Hoje de manhã estava à espera que chegasse a minha vez de levantar dinheiro, num ATM, quando reparei numa barata enorme que corria de um lado para o outro, frenética, como que a fugir de alguma coisa, como se estivesse desnorteada, perdida, ou pura e simplesmente: louca. Tanto corria para a direita como para a esquerda, parecia não ter qualquer objectivo senão correr.
A certa altura pareceu-me querer subir um degrau, mas sempre que chocava com a parede e a tentava "trepar", caía de costas no chão e ficava a debater-se, de patas a pontapear o ar, num desespero louco e vulnerável, até que eventualmente se conseguia pôr "de pé" e lá voltava ao mesmo exercício, a correr desenfreada, às vezes só dois ou três centímetros para então embater novamente no degrau... e então voltava ao mesmo. Tentava subi-lo, caía de costas, etc, etc. Ficou nisto vários minutos, e já só faltava uma pessoa para ser a minha vez de levantar dinheiro.
A dada altura conseguiu. Subiu o degrau. Tentou por uma parte da parede que devia ser mais rugosa, pois as suas patinhas lá se aguentaram e tremendo a barata conseguiu subir.
Mas no patamar seguinte havia um saco de cimento. A barata começou por chocar contra o saco, que estava ligeiramente aberto, foi tateando e praticamente entrou lá para dentro, mas vá-se lá entender porquê, deu uma volta estranha e lá caiu de costas outra vez, à porta do saco. Debateu-se até se cansar, a seguir ficou alguns segundos parada, parecia morta - e pouco depois recomeçou a espernear, abanando-se até conseguir dar a volta. E repetiu o exercício várias vezes.
Over and over... and over again.
Chegou a minha vez de levantar dinheiro. Entrei na cabine e enfiei o cartão na ranhura da máquina. Enquanto esperava pelas instruções, olhei para a rua e lá vi a barata, novamente de costas, a debater-se indefesa, completamente à mercê seja lá de que perigos, inimigos, má sortes e outros destinos.
Código e a rotina do costume, tome lá o seu cartão e já agora o dinheirinho. Num só levantamento e já sou milionário, é o que dá tantos zeros à frente de um cinco. E o Ho Chi Minh a dar voltas e reviravoltas lá no mausoléu, ele que queria ser cremado, ele que de certeza não ia achar piada nenhuma a figurar em todas as notas vietnamitas. Há ironias.
Voltando à barata. Quando a deixei, estava ainda a espernear. Voltei para o hotel, a garganta a queixar-se deste passeio matinal, teve de ser, tinha de ser, trabalho é trabalho... e pelo caminho fui pensando em algumas semelhanças da estúpida barata, nojenta e mal-amada, e da fatalidade do espírito humano, supostamente omni-racional e consciente, fértil em culpas e vaidades, em constrangimentos e solidariedade, altruísmo e egoísmo. Tanta coisa. Mas a verdade é que há semelhanças.
Quantas vezes andamos a correr "que nem baratas tontas", ora aí está uma expressão que tem tudo a ver, nem tinha pensado nisso antes. Quantas vezes. Nem damos pelo espaço à nossa volta, não paramos um segundo para avaliar perigos e limitações, atalhos e possibilidades, alternativas, planos de ataque. Isso é mau? É bom? É as duas coisas, parece-me.
Mas a verdade é que muitas vezes nos comportamos assim. Esquecemo-nos de ser simples. De fazer devagar. De olhar para a paisagem. E se por um lado, bater várias vezes com a cabeça na parede pode ser o único caminho para depois conseguir subir o degrau... a verdade é que muitas vezes nos atiramos às cegas para uma coisa e depois ficamos de patinhas viradas para o ar, fragilizados, vulneráveis.
É como tudo. É como o copo de água. Metade cheio. Metade vazio.
E eu, como Balança que me prezo ser, vejo os dois lados e tento entender cada um, não me consigo decidir. Cada qual com as suas vantagens. Cada qual com os seus defeitos. Quem sou eu para sentenciar.
A mim, e aqui: cabe-me partilhar. A experiência. O pensamento. A curiosidade.
E logo agora: que "caí de cama" porque, há que admitir, negligenciei alguns sinais que o corpo me andava a enviar... barata tonta, Jorge Vassallo! De costas virado, a espernear, a tentar virar as coisas do avesso, o mundo é que está ao contrário, o mundo é que está ao contrário.
30/11/2013
ARE YOU OKAY?
Este é daqueles posts que ficava melhor escrito em inglês. Porque hoje devo estar "looking like shit".
Sinto-me melhor: o antibiótico roxo e os comprimidos laranja estão a fazer efeito, continuo um bocadinho fraco, dói-me a garganta e o corpo em geral... mas estou melhor. A sério que estou.
E no entanto...
Hoje de manhã saí cedo do quarto, pois precisava de dar umas voltas e finalizar algumas coisas para a viagem da Nomad que arranca amanhã. Na recepção, perguntaram-me se me estava a sentir bem. Na rua, um velhote juntou as palmas das mãos, como se fosse rezar, mas inclinou-as e encostou-as à cara. Estava a dizer-me para ir dormir. Ou que precisava de dormir. Pouco depois, ouvi uma mulher a gritar-me, do outro lado da rua:
"Are you okay?"
Será que se nota assim tanto? Fiz o que tinha a fazer e voltei a correr para o hotel, tranquei-me no quarto e descansei mais meia hora. Depois fui para o aeroporto, tinha mesmo que ir, hoje já chegou a primeira pessoa que vai fazer a viagem que se segue. Chama-se Wania e já viajou comigo no Transiberiano, no ano passado. Brasileira, muito divertida - vai ser giro partilhar mais quilómetros com ela.
Só pela festa que me fez, quando me viu, melhorei logo. Depois disse-me que estava com óptimo aspecto. Melhorei mais um bocadinho. E quando chegámos ao hotel ofereceu-me uma t-shirt muito gira do Rio.
"Yes! I'm okay!"
Não completamente bom, há que ter calma e dar tempo ao tempo, não entrar em euforias nem excessos. Mas sinto-me muito melhor.
Sinto-me melhor: o antibiótico roxo e os comprimidos laranja estão a fazer efeito, continuo um bocadinho fraco, dói-me a garganta e o corpo em geral... mas estou melhor. A sério que estou.
E no entanto...
Hoje de manhã saí cedo do quarto, pois precisava de dar umas voltas e finalizar algumas coisas para a viagem da Nomad que arranca amanhã. Na recepção, perguntaram-me se me estava a sentir bem. Na rua, um velhote juntou as palmas das mãos, como se fosse rezar, mas inclinou-as e encostou-as à cara. Estava a dizer-me para ir dormir. Ou que precisava de dormir. Pouco depois, ouvi uma mulher a gritar-me, do outro lado da rua:
"Are you okay?"
Será que se nota assim tanto? Fiz o que tinha a fazer e voltei a correr para o hotel, tranquei-me no quarto e descansei mais meia hora. Depois fui para o aeroporto, tinha mesmo que ir, hoje já chegou a primeira pessoa que vai fazer a viagem que se segue. Chama-se Wania e já viajou comigo no Transiberiano, no ano passado. Brasileira, muito divertida - vai ser giro partilhar mais quilómetros com ela.
Só pela festa que me fez, quando me viu, melhorei logo. Depois disse-me que estava com óptimo aspecto. Melhorei mais um bocadinho. E quando chegámos ao hotel ofereceu-me uma t-shirt muito gira do Rio.
"Yes! I'm okay!"
Não completamente bom, há que ter calma e dar tempo ao tempo, não entrar em euforias nem excessos. Mas sinto-me muito melhor.
VAI NA VOLTA E SOMOS PRIMOS
Como sabe quem já segue este blog há mais tempo, esporadicamente partilho aqui encontros e coincidências que me acontecem, ou que testemunho, por esse mundo fora.
Este pequeno post não é bem sobre um desses encontros. Mas podia ser.
Ontem à noite vim-me embora de Luang Prabang, ainda no início de uma recuperação que desejo rápida, nem que seja porque amanhã começa mais uma volta pela Indochina. O meu amigo Xay, que foi incansável durante todo este processo - acompanhou-me a noite inteira, correu farmácias e clínicas, levou-me ao hospital e até massagens na cabeça me fez - levou-me de mota ao aeroporto, já a noite tinha caído. Eu lá me sentei à pendura, enrolado em camisolas e cachecóis, fiz o check-in e despedimo-nos até uma próxima vez. Que nenhum sabe quando vai ser, porque parece que ele vai fazer um estágio algures para fora de Luang Prabang e provavelmente não nos vemos o resto desta temporada.
Anyway: passei a Imigração e o raio X, sentei-me à espera de embarcar e quando finalmente entrei no avião, reparei que estavam sentadas, mesmo atrás de mim, quatro raparigas a falar português. Português de Portugal - rectangular como a geografia.
Fiquei tentado a "denunciar-me". Mas não fiz nada. Estava demasiado cansado para falar, sem energias para interagir e reagir. Saímos do avião ao mesmo tempo, viajámos juntos no autocarro que nos levou da pista ao aeroporto propriamente dito, depois acelerei passo porque já conheço os cantos à casa e em menos de dez minutos estava fora do Noibai, num shuttle para o centro da cidade.
Provavelmente não nos voltamos a ver.
Se calhar tínhamos imensas coisas em comum, histórias e peripécias para partilhar, quase de certeza que conhecíamos este ou aquele, e a vizinha do meu amigo é prima do teu afilhado, e o tio da tua cunhada é melhor amigo do meu piriquito. Vai-na-volta-e-somos-primos. Ou não. Enfim. O mundo é pequeno - pois é. Mas desta vez não tive energia para pôr à prova essa convicção.
Fica a possibilidade.
Este pequeno post não é bem sobre um desses encontros. Mas podia ser.
Ontem à noite vim-me embora de Luang Prabang, ainda no início de uma recuperação que desejo rápida, nem que seja porque amanhã começa mais uma volta pela Indochina. O meu amigo Xay, que foi incansável durante todo este processo - acompanhou-me a noite inteira, correu farmácias e clínicas, levou-me ao hospital e até massagens na cabeça me fez - levou-me de mota ao aeroporto, já a noite tinha caído. Eu lá me sentei à pendura, enrolado em camisolas e cachecóis, fiz o check-in e despedimo-nos até uma próxima vez. Que nenhum sabe quando vai ser, porque parece que ele vai fazer um estágio algures para fora de Luang Prabang e provavelmente não nos vemos o resto desta temporada.
Anyway: passei a Imigração e o raio X, sentei-me à espera de embarcar e quando finalmente entrei no avião, reparei que estavam sentadas, mesmo atrás de mim, quatro raparigas a falar português. Português de Portugal - rectangular como a geografia.
Fiquei tentado a "denunciar-me". Mas não fiz nada. Estava demasiado cansado para falar, sem energias para interagir e reagir. Saímos do avião ao mesmo tempo, viajámos juntos no autocarro que nos levou da pista ao aeroporto propriamente dito, depois acelerei passo porque já conheço os cantos à casa e em menos de dez minutos estava fora do Noibai, num shuttle para o centro da cidade.
Provavelmente não nos voltamos a ver.
Se calhar tínhamos imensas coisas em comum, histórias e peripécias para partilhar, quase de certeza que conhecíamos este ou aquele, e a vizinha do meu amigo é prima do teu afilhado, e o tio da tua cunhada é melhor amigo do meu piriquito. Vai-na-volta-e-somos-primos. Ou não. Enfim. O mundo é pequeno - pois é. Mas desta vez não tive energia para pôr à prova essa convicção.
Fica a possibilidade.
29/11/2013
39.4ºC
O telefone diz-me que estão vinte graus lá fora... mas estou a tremer de frio.
Deitado numa cama verde, num quarto do hospital de Luang Prabang, vejo à minha volta: o meu amigo Xay, uma enfermeira que podia muito bem ser a realização de uma fantasia - e quatro estudantes de medicina, que quase sem se mexer absorvem cada movimento, cada palavra, cada reacção minha. Na cama ao lado está um monge, já velhote, a debater-se com o robe laranja enquanto o médico conversa com ele.
Viro a cabeça na direcção do monge. Não porque esteja especialmente interessado no que se passa com o senhor, mas porque faz-me impressão ver agulhas. E a enfermeira-fantasia está a preparar-se para espetar uma na minha mão.
Picada. Faço um choradinho tímido e ela chama-me "baby".
Mas como é que vim aqui parar?
Tudo começou ontem ao fim da tarde. Tinha voltado da aula de culinária lao, traduzi a receita do ckicken laap para português e partilhei-a aqui no blog. Sentia-me cansado, o que é normal ao fim de dezoito dias intensos de viagem pela Indochina. Sentia o corpo a pedir descanso, a reclamar atenção - andava com dores de garganta e alguma tosse, mas pouco mais.
Decidi fazer uma massagem, portanto.
Escolhi uma oil massage, que era a mais relaxante, despi-me e deitei-me numa marquesa, enrolado numa toalha. Veio a menina e começou a massajar-me pernas e costas, eu quase a adormecer, estava no céu... quando, de repente, a ventoinha sopra na minha direcção ao mesmo tempo que ela pressiona os ombros... e um arrepio atravessou todo o meu corpo. A partir daqui, tudo mudou. Comecei a tremer, cheio de frio, não conseguia relaxar e pedi para desligarem a ventoinha. Mas nada funcionava. Não conseguia parar de tremer. Acabei por voltar para o hotel, sempre cheio de frio, o corpo todo a doer, como se tivesse sido espancado.
Deitei-me na cama, vestido. Lençol e edredon por cima, e mesmo assim tinha frio. E depois calor. Comecei a suar, sentia-me cansado e fraco. Quando o meu amigo Xay chegou, até falar me custava. Vimos a temperatura: tinha 39.2ºC. Uma hora depois: 39.4ºC. Mais outra hora: a mesma coisa.
Passei a noite a suar, troquei de roupa várias vezes, hoje de manhã acordei com uma pilha de t-shirts molhadas ao lado da cama. E fui para o hospital. A febre tinha baixado muito pouco, para 38.6ºC... não me saía da cabeça a ideia de que estava com dengue.
Fiquei uma hora ligado à garrafinha, antibiótico directo para a veia. O médico explicou-me que tinha uma amigdalite aguda, receitou-me antibiótico e estimou três a cinco dias para ficar bom. Não achou muita piada ao facto de voar para Hanói hoje... mas tenho mesmo de ir. Depois de amanhã começa outra edição da Indochina. E tenho que estar fresco e forte, até lá.
Deitado numa cama verde, num quarto do hospital de Luang Prabang, vejo à minha volta: o meu amigo Xay, uma enfermeira que podia muito bem ser a realização de uma fantasia - e quatro estudantes de medicina, que quase sem se mexer absorvem cada movimento, cada palavra, cada reacção minha. Na cama ao lado está um monge, já velhote, a debater-se com o robe laranja enquanto o médico conversa com ele.
Viro a cabeça na direcção do monge. Não porque esteja especialmente interessado no que se passa com o senhor, mas porque faz-me impressão ver agulhas. E a enfermeira-fantasia está a preparar-se para espetar uma na minha mão.
Picada. Faço um choradinho tímido e ela chama-me "baby".
Mas como é que vim aqui parar?
Tudo começou ontem ao fim da tarde. Tinha voltado da aula de culinária lao, traduzi a receita do ckicken laap para português e partilhei-a aqui no blog. Sentia-me cansado, o que é normal ao fim de dezoito dias intensos de viagem pela Indochina. Sentia o corpo a pedir descanso, a reclamar atenção - andava com dores de garganta e alguma tosse, mas pouco mais.
Decidi fazer uma massagem, portanto.
Escolhi uma oil massage, que era a mais relaxante, despi-me e deitei-me numa marquesa, enrolado numa toalha. Veio a menina e começou a massajar-me pernas e costas, eu quase a adormecer, estava no céu... quando, de repente, a ventoinha sopra na minha direcção ao mesmo tempo que ela pressiona os ombros... e um arrepio atravessou todo o meu corpo. A partir daqui, tudo mudou. Comecei a tremer, cheio de frio, não conseguia relaxar e pedi para desligarem a ventoinha. Mas nada funcionava. Não conseguia parar de tremer. Acabei por voltar para o hotel, sempre cheio de frio, o corpo todo a doer, como se tivesse sido espancado.
Deitei-me na cama, vestido. Lençol e edredon por cima, e mesmo assim tinha frio. E depois calor. Comecei a suar, sentia-me cansado e fraco. Quando o meu amigo Xay chegou, até falar me custava. Vimos a temperatura: tinha 39.2ºC. Uma hora depois: 39.4ºC. Mais outra hora: a mesma coisa.
Passei a noite a suar, troquei de roupa várias vezes, hoje de manhã acordei com uma pilha de t-shirts molhadas ao lado da cama. E fui para o hospital. A febre tinha baixado muito pouco, para 38.6ºC... não me saía da cabeça a ideia de que estava com dengue.
Fiquei uma hora ligado à garrafinha, antibiótico directo para a veia. O médico explicou-me que tinha uma amigdalite aguda, receitou-me antibiótico e estimou três a cinco dias para ficar bom. Não achou muita piada ao facto de voar para Hanói hoje... mas tenho mesmo de ir. Depois de amanhã começa outra edição da Indochina. E tenho que estar fresco e forte, até lá.
28/11/2013
LAAP DE GALINHA
Hoje passei o dia a cozinhar... e a comer :)
Fiz uma cooking class no restaurante Tamnak Lao, aqui em Luang Prabang - e recomendo. Que experiência enriquecedora... e deliciosa. Estou de barriga cheia, hoje já não janto. :)
E enquanto tento pôr em ordem as ideias e relatos, aproveito para partilhar a receita de um dos meus pratos preferidos em toda a Ásia: chicken laap. É um prato fresco, uma salada de carne para se comer com arroz. Espero que gostem.
(É o prato da esquerda, mas os outros também fui eu que fiz eheh)
Ingredientes
(para uma pessoa, ou duas/três se estiverem a partilhar outros pratos)
200g de peito de frango picado, sem gordura
1 cubo de caldo de galinha
1 lima
2 colheres de sopa de água quente
2 folhas de lima kafir, cortadas aos bocadinhos (já se pode encontrar em alguns supermercados, na prateleira da comida tailandesa)
1 cebolinho, cortado em fatias fininhas
2 chalotas, cortadas em fatias fininhas
2 dentes de alho, cortados em fatias fininhas
1 mão cheia de coentros
2 pés de erva-príncipe: só parte branca, cortada em fatias fininhas; se não encontrar erva-príncipe fresca - é muito difícil, em Portugal - pode sempre comprar em pó. E se encontrar, por favor diga-me onde.
6 folhas de dente serrado... hmmm... não temos disto em Portugal, nem nada que se pareça, o mais próximo em termos de sabor são os coentros... por isso é carregar nos coentros ;)
1/4 colher de chá de sal
1 colher de sopa de pó de arroz (enfim... não aquele que estão a pensar... penso que não deve existir em Portugal, mas é fácil de fazer, basta fritar a seco um pouco de arroz e depois moer os grãos até ficar um pó)
1 colher de chá de malagueta em pó - ou, para quem gosta de sabores mais intensos, como eu, é cortar duas ou três malaguetas frescas às fatias
1/4 de colher de chá de molho de peixe (já se vende em muitos lugares, em Portugal)
1 colher de sopa de alho frito
1 colher de sopa de chalotas fritas
Preparação:
1. Junte no wok o caldo de galinha, a carne picada, metade do sumo de lima e a água.
2. Aqueça em lume brando e mexa até que a carne esteja cozinhada e o líquido desapareça.
3. Tire a carne do wok e guarde num recipiente.
4. Acrescente à carne, sem usar o wok, as folhas de lima kafir, o cebolinho, as chalotas, o alho, os coentros, a erva-príncipe... e as folhas de dente serrado, se as tiver encontrado. Caso contrário: junte mais coentros.
5. Acrescente a esta mistura o sal, o pó de arroz, a malagueta, o molho de peixe, o alho frito e a chalota frita. Misture muito bem toda esta salganhada.
6. Finalmente, quando já estiver tudo misturado, junte o restante sumo de lima. Está pronto a servir, de preferência com sticky rice... mas à falta de sticky rice, vai uma dose de arroz branco. E não ficamos nada mal servidos.
Esta é a receita como a aprendi a fazer, na cooking class de hoje. Mas pessoalmente gosto mais de acrescentar folhas de hortelã-pimenta, como se faz em quase todo o Laos. Por isso já sabe: além dos ingredientes mencionados em cima, dê-lhe também um toque de hortelã-pimenta. Fica maravilhoso!
Fiz uma cooking class no restaurante Tamnak Lao, aqui em Luang Prabang - e recomendo. Que experiência enriquecedora... e deliciosa. Estou de barriga cheia, hoje já não janto. :)
E enquanto tento pôr em ordem as ideias e relatos, aproveito para partilhar a receita de um dos meus pratos preferidos em toda a Ásia: chicken laap. É um prato fresco, uma salada de carne para se comer com arroz. Espero que gostem.
(É o prato da esquerda, mas os outros também fui eu que fiz eheh)
Ingredientes
(para uma pessoa, ou duas/três se estiverem a partilhar outros pratos)
200g de peito de frango picado, sem gordura
1 cubo de caldo de galinha
1 lima
2 colheres de sopa de água quente
2 folhas de lima kafir, cortadas aos bocadinhos (já se pode encontrar em alguns supermercados, na prateleira da comida tailandesa)
1 cebolinho, cortado em fatias fininhas
2 chalotas, cortadas em fatias fininhas
2 dentes de alho, cortados em fatias fininhas
1 mão cheia de coentros
2 pés de erva-príncipe: só parte branca, cortada em fatias fininhas; se não encontrar erva-príncipe fresca - é muito difícil, em Portugal - pode sempre comprar em pó. E se encontrar, por favor diga-me onde.
6 folhas de dente serrado... hmmm... não temos disto em Portugal, nem nada que se pareça, o mais próximo em termos de sabor são os coentros... por isso é carregar nos coentros ;)
1/4 colher de chá de sal
1 colher de sopa de pó de arroz (enfim... não aquele que estão a pensar... penso que não deve existir em Portugal, mas é fácil de fazer, basta fritar a seco um pouco de arroz e depois moer os grãos até ficar um pó)
1 colher de chá de malagueta em pó - ou, para quem gosta de sabores mais intensos, como eu, é cortar duas ou três malaguetas frescas às fatias
1/4 de colher de chá de molho de peixe (já se vende em muitos lugares, em Portugal)
1 colher de sopa de alho frito
1 colher de sopa de chalotas fritas
Preparação:
1. Junte no wok o caldo de galinha, a carne picada, metade do sumo de lima e a água.
2. Aqueça em lume brando e mexa até que a carne esteja cozinhada e o líquido desapareça.
3. Tire a carne do wok e guarde num recipiente.
4. Acrescente à carne, sem usar o wok, as folhas de lima kafir, o cebolinho, as chalotas, o alho, os coentros, a erva-príncipe... e as folhas de dente serrado, se as tiver encontrado. Caso contrário: junte mais coentros.
5. Acrescente a esta mistura o sal, o pó de arroz, a malagueta, o molho de peixe, o alho frito e a chalota frita. Misture muito bem toda esta salganhada.
6. Finalmente, quando já estiver tudo misturado, junte o restante sumo de lima. Está pronto a servir, de preferência com sticky rice... mas à falta de sticky rice, vai uma dose de arroz branco. E não ficamos nada mal servidos.
Esta é a receita como a aprendi a fazer, na cooking class de hoje. Mas pessoalmente gosto mais de acrescentar folhas de hortelã-pimenta, como se faz em quase todo o Laos. Por isso já sabe: além dos ingredientes mencionados em cima, dê-lhe também um toque de hortelã-pimenta. Fica maravilhoso!
27/11/2013
ACABOU-SE
Dezoitos dias, quatro países, eu e mais dez viajantes. Foi mais uma grande experiência, intensa e rica em emoções - como se quer. Mas acabou. Hoje andei num zum-zum entre o hotel e o aeroporto novo, uma estreia absoluta na viagem.
Dezoito dias. Motas e elefantes, ruínas khmer e sticky rice, aranhas fritas e tubbing, tuktuks, karaoke e ping pong. Ups. ;)
Agora é tempo de fechar contas, descansar, pôr o blog e o facebook em dia, sempre a mesma coisa :) e distrair-me um bocado porque daqui a quatro dias chegam mais dez pessoas. E recomeça a aventura!
Dezoito dias. Motas e elefantes, ruínas khmer e sticky rice, aranhas fritas e tubbing, tuktuks, karaoke e ping pong. Ups. ;)
Agora é tempo de fechar contas, descansar, pôr o blog e o facebook em dia, sempre a mesma coisa :) e distrair-me um bocado porque daqui a quatro dias chegam mais dez pessoas. E recomeça a aventura!
23/11/2013
TODO PARTIDOOOO
Que maravilhoso sábado passado no tubbing, hoje.
Estou todo partido: já tentei escrever qualquer coisa sobre o dia de hoje, umas considerações e opiniões sobre o tubbing... já dei voltas e reviravoltas a textos e palavras - mas estou sem energias para mais que este curto post, hoje.
Amanhã conversamos.
Boa noite, bom descanso, vou ali cair redondo na cama e já volto ;)
Estou todo partido: já tentei escrever qualquer coisa sobre o dia de hoje, umas considerações e opiniões sobre o tubbing... já dei voltas e reviravoltas a textos e palavras - mas estou sem energias para mais que este curto post, hoje.
Amanhã conversamos.
Boa noite, bom descanso, vou ali cair redondo na cama e já volto ;)
SABAIDEE, VANG VIENG!
Bom dia, Laos! Sabaidee!
Daqui a nada saímos para o tubbing, e quem sabe um passeio de bicicleta à tarde... este ritmo sabe tãããão bem, depois de duas semanas a correr!
Daqui a nada saímos para o tubbing, e quem sabe um passeio de bicicleta à tarde... este ritmo sabe tãããão bem, depois de duas semanas a correr!
22/11/2013
MAIS DUAS PARA A COLECÇÃO
Uma das coisas boas de levar um guia local nas visitas a Angkor é que, por muito que se saiba disto-e-daquilo, há sempre pormenores novos a descobrir, teorias que contradizem verdades adquiridas, outros pontos de vista.
Nesta volta, por exemplo, o Lekh mostrou-me umas apsaras "novas". Uma segura um espelho (já tinha visto outra parecida no Preah Khan, mas nunca em Angkor Wat) e há ainda duas que não vestem saias, mas uns calções curtinhos... chamam-nas de "sexy apsaras" ;)
Aqui ficam as fotos:
Já agora: para quem não se lembra o que são apsaras, façam o favor de rever a lição neste post :)
Nesta volta, por exemplo, o Lekh mostrou-me umas apsaras "novas". Uma segura um espelho (já tinha visto outra parecida no Preah Khan, mas nunca em Angkor Wat) e há ainda duas que não vestem saias, mas uns calções curtinhos... chamam-nas de "sexy apsaras" ;)
Aqui ficam as fotos:
Já agora: para quem não se lembra o que são apsaras, façam o favor de rever a lição neste post :)
UMA HOMENAGEM AO MELHOR JOGADOR DE FUTEBOL DO MUND
Não é novidade para ninguém: a nossa Selecção está (finalmente) apurada para a fase final do Mundial no Brasil. Foi até à última, sempre a sofrer, a fazer contas - arrisco-me a dizer que "como de costume". Enfim.
Considerações à parte: parabéns aos jogadores, aos técnicos, a todos cujo trabalho permitiu esta breve alegria. A vida felizmemente não são só crises e telejornais. A vida é os futebóis, também. E as viagens. E tantas outras coisas que nos preenchem, que nos provocam sorrisos e lágrimas, arrepios e suspiros, invejas e orgulho, raiva, medo, ansiedade, felicidade. Tudo são emoções. Tudo é aventura.
E cá estou a divagar. Damn it! Concentra-te, Jorge!
O herói da semana é o CR7, sem dúvida. Goste-se ou não, este senhor é um fenómeno. E é um embaixador universal - onde quer que se vá, Portugal rima com Ronaldo. E com um sorriso a acompanhar. Esta semana, ainda mais.
Hoje, por exemplo. Cheguei ao hotel de Vang Vieng e havia um recepcionista novo, que não me conhecia. Perguntou-me de que país era, e à resposta que se sabe respondeu pelo apelido do Cristiano. E depois acrescentou:
"You won to Sweden. You go to World Cup. Ibra stay home."
Pelo que li nos últimos dois dias, parece-me que a imprensa internacionalestá, de certa forma, a fazer as pazes com o CR7. Finalmente rendidos Às evidências, apontam-no como grande favorito à Bola D'Ouro. Ele diz que não está obcecado com isso. Até o Messi o veio elogiar!
Assim sendo, aproveito a onda para entrar no circo ;) e decidi adaptar a rubrica "Cristianos Ronaldos", que venho actualizando há alguns anos aqui no blog, para um álbum no facebook. Uma coisa não anula a outra, por isso vou continuar a partilhar aqui as fotos dos CR7s que vou encontrando pelo mundo fora. Mas agora faço o mesmo no facebook. É dar uma espreitadela ao perfil, a ver se gostam ;)
Considerações à parte: parabéns aos jogadores, aos técnicos, a todos cujo trabalho permitiu esta breve alegria. A vida felizmemente não são só crises e telejornais. A vida é os futebóis, também. E as viagens. E tantas outras coisas que nos preenchem, que nos provocam sorrisos e lágrimas, arrepios e suspiros, invejas e orgulho, raiva, medo, ansiedade, felicidade. Tudo são emoções. Tudo é aventura.
E cá estou a divagar. Damn it! Concentra-te, Jorge!
O herói da semana é o CR7, sem dúvida. Goste-se ou não, este senhor é um fenómeno. E é um embaixador universal - onde quer que se vá, Portugal rima com Ronaldo. E com um sorriso a acompanhar. Esta semana, ainda mais.
Hoje, por exemplo. Cheguei ao hotel de Vang Vieng e havia um recepcionista novo, que não me conhecia. Perguntou-me de que país era, e à resposta que se sabe respondeu pelo apelido do Cristiano. E depois acrescentou:
"You won to Sweden. You go to World Cup. Ibra stay home."
Pelo que li nos últimos dois dias, parece-me que a imprensa internacionalestá, de certa forma, a fazer as pazes com o CR7. Finalmente rendidos Às evidências, apontam-no como grande favorito à Bola D'Ouro. Ele diz que não está obcecado com isso. Até o Messi o veio elogiar!
Assim sendo, aproveito a onda para entrar no circo ;) e decidi adaptar a rubrica "Cristianos Ronaldos", que venho actualizando há alguns anos aqui no blog, para um álbum no facebook. Uma coisa não anula a outra, por isso vou continuar a partilhar aqui as fotos dos CR7s que vou encontrando pelo mundo fora. Mas agora faço o mesmo no facebook. É dar uma espreitadela ao perfil, a ver se gostam ;)
PASSA A CORRER
E de repente passou uma semana desde o último post "a sério". Estava com o grupo em Saigão, tínhamos ido sair à noite, voltámos bonitos. Muito "bonitos".
E como diz um tio meu: noites alegres, manhãs tristes.
Assim se resume o dia seguinte, passado quase todo num autocarro que nos levou de Saigão a Phnom Penh. A ressacar a festa no Apocalypse Now. Chegámos à capital do Cambodja ao princípio da noite - nós e uma tempestade de relâmpagos e trovoada e chuva. Jantámos e deitámo-nos cedo: é o que dá. É o que dá.
Desde esse último post, ainda no Vietname, passámos já pelo Cambodja e Tailândia - e aqui estamos, na recta final da Indochina, para uma semana boa no Laos.
No primeiro dia no Cambodja ficámos a conhecer a tragédia humana que resultou do regime de terror dos Khmer Rouge, nos anos setenta. De manhã vimos o Museu do Genocídio e os Campos da Morte - e depois aligeirámos o ambiente com uma volta pelo Royal Palace e o Wat Phnom, a seguir ao almoço.
No dia seguinte fomos de minivan para Siem Reap - desta vez não havia barco, por causa do Water Festival - e a viagem que normalmente é uma "paz d'alma", infelizmente acabou por ser um verdadeiro teste à nossa paciência e resistência física. A estrada estava toda esburacada (consequência ainda das monções deste ano) e o condutor da nossa carrinha era provavelmente o mais lento de todo o Sudeste Asiático. Em vez das cinco que era suposto demorar a viagem... foram oito loooooongas horas de alcatrão e muitos buracos, travagens e lentas acelerações. Que grande seca!
O Batman (o meu driver em Siem Reap) ligava-me de meia em meia hora a pedir-me para eu apressar o condutor, mas pouco havia a fazer. Por sorte - e apesar do atraso - quando chegámos ainda tivemos tempo de ir dar uma volta de tuktuk. Em vez do habitual pôr-do-sol em Angkor, descemos uns vinte quilómetros ao longo da margem do Tonle Sap e enfiámo-nos num barco, lentamente lago adentro. Passámos por uma aldeia "flutuante" e fomos dar a uma plataforma de madeira contruída na água, ainda inacabada, onde nos sentámos a assistir ao pôr-do-sol. Que maravilhoso final de dia.
E depois foi o de sempre: Angkor!
Angkor com ponto de exclamação, claro. Angkor Wat e Angkor Thom, o Bayon e o Terraço dos Elefantes, Preah Khan antes do almoço e Ta Prohm para acabar. Foi mais um dia intenso, entre ruínas e apsaras e histórias, que começou antes do sol nascer e só terminou muito depois de escurecer.
Depois do Cambodja veio a Tailândia: a viagem desta vez foi rápida, apesar de começar com emoções fortes. Como de costume, de manhã apareceu à porta do hotel uma minivan para nos levar à fronteira. Até aqui, tudo normal. Mas o condutor vinha com cara de poucos amigos. Não respondeu quando lhe dei os bons dias, ficou sempre de trombas enquanto íamos arrumando as mochilas na bagageira. Da minha parte e do grupo só sorrisos, vamos lá embora, vamos para Bangkok, ainda por cima uma das "miúdas" fazia anos e o ambiente era de festa. Mas o senhor não queria nada com festa. Sabe-se lá porquê começou a mandar vir com as bagagens, e depois Isto & Aquilo, e à primeira reposta menos simpática de uma pessoa do grupo, o senhor começou a tirar mochilas do carro. E recusou-se a levar-nos.
Muito sinceramente: foi melhor assim.
Todos concordámos que ser conduzidos por uma pessoa naquele estado de espírito era pior do que esperar um pouco por nova carrinha. Liguei então para o meu contacto, fiz-lhe as "queixinhas" que havia a fazer e quinze minutos depois tínhamos nova minivan à porta. Era mais espaçosa que a primeira, mais confortável... e o driver, todo sorrisos!
Não há passos atrás.
A partir daqui foi sempre a sorrir. A fronteira estava quase vazia, apanhámos algum trânsito à entrada de Bangkok mas nada de especial. Chegámos a boas horas. Deu para fazer compras, massagens, descansar. Eu corri meia-cidade para encontrar o melhor bolo de anos mas vinguei-me num jantar maravilhoso de beef masaman, tom yam, pad thai, tom kha gai e uma galinha com hot basil leaves. No final cantámos os parabéns e mimámos a Conceição - e depois fomos ver um espectáculo de variedades desenvolvido a partir de um desporto olímpico muito famoso na Ásia.
;)
Cá estamos, portanto. Depois de um dia a passear por Bangkok (Chao Phraya, Palácio Real, Wat Pho e mercados) metemo-nos no night train para Nong Khai - a fronteira da Tailândia com o Laos. Hoje de manhã atravessámos o Mekong e viemos directos para Vang Vieng, sem parar na capital, e chegámos com tempo suficiente para dar as primeiras voltas, relaxar, sentir a pacata energia que este país emana.
Uma semana. Passa a correr.
Agora é tempo de baixar o ritmo.
De recuperar energias. E de pôr em dia uma série de conteúdos aqui no blog - e no facebook.
A começar com o Cristiano Ronaldo, o herói da semana. Até já! ;)
E como diz um tio meu: noites alegres, manhãs tristes.
Assim se resume o dia seguinte, passado quase todo num autocarro que nos levou de Saigão a Phnom Penh. A ressacar a festa no Apocalypse Now. Chegámos à capital do Cambodja ao princípio da noite - nós e uma tempestade de relâmpagos e trovoada e chuva. Jantámos e deitámo-nos cedo: é o que dá. É o que dá.
Desde esse último post, ainda no Vietname, passámos já pelo Cambodja e Tailândia - e aqui estamos, na recta final da Indochina, para uma semana boa no Laos.
No primeiro dia no Cambodja ficámos a conhecer a tragédia humana que resultou do regime de terror dos Khmer Rouge, nos anos setenta. De manhã vimos o Museu do Genocídio e os Campos da Morte - e depois aligeirámos o ambiente com uma volta pelo Royal Palace e o Wat Phnom, a seguir ao almoço.
No dia seguinte fomos de minivan para Siem Reap - desta vez não havia barco, por causa do Water Festival - e a viagem que normalmente é uma "paz d'alma", infelizmente acabou por ser um verdadeiro teste à nossa paciência e resistência física. A estrada estava toda esburacada (consequência ainda das monções deste ano) e o condutor da nossa carrinha era provavelmente o mais lento de todo o Sudeste Asiático. Em vez das cinco que era suposto demorar a viagem... foram oito loooooongas horas de alcatrão e muitos buracos, travagens e lentas acelerações. Que grande seca!
O Batman (o meu driver em Siem Reap) ligava-me de meia em meia hora a pedir-me para eu apressar o condutor, mas pouco havia a fazer. Por sorte - e apesar do atraso - quando chegámos ainda tivemos tempo de ir dar uma volta de tuktuk. Em vez do habitual pôr-do-sol em Angkor, descemos uns vinte quilómetros ao longo da margem do Tonle Sap e enfiámo-nos num barco, lentamente lago adentro. Passámos por uma aldeia "flutuante" e fomos dar a uma plataforma de madeira contruída na água, ainda inacabada, onde nos sentámos a assistir ao pôr-do-sol. Que maravilhoso final de dia.
E depois foi o de sempre: Angkor!
Angkor com ponto de exclamação, claro. Angkor Wat e Angkor Thom, o Bayon e o Terraço dos Elefantes, Preah Khan antes do almoço e Ta Prohm para acabar. Foi mais um dia intenso, entre ruínas e apsaras e histórias, que começou antes do sol nascer e só terminou muito depois de escurecer.
Depois do Cambodja veio a Tailândia: a viagem desta vez foi rápida, apesar de começar com emoções fortes. Como de costume, de manhã apareceu à porta do hotel uma minivan para nos levar à fronteira. Até aqui, tudo normal. Mas o condutor vinha com cara de poucos amigos. Não respondeu quando lhe dei os bons dias, ficou sempre de trombas enquanto íamos arrumando as mochilas na bagageira. Da minha parte e do grupo só sorrisos, vamos lá embora, vamos para Bangkok, ainda por cima uma das "miúdas" fazia anos e o ambiente era de festa. Mas o senhor não queria nada com festa. Sabe-se lá porquê começou a mandar vir com as bagagens, e depois Isto & Aquilo, e à primeira reposta menos simpática de uma pessoa do grupo, o senhor começou a tirar mochilas do carro. E recusou-se a levar-nos.
Muito sinceramente: foi melhor assim.
Todos concordámos que ser conduzidos por uma pessoa naquele estado de espírito era pior do que esperar um pouco por nova carrinha. Liguei então para o meu contacto, fiz-lhe as "queixinhas" que havia a fazer e quinze minutos depois tínhamos nova minivan à porta. Era mais espaçosa que a primeira, mais confortável... e o driver, todo sorrisos!
Não há passos atrás.
A partir daqui foi sempre a sorrir. A fronteira estava quase vazia, apanhámos algum trânsito à entrada de Bangkok mas nada de especial. Chegámos a boas horas. Deu para fazer compras, massagens, descansar. Eu corri meia-cidade para encontrar o melhor bolo de anos mas vinguei-me num jantar maravilhoso de beef masaman, tom yam, pad thai, tom kha gai e uma galinha com hot basil leaves. No final cantámos os parabéns e mimámos a Conceição - e depois fomos ver um espectáculo de variedades desenvolvido a partir de um desporto olímpico muito famoso na Ásia.
;)
Cá estamos, portanto. Depois de um dia a passear por Bangkok (Chao Phraya, Palácio Real, Wat Pho e mercados) metemo-nos no night train para Nong Khai - a fronteira da Tailândia com o Laos. Hoje de manhã atravessámos o Mekong e viemos directos para Vang Vieng, sem parar na capital, e chegámos com tempo suficiente para dar as primeiras voltas, relaxar, sentir a pacata energia que este país emana.
Uma semana. Passa a correr.
Agora é tempo de baixar o ritmo.
De recuperar energias. E de pôr em dia uma série de conteúdos aqui no blog - e no facebook.
A começar com o Cristiano Ronaldo, o herói da semana. Até já! ;)
21/11/2013
VOLTO JÁ
Tenho andado ocupado ora nas correrias da Indochina, ora a tentar recuperar das correrias da Indochina ;) daí não actualizar o blog nos últimos dias.
Depois de uma noite embalado pelos carris tailandeses, estou finalmente a chegar ao Laos, onde o ritmo de viagem vai acalmar. Prometo que venho aqui dar novidades.
Até já!
Depois de uma noite embalado pelos carris tailandeses, estou finalmente a chegar ao Laos, onde o ritmo de viagem vai acalmar. Prometo que venho aqui dar novidades.
Até já!
16/11/2013
E DE REPENTE... ;)
Ontem jantámos num dos meus restaurantes preferidos de Saigão: chama-se 3T e serve um barbeque vietnamita... de chorar. Fica no rooftop de um prédio de três andares e está sempre cheio. As mesas têm por baixo uma bilha de gás, no centro uma grelha e a carne é servida crua, mas temperada - e cada um cozinha a seu gosto.
Pedimos rolinhos de vaca com queijo e cebola, bifinhos de veado com cinco especiarias, javali com erva-príncipe e chilli... e como depois disto tudo ainda nos apetecia mais qualquer coisinha, uns bifinhos de vaca pincelados com mel. Que delícia - tanto que nem me lembrei de tirar uma foto. Enfim.
Mas o propósito maior deste post nem sequer o jantar. É o "depois".
Já a rebolar pela rua, e com um cheiro impregnado na roupa pouco indicado a quem queira causar boa impressão na noite: resolvemos ir dar um pézinho de dança. Cinco resistentes e eu: a andar pelas ruas da mítica Saigão, na direcção contrária do hotel e das ruas recheadas de bares de meninas, onde rapazes passam de bicicleta a chocalhar umas caricas, a anunciar massagens. Fomos na direcção de uma das discotecas mais conhecidas de Saigão: o Apocalypse Now.
O Apocalypse Now não é propriamente uma novidade, para mim. Mas quando entrámos estava tão calmo, que quase duvidei se estava no sítio certo. A disposição das salas tinha mudado ligeiramente, havia mesas vazias com garrafas de vodka gigantes, iluminadas, e papelinhos a dizer "reserved". Gente a jogar snooker, algumas pessoas a circular... mas calminho, a música nem sequer era do DJ, mas de qualquer coisa que se passava lá fora. Decidi espreitar.
No pátio das traseiras havia um palco montado, onde um homem de fato e microfone anunciava qualquer coisa. Estava cheio de gente a beber e a comer, empregados a andar de um lado para o outro... private party, disse-me o porteiro ao barrar-me a entrada. Members only.
Entretanto apareceram umas modelos e o palco transformou-se em passerelle, com uma música género Enigma, só faltava uns suspiros sensuais a acompanhar... as pessoas bateram palmas e o apresentador regressou ao palco, histérico... que pontaria... que noite para vir aqui.
Pedimos umas cervejas e pagámo-las com os últimos dong. Já só tínhamos dólares, a partir daí - e apesar de os aceitarem para pagar mais bebidas, percebemos que não íamos muito mais longe no que respeita a beber. Encostámo-nos a uma mesa junto ao snooker. Nas televisões passavam as imagens da festa lá fora, e a música era a mesma da festa. E quando tudo parava para o apresentador falar, era as suas palavras que ouvíamos. Que seca.
Já só me queria ir embora. E tinha "vendido" o Apocalypse Now como sendo "um sítio fixe".
"Está a ser muito divertida, esta noite no Bingo", disse enquanto o homem do microfone anunciava números de cartões, que seriam os vencedores disto e daquilo.
E eis que de repente...
Uma das raparigas sentadas na mesa ao nosso lado tinha um prato com comida, não percebi muito bem como mas o prato acabou por vir para a nossa mesa. Sorrisos e agradecimentos, entretanto a vietnamita meteu conversa com a Conceição - e qual não foi a minha surpresa quando esta se vira para nós e diz:
"Acho que ela nos consegue pôr na festa."
Dito e feito: a vietnamita levantou-se e levou a Conceição pela mão, para uma porta a um canto, que também dava acesso à festa. Vi-as falar com um segurança e desaparecer por instantes... e pouco depois olharam para nós e fizeram-nos sinal para avançar.
"Temos comida à borla", comentou uma das raparigas.
Mas eu olhei para o Nuno e trocámos um sorriso perigoso:
"Temos é bar aberto!"
E de repente!
Ahah. Assim de repente, do nada: o que parecia que ia ser uma noite de seca transformou-se numa festa muuuuuuito divertida. Nem sei bem como descrever. Só sei que na "nossa mesa" junto ao palco havia uma garrafa de vodka por abrir - bebemo-la, pois claro. Arranjámos um copo nesta mesa e outro noutra, gelo ao balcão, coca-cola noutra mesa... e bebemos. Bebemos. Bebemos. à ganância, parecíamos miúdos adolescentes, só porque era "à borla".
Quando a pista abriu já estávamos bem avançados - e apesar de estar a sala cheia, conseguimos um cantinho onde dançar. Só rir. Quem diria. Do bingo ao bar aberto foi um instante, um momento, um "de repente" que mudou tudo. Que bela noite.
Não voltámos muito tarde: mas voltámos felizes.
O pior foi hoje de manhã ;)
Pedimos rolinhos de vaca com queijo e cebola, bifinhos de veado com cinco especiarias, javali com erva-príncipe e chilli... e como depois disto tudo ainda nos apetecia mais qualquer coisinha, uns bifinhos de vaca pincelados com mel. Que delícia - tanto que nem me lembrei de tirar uma foto. Enfim.
Mas o propósito maior deste post nem sequer o jantar. É o "depois".
Já a rebolar pela rua, e com um cheiro impregnado na roupa pouco indicado a quem queira causar boa impressão na noite: resolvemos ir dar um pézinho de dança. Cinco resistentes e eu: a andar pelas ruas da mítica Saigão, na direcção contrária do hotel e das ruas recheadas de bares de meninas, onde rapazes passam de bicicleta a chocalhar umas caricas, a anunciar massagens. Fomos na direcção de uma das discotecas mais conhecidas de Saigão: o Apocalypse Now.
O Apocalypse Now não é propriamente uma novidade, para mim. Mas quando entrámos estava tão calmo, que quase duvidei se estava no sítio certo. A disposição das salas tinha mudado ligeiramente, havia mesas vazias com garrafas de vodka gigantes, iluminadas, e papelinhos a dizer "reserved". Gente a jogar snooker, algumas pessoas a circular... mas calminho, a música nem sequer era do DJ, mas de qualquer coisa que se passava lá fora. Decidi espreitar.
No pátio das traseiras havia um palco montado, onde um homem de fato e microfone anunciava qualquer coisa. Estava cheio de gente a beber e a comer, empregados a andar de um lado para o outro... private party, disse-me o porteiro ao barrar-me a entrada. Members only.
Entretanto apareceram umas modelos e o palco transformou-se em passerelle, com uma música género Enigma, só faltava uns suspiros sensuais a acompanhar... as pessoas bateram palmas e o apresentador regressou ao palco, histérico... que pontaria... que noite para vir aqui.
Pedimos umas cervejas e pagámo-las com os últimos dong. Já só tínhamos dólares, a partir daí - e apesar de os aceitarem para pagar mais bebidas, percebemos que não íamos muito mais longe no que respeita a beber. Encostámo-nos a uma mesa junto ao snooker. Nas televisões passavam as imagens da festa lá fora, e a música era a mesma da festa. E quando tudo parava para o apresentador falar, era as suas palavras que ouvíamos. Que seca.
Já só me queria ir embora. E tinha "vendido" o Apocalypse Now como sendo "um sítio fixe".
"Está a ser muito divertida, esta noite no Bingo", disse enquanto o homem do microfone anunciava números de cartões, que seriam os vencedores disto e daquilo.
E eis que de repente...
Uma das raparigas sentadas na mesa ao nosso lado tinha um prato com comida, não percebi muito bem como mas o prato acabou por vir para a nossa mesa. Sorrisos e agradecimentos, entretanto a vietnamita meteu conversa com a Conceição - e qual não foi a minha surpresa quando esta se vira para nós e diz:
"Acho que ela nos consegue pôr na festa."
Dito e feito: a vietnamita levantou-se e levou a Conceição pela mão, para uma porta a um canto, que também dava acesso à festa. Vi-as falar com um segurança e desaparecer por instantes... e pouco depois olharam para nós e fizeram-nos sinal para avançar.
"Temos comida à borla", comentou uma das raparigas.
Mas eu olhei para o Nuno e trocámos um sorriso perigoso:
"Temos é bar aberto!"
E de repente!
Ahah. Assim de repente, do nada: o que parecia que ia ser uma noite de seca transformou-se numa festa muuuuuuito divertida. Nem sei bem como descrever. Só sei que na "nossa mesa" junto ao palco havia uma garrafa de vodka por abrir - bebemo-la, pois claro. Arranjámos um copo nesta mesa e outro noutra, gelo ao balcão, coca-cola noutra mesa... e bebemos. Bebemos. Bebemos. à ganância, parecíamos miúdos adolescentes, só porque era "à borla".
Quando a pista abriu já estávamos bem avançados - e apesar de estar a sala cheia, conseguimos um cantinho onde dançar. Só rir. Quem diria. Do bingo ao bar aberto foi um instante, um momento, um "de repente" que mudou tudo. Que bela noite.
Não voltámos muito tarde: mas voltámos felizes.
O pior foi hoje de manhã ;)
PRIMEIRO ROUND PARA CR7
Por todo o mundo, os jornais de hoje destacam o papel decisivo do capitão da selecção, no jogo de ontem. Eis algumas manchetes, que "saquei" de uma notícia d'A Bola:
«El Comandante, ao serviço do seu país» – Marca
«Cristiano Ronaldo, golo de ouro» – as
«Primeiro round para CR7» – Mundo Deportivo
«Ninguém consegue parar Ronaldo» – El Mundo
«Ronaldo garante vantagem de Portugal» – BBC
«Cabeça de Ronaldo assegura vantagem escassa» – Express
«Cabeceamento de Ronaldo deitou Suécia abaixo» – Aftonbladet
«Cabeçada de Ronaldo coloca Portugal mais perto do Brasil» – Eurosport
«Ronaldo coloca Portugal no caminho certo» – Sport24
«Ronaldo marca, Ibra flop e Portugal agora acredita» – Gazzetta dello Sport
«Ronaldo bate Ibra» – Corriero dello Sport
«CR7 decide e Portugal sai na frente da Suécia em Lisboa» – Lancenet
«De cabeça, Ronaldo» – Ole
«Em duelo de craques por agora ganha Ronaldo» – Clarín
«Quem manda... Ronaldo crava vitória de Portugal sobre a Suécia» – Estadão
«Ronaldo torna-o realidade» De Telegraaf
Já no Vietname, o título de uma das notícias sobre a vitória de ontem é:
"Ronaldo salva Portugal"
«El Comandante, ao serviço do seu país» – Marca
«Cristiano Ronaldo, golo de ouro» – as
«Primeiro round para CR7» – Mundo Deportivo
«Ninguém consegue parar Ronaldo» – El Mundo
«Ronaldo garante vantagem de Portugal» – BBC
«Cabeça de Ronaldo assegura vantagem escassa» – Express
«Cabeceamento de Ronaldo deitou Suécia abaixo» – Aftonbladet
«Cabeçada de Ronaldo coloca Portugal mais perto do Brasil» – Eurosport
«Ronaldo coloca Portugal no caminho certo» – Sport24
«Ronaldo marca, Ibra flop e Portugal agora acredita» – Gazzetta dello Sport
«Ronaldo bate Ibra» – Corriero dello Sport
«CR7 decide e Portugal sai na frente da Suécia em Lisboa» – Lancenet
«De cabeça, Ronaldo» – Ole
«Em duelo de craques por agora ganha Ronaldo» – Clarín
«Quem manda... Ronaldo crava vitória de Portugal sobre a Suécia» – Estadão
«Ronaldo torna-o realidade» De Telegraaf
Já no Vietname, o título de uma das notícias sobre a vitória de ontem é:
"Ronaldo salva Portugal"
15/11/2013
SABIA QUE...#17
...o comboio conhecido por "Reunification Express", que faz a ligação entre Hànôi e Saigão, não se chama "Reunification Express".
É só uma alcunha que "pegou".
A linha Norte-Sul foi inaugurada pelos franceses em 1936, depois de quase quarenta anos em construção. O primeiro serviço chamava-se Transindochinois e demorava cerca de sessenta horas (dois dias e três noites!) para cumprir os 1.726km entre as duas grandes cidades do país.
Hoje em dia são cerca de 30 horas, de uma ponta à outra. A linha tem um total de 191 estações, mais de 1.300 pontes e 3.650 passagens de nível.
No decorrer da Segunda Guerra Mundial, os japoneses usaram extensivamente a linha - e, como consequência, os Viet Minh sabotaram-na vezes sem conta... e os americanos, quem mais: bombardearam-na. Depois de terminada a guerra, fez-se um esforço enorme em recuperar a linha. Mas pouco tempo depois começou a Primeira Guerra da Indochina, e as sabotagens continuaram - desta vez contra os franceses, que chegaram a inaugurar o "comboio-armadura" La Rafale, o que incentivou ainda mais reacções. Os vietnamitas chegaram a roubar os próprios carris, ao ponto de contruirem uma linha alternativa com 300km!
Durante a chamada "Guerra do Vietname", que aqui tem o nome lógico de "Guerra Americana", os viet cong mantiveram os ataques à parte sul da linha, que entretanto fora recuperada pelos americanos. Só entre 1961 2 1964, houve um total de 795 ataques aos 1.000km de linha ocupada pelos estrangeiros.
Quanto à parte Norte: aqui atacavam os americanos. E de uma forma mais cirúrgica. Os bombardeamentos concentravam-se em pontes, túneis e passagens estratégicas a norte de Hanói. A operação Rolling Thunder, por exemplo, foi o primeiro bombardeamento de larga escala da Força Aérea Americana, que se prolongou de 2 de Março de 2965 até 1 de Novembro de 1968. Só na ponte Thanh Hoa, considerada um dos pontos de maior interesse estratégico na guerra, foram largadas 239 toneladas de bombas.
Depois da Reunificação do Vietname, em 30 de Abril de 1975, a linha entrou imediatamente em obras. Em ano e meio foi recuperadas e reconstruídas mais de mil pontes, vinte e sete túneis, 158 estações. Algumas linhas secundárias foram desmanteladas, de maneira a fornecer material para a reconstrução da linha Norte-Sul - e no dia 31 de Dezembro de 1976, a linha foi re-inaugurada com pompa e circunstância, como símbolo de unidade do país... e quase automaticamente, o serviço entre Hanói e Saigão foi apelidado de "Reunification Express".
O nome "pegou". E apesar de não haver nomes oficiais para os comboios on Vietname, toda a gente o conhece assim.
Ontem cumprimos 1.038km que ligam a cidade de Hué à estação final: Saigão. Foram vinte horas sobre carris, como é hábito na viagem da Indochina. Muita conversa, petiscos improvisados, música e algumas horas de sono. E cá estamos, em Saigão, hoje foi um dia chuvoso e cinzento, mas a meteorologia não nos deteve e fartámo-nos de passear, ora a pé, de carro ou de mota. Acabámos a tarde na esplanada do Hotel Rex, onde ficavam os correspondentes de guerra durante os anos sessenta, e bebemos um mojito com gengibre. Que maravilha. Daqui a pouco vamos jantar... e dar um pezinho de dança, que é sexta-feira e estamos em Saigão ;)
É só uma alcunha que "pegou".
A linha Norte-Sul foi inaugurada pelos franceses em 1936, depois de quase quarenta anos em construção. O primeiro serviço chamava-se Transindochinois e demorava cerca de sessenta horas (dois dias e três noites!) para cumprir os 1.726km entre as duas grandes cidades do país.
Hoje em dia são cerca de 30 horas, de uma ponta à outra. A linha tem um total de 191 estações, mais de 1.300 pontes e 3.650 passagens de nível.
No decorrer da Segunda Guerra Mundial, os japoneses usaram extensivamente a linha - e, como consequência, os Viet Minh sabotaram-na vezes sem conta... e os americanos, quem mais: bombardearam-na. Depois de terminada a guerra, fez-se um esforço enorme em recuperar a linha. Mas pouco tempo depois começou a Primeira Guerra da Indochina, e as sabotagens continuaram - desta vez contra os franceses, que chegaram a inaugurar o "comboio-armadura" La Rafale, o que incentivou ainda mais reacções. Os vietnamitas chegaram a roubar os próprios carris, ao ponto de contruirem uma linha alternativa com 300km!
Durante a chamada "Guerra do Vietname", que aqui tem o nome lógico de "Guerra Americana", os viet cong mantiveram os ataques à parte sul da linha, que entretanto fora recuperada pelos americanos. Só entre 1961 2 1964, houve um total de 795 ataques aos 1.000km de linha ocupada pelos estrangeiros.
Quanto à parte Norte: aqui atacavam os americanos. E de uma forma mais cirúrgica. Os bombardeamentos concentravam-se em pontes, túneis e passagens estratégicas a norte de Hanói. A operação Rolling Thunder, por exemplo, foi o primeiro bombardeamento de larga escala da Força Aérea Americana, que se prolongou de 2 de Março de 2965 até 1 de Novembro de 1968. Só na ponte Thanh Hoa, considerada um dos pontos de maior interesse estratégico na guerra, foram largadas 239 toneladas de bombas.
Depois da Reunificação do Vietname, em 30 de Abril de 1975, a linha entrou imediatamente em obras. Em ano e meio foi recuperadas e reconstruídas mais de mil pontes, vinte e sete túneis, 158 estações. Algumas linhas secundárias foram desmanteladas, de maneira a fornecer material para a reconstrução da linha Norte-Sul - e no dia 31 de Dezembro de 1976, a linha foi re-inaugurada com pompa e circunstância, como símbolo de unidade do país... e quase automaticamente, o serviço entre Hanói e Saigão foi apelidado de "Reunification Express".
O nome "pegou". E apesar de não haver nomes oficiais para os comboios on Vietname, toda a gente o conhece assim.
Ontem cumprimos 1.038km que ligam a cidade de Hué à estação final: Saigão. Foram vinte horas sobre carris, como é hábito na viagem da Indochina. Muita conversa, petiscos improvisados, música e algumas horas de sono. E cá estamos, em Saigão, hoje foi um dia chuvoso e cinzento, mas a meteorologia não nos deteve e fartámo-nos de passear, ora a pé, de carro ou de mota. Acabámos a tarde na esplanada do Hotel Rex, onde ficavam os correspondentes de guerra durante os anos sessenta, e bebemos um mojito com gengibre. Que maravilha. Daqui a pouco vamos jantar... e dar um pezinho de dança, que é sexta-feira e estamos em Saigão ;)
14/11/2013
VAMOS IRRITAR O RONALDO
Hoje encontrei no facebook uma campanha cujo objectivo é irritar o Cristiano Ronaldo. Diz a mesma que, quando provocado, o madeirense joga melhor. E como Portugal precisa de urgentemente de se qualificar para o Mundial - e para isso, convém sempre um CR7 inspirado - vamos lá então irritar o Ronaldo. Por Portugal.
Assim, e porque sei que o Cristiano é um fiel seguidor do FUI DAR UMA VOLTA, aqui vai a minha provocação:
Em Hué, antiga capital do Vietname, há um café cujo nome é inspirado naquele que, para muitos, é o melhor jogador de futebol do mundo.
Assim, e porque sei que o Cristiano é um fiel seguidor do FUI DAR UMA VOLTA, aqui vai a minha provocação:
Em Hué, antiga capital do Vietname, há um café cujo nome é inspirado naquele que, para muitos, é o melhor jogador de futebol do mundo.
FORÇA NAS CANETAS!
Diz o jornal que comprei, hoje no Vietname, que a Selecção joga amanhã com a Suécia.
Força, Ronaldo! Boa sorte, Portugal!
Força, Ronaldo! Boa sorte, Portugal!
13/11/2013
EM MOVIMENTO
Estamos em movimento, na Indochina.
Ontem de manhã deixámos Hànôi para trás, num mini-autocarro cheio de gente. Como de costume, demorou imenso tempo para arrancar. Estaciona aqui, marcha-atrás, manobras e estaciona ali. Assim durante meia hora. Não consigo entender a lógica, se a há. Nunca a entendi. Às vezes tenho a sorte de estar um autocarro já na rua, um autocarro com lugar para onze pessoas. Mas isso só acontece às vezes. E quando não acontece, lá vamos nós para o parque onde estão estacionados os autocarros, entramos naquele em que nos mandam entrar... e esperamos. Avança e recua, estaciona aqui e ali, deixa este passar, buzina e refila mil vezes, entra este, sai aquele. E quando finalmente saímos da estação, damos uma ou duas voltas ao quarteirão, em câmara lenta, a pisar ovos, a arrastar. Apanhamos mais algumas pessoas - e eventualmente vamos embora.
Só então ligo à Hoa, a senhora que me organiza o passeio de mota pelos arredores de Ninh Binh. Só então sei quando vou chegar. Combinamos horas, "encomendo" almoço, aí vamos nós. Bom dia, Vietname!
Desta vez chegámos pouco antes da uma. Comemos, guardámos as mochilas e lá fomos de mota, os onze e o mundo à nossa volta - primeiro para Trang An, onde fizemos um pacato passeio de barco de três horas, remando rodeados de uma paisagem linda, uma espécie de mini-Halong-Bay em terra, assim lhe chamam os guias. Bem ou mal, não me interessa. Tem tanto de verdadeiro como de falso. O facto é que é um passeio regenerador, que contrasta com a confusão de Hànôi, sabe tão bem o silêncio e a água, os kingfishers a voar baixinho, os patos que mergulham à nossa passagem, o som dos remos na água, e ao longe um templo. Atravessamos grutas cheias de estalactites a pingar sobre as nossas cabeças, surpreendemo-nos com a perícia das mulheres que remam, desviando-se das pedras e das estalactites, baixamos a cabeça quando tem mesmo de ser, quando o tecto é baixo demais. Está-se tão bem assim.
Depois voltamos às motas, passamos por aldeias e gente a dizer adeus, vamos até à gruta Mua - mas desta vez nem fomos à gruta propriamente dita, subimos apenas aos degraus que levam a um pequeno templo lá em cima, lá ao fundo, lá ao longe. Desta vez não subi. Acho que foi a primeira, em tantas edições da viagem. Fiquei a meio caminho - nem tanto! - à conversa com quem também quis ficar.
Anoitece em Ninh Binh.
Voltámos para o hotel, jantámos, refrescou-se quem se queria refrescar - e às oito e meia da noite apareceram os carros para nos levar à estação de comboios. Pouco mais de meia hora depois estávamos na plataforma a ver o comboio chegar, e mais uns minutos passados estávamos sobre carris, a descer Vietname afora, quase setecentos quilómetros até Hué, no centro do país... onde estamos agora, neste momento, a retemperar energias durante duas horas. Daqui a pouco saímos para a rua, mais uma vez de mota, mais uma vez de espírito aberto para apreender os estímulos, para ler a paisagem à nossa volta e retribuir sorrisos e cumprimentos.
Já conversamos, portanto. :)
Ontem de manhã deixámos Hànôi para trás, num mini-autocarro cheio de gente. Como de costume, demorou imenso tempo para arrancar. Estaciona aqui, marcha-atrás, manobras e estaciona ali. Assim durante meia hora. Não consigo entender a lógica, se a há. Nunca a entendi. Às vezes tenho a sorte de estar um autocarro já na rua, um autocarro com lugar para onze pessoas. Mas isso só acontece às vezes. E quando não acontece, lá vamos nós para o parque onde estão estacionados os autocarros, entramos naquele em que nos mandam entrar... e esperamos. Avança e recua, estaciona aqui e ali, deixa este passar, buzina e refila mil vezes, entra este, sai aquele. E quando finalmente saímos da estação, damos uma ou duas voltas ao quarteirão, em câmara lenta, a pisar ovos, a arrastar. Apanhamos mais algumas pessoas - e eventualmente vamos embora.
Só então ligo à Hoa, a senhora que me organiza o passeio de mota pelos arredores de Ninh Binh. Só então sei quando vou chegar. Combinamos horas, "encomendo" almoço, aí vamos nós. Bom dia, Vietname!
Desta vez chegámos pouco antes da uma. Comemos, guardámos as mochilas e lá fomos de mota, os onze e o mundo à nossa volta - primeiro para Trang An, onde fizemos um pacato passeio de barco de três horas, remando rodeados de uma paisagem linda, uma espécie de mini-Halong-Bay em terra, assim lhe chamam os guias. Bem ou mal, não me interessa. Tem tanto de verdadeiro como de falso. O facto é que é um passeio regenerador, que contrasta com a confusão de Hànôi, sabe tão bem o silêncio e a água, os kingfishers a voar baixinho, os patos que mergulham à nossa passagem, o som dos remos na água, e ao longe um templo. Atravessamos grutas cheias de estalactites a pingar sobre as nossas cabeças, surpreendemo-nos com a perícia das mulheres que remam, desviando-se das pedras e das estalactites, baixamos a cabeça quando tem mesmo de ser, quando o tecto é baixo demais. Está-se tão bem assim.
Depois voltamos às motas, passamos por aldeias e gente a dizer adeus, vamos até à gruta Mua - mas desta vez nem fomos à gruta propriamente dita, subimos apenas aos degraus que levam a um pequeno templo lá em cima, lá ao fundo, lá ao longe. Desta vez não subi. Acho que foi a primeira, em tantas edições da viagem. Fiquei a meio caminho - nem tanto! - à conversa com quem também quis ficar.
Anoitece em Ninh Binh.
Voltámos para o hotel, jantámos, refrescou-se quem se queria refrescar - e às oito e meia da noite apareceram os carros para nos levar à estação de comboios. Pouco mais de meia hora depois estávamos na plataforma a ver o comboio chegar, e mais uns minutos passados estávamos sobre carris, a descer Vietname afora, quase setecentos quilómetros até Hué, no centro do país... onde estamos agora, neste momento, a retemperar energias durante duas horas. Daqui a pouco saímos para a rua, mais uma vez de mota, mais uma vez de espírito aberto para apreender os estímulos, para ler a paisagem à nossa volta e retribuir sorrisos e cumprimentos.
Já conversamos, portanto. :)
12/11/2013
QUE TRAGÉDIA... :(
Ontem à noite recebi um mail do meu amigo Bunty, que entre outras coisas dizia o seguinte:
"Did you see about the Philippines? I am reading about it all the time. It's a pity. First there was Earthquake in Cebu city. Do you know the 15th century church we went... it has toppled? The St Nino one, with the cross of Fernao de Magalhaes. And now this typhoon killed so many people..."
O quê? Cebu? Cebu foi atingida pelo Haiyan?
Fui imediatamente procurar notícias e qual não foi a surpresa - o choque! - quando me apercebi que a ilha onde estive há pouco mais de um mês - Cebu - foi um dos lugares mais atingidos pelo tufão! Tão concentrado estava nos últimos dias com o grupo a chegar a Hanói, bem como com o próprio Haiyan, que ainda não tinha lido com atenção sobre pormenores do que se estava a passar nas Filipinas.
Estou sem palavras. Segundo um enviado da ONU no terreno, oitenta a noventa por cento da construção do norte de Cebu foi destruída. Não há ideias quanto a perdas humanas, ainda.
Não sei bem o que pensar sobre isto.
Quero dizer: a tragédia é inexplicável, sinto-me tão triste, revoltado e frustrado como qualquer outra pessoa. Mas o facto de ter estado naquele lugar há pouco mais de um mês, de ter trocado sorrisos e dois dedos de conversa com as pessoas na rua, nos mercados, na bomba de gasolina, nos restaurantes... é uma sensação estranha.
O que é feito das pessoas com quem me cruzei ao longo de uma semana na ilha? O que é feito da paisagem que dá cor às fotografias que tirei? Que sons e que cheiros pairam, em vez daqueles que eu conheci?
Não vou fazer copy/paste dos factos que li nas notícias, nem adaptá-los numa leitura "minha" do que está a acontecer. Acredito que aí em Portugal já deve estar bem explorado, o assunto. Eu é que só vejo-o-que-vejo na internet, sempre que posso. Ainda nem fotos vi - e para ser franco, não sei se quero ver.
Fala-se de pilhagens, destruição e desespero; leio projecções acerca de quantos mortos, mais não-sei-quantos desalojados, ajuda internacional a caminho, os lugares inacessíveis. Que tragédia. Que tragédia.
Logo neste país, onde o slogan usado até ao limite, em publicidade e souvenirs, e até nas conversas das pessoas na rua, é:
"It's more fun in the Philippines."
Parece-me tão macabro, à luz do que está a acontecer.
:(
"Did you see about the Philippines? I am reading about it all the time. It's a pity. First there was Earthquake in Cebu city. Do you know the 15th century church we went... it has toppled? The St Nino one, with the cross of Fernao de Magalhaes. And now this typhoon killed so many people..."
O quê? Cebu? Cebu foi atingida pelo Haiyan?
Fui imediatamente procurar notícias e qual não foi a surpresa - o choque! - quando me apercebi que a ilha onde estive há pouco mais de um mês - Cebu - foi um dos lugares mais atingidos pelo tufão! Tão concentrado estava nos últimos dias com o grupo a chegar a Hanói, bem como com o próprio Haiyan, que ainda não tinha lido com atenção sobre pormenores do que se estava a passar nas Filipinas.
Estou sem palavras. Segundo um enviado da ONU no terreno, oitenta a noventa por cento da construção do norte de Cebu foi destruída. Não há ideias quanto a perdas humanas, ainda.
Não sei bem o que pensar sobre isto.
Quero dizer: a tragédia é inexplicável, sinto-me tão triste, revoltado e frustrado como qualquer outra pessoa. Mas o facto de ter estado naquele lugar há pouco mais de um mês, de ter trocado sorrisos e dois dedos de conversa com as pessoas na rua, nos mercados, na bomba de gasolina, nos restaurantes... é uma sensação estranha.
O que é feito das pessoas com quem me cruzei ao longo de uma semana na ilha? O que é feito da paisagem que dá cor às fotografias que tirei? Que sons e que cheiros pairam, em vez daqueles que eu conheci?
Não vou fazer copy/paste dos factos que li nas notícias, nem adaptá-los numa leitura "minha" do que está a acontecer. Acredito que aí em Portugal já deve estar bem explorado, o assunto. Eu é que só vejo-o-que-vejo na internet, sempre que posso. Ainda nem fotos vi - e para ser franco, não sei se quero ver.
Fala-se de pilhagens, destruição e desespero; leio projecções acerca de quantos mortos, mais não-sei-quantos desalojados, ajuda internacional a caminho, os lugares inacessíveis. Que tragédia. Que tragédia.
Logo neste país, onde o slogan usado até ao limite, em publicidade e souvenirs, e até nas conversas das pessoas na rua, é:
"It's more fun in the Philippines."
Parece-me tão macabro, à luz do que está a acontecer.
:(
ATÉ JÁ, HÀNÔI
Não apetece nada ir embora... e, ao mesmo tempo, estou ansioso por refazer as pisadas do costume, sudeste asiático fora, de Hànôi a Luang Prabang. Vão ser mais duas semanas sempre em movimento, quatro países ao todo, tantas experiências e partilha.
Vai ser bom rever os amigos desta aventura: o Batman em Siem Reap e o Xay em Luang Prabang, a Lyly em Saigão e o gang de Hué... vai ser giro. Apetece.
E depois da volta completa, fico uns dias em Luang Prabang... e a seguir volto para cá.
Vai ser bom rever os amigos desta aventura: o Batman em Siem Reap e o Xay em Luang Prabang, a Lyly em Saigão e o gang de Hué... vai ser giro. Apetece.
E depois da volta completa, fico uns dias em Luang Prabang... e a seguir volto para cá.
11/11/2013
LEMBRANDO O MIRINAE
Todo este stress com o tufão Haiyan fez-me reviver uma aventura inesquecível que aconteceu há exactamente quatro anos, com o primeiro grupo que acompanhei numa viagem pela Indochina.
Tínhamos apanhado o Reunification Express em Hué e teoricamente íamos passar vinte horas sobre carris até Saigão. Partimos de manhã (eu e oito pessoas) e a paisagem passou meio desfocada ao longo do dia, sempre com a chuva a bater com força nas janelas - até que escureceu.
E de repente: um safanão forte, uma travagem brusca, as luzes apagaram-se. Silêncio absoluto. Algo acontecera.
O vento projectava ramos de árvores e lixo, que chocavam contra a janela do nosso compartimento. Não se via nada lá para fora... só água e folhas a voar no escuro.
"Acho que o comboio descarrilou", disse uma das raparigas do grupo.
Resumindo: tínhamos sido atingidos pelo furacão Mirinae. Categoria 1, mas fortíssimo. Claro que não nos apercebemos logo disso. Durante aquela noite, parados no meio da escuridão, pensávamos que era apenas uma tempestade. Alguém nos veio dizer que os carris estavam debaixo de água, que não era seguro o comboio avançar no escuro, que teríamos de esperar pela manhã seguinte. E na manhã seguinte disseram-nos que algures tinha caído uma ponte, e mais para a frente um aluimento de terras...
O comboio tinha recuado durante a noite, para uma zona mais alta. Parou junto a uma pequena aldeia e, quando saímos na manhã seguinte, havia gente numa pequena plataforma, rodeados de alguidares cheios de água. Eram para nós. Refrescámo-nos aí e fomos convidados a ir à aldeia comer. Não havia restaurante, mas alguém fez chegar umas sanduiches. Depois vieram os ovos cozidos... com fetos de pato lá dentro.
E isto foi só o princípio de uma descoberta mútua, entre nove estrangeiros e dezenas de locais. Durante o tempo que ali passámos, não tivemos outra hipótese senão esperar. Curiosos, miúdos e graúdos foram ganhando confiança, descobrindo formas de comunicar - a sério: não tenho palavras para descrever as sensações deste encontro, desta partilha, desta descoberta.
Passaram-se dois dias e duas noites. Sempre na promessa de "logo à tarde o comboio arranca", e logo à tarde diziam "logo à noite", e logo à noite era "amanhã de manhã". Apanhámos bebedeiras de aguardente de arroz com os locais, ensinámos jogos às crianças, jogámos às bola e fizemos explorações a pé, na estrada, para avaliar os estragos. Os dentes lavavam-se nos alguidares que eram distribuídos, de manhã, na plataforma. E à noite, depois de copos e conversa, lá voltávamos ao nosso compartimento para dormir. E o comboio não mexeu um milímetro, durante todo este processo.
Aos poucos fomos percebendo que a tragédia era de dimensões bem maiores que um comboio avariado. Soubemos, por telefone, que tínhamos cruzado caminho com um tufão. Que estavamos isolados pela água, estradas cortadas, sabe-se lá mais o quê. Que havia cento e tal mortos a lamentar. Que provavelmente era melhor começar a planear algo, porque não podíamos ficar ali à espera que alguém nos viesse salvar.
Ao fim de dois dias e duas noites, por muito que nos apetecesse ficar e aproveitar ainda mais a irrepetível experiência humana que foi partilhar este acontecimento com as pessoas daquela aldeia... arranjei nove motas e nove drivers, e "evacuámo-nos".
Por rios de lama e estradas levadas pela enchurrada, por carris e cruzando caminho com equipas de televisão, gente a carregar mantimentos, o governo civil e o exército... saímos pelos nossos pés.
No momento em que deixávamos a aldeia para trás, ainda sem saber muito bem como processar tudo o que nos tinha sucedido, um enorme arco-iris apareceu no céu. Desatámos todos a rir, apetecia dizer tanto mas não foi preciso, aquele momento era nosso, para sempre nosso, algo que nenhum esqueceu até hoje.
Confesso que, escrever sobre esta experiência deixa-me novamente emocionado. Isto mexe com qualquer coisa. Há tanto mais para contar, há detalhes deliciosos, há risadas e ansiedade, há um descobrir lento daquilo que aconteceu. Uma inocência nas brincadeiras, na nossa postura ali, que só depois de sairmos é que perdemos. Há a frustração de largar uma coisa que só se dá verdadeiro valor depois. Há coisas difíceis de descrever, também. Ou de dar uma ordem lógica. Entre o sonho e o telejornal... aquilo que vivemos foi... único.
Fica uma primeira partilha, a propósito do que se passou esta semana - e espero um dia ter capacidade, disponibilidade e arte para conseguir escrever qualquer coisa de jeito, qualquer coisa que faça justiça ao que sentimos não só durante aqueles dois dias, mas na "ressaca" daqueles dois dias. Qualquer coisa que faça justiça à minha memória e à dos meus companheiros de viagem.
Tínhamos apanhado o Reunification Express em Hué e teoricamente íamos passar vinte horas sobre carris até Saigão. Partimos de manhã (eu e oito pessoas) e a paisagem passou meio desfocada ao longo do dia, sempre com a chuva a bater com força nas janelas - até que escureceu.
E de repente: um safanão forte, uma travagem brusca, as luzes apagaram-se. Silêncio absoluto. Algo acontecera.
O vento projectava ramos de árvores e lixo, que chocavam contra a janela do nosso compartimento. Não se via nada lá para fora... só água e folhas a voar no escuro.
"Acho que o comboio descarrilou", disse uma das raparigas do grupo.
Resumindo: tínhamos sido atingidos pelo furacão Mirinae. Categoria 1, mas fortíssimo. Claro que não nos apercebemos logo disso. Durante aquela noite, parados no meio da escuridão, pensávamos que era apenas uma tempestade. Alguém nos veio dizer que os carris estavam debaixo de água, que não era seguro o comboio avançar no escuro, que teríamos de esperar pela manhã seguinte. E na manhã seguinte disseram-nos que algures tinha caído uma ponte, e mais para a frente um aluimento de terras...
O comboio tinha recuado durante a noite, para uma zona mais alta. Parou junto a uma pequena aldeia e, quando saímos na manhã seguinte, havia gente numa pequena plataforma, rodeados de alguidares cheios de água. Eram para nós. Refrescámo-nos aí e fomos convidados a ir à aldeia comer. Não havia restaurante, mas alguém fez chegar umas sanduiches. Depois vieram os ovos cozidos... com fetos de pato lá dentro.
E isto foi só o princípio de uma descoberta mútua, entre nove estrangeiros e dezenas de locais. Durante o tempo que ali passámos, não tivemos outra hipótese senão esperar. Curiosos, miúdos e graúdos foram ganhando confiança, descobrindo formas de comunicar - a sério: não tenho palavras para descrever as sensações deste encontro, desta partilha, desta descoberta.
Passaram-se dois dias e duas noites. Sempre na promessa de "logo à tarde o comboio arranca", e logo à tarde diziam "logo à noite", e logo à noite era "amanhã de manhã". Apanhámos bebedeiras de aguardente de arroz com os locais, ensinámos jogos às crianças, jogámos às bola e fizemos explorações a pé, na estrada, para avaliar os estragos. Os dentes lavavam-se nos alguidares que eram distribuídos, de manhã, na plataforma. E à noite, depois de copos e conversa, lá voltávamos ao nosso compartimento para dormir. E o comboio não mexeu um milímetro, durante todo este processo.
Aos poucos fomos percebendo que a tragédia era de dimensões bem maiores que um comboio avariado. Soubemos, por telefone, que tínhamos cruzado caminho com um tufão. Que estavamos isolados pela água, estradas cortadas, sabe-se lá mais o quê. Que havia cento e tal mortos a lamentar. Que provavelmente era melhor começar a planear algo, porque não podíamos ficar ali à espera que alguém nos viesse salvar.
Ao fim de dois dias e duas noites, por muito que nos apetecesse ficar e aproveitar ainda mais a irrepetível experiência humana que foi partilhar este acontecimento com as pessoas daquela aldeia... arranjei nove motas e nove drivers, e "evacuámo-nos".
Por rios de lama e estradas levadas pela enchurrada, por carris e cruzando caminho com equipas de televisão, gente a carregar mantimentos, o governo civil e o exército... saímos pelos nossos pés.
No momento em que deixávamos a aldeia para trás, ainda sem saber muito bem como processar tudo o que nos tinha sucedido, um enorme arco-iris apareceu no céu. Desatámos todos a rir, apetecia dizer tanto mas não foi preciso, aquele momento era nosso, para sempre nosso, algo que nenhum esqueceu até hoje.
Confesso que, escrever sobre esta experiência deixa-me novamente emocionado. Isto mexe com qualquer coisa. Há tanto mais para contar, há detalhes deliciosos, há risadas e ansiedade, há um descobrir lento daquilo que aconteceu. Uma inocência nas brincadeiras, na nossa postura ali, que só depois de sairmos é que perdemos. Há a frustração de largar uma coisa que só se dá verdadeiro valor depois. Há coisas difíceis de descrever, também. Ou de dar uma ordem lógica. Entre o sonho e o telejornal... aquilo que vivemos foi... único.
Fica uma primeira partilha, a propósito do que se passou esta semana - e espero um dia ter capacidade, disponibilidade e arte para conseguir escrever qualquer coisa de jeito, qualquer coisa que faça justiça ao que sentimos não só durante aqueles dois dias, mas na "ressaca" daqueles dois dias. Qualquer coisa que faça justiça à minha memória e à dos meus companheiros de viagem.
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