17/07/2014

HOJE COMEÇO PELO FIM

De todas as pequenas surpresas que fizeram do passeio a Battambang uma inesperada aventura, começo por partilhar a última.

Confesso que quando fui para Battambang, a minha única expectativa prendia-se com o passeio no chamado bamboo train. Não fazia ideia se havia ou não templos ou ruínas - ou quaisquer outro tipo de actividades. Nem pensei nisso. Tinha uns dias livres, queria explorar um bocadinho mais do Cambodja - e fui.

Fui dar uma volta a Battambang.

E chega de suspense. Ao final do terceiro dia o meu tuktuk levou-me a uma "montanha" em forma de barco, com grutas e templos no topo, histórias arrepiantes do tempo do Pol Pot, macacos atrevidos e monges tímidos. E uma gruta de onde, segundo o meu driver, "às seis da tarde saem milhares de morcegos".

Fizemos a "voltinha saloia" da montanha, primeiro numa mota até ao topo, a três com um driver local, só rir. Visitámos cavernas para onde os khmer vermelhos atiravam as suas vítimas. Partilhámos histórias e curiosidades dos templos budistas ali presentes. E, no final, descemos pelas escadas até à base da "montanha", onde o tuktuk estava estacionado.

"Depressa," dizia-me o driver enquanto descíamos as escadas, "porque às seis os morcegos saem".

Eu ri-me:

"Mas às seis... seis em ponto? Os morcegos têm relógio? Não pode ser às seis e cinco, ou seis e oito, ou mesmo antes das seis, tipo às cinco e cinquenta e um?"

"Às seis em ponto," garantiu-me.

Descemos até à estrada, estavam uns trinta turistas com os respectivos guias e drivers, sentados nos muros e nos terrenos à volta, todos a olhar para a tal gruta na ravina em frente.

"Cinco e cinquenta e três," avisou-me o meu driver, "já só faltam sete minutos."

Eu só me ria com a precisão. Como se os morcegos soubessem as horas. E logo às seis da tarde, sharp.

"Cinco e cinquenta e seis," disse-me pouco depois.

"Estás mesmo confiante que vai ser às seis em ponto."

"Cinco e cinquenta e oito. Dois minutos."

Eu estava preparado para esperar o que fosse preciso. Algo me dizia que os morcegos não iam sair às seis em ponto. Olhei para a entrada da gruta, como toda a gente. Do escuro vinha um som de guinchos e cliques. Pouco depois vi um morcego - um! - a sair e a voar no céu cinzento.

"Olha ali um!", apontei a rir.

"Falta um minuto," foi a resposta.

E de repente, como se tivesse tocado um despertador dentro da gruta, começaram a sair os morcegos. Inacreditável. Faziam uma espécie de fila, primeiro algumas dezenas, depois foram aumentando o volume e de repente criaram uma espécie de cordão umbilical que saía daquele ventre escuro para o infinito do céu. Milhares, ou dezenas de milhares, ou centenas de milhares. Nunca vi nada assim.

E posso garantir que as fotos não fazem justiça ao momento - mas é o que temos ;)







1 comentário:

Clara Amorim disse...

Está-se uns dias fora e depois só se encontra grandes maravilhas por aqui!!!