Tudo fresco e desperto, portanto, quando nos enfiámos no autocarro a caminho do Cambodja.
O trânsito nesse sábado de manhã estava especialmente compacto, vá-se lá perceber porquê, e demorámos ainda mais tempo que o habitual para sair de Saigão. Rodeados de motas carregadas com tudo e mais alguma coisa - o que nem é novo. Ou seja: chegámos atrasados à fronteira, e chegámos atrasados a Phnom Penh. Uma hora e meia, para ser mais exacto.
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Até aqui nada de novo, pelo menos para mim. Isto é trabalho - mas é trabalho que se faz com gosto. E quanto. Que bem que me sabe quando chego ao Cambodja. Eu sei lá que energia tem este país - e até mesmo esta cidade, feia e suja... mas há coisas que não se explicam, e para quê gastar latim e massa cinzenta para tentar descrever o que não consigo explicar? Gosto do Cambodja. Gosto de cá voltar.
Fomos dar uma volta.
Fomos pela marginal, no enorme passeio cheio de gente a fazer jogging e ginástica, ou simplesmente sentados à conversa, ou a namorar, ou a pedir esmola. Caminhámos paralelos ao rio até ao Night Market, e desafiei o grupo para nos sentarmos no chão, tal como os locais. As esteiras de palha estavam cheias de famílias e grupos de amigos a comer, alguns turistas - e nós juntámo-nos à festa. Mandei vir noodles com isto-e-aquilo, alguns fritos e até uns springrolls. E jantámos, que risota - este grupo foi-se (e foi-me) conquistando aos poucos, por esta altura já existia uma cumplicidade muito própria, várias energias diferentes, feitios e modos de estar. Mas foi esta diversidade que deu alma ao grupo, foram as diferenças, mais que as semelhanças, que aproximaram uns e outros, que deram cor à viagem, que acrescentaram sabor à aventura.
Ainda houve tempo para comprar kromas - os panos que os locais usam para tudo e mais alguma coisa - e para comer os melhores gelados neste lado do Universo, no Blue Pumpkin; e acabámos a noite a beber um Porto no rooftop do Frangipania, tragicamente rebaptizado de Ibiza Lounge.
E por falar em tragédias (infelizmente incomparáveis a um nome foleiro de um bar): na manhã de domingo fomos de tuktuk conhecer Tuol Seng - o Museu do Genocídio (também conhecido por S21) - e os Campos da Morte, duas testemunhas bem cruas do que foi o regime de terror de Pol Pot e os seus Khmers Vermelhos, nos anos setenta.
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Aligeirámos o tom ao almoço, no Laughing Fatman, onde o grupo experimentou pela primeira vez o Amok (o prato nacional do Cambodja) e depois fomos a pé até ao Palácio Real e o Pagoda de Prata, que visitámos. Dei algumas luzes ao grupo acerca do significado das posições do Buda, e a certa altura até fomos convidados para tomar um chá com o Rei - mas tivemos de recusar pois a agenda já estava cheia para esse final de tarde: íamos assistir a um combate de Boxe Tradicional Khmer.
Os combates de domingo em Phnom Penh começam a tornar-se um hábito na viagem da Indochina. Realizado num estúdio de televisão e transmitidos em directo na BayonTV, este evento acaba por funcionar como uma versão mais económica e mais genuína que o Muay Thai (mais económica porque ao contrário de Bangkok, não se paga; e genuína porque apesar de agora já se ver um ou outro turista, a esmagadora maioria do público é local).
Apesar desta semana termos saído mais cedo do centro da cidade, quando chegámos ao estádio/estúdio já estava completamente a abarrotar. Esta semana o combate era especial, com alguns boxeurs da Tailândia, e o estúdio estava decorado a rigor, com um palco cheio de luzes e ecrãs, efeitos especiais e até fogo-de-artifício. Sentámo-nos junto ao palco, numa espécie de bancada VIP criada para o efeito, e antes dos combates propriamente ditos tivemos direito a assistir à actuação de artistas locais de renome. Não me perguntem os seus nomes - mas se querem mesmo visualizar a coisa, imaginem uma versão khmer da Jeniffer Lopez, e outra dos One Direction um bocadinho mais hip hop. Que noite!
O público estava especialmente "arrebitado", as lutas emocionantes - e apesar de um arranque demorado, a verdade é que foi um bonito espectáculo de ver. Quando saímos para a rua, no final, vínhamos com a adrenalina em alta. E quando chegámos ao hotel e nos encontrámos com aqueles que tinham optado por ficar no centro da cidade a fazer massagens, as energias não podiam ser mais diferentes.
No entanto, como já expliquei: este grupo alimentou-se das diferenças para construir a sua personalidade. E até neste momento isso funcionou. Lá fomos jantar, uns todos zen com as massagens, outros bem activos com o evento de boxe - e ao final da refeição repetimos uma proeza já feita ao pequeno-almoço, e que acabei por não partilhar logo aqui. Cantámos os parabéns ao Alberto, um dos nossos companheiros de viagem. Mas enquanto de manhã a surpresa foi do grupo ao aniversariante, agora fora o próprio que me pedira para organizar um bolo para surpreender os outros.
Energia boa.
E assim se passou mais um fim-de-semana. Dois dias, múltiplas emoções e vivências, a acrescentar àquelas que viveramos nos dias antes no Vietname, e às que viríamos a experienciar depois, em Siem Reap, Bangkok, Vang Vieng e Luang Prabang.
O grupo já voltou para Portugal, eu estou a "queimar os últimos cartuchos" em Bangkok.
E daqui a quase-nada: Lisboa.
Conheçam as datas das próximas edições da Indochina em http://www.nomad.pt/indochina-com-jorge-vassallo
1 comentário:
Leitura boa para toda a manhã!!!
Venham mais!!!
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