Pois. Oito anos. Enquanto o Diabo esfrega um olho e o
Ganesh coça a orelha, passaram oito anos.
01.08.2004:
Quando voltei da minha meia-volta ao mundo pela Europa e
Ásia, voltei sem vontade nenhuma de me fechar entre quatro paredes a trabalhar.
Fiz saber isso aos meus botões e aos botões dos outros e pouco depois estavam a
aparecer propostas e desafios para projectos mais fugazes: passei o Verão a
amealhar euros no Euro, trabalhei na produção de filmes de publicidade, fiz
recados e até levei turistas a passear na serra de Sintra - e quando chegou o
Outono, estava quase de partida outra vez, para mais uma aventura que prometia
emoções fortes.
Ia viajar seis meses para a Índia.
Entusiasmado com os diários de viagem escritos ao longo de
nove meses na estrada, pelos relatos publicados numa newsletter da HP e pelos
mails enviados a amigos e família, decidi "começar" um blog e
partilhar algumas histórias de viagem, fotos e outras curiosidades.
Ao longo de 8 anos, o fuidarumavolta
viveu momentos de energética partilha, outros de um abandonado silêncio - mas
sobreviveu. E passo a passo, fui percorrendo um caminho que já se faz longo,
mas que ainda está muito longe do fim. Aos tais seis meses seguiram-se muitos regressos à Índia, uma viagem de bicicleta com mil euros no bolso, duas travessias do Transiberiano e muitas aventuras pela Europa e Ásia, principalmente. Comecei a colaborar com a nomad, cimentei amizades lá dentro e cá fora ;), experimentei comidas exóticas, vi filmes de Bollywood e jogos de futebol em lugares inesperados, ouvi concertos de música clássica, de heavy metal, de techno... usei cada sentido ao máximo, ao pormenor - e desafiei-me a mim mesmo, vezes sem conta, umas quantas com sucesso, umas nem tanto.
Tomei banho com elefantes no Mekong e caí de um cavalo na estepe mongol, pintei-me de todas as cores no Holi, encharquei-me de água e pó-de-talco no Songkran, vi um fogo-de-artifício inesquecível na Madeira, apaixonei-me por Hanói durante a celebração dos 1000 anos da cidade. Corri centenas de vezes para o aeroporto, renovei de passaporte outras tantas, fui a embaixadas fazer vistos, aluguei motas, aluguei bicicletas, escalei vulcões e caminhei nos Himalaias. Passeei de barco no Mediterrâneo, fiz snorkeling em ilhas paradisíacas, pedalei deserto fora, espetei-me de mota uma ou duas vezes. Embebedei-me, tive caganeiras, tive arrepios, ri às gargalhadas, chorei. Dormi em estações de autocarro, abriguei-me de monções, fui mordido por mosquitos e samguessugas, assisti ao nascer-do-sol em lugares maravilhosos, fumei nargile com os curdos, bebi lao lao com os khmus, ensinei a dançar "à indiana" uns berberes marroquinos. Andei de camelo no deserto com o pôr-do-sol ao fundo, vi a Via Láctea nos céus inesquecíveis da Mongólia, nadei com tartarugas gigantes e tubarões, fiquei preso três dias num comboio por causa de um furacão que matou 120 pessoas.
Etc. Etc. E por aí fora.
Eu tenho folheado este livro com gosto - e ainda não me fartei. Assim, em jeito de celebração, hoje parto para
um novo país - a caminho dos lugares do costume. Em Novembro recomeça a
"época das Indochinas", faço a passagem do Ano em Angkor... e em 2013
vou contrariar, com todas as forças que a minha teimosia deixar, todas as vozes
que anunciam um ano negro, o pior de todos, um ano para esquecer. Mas cada coisa
a seu tempo: hoje é dia de festa, cantam as nossas almas, blá blá... são oito
anos! Oito. E vou para a Jordânia.
Esta semana, vou alternar relatos e fotos entre a nostalgia
do passado, as aventuras do presente e as novidades para o futuro. Que venham mais oito!