e o verde-impossível dos campos à volta era a prova de que tem chovido bastante, ultimamente. Mas eu vesti o meu fato de Martin Luther King, enfeitei-o com uns acessórios à Dumbledore do Harry Potter, e enquanto atravessava aldeias com casas de colmo e telhados de palha, proferi um discurso em inglês para uma multidão imaginária, como que a convencer as nuvens a não descarregar enquanto eu não parasse. Doido? Talvez. Um pouco. Tantas horas em cima de uma mota nas estradas indianas... pode dar para muita coisa. ;)
"You shall not rain, clouds! Leave this road dry and safe! Leave this traveller dry and safe! Leave us and go drop your water somewhere else! Only after this traveller stops, and only then, rain shall fall. But never before that!"
Ok.
Mas resultou. A verdade é que resultou. Coincidência ou acaso, ou resultado do meu incrível poder de persuasão sobre fenómenos naturais: não choveu. Só a meio da manhã, quando parei para tomar um chai e duas samosas deliciosas, à beira da estrada, é que cairam os primeiros pingos. E eis que, finalmente, começou a chover.
Uns locals meteram conversa e acabei na loja de um deles a falar de Ronaldo e do Vasco da Gama, do Ramadão e de literatura indiana... e do Anil Kappoor, o actor que faz de apresentador no Slumdog Millionare, e que os indianos insistem, há anos, que é igual a mim. Enfim.
Mas como estava a dizer: passou-se uma hora de conversa - e quando a chuva virou singelo aguaceiro, voltei à estrada. Só que a partir daqui os meus discursos deixaram de fazer efeito. A chuva, uma vez libertada, não me deu mais ouvidos. E por isso o resto do caminho fiz numa espécie de pára-arranca mútuo, eu e a chuva. Quanto um parava o outro arrancava; quando um arrancava o outro parava.
Devo ter feito umas seis paragens, ao todo. Desde lugares isolados em que pude sentar-me e apreciar o universo à minha volta sem distúrbios, a outros mais "animados" onde respondi a duzentas e treze perguntas, tirei selfies, troquei números de whatsapp e contactos do facebook.
Ainda deu para assistir a um atropelamento, mesmo à minha frente: uma rapariga de treze ou catorze anos vestida com a farda da escola atravessou a estrada a correr... e uma mota não consegui desviar-se ou travar. Mota para um lado, miúda para o outro - a primeira, sabe-se lá como, conseguiu aguentar-se; mas a segunda teve direito a piruetas e acrobacias de circo, e aterrou no chão de uma forma que eu pensei ser a última. Mas levantou-se e a cambalear foi embora, para espanto de toda a gente em redor.
A mim calhou-me uma cobra. No que a atropelamentos diz respeito, note-se. Ia devagar numa recta a tirar notas no gravador do telefone, quando uma cobra pequena, de quarenta centímetros no máximo, atravessou-se à minha frente, ziguezagueando. Que susto. Mas confesso que, entre buracos na estrada, telefone na mão, autocarros com gente em cima do tejadilho, outras motas em sentido contrário e choviscos só para irritar... nem olhei para trás. Espero que tenha sobrevivido, tal como a rapariga, com piruetas e acrobacias de circo.
Cheguei ao meu destino a meio da tarde. Ensopado e cansado, mas com um sorriso de orelha a orelha. Foi um passeio bom, o de hoje.
E de repente passou quase uma semana.
Ontem saí de manhã com o coração apertado, a família toda à porta de casa a dizer adeus. Acabei por nem avançar muito no mapa, fiz ao todo pouco mais de sessenta quilómetros e parei numa terra cujo nome não consigo pronunciar, porque começou a chover e não tive coragem de continuar.
Contudo, hoje quando acordei às seis da manhã tinha as energias todas recarregadas. Chovesse o que chovesse, eu ia andar de mota.
Tive sorte de não apanhar chuva durante a manhã. As nuvens bem que prometiam, e o verde-impossível dos campos à volta era a prova de que tem chovido bastante, ultimamente. Mas eu vesti o meu fato de Martin Luther King, enfeitei-o com uns acessórios à Dumbledore do Harry Potter, e enquanto atravessava aldeias com casas de colmo e telhados de palha, proferi um discurso em inglês para uma multidão imaginária, como que a convencer as nuvens a não descarregar enquanto eu não parasse. Doido? Talvez. Um pouco. Tantas horas em cima de uma mota nas estradas indianas... pode dar para muita coisa. ;)
"You shall not rain, clouds! Leave this road dry and safe! Leave this traveller dry and safe! Leave us and go drop your water somewhere else! Only after this traveller stops, and only then, rain shall fall. But never before that!"
Ok.
Mas resultou. A verdade é que resultou. Coincidência ou acaso, ou resultado do meu incrível poder de persuasão sobre fenómenos naturais: não choveu. Só a meio da manhã, quando parei para tomar um chai e duas samosas deliciosas, à beira da estrada, é que cairam os primeiros pingos. E eis que, finalmente, começou a chover.
Uns locals meteram conversa e acabei na loja de um deles a falar de Ronaldo e do Vasco da Gama, do Ramadão e de literatura indiana... e do Anil Kappoor, o actor que faz de apresentador no Slumdog Millionare, e que os indianos insistem, há anos, que é igual a mim. Enfim.
Mas como estava a dizer: passou-se uma hora de conversa - e quando a chuva virou singelo aguaceiro, voltei à estrada. Só que a partir daqui os meus discursos deixaram de fazer efeito. A chuva, uma vez libertada, não me deu mais ouvidos. E por isso o resto do caminho fiz numa espécie de pára-arranca mútuo, eu e a chuva. Quanto um parava o outro arrancava; quando um arrancava o outro parava.
Devo ter feito umas seis paragens, ao todo. Desde lugares isolados em que pude sentar-me e apreciar o universo à minha volta sem distúrbios, a outros mais "animados" onde respondi a duzentas e treze perguntas, tirei selfies, troquei números de whatsapp e contactos do facebook.
Ainda deu para assistir a um atropelamento, mesmo à minha frente: uma rapariga de treze ou catorze anos vestida com a farda da escola atravessou a estrada a correr... e uma mota não consegui desviar-se ou travar. Mota para um lado, miúda para o outro - a primeira, sabe-se lá como, conseguiu aguentar-se; mas a segunda teve direito a piruetas e acrobacias de circo, e aterrou no chão de uma forma que eu pensei ser a última. Mas levantou-se e a cambalear foi embora, para espanto de toda a gente em redor.
A mim calhou-me uma cobra. No que a atropelamentos diz respeito, note-se. Ia devagar numa recta a tirar notas no gravador do telefone, quando uma cobra pequena, de quarenta centímetros no máximo, atravessou-se à minha frente, ziguezagueando. Que susto. Mas confesso que, entre buracos na estrada, telefone na mão, autocarros com gente em cima do tejadilho, outras motas em sentido contrário e choviscos só para irritar... nem olhei para trás. Espero que tenha sobrevivido, tal como a rapariga, com piruetas e acrobacias de circo.
Cheguei ao meu destino a meio da tarde. Ensopado e cansado, mas com um sorriso de orelha a orelha. Foi um passeio bom, o de hoje.
QUE BOOOOOMMM...
Depois de um dia inteiro a levar com chuva, buracos e lama, nada como encontrar (à primeira!) um quarto limpo, com muita luz e um chuveiro com a pressão do Iguaçu. Ah: e barato.
Vou só ali tomar um duche de três horas e já conversamos. ;)
Vou só ali tomar um duche de três horas e já conversamos. ;)
BOM DIA, VERÃO
Aqui agora está de chuva, cinzento e (um bocadinho) mais fresco.
Mas diz que aí começou o verão :)
Bom dia!
Mas diz que aí começou o verão :)
Bom dia!
21/06/2015
E POR FALAR EM YOGA
Voltando ao tema do dia:
Uma das ideias mais repetidas nos artigos que li hoje é a urgência em capitalizar a "marca" yoga enquanto "made in India". Só no EUA, o mercado do yoga movimenta milhões de dólares.
Não se assustem: não vou discutir agora o assunto. Afinal, este continua a ser, apesar de alguns "desvios", um blog de viagens.
E a foto que se segue trata disso mesmo: a viagem feita pelo guru indiano Paramahansa Yogananda aos Estados Unidos, nos anos 30. O senhor que na imagem aparece de pé foi o primeiro a divulgar o yoga e a meditação no Ocidente, e aqui podemos vê-lo entre os participantes de uma palestra sobre o assunto.
Uma das ideias mais repetidas nos artigos que li hoje é a urgência em capitalizar a "marca" yoga enquanto "made in India". Só no EUA, o mercado do yoga movimenta milhões de dólares.
Não se assustem: não vou discutir agora o assunto. Afinal, este continua a ser, apesar de alguns "desvios", um blog de viagens.
E a foto que se segue trata disso mesmo: a viagem feita pelo guru indiano Paramahansa Yogananda aos Estados Unidos, nos anos 30. O senhor que na imagem aparece de pé foi o primeiro a divulgar o yoga e a meditação no Ocidente, e aqui podemos vê-lo entre os participantes de uma palestra sobre o assunto.
13 RECORDES "INDIANOS" DO GUINNESS
A propósito das 37.000 almas a praticar Yoga hoje de manhã em Delhi, lembrei-me de pesquisar acerca de outros recordes "indianos" do Guinness. Sendo um país gigante e muito dado a "originalidades", imaginei que talvez encontrasse alguma coisa interessante.
E imaginei bem.
Fica uma amostra:
Com quatro metros e vinte e nove centímetros, o maior bigode do Mundo pertence ao indiano Ram Singh Chauhan.
No dia sete de Outubro de 2012, mil e noventa e nove alunos da escola Veer Chhatrapati Shivaji, em Raipur, mascararam-se de Gandhi e quebraram o recorde mundial de "Maior Número de Pessoas Vestidas de Mahatma Gandhi", que pertencia a um ashram de Ahmedabad (coitados, só tinham juntado 485 pessoas).
Custou cinquenta e cinco milhões de dólares, em 2004, e é considerado o casamento mais caro de sempre. Vanisha Mittal, filha do bilionário Lakshmi Mittal, organizou uma cerimónia de seis dias no Palácio de Versailles - a única ocasião em que este monumento foi utilizado para um evento privado.
Brahmanandam Kanneganti é um comediante indiano que, em 2007, ganhou um lugar no livro dos recordes do Guinness, por ter actuado em 754 filmes em vinte anos.
Khursheed Hussain é o homem mais rápido a escrever no computador... com o nariz. Pois. Este senhor bateu um recorde que já tinha sete anos, ao escrever uma frase de cento e três caracteres em apenas quarenta e sete segundos.
Os Pelos das Orelhas Mais Compridos do Mundo pertencem a Radhakant Bajpai, com pouco mais de treze centímetros.
Manoharan Snake Manu engoliu duzentas larvas (de 10cm cada) em trinta segundos e é o homem que mais larvas comeu no mundo.
Cerca de 48.870 pessoas juntaram-se na inauguração de um templo, em Rajkot, e quebraram o recorde de Maior Número de Pessoas a dar um Passou-Bem. ;)
Já o senhor Jayasimha Ravirala conseguiu abraçar 2.436 pessoas numa só hora, e atingiu o espectacular feito de Maior Número de Abraços.
Os Daredevils, uma equipa do Exército Indiano que em Julho de 2001 conseguiu equibrar duzentos e um homens em cima de dez motas, detém o recorde da Maior Pirâmide de Motas. Aguentaram-se em cima das motas, sem cair, uma distância de 129m.
No mesmo registo, a equipa "Os Tornados" conseguiu equilibrar 54 pessoas em cima de uma só mota, durante 925m. Incrível.
A Mulher Mais Pequena do Mundo também é indiana. Chama-se Jyoti Amge e nasceu a dezasseis de Dezembro de 1993, em Nagpur. No seu 18º aniversário, em 2011, media apenas 62,8 centímetros, resultado de uma anomalia no crescimento chamada achondroplasia.
As unhas mais compridas de uma só mão pertencem a Shridhar Chillal e medem, as cinco, seis metros e quinze centímetros. A maior de todas tem um metro e trinta e está a crescer desde 1952.
E para terminar: Prijesh Merlin, do Kerala, é a pessoa que mais objectos conseguiu memorizar. Lembrou-se de todos os quatrocentos e setenta (!), e na mesma ordem com que foram lidos.
E estas, hem? ;)
E imaginei bem.
Fica uma amostra:
Com quatro metros e vinte e nove centímetros, o maior bigode do Mundo pertence ao indiano Ram Singh Chauhan.
No dia sete de Outubro de 2012, mil e noventa e nove alunos da escola Veer Chhatrapati Shivaji, em Raipur, mascararam-se de Gandhi e quebraram o recorde mundial de "Maior Número de Pessoas Vestidas de Mahatma Gandhi", que pertencia a um ashram de Ahmedabad (coitados, só tinham juntado 485 pessoas).
Custou cinquenta e cinco milhões de dólares, em 2004, e é considerado o casamento mais caro de sempre. Vanisha Mittal, filha do bilionário Lakshmi Mittal, organizou uma cerimónia de seis dias no Palácio de Versailles - a única ocasião em que este monumento foi utilizado para um evento privado.
Brahmanandam Kanneganti é um comediante indiano que, em 2007, ganhou um lugar no livro dos recordes do Guinness, por ter actuado em 754 filmes em vinte anos.
Khursheed Hussain é o homem mais rápido a escrever no computador... com o nariz. Pois. Este senhor bateu um recorde que já tinha sete anos, ao escrever uma frase de cento e três caracteres em apenas quarenta e sete segundos.
Os Pelos das Orelhas Mais Compridos do Mundo pertencem a Radhakant Bajpai, com pouco mais de treze centímetros.
Manoharan Snake Manu engoliu duzentas larvas (de 10cm cada) em trinta segundos e é o homem que mais larvas comeu no mundo.
Cerca de 48.870 pessoas juntaram-se na inauguração de um templo, em Rajkot, e quebraram o recorde de Maior Número de Pessoas a dar um Passou-Bem. ;)
Já o senhor Jayasimha Ravirala conseguiu abraçar 2.436 pessoas numa só hora, e atingiu o espectacular feito de Maior Número de Abraços.
Os Daredevils, uma equipa do Exército Indiano que em Julho de 2001 conseguiu equibrar duzentos e um homens em cima de dez motas, detém o recorde da Maior Pirâmide de Motas. Aguentaram-se em cima das motas, sem cair, uma distância de 129m.
No mesmo registo, a equipa "Os Tornados" conseguiu equilibrar 54 pessoas em cima de uma só mota, durante 925m. Incrível.
A Mulher Mais Pequena do Mundo também é indiana. Chama-se Jyoti Amge e nasceu a dezasseis de Dezembro de 1993, em Nagpur. No seu 18º aniversário, em 2011, media apenas 62,8 centímetros, resultado de uma anomalia no crescimento chamada achondroplasia.
As unhas mais compridas de uma só mão pertencem a Shridhar Chillal e medem, as cinco, seis metros e quinze centímetros. A maior de todas tem um metro e trinta e está a crescer desde 1952.
E para terminar: Prijesh Merlin, do Kerala, é a pessoa que mais objectos conseguiu memorizar. Lembrou-se de todos os quatrocentos e setenta (!), e na mesma ordem com que foram lidos.
E estas, hem? ;)
37.000... A FAZER YOGA?!
Hoje comemora-se na Índia e em mais oitenta países - incluindo a maioria daqueles em que levo grupos da Nomad - o Dia do Pai. No Hemisfério Norte, celebra-se o solstício que marca o arranque do Verão. É o dia mais longo do ano. Em França e mais umas dezenas de países, faz-se a Fête de la Musique. E nos Estados Unidos é o Go Skateboarding Day.
No entanto, a efeméride que está a marcar a agenda internacional, e que é celebrada pela primeira vez na História, é o Dia Internacional do Yoga.
Em Dezembro do ano passado, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o dia 21 de Junho como o Dia Internacional do Yoga, em resposta à sugestão dada pelo Primeiro Ministro da Índia, Narendra Modi. E hoje, um bocadinho por todo o Mundo, desenrolam-se tapetes e respira-se fundo, estica-aqui e dobra-ali... enfim, confesso que não faço yoga. Já tentei há uns anos, mas sou muito preguiçoso. No entanto, acho que é uma iniciativa louvável, se funcionar como divulgação e incentivo para outros começarem a praticar. Quem sabe eu próprio.
As comemorações oficiais estenderam-se por todo o Mundo, com tapetes e praticantes debaixo da Torre Eiffel e num estádio de futebol em Moscovo, nas ruas de Seoul e nos jardins de Bangkok, e até em Buenos Aires. Cento e setenta e sete países, ao todo, a celebrar o Yoga. Nada mau, tendo em conta que há mais ou menos duzentos, no planeta. Mas o centro nevrálgico de todo este aparato foi, como é natural, na Índia. O berço do Yoga.
Em todas as cidades do país, milhares de pessoas formaram grupos, esta manhã - e em Delhi, o Primeiro Ministro juntou-se a uma multidão de trinta e sete mil pessoas (isso mesmo!) para, durante trinta e cinco minutos, seguirem à risca os exercícios e pranayams.
Ficam algumas fotos (que "saquei" na net) deste evento que entrou directamente para o Guinness:
Fonte: oneindia.com
Fonte: indianexpress.com
Fonte: ibnlive.com
Fonte: ibnlive.com
No entanto, a efeméride que está a marcar a agenda internacional, e que é celebrada pela primeira vez na História, é o Dia Internacional do Yoga.
Em Dezembro do ano passado, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o dia 21 de Junho como o Dia Internacional do Yoga, em resposta à sugestão dada pelo Primeiro Ministro da Índia, Narendra Modi. E hoje, um bocadinho por todo o Mundo, desenrolam-se tapetes e respira-se fundo, estica-aqui e dobra-ali... enfim, confesso que não faço yoga. Já tentei há uns anos, mas sou muito preguiçoso. No entanto, acho que é uma iniciativa louvável, se funcionar como divulgação e incentivo para outros começarem a praticar. Quem sabe eu próprio.
As comemorações oficiais estenderam-se por todo o Mundo, com tapetes e praticantes debaixo da Torre Eiffel e num estádio de futebol em Moscovo, nas ruas de Seoul e nos jardins de Bangkok, e até em Buenos Aires. Cento e setenta e sete países, ao todo, a celebrar o Yoga. Nada mau, tendo em conta que há mais ou menos duzentos, no planeta. Mas o centro nevrálgico de todo este aparato foi, como é natural, na Índia. O berço do Yoga.
Em todas as cidades do país, milhares de pessoas formaram grupos, esta manhã - e em Delhi, o Primeiro Ministro juntou-se a uma multidão de trinta e sete mil pessoas (isso mesmo!) para, durante trinta e cinco minutos, seguirem à risca os exercícios e pranayams.
Ficam algumas fotos (que "saquei" na net) deste evento que entrou directamente para o Guinness:
Fonte: oneindia.com
Fonte: indianexpress.com
Fonte: ibnlive.com
Fonte: ibnlive.com
20/06/2015
UMA IRONIA TRÁGICA
A aldeia onde estou "hospedado" está em choque com a morte, ontem de manhã, de uma rapariga de vinte e poucos anos, nem uma semana depois de ter dado à luz o primeiro filho. Não percebi ao pormenor o que se passou - e sinceramente não me sinto à vontade para fazer muitas perguntas -, mas deu-me a entender que houve algum tipo de complicação pós-cesariana. O bebé nasceu saudável, voltaram para casa, tudo parecia bem. E ontem... :(
Fiquei a par desta triste notícia pouco depois de estar a conversar no whatsapp com o meu amigo Xay, de Luang Prabang, que me dizia estar no hospital com um amigo que temos em comum, o Phian. Ao que me contou, a irmã dele, ou a cunhada - não me lembro, não interessa agora - tinha dado à luz um rapaz, nem há uma semana. Poucos dias depois de nascer, o bebé morreu. Também não percebi muito bem porquê. E também não perguntei. :(
Mas a coincidência de constatar estas duas realidades com tão pouco tempo de intervalo.
Em Luang Prabang: uma mãe sem filho.
Aqui na aldeia: um filho sem mãe.
Há ironias... ;(
Fiquei a par desta triste notícia pouco depois de estar a conversar no whatsapp com o meu amigo Xay, de Luang Prabang, que me dizia estar no hospital com um amigo que temos em comum, o Phian. Ao que me contou, a irmã dele, ou a cunhada - não me lembro, não interessa agora - tinha dado à luz um rapaz, nem há uma semana. Poucos dias depois de nascer, o bebé morreu. Também não percebi muito bem porquê. E também não perguntei. :(
Mas a coincidência de constatar estas duas realidades com tão pouco tempo de intervalo.
Em Luang Prabang: uma mãe sem filho.
Aqui na aldeia: um filho sem mãe.
Há ironias... ;(
CHOVE EM BOIMBAIM
Os números não enganam: caíram em
média 250mm de água nas últimas 24 horas, ou seja, o correspondente a dez dias
em época de monção. É a maior carga de água dos últimos dez anos... e a cidade
está, como diz o Times of India, "de joelhos".
Aquilo que vejo nas notícias
transporta-me, de certa forma, ao que aconteceu em Julho de 2005. Nessa altura choveu
ainda mais, é certo, e Bombaim parecia ter sido apanhada de surpresa. Além dos
danos materiais na ordem dos muitos zeros, morreram quinhentas pessoas. Foi o
caos total.
Como disse, as imagens e relatos de
ontem coincidem, de certa forma, com as de há dez anos. Felizmente os números,
principalmente no que às perdas humanas diz respeito, não se aproximam, nem por
sombras, dos que já mencionei (até agora há registo de duas mortes, um avô de
sessenta e um neto de cinco que foram electrocutados). Mas o facto é que,
apesar desta vez o Município ter reagido mais depressa no que diz respeito à
prevenção e informação da população, parece que ainda há muito trabalho a
fazer.
É verdade que a cidade está a
apenas três metros de altitude, relativamente ao mar. É muito vulnerável a
acontecimentos desta natureza. É também um facto que uma chuvada destas afecta
qualquer cidade no mundo. Mas quem sabe disto diz que muito pouco foi feito
para corrigir algumas das falhas detectadas em 2005. Foram elaborados
relatórios, retiradas conclusões, sugeridas soluções - e muito ficou pelas
intenções.
Falei com amigos que, apesar de nem
se importarem muito com o fim-de-semana prolongado, queixam-se de ninguém fazer
nada. "É sempre a mesma coisa". Ontem a rede ferroviária foi
severamente afectada, com grande parte dos serviços a ser suspensos. As
estradas estavam, na sua maioria, completamente inundadas, com o trânsito
praticamente parado. A maior parte das pessoas optou por nem sair de casa, e
aqueles que o fizeram tiveram de contornar (ou tentar contornar) o caos em que
se transformou a mobilidade em Bombaim. Mais de 50% dos auto-riquexós e táxis,
por exemplo, nem saíram para a rua. E dos que estão a trabalhar, muitos pedem
até ao triplo do dinheiro do costume, ou pura e simplesmente recusam-se a fazer
determinadas rotas. A BEST, que é a Carris lá do sítio, providenciou autocarros
para colmatar a falta de comboios, mas muitos ficaram imobilizados no
trânsito... alguns avariaram.
Fecharam as escolas e os tribunais.
A Universidade de Bombaim adiou o prazo de entrega de candidaturas, que era suposto
terminar esta sexta. Caíram árvores. A electricidade foi cortada em algumas
zonas, por motivos de segurança. As partidas e chegadas nos aeroportos da
cidade sofreram um atraso de 45 minutos, em média. Não houve ainda voos cancelados,
como em 2005, mas três aviões tiveram que ser desviados para outros aeroportos.
E o pior é que não parece que vai
abrandar, no fim-de-semana.
Ainda nem acalmou, a chuva, e já se
apontam dedos entre políticos e outros responsáveis, técnicos e críticos,
"eu avisei", "não estávamos à espera", "isto estava-se
mesmo a ver que ia acontecer".
Vou continuar atento, seja porque
estou na Índia e é-me impossível "passar ao lado", seja porque é
Bombaim, e não consigo não sofrer um bocadinho com isto. E vou dando notícias
por aqui.
19/06/2015
BORDA D'ÁGUA, BENGALI STYLE
Hoje descobri que existe no West Bengal um almanaque do género do "nosso" Borda D'Água, com todas as informações para o ano relativas a festivais e astrologia, agricultura e tradições, rituais e lendas. Muito interessante - apesar de que não leio uma letra que seja, em bengali.
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