Vientiane, Dezembro de 2009: o segundo grupo da nomad tinha regressado a Portugal há pouco mais de vinte e quatro horas e eu tinha um voo daí a dois dias, em Bangkok, para Singapura.
Passei a noite num nightbus, vindo de Luang Prabang. Cheguei à capital do Laos ainda o sol não tinha nascido, dirigi-me imediatamente ao hotel onde costumo levar os grupos nomad – consegui um preço especial e ali fiquei a dormir toda a manhã. Quando finalmente acordei, tinha uma chamada não atendida no telemóvel: era o Lin.
O Lin – melhor: o mr. Lin – é o driver do riquexó-camioneta que nos acompanha em Vientiane, quando venho com grupos. Vai-nos buscar à fronteira e deixa-nos no hotel, faz o tour pela cidade e ainda nos leva ao Buddha Park, o devaneio kitsch de alguém que tinha muito dinheiro para estoirar e não sabia bem onde. Ainda bem.
Mas adiante: o Lin tinha-me convidado para almoçar. Liguei-lhe, disse-me para ir ter com ele ao “point”, o lugar onde ele costuma estar parado a ver se consegue clientes, e lá fui, sem saber muito bem o que me esperava. E o que me esperavam eram quatro ou cinco amigos, tudo muito animado com o facto de terem uma desculpa para folgarem essa tarde – e a desculpa era eu.
Entrámos para a parte de trás do riquexó-camioneta. Um deles trazia um pato vivo com as patas amarradas, atirou-o para junto dos nossos pés e eu imediatamente tive a certeza que estava ali o almoço.
Cumprimentei os amigos e cumprimentei o almoço – e lá fomos em alegre cavaqueira.
O medo do bicho era tanto que, assim que nos pusemos a caminho, "borrou-se" todo. E com tanto solavanco e travagem, foi ver o almoço a rebolar-se na própria m#*!@, por mais que eu desviasse o olhar, por muito que eu me tentasse abstrair do cheiro.
Chegámos a casa do mr. Lin. Uma boa casa, com um jardim enorme com relva, onde estenderam uns panos enormes e almofadas para nos deitarmos. E assim que nos sentámos no chão à conversa, estava eu a puxar de um cigarro quando se materializou, vinda sabe-se lá de onde, uma grade de Beer Lao. Ora vamos lá ver uma coisa: alguns meses antes, isto não me teria impressionado muito – nunca fui apreciador de cerveja. Mas a Beer Lao mudou tudo.
Quanto ao almoço: o Lin e um dos amigos trataram de tudo. Deram banho ao bicho e deixaram-no de molho ao sol, depois agarraram nele com carinho, gentilmente empurraram a sua cabeça para trás, como amantes que se preparam para lhe beijar o pescoço… e com um golpe certeiro, cortaram-lhe a garganta. O sangue começou a jorrar para dentro de um recipiente ali posto de propósito, depois depenaram o bicho, cortaram a carne aos bocados e cozinharam tudo num wok.
Reparei com curiosidade que tinham guardado o sangue no tal recipiente, onde juntaram cinco colheres de água e cinco de molho de peixe. Quando os vi a preparar o wok, perguntei inocentemente:
“You’re going to cook it with the blood?”
Eles disseram que sim – e eu, sorrindo, expliquei-lhes cheio de inocência que, em Portugal, também tínhamos um prato parecido.
“It’s called cabidela.”
07/02/2010
04/02/2010
ANJUNA, 2010 A.D.
Vinha eu a arrotar o Kashmiri Dum Aloo que comera nem há cinco minutos ao almoço, aproveitando a caminhada na praia para acelerar a digestão, quando assisto ao seguinte espectáculo:
Um homem nos seus cinquenta e muitos (de idade, porque o peso devia rondar o dobro), vestido apenas com uma tanga preta, o corpo coberto de areia (lembrando-me as tardes passadas com os meus primos na Praia Grande, há mais de vinte anos), andava de gatas na areia molhada, fazendo com as mãos movimentos que normalmente associamos a felinos – o senhor estava a fingir que era um leão.
Um leão – ou um gato selvagem, não me demorei o suficiente para perceber.
À frente dele, uma mulher dez anos ou quinze mais nova. Cabelo louríssimo, manchas vermelhas nos braços e pernas brancos, a rir às gargalhadas enquanto fingia que fugia dele, que entretanto insistia em atirar-lhe água às pernas.
O bikini verde-claro da senhora devia estar guardado no armário desde as últimas férias no Mar Negro, em 1994 – pelo que, além de fora de moda, já não lhe servia como antigamente. A camisa branca, aberta e esvoaçante, tinha um padrão tão feio que nem me dei ao trabalho de identificar.
Não muito longe, um grupo de jovens indianos ficou estagnado a olhar, aparentemente desorientados, mas claramente divertidos, agora que voltavam do seu passeio diário na areia para ver as inglesas a apanhar sol.
Do restaurante ao lado, impunha-se sobre o barulho das ondas a batida irritante de uma música retirada de alguma colectânea tipo Love Parade 97.
Tentei abstrair-me da paisagem.
“Vou voltar para o meu quarto, tenho imenso trabalho para acabar.”
E eis que oiço o homem na areia, aos gritos para o empregado do restaurante, que estava a uns duzentos quilómetros de distância:
“Missstar… vodka!”
Bem-vindos a Goa 2010.
Um homem nos seus cinquenta e muitos (de idade, porque o peso devia rondar o dobro), vestido apenas com uma tanga preta, o corpo coberto de areia (lembrando-me as tardes passadas com os meus primos na Praia Grande, há mais de vinte anos), andava de gatas na areia molhada, fazendo com as mãos movimentos que normalmente associamos a felinos – o senhor estava a fingir que era um leão.
Um leão – ou um gato selvagem, não me demorei o suficiente para perceber.
À frente dele, uma mulher dez anos ou quinze mais nova. Cabelo louríssimo, manchas vermelhas nos braços e pernas brancos, a rir às gargalhadas enquanto fingia que fugia dele, que entretanto insistia em atirar-lhe água às pernas.
O bikini verde-claro da senhora devia estar guardado no armário desde as últimas férias no Mar Negro, em 1994 – pelo que, além de fora de moda, já não lhe servia como antigamente. A camisa branca, aberta e esvoaçante, tinha um padrão tão feio que nem me dei ao trabalho de identificar.
Não muito longe, um grupo de jovens indianos ficou estagnado a olhar, aparentemente desorientados, mas claramente divertidos, agora que voltavam do seu passeio diário na areia para ver as inglesas a apanhar sol.
Do restaurante ao lado, impunha-se sobre o barulho das ondas a batida irritante de uma música retirada de alguma colectânea tipo Love Parade 97.
Tentei abstrair-me da paisagem.
“Vou voltar para o meu quarto, tenho imenso trabalho para acabar.”
E eis que oiço o homem na areia, aos gritos para o empregado do restaurante, que estava a uns duzentos quilómetros de distância:
“Missstar… vodka!”
Bem-vindos a Goa 2010.
03/02/2010
COM OS PÉS
Assim se rema no Vietname:
Fotos tiradas em Tam Coc, nas duas viagens a Indochina organizadas pela nomad, por: Ana, Filipa, Joao, Jorge, Nuno, Rosa, Sofia C, Sofia L e Teresa.
Fotos tiradas em Tam Coc, nas duas viagens a Indochina organizadas pela nomad, por: Ana, Filipa, Joao, Jorge, Nuno, Rosa, Sofia C, Sofia L e Teresa.
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