Mil Novecentos e Noventa e Quatro.
Passou-se mais de uma década desde a primeira de tantas
aventuras.
Três motas. Uma semana. Cinco miúdos. Eu nem dezoito anos
tinha. Nem sei como é que os meus pais alinharam nisto. ;)
Eu, a minha prima Joana e o meu melhor amigo, o Manel, a
viajar em duas BW's. E outros dois amigos nossos, o Filipe e o Diogo, numa DT-LC.
Que loucura - literalmente.
Foi um dos maiores desafios das nossas juventudes. Não só
pela distância, mas pelo facto de irmos sozinhos, de sermos responsáveis uns
pelos outros. Da necessidade de estarmos à altura do desafio - e, acima de
tudo, de nos divertirmos ao máximo.
Objectivo: a Concentração de Motas de Faro. Partimos de
Sintra, de casa do meu pai, que basicamente é o responsável por eu gostar tanto
de motas. Aliás, já tinha ido com ele a Faro vários anos seguidos. Mas desta
vez éramos só nós, cinco amigos em três "cinquentas"... e muita
bagagem.
Vários foram os que apostaram que não íamos chegar a Faro.
Outros ainda nos deram o benefício da dúvida, aceitaram que chegávamos lá - mas
que seria tal a seca, que íamos mandar as motas de comboio, à volta. Mas nem
uma coisa nem outra: demorámos três dias pra-baixo, com muitas paragens em
aldeias e barragens e cafézinhos; e no regresso fizemos tudo de uma só vez, em
doze horas, com direito a paragem para jantar e ver a final do Mundial 94.
Não foram poucos os episódios, principalmente na ida para o
Algarve. Uma cena de pancadaria com outra mota (em andamento!) em Canal
Caveira; uma "espeta" e câmara lenta da Joana e do Manel (sem consequências,
felizmente); muitas paragens para arrefecer as motas e para pôr/procurar
gasolina; banhos em barragens; cafezinhos nas aldeias - e, finalmente, Faro.
Quantos mil motards?
Não me lembro - mas é famosa a loucura que é esta concentração, com dezenas de
milhares de motas de todo o mundo!
Foram três dias de praia e muitas-motas e tantos-copos e
pouco-sono.
Quando voltámos para cima estávamos todos partidos.
Lembro-me que até sair do Algarve bebemos quase uns dez cafés cada, tal era o
estado, que inconsciência. Parámos ao princípio da noite para ver a Final do
Mundial, prosseguimos viagem e quase tivemos um desastre, quando eu e a Joana
adormecemos (os dois na BW's dela!). Também tivemos uma quase-queda na minha
BW's, onde eu ia com o Manel. E houve ainda direito ao espectáculo de uma
mega-estrela-cadente, enquanto esperávamos em Tróia pelo ferry para Setúbal; e daí a Lisboa foi um martírio, com muito sono
e frio e vontade de chegar.
Faro marcou-nos pelo facto de estarmos completamente
entregues a nós próprios. Nesta altura não havia telemóveis - e multibancos só
nas cidades grandes. Éramos uns putos, vejo agora isso, e sinceramente nem sei
como é que os nossos pais nos deixaram ir - mas ainda bem que assim foi, hoje
só lhes temos de agradecer.
E apesar de alguns passeios e viagens feitos antes, esta
foi, sem dúvida nenhuma, a primeira de muitas Grandes Aventuras.
Só para terminar: lembro-me de um momento em particular,
quando chegámos à Concentração e nos fomos inscrever. Havia um cartaz, mesmo à
entrada, que dizia:
.
O VERDADEIRO MOTARD NÃO SE
MEDE
PELA CILINDRADA DA MOTA,
MAS PELO ESPÍRITO.
.
E nós ali de aceleras, no meio de milhares de motões vindos
de todo o lado.
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