11/04/2005

COMO TUDO COMEÇOU

Mil Novecentos e Noventa e Quatro.

Passou-se mais de uma década desde a primeira de tantas aventuras.

Três motas. Uma semana. Cinco miúdos. Eu nem dezoito anos tinha. Nem sei como é que os meus pais alinharam nisto. ;)

Eu, a minha prima Joana e o meu melhor amigo, o Manel, a viajar em duas BW's. E outros dois amigos nossos, o Filipe e o Diogo, numa DT-LC. Que loucura - literalmente.

Foi um dos maiores desafios das nossas juventudes. Não só pela distância, mas pelo facto de irmos sozinhos, de sermos responsáveis uns pelos outros. Da necessidade de estarmos à altura do desafio - e, acima de tudo, de nos divertirmos ao máximo.

Objectivo: a Concentração de Motas de Faro. Partimos de Sintra, de casa do meu pai, que basicamente é o responsável por eu gostar tanto de motas. Aliás, já tinha ido com ele a Faro vários anos seguidos. Mas desta vez éramos só nós, cinco amigos em três "cinquentas"... e muita bagagem.

Vários foram os que apostaram que não íamos chegar a Faro. Outros ainda nos deram o benefício da dúvida, aceitaram que chegávamos lá - mas que seria tal a seca, que íamos mandar as motas de comboio, à volta. Mas nem uma coisa nem outra: demorámos três dias pra-baixo, com muitas paragens em aldeias e barragens e cafézinhos; e no regresso fizemos tudo de uma só vez, em doze horas, com direito a paragem para jantar e ver a final do Mundial 94.

Não foram poucos os episódios, principalmente na ida para o Algarve. Uma cena de pancadaria com outra mota (em andamento!) em Canal Caveira; uma "espeta" e câmara lenta da Joana e do Manel (sem consequências, felizmente); muitas paragens para arrefecer as motas e para pôr/procurar gasolina; banhos em barragens; cafezinhos nas aldeias - e, finalmente, Faro.

Quantos mil motards? Não me lembro - mas é famosa a loucura que é esta concentração, com dezenas de milhares de motas de todo o mundo!

Foram três dias de praia e muitas-motas e tantos-copos e pouco-sono.

Quando voltámos para cima estávamos todos partidos. Lembro-me que até sair do Algarve bebemos quase uns dez cafés cada, tal era o estado, que inconsciência. Parámos ao princípio da noite para ver a Final do Mundial, prosseguimos viagem e quase tivemos um desastre, quando eu e a Joana adormecemos (os dois na BW's dela!). Também tivemos uma quase-queda na minha BW's, onde eu ia com o Manel. E houve ainda direito ao espectáculo de uma mega-estrela-cadente, enquanto esperávamos em Tróia pelo ferry para Setúbal; e daí a Lisboa foi um martírio, com muito sono e frio e vontade de chegar.

Faro marcou-nos pelo facto de estarmos completamente entregues a nós próprios. Nesta altura não havia telemóveis - e multibancos só nas cidades grandes. Éramos uns putos, vejo agora isso, e sinceramente nem sei como é que os nossos pais nos deixaram ir - mas ainda bem que assim foi, hoje só lhes temos de agradecer.

E apesar de alguns passeios e viagens feitos antes, esta foi, sem dúvida nenhuma, a primeira de muitas Grandes Aventuras.

Só para terminar: lembro-me de um momento em particular, quando chegámos à Concentração e nos fomos inscrever. Havia um cartaz, mesmo à entrada, que dizia:
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O VERDADEIRO MOTARD NÃO SE MEDE
PELA CILINDRADA DA MOTA,
MAS PELO ESPÍRITO.
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E nós ali de aceleras, no meio de milhares de motões vindos de todo o lado.

03/04/2005

O DIA-ANTES DO DIA-ANTES DO FIM-DO-MUNDO

Edimburgo, 30 de Dezembro de 1999.

Faltam mais-ou-menos 24 horas para a Contagem Decrescente do Milénio. Uns dizem que o Mundo vai acabar no ano 2000. Outros que vêm aí extraterrestres para nos salvar, ou que o Elvis vai finalmente voltar. A maioria finge-se muito céptica a todas as teorias mas acredita piamente no Bug do Milénio - uma das mentiras mais bem contadas do século XX.

O Mundo não acabou, os amiguinhos do espaço não apareceram - nem o Rei. E o bug: nem vê-lo. Entretanto, sete tugas tinham-se lançado à aventura numa das viagens mais loucas que se possa imaginar: um InterRail de Inverno que começou no dia a seguir ao Natal e acabou a meio de Janeiro.

Voltando ao dia 30: o dia-antes do dia-antes do fim-do-mundo. Durante o dia alugámos um carro e fomo-nos aventurar para Norte. Um frio de rachar, alguma chuva e muito nevoeiro, campos a perder de vista e uma estrada que nos podia ter levado a qualquer lugar. Tentámos visitar um Museu do Whisky mas não conseguimos, estava fechado. Passámos por uma ponte em formato esqueleto-de-dinossauro, tirámos umas fotografias. Almoçámos à beira da estrada, tipo pic-nic bem à moda nacional. Fomos a uma loja e o Nuno gamou umas cartas - ou foram uns postais? Não me lembro, mas daí em diante passou a ser conhecido por "Marrocos". E ainda os relógios marcavam quatro e pouco da tarde quando começou a anoitecer.

No regresso a casa aventurámo-nos por umas estradinhas rodeadas de nevoeiro e descobrimos um spot fenomenal para parar um bocado, fazer um chichi e fumar um cigarro. Um descampado no meio da floresta, com muitas árvores e neve e escuridão à volta, e depois umas fotografias a fazer lembrar o "Blair Witch Project" e um malho do Nuno, no gelo, que é outro clássico.

O dia passou depressa, foi memorável - mas a noite era ainda uma criança... o melhor estava para vir.

Chegámos a Edimburgo às sete, mesmo a tempo do espectáculo. Nem fomos a casa. Seguimos directos para o centro histórico da cidade, para aquela rua que sai do castelo... e que ficou tristemente conhecida, há dois anos, por causa de um incêndio de proporções quase tão históricas como as nossas noites de fim-de-século ali.

Tudo começou com um desfile de mil gaitas de foles. Ou seriam cem? Agora não me lembro, espero não estar a exagerar. Parece-me tanto, dito agora. E no entanto lembro-me de estarmos todos doidos com aquilo... seriam apenas cem? Tenho de confirmar. Não interessa - cem ou mil, o efeito era de arrepiar. Todos a tocar em uníssono aquelas músicas tradicionais da Escócia, fardados a rigor e a marchar rua abaixo para delírio de milhares e milhares de pessoas.

E depois deste inspirado momento musical, voltámos a casa para recuperar forças. O plano era muito simples: tomar um banho rápido, jantar com os donos da casa e sair para a noite escocesa. Qual quê! Tomámos banho, é verdade. E jantámos com os donos da casa - o Ray e a Jackie. Oferecemos ao simpático casal uma garrafa de Vinho do Porto, que se bebeu toda depois do jantar. Abrimos uma de vodka, que também não durou muito. E bebeu-se toda a a cerveja comprada durante o dia - e whisky.

Mas antes de todo esse álcool: mal o jantar acabou, o dono da casa trouxe um aplificador e uma guitarra - e começou a cantar. Nós os sete a sorrir, tipo diz-que-sim-que-ele-cala-se, a ver se nos despachávamos e seguíamos depressa para a noite. Mas o álcool começou a descer, a os dotes musicais de cada um a melhorar. Apareceram as três coreanas que também estavam a alugar uns quartos na mesma casa, e vai-na-volta e estamos todos a fumar charutos e a cantar os respectivos hinos nacionais, de copos de whisky na mão, muitas fotos e filmagens e olhinhos aqui do je para a dona da casa, mesmo debaixo das barbas do marido. Foi só rir. Passou-se a meia-noite, uma da manhã, duas e tantas outras. Deitámo-nos sei-lá-a-que-horas com uma bezana descomunal, já ninguém se lembrava que era suposto irmos sair.

31 de Dezembro de 1999, o dia-antes do fim-do-mundo. Lembro-me de acordar com uma ressaca à antiga. Lembro-me de estar toda a gente a dormir, apesar de ser tarde. E lembro-me de descer as escadas e encontrar a Jackie na cozinha, com uma caneca de chá na mão, a rir:

- Good morning, Superman.

29/03/2005

NOVIDADES NOVIDADES...

...só no Continente, porque nos próximos tempos este blog vai dedicar-se apenas a histórias antigas. Já cheguei há coisa de um mês e não me apetece vir dissertar sobre o que se passa no mundo, no país ou na casa da vizinha - já há muitos blogs a fazer isso (e alguns fazem-no bem). Este blog sempre foi e ainda é um blog de aventuras e histórias de viagens, e quer continuar assim. Mas como por agora estou estacionado por cá, tive de pensar numa solução para manter a chama acesa. Por isso, a partir de Abril vou-me dedicar a lembrar, uma vez por outra, episódios que de alguma forma marcaram viagens . Tudo muito bem ilustrado com fotografias, como toda a gente gosta.

Fui dar uma volta mas já voltei. :)

06/03/2005

CHEGUEI!

Pois é... estou de volta. Dez dias em Goa, dois em Bombaim... e cá estou de regresso a Lisboa. Feliz por voltar a Portugal, mas triste por deixar a Índia - não se pode ter tudo, não é?
Cheguei no sábado à tarde e passei a noite em festa. Hoje, domingo, estou a descansar e a pôr a cabeça e as malas em ordem, a partir de amanhã começo a pensar no que fazer... e (porque não?) a planear a próxima aventura. ;-)

23/02/2005

REGRESSO A GOA, COM SAUDADES DE COCHIM

A casa onde fiquei a dormir em Cochim era mesmo a casa do Vasco da Gama.

Quando escrevi o último post, estava convencido que o senhor tinha apenas lá passado o seu último Natal - mas quando me informei melhor, fiquei a saber que viveu aí durante o tempo que esteve em Cochim... e que foi exactamente esse o lugar onde faleceu, em 1524.
 
Cochim foi uma surpresa muuuito agradável.

Não tem nada a ver com o resto das cidades indianas. Respira-se uma atmosfera que nos transporta no tempo, para a Índia das especiarias, aquela de tempos antigos que normalmente gostamos de imaginar. Casas coloniais muito engraçadas, ou não tivesse a cidade sido um bastião português durante mais de duzentos anos. Depois vieram os holandeses, também por dois séculos; e finalmente os ingleses. Ou seja, andar pelas ruas da cidade antiga é uma expêriencia fabulosa: arquitectura norte-europeia à mistura com igrejas portuguesas, redes de pesca chinesas, sinagogas e os omnipresentes riquexós a passar a alta velocidade; mais o som das mesquitas ao longe, o cheiro de pimenta no ar.
 
Estou de volta a Goa, portanto.

A verdade é que poderia ter-me demorado mais no Kerala, mas optei por vir pra-cima e relaxar uma semaninha neste bocadinho de Índia de que tanto gosto. Lá para o final da semana vou a Panjim conversar com aquele senhor que me deu meia-enciclopédia, a ver se desta vez levo o resto para Portugal, quando voltar.

E mais não conto - estou estafado e apetece-me um bocadinho de mar.

18/02/2005

"Eles andem ai!"

Andam mesmo. Em tudo o que eh parede, em tudo o que seja um cantinho minimamente aproveitavel... eis os posters dos chamados filmes-masala. E nao ha quem nao abrande o passo para se inteirar das proximas estreias ou para apreciar as garotas semi-desnudas, ali ah vista de toda a gente. Esta fotografia foi tirada em Madurai, a tal "Cidade dos Templos", onde consegui comprar, no mercado negro, uam copia do filme que tinha visto dois dias antes em Tanjore. Se eh de boa qualidade ou nao - nao faco a minima ideia. O rapaz da loja disse-me que a copia estava "visivel", por isso nao tenho muitas expectativas. Mas custou-me um euro, nao gastei propriamente a minha imensa fortuna no filme.

Tollywood!!!

Por todo o Tamil Nadu... posters! Eis Tollywood a promover-se a si proprio. O rapazinho do canto superior esquerdo (que eh o mesmo nos posters amarelos) eh o tal que ja eh uma "megastar", e o protagonista do filme que eu fui ver em Tanjore. E a menina do canto oposto em pose provocadora eh outra das estrelas da nova geracao.

A Cidade dos Templos

Sao nada-mais-nada-menos que trinta e tres milhoes de estatuas no Templo Meenakshi. Doze torres como esta na fotografia; um patio enorme com um tanque, varios corredores cavernosos com milhares de colunas decoradas ao pormenor; e muita gente a rezar e a dar flores e comida aos deuses. Estatuas de Shiva a dancar, a dormir, a namorar, a meditar... com trinta e tres milhoes, da para todas as posicoes e momentos do dia. E ainda ha estatuas de Vishnu, Parvati, Ganesh e tantos outros da completamente louca mitologia hindu. Reparem na festa de cor e detalhes. No meu longo passeio pelo templo, assiti a um ritual de que ja tinha ouvido falar: o dar banho aos Deuses. Sim, eles estao semrpe a mimar os deuses para que eles nao se zanguem, e um dos costumes consiste exactamente em dar um banho de leite as estatuas. Num pais onde ha gente a morrer ah fome e tantos a viver em condicoes miseraveis (sub-humanas!), pode parecer paradoxal dar um banho de leite a uma estatua - mas eh mesmo assim, nao ha como tentar explicar. Durante uns quinze minutos, la foram despejando potes na cabeca do Ganesh (o deus com cabeca de elefante), que por esta altura ja deve estar enjoado de tanto leite, mas feliz com tanta dedicacao dos seus seguidores.

Tanjore

Reparem bem na dimensao desta entrada. E eh apenas o segundo portao numa serie de tres ou quatro, ja nem me lembro, que dao para o templo principal de Tanjore. O tamanho das pessoas e das bicicletas, comparado com o portao e as estatuas... impressionante. Mas para ter a verdadeira nocao do que eh aquilo, so mesmo la estando.

17/02/2005

Coonoor!!!

Por todo o lado verde e de vez em quando o cheiro de um cha de masala acabadinho de fazer. Isto eh Coonoor.

Bela casa!

Ao fim de longos dias de passeios entre plantacoes de cha e montanhas, nada como "voltar a casa" para descansar um bocadinho, beber um chazinho e mergulhar os pes num balde de agua quente. Na India, esta ideia pode ser dificil de transformar em actos... mas em Coonor, como ja tinha dito ha uns dias, encontrei o lugar ideal: uma casa colonial com150 anos, quartos bem simpaticos (apesar do frio intenso que fazia ah noite), uma varanda optima para descansar e ler e escrever ao fim do dia; e uma hospitalidade unica. Ca esta, como prometido, a fotografia da casinha.
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16/02/2005

Estou... maravilhado!

O povo diz em Kerala que Deus mora aqui - eu nao me admirava nada se fosse verdade. Se nao mora, pelo menos vem ca de vez em quando, talvez passar umas ferias, se calhar aos fins-de-semana.
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Ja tinha ouvido falar - e bem - desta parte da India. Mas vir aqui e ver com os meus proprios olhos... as paisagens sao qualquer coisa de extraordinario! E agora nem interessa saber sobre o povo, a comida, a cultura e a historia: a primeira coisa que salta ah vista no Kerala (e eh a grande atraccao para os milhares de turistas) eh a natureza. Palmeiras e agua... e pouco mais. Um verdadeiro "regalo para a vista".
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Entrei no Kerala pela extremidade sul da India. Fiquei em Trivandrum, a capital, mas era segunda-feira e as poucas coisas de jeito para ver (um palacio e um parque natural com museus e galerias de arte) estavam fechadas. Fui para a praia, portanto. E ja estava a precisar - isto de viajar muito tempo sem ver areia e mar ate faz mal. Passei um dia (optimo!) numa praia chamada Varkala, ainda muito calma, mas ja da para ver que daqui a uns anos nao se pode com as enchentes de turistas... enfim, um passeio de comboio inesquecivel, uma tarde relaxante de sol e mar... nao podia pedir mais.
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De volta a Trivandrum, mas so para passar a noite. Na manha seguinte voltei a enfiar-me num comboio e la fui com um grupo de estudantes ah conversa, ja queriam que eu trouxesse uma das meninas para Portugal (bem gira, por sinal). Mas chegados a Kollam, eles tinham as aulas e eu... bem, eu tinha uma especie de cruzeiro ah minha espera! E que cruzeiro.
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Um dia inteiro para fazer 80km, em direccao ao norte, nos chamados "backwaters de Kerala". Os backwaters sao uma especie de labirintos de agua... terra adentro. Canais, rios e lagos (tudo natural!) rodeados de palmeiras por todo o lado, casas onde os locais fazem a sua vida, escolas, igrejas... enfim, toda uma sociedade espalhada ao longo de quilometros e quilometros desta paisagem idilica.
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Cheguei a Allepey ao fim do dia. Tinham-me dito que Allepey era o sitio onde o Vasco da Gama "aterrou" ha quinhentos anos... mas em Allepey disseram-me que nao era la, mas 200km mais para Norte. Enfim, opinioes. O que interessa mesmo eh que o senhor, ao chegar ah India, encontrou ISTO. Nao admira que estivessemos ha tanto tempo a tentar ca chegar.
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O Kerala esta cheio de referencias aos portugueses. Nao imaginava que fora de Goa a nossa cultura e influencia na India pudesse ser tao forte, mas a verdade eh que por todo o lado se veem nomes portugueses (nao tanto como em Goa, claro), igrejas, pratos com "portuguese" no nome e... o melhor de tudo... senhores e senhoras... meus amigos... esperem um momento que eu ja revelo o que me esta aqui a encher o peito de orgulho.
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Voltando a Allepey: mais uns passeios pelas backwaters, mas desta vez numa versao mais indiana e sem turistas ah volta; e depois Cochim, onde o tuga esta mesmo por todo o lado. Por exemplo, a primeira igreja a ser edificada na India (por quem, por quem?) esta aqui. No ano do Senhor de 1505, amigos... nos mesmos!
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Mas o melhor deixei para o final. Sim, o tal pormenor que me esta a deixar inchadinho de orgulho. Nada de especial, um pormenor apenas, mas hoje vou dormir na mesma casa onde o Vasco da Gama passou o seu ultimo Natal, antes de morrer aqui em Cochim, em 1524. So isso!

13/02/2005

Tollywood?!

Ladies and gentlemen... meus amigos, apresento-vos... Tollywood!
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Estes indianos sao completamente loucos. A obsessao nacional por cinema ja tinha sido amplamente descrita e ilustrada aqui no blog, mas agora entramos noutro nivel. Bollywood - Hollywood de Bombaim - esta a milhares de quilometros de distancia. Noutro estado, o que na India eh quase noutro mundo. Desde que estive em Hyderabad que comecei a saber um pouco mais do que eh Tollywood. Ja tinha ouvido falar do fenomeno, mas pouco; em Bombaim ninguem quer saber do cinema feito no resto do pais. E se em toda a India o Shah Rhuk Khan, Amithab Bachan e Kareena Kapoor (entre outros) sao quase deuses, em Bombaim nem ha espaco para ver o que passa no Sul... onde a industria cinematografica esta muito bem e recomenda-se.
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Tollywood, portanto! Ou, por outras palavras, o cinema falado em tamil ou em telugu (dos estados Tamil Nadu e Andhra Pradesh, respectivamente). No fundo, uma versao mais tradicional de Bollywood. Filmes onde o Sul da India eh muito melhor retratado. As estrelas, em vez de quase-europeus, sao tao escuros como o mais normal dos indianos. Ainda usam e abusam dos bigodes, sao mais pirosos que as estrelas "europeizadas" de Bombaim, usam panos ah volta da cintura, pintam a cara... enfim, India pura e dura.
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Em Hyderabad falaram-me do assunto, li algumas coisas nos jornais e vi partes de filmes na televisao. Em Ooty e Coonoor estava hipnotizado pela paisagem, nem quis saber do cinema. Mas em Tanjore... senhoras e senhores, fui ao cinema! Tinha conhecido um gajo de Hyderabad que foi jogador profissional de criquete e ja tinha viajado meio mundo a jogar. Estava em Tanjore com um tio, que tinha vindo em negocios, e eu estive dois dias a passear com eles. Na quinta-feira la fui ao cinema com o Bobby, o tio e a advogada do tio... e que experiencia!
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Nao que seja muito diferente de Bollywood, mas eh mais intenso... mais indiano! Musicas espectaculares, alguns efeitos manhosos, tiques muita loucos de realizador indiano (so eles eh que sabem!), lagrimas e muito drama, e muita porrada! Que espectaculo de filme!
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E agora ja estou em Madurai, ainda mais para sul, eh a chamada "Cidade dos Templos"... e eu ja percebi porque. Nao so pela quantidade, mas pela dimensao e pela atencao ao pormenor. Templos de nove andares literalmente cobertos de estatuas, todas pintadas ao mais infimo pormenor... eu sei que passo a vida a prometer as fotografias... mas acreditem que eh complicado encontrar sitios que me deixem usar os CDs... a serio, assim que puder mando algumas fotos, entretanto procurem na net, vao gostar.
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Segue-se o Kerala, onde alem de toda a riqueza de patrimonio e paisagem... tambem ha uma industria de cinema local: Kollywood. Isso mesmo, nao estou a brincar! A ver vamos se consigo ver algum filme, eheh. Ah! E quanto ao filme que fui ver em Tanjore chama-se Tirupachi e o heroi eh a grande estrela do Tamil Nadu, Vijay. Um puto que fez oito filmes, todos "super-hit". Ou seja, ja subiu no escalao divino, em vez de "superstar" ja eh uma "megastar" - pelo menos foi o que me garantiram os meus amigos de Hyderabad.
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E para quem sabe do que estou a falar... o Kamal Hassan comecou aqui a sua carreira, antes de seguir para Bollywood. Estive a ver alguns filmes do principio de carreira, o senhor eh um gala! E hoje em dia eh um autentico deus no Tamil Nadu.

10/02/2005

Para sul

Deixei o frio e as plantacoes de cha. Estou em Tanjore, no sul de Tamil Nadu, a pouco mais de 50kms da costa. A mesma costa que foi atingida pelas tsunamis, ha pouco mais de um mes. Durante a viagem, ontem ah tarde, ultrapassamos (ha boa maneira indiana) centenas de camioes de agua, leite, arroz e cobertores. Obviamente que o tema do dia continua a ser o mesmo, eh impossivel nao falar da tragedia quando ainda ha tanta coisa por resolver.
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Esta semana, nas ilhas Andaman, aconteceu qualquer coisa de insolito. Por causa das tsunamis houve varias aldeias que ficaram debaixo de agua. Acontece que a poucos quilometros de uma dessas aldeias ficava uma reserva de crocodilos, que agora descobriram que naquele lugar ha comida: nao so os restos que ficaram, mas animais mortos (e vivos!). Neste momento, ha muita gente a voltar aos destrocos para tentar recuperar alguma coisa. E a tragedia aconteceu quando varias destas pessoas foram atacadas... sim, por crocodilos!
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Chega de tragedias. Estou em Tanjore, um sitio muito giro, cheio de ruinas e templos para visitar. E amanha sigo ainda mais para Sul, para Madurai. Diz que eh uma das cidades mais impressionantes a nivel de templos.
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Depois do livro do Osho (que deixei a meio, confesso que estava farto de tanta treta) e da autobriografia do Gandhi, comecei a ler em Coonoor um livro co lendas e mitos da India. Historias de deuses e demonios, de Vishnu e Shiva e Khrisna e Brahma e companhia... e estou a adorar! Claro que com tanta mitologia hindu, os templos agora tem outra piada. Confesso que estava a ficar um bocado farto destes, mas hoje dei por mim a tirar fotografias a uma estatua de Vishnu, e coisas do genero. O livro eh em ingles, claro, mas assim que chegar vou recomenda-lo a toda a gente. le-se muito bem e as historias sao fabulosas.

08/02/2005

Cha!

Muito cha! Cha por todo o lado! Plantacoes ate onde a vista alcanca, sacos de cha nas prateleiras de todas as lojas, todo o tipo de cha. Cha de chocolate, cha de especiarias, cha preto, cha de laranja, eh so escolher.
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Estou em Coonoor, uma terrinha no meio das montanhas de Nilgiris. Depois de Hyderabad fui para Ooty, onde fiquei dois dias. Muito frio e muita gente, era sabado e os indianos adooooram passear aos fins-de-semana. Ou seja, confesso que apesar de ser um sitio muito giro, fiquei um bocado desiludido. Passeei um bocado, fui ver o Jardim Botanico e pouco mais. No Domingo ah tarde so queria um pouco de paz e enfiei-me num "toy train" que me trouxe a Coonoor.
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A viagem em si foi qualquer coisa. Sao dezoito quilometros entre Ooty e Coonoor, o comboio la vai a serpentear pelas montanhas, vistas fabulosas... e demora uma hora! Isso mesmo, leram bem: uma hora para fazer dezoito quilometros! Mas como ja disse a paisagem eh um espectaculo, e o comboio em si tambem eh muito giro... mas o que tornou esta viagem inesqueciver foi o "momento Bollywood" - durante os sessenta minutos de viagem, todos os passageiros da minha carruagem deram o seu melhor numa especie de Festival da Cancao Homens-Contra-Mulheres. Parecia um filme de Bollywood. Primeiro foram os rapazes de um grupo de estudantes que comecou com a cantaria. As raparigas resolveram responder ao desafio e num instante estava toda a gente a cantar, eles alternando com elas, com apitos e assobios pelo meio, muitas palmas e batidas nos bancos, toda a gente a dancar, e eu a rir e tambem a bater palmas, mas infelizmente nao pude acompanhar com a musica, porque era quase sempre num dialecto aqui da zona.
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Cheguei a Coonoor e estava um nevoeiro intenso. Nada que me surpreendesse, ja tinha ouvido falar que esta zona era conhecida pela alcunha "Escocia da India", por causa do tempo. Instalei-me numa casa colonial com 150 anos (um espectaculo!), e na primeira noite ia morrendo de frio... mas quando acordei...
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Ontei acordei ao som de uma oracao muculmana, numa mesquita aqui ao pe. Confesso que estava ah espera do nevoeiro e do frio, e qual nao foi a minha surpresa quando abri a janela e vi o ceu mais azul que o FC Porto. Fiz a minha breve sessao de yoga matinal (pois eh, tinha-me esquecido de contar que um dos meus amigos de Mandu me ensinou alguns exercicios de yoga) e depois de um pequeno almoco a ouvir historias de uns franceses que estao na India ha "bues", la fui para uma caminhada.
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Ha muito tempo que nao me acontecia uma coisa assim: a maquina fotografica nao teve descanso o dia todo. Nem a maquina nem os meus pes, mas isso eh outra historia. Quanto ah maquina, eu estava de tal maneira fascinado com a paisagem que nao conseguia resistir a tirar mais e mais fotografias. Uma seca, porque sao so paisagens e ja sei que depois nao tem piada nenhuma. Ontem ah noite apaguei algumas, porque era um bocado repetitivo: plantacoes de cha ate enjoar, montanhas ao longe, ceu azul... mas que sonho de lugar, quem diria. No meio do lixo e caos que eh este pais, encontrar um sitio assim... Mas voltando ao passeio: os meus pes. Amigos, perdi a cabeca como as vezes eh meu costume. Resolvi nao me meter no autocarro para apreciar melhor a vista e o passeio... e acabei por fazer cerca de vinte quilometros a pe. Claro que hoje os pes e as pernas nao param de reclamar, mas ontem soube taaaaao bem. A estrada entre as plantacoes eh um sonho; e o silencio em redor eh qualquer coisa que so sabe dar valor quem esta na India ha tanto tempo - porque na India eh muuuuito complicado encontrar um sitio assim tao calmo, acreditem.
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Hoje fui visitar uma plantacao de cha, ja comprei alguns sacos de cha de chocolate e cha de masala (uma mistura de 18 especiarias). So que a manha de hoje foi passada na companhia de uma velhota francesa que esta la no meu hotel e que se colou para vir passear comigo. Acabou por ser uma experiencia interessante, foi so rir porque nunca vi ninnguem tao refilao quanto ela. Ja no hotel tinha reparado, a senhora esta sempre a mandar vir por tudo e por nada, e hoje nos riquexos e na plantacao eu so virava a cara e ria-me ah socapa, porque coitados dos indianos tinham de a aturar com uma pachorra de santos. Mas foi giro, e ela tinha umas historias bem maradas, desde ter sido hospedeira da Air France no Vietname (antes da guerra!) ate estar a trocar cartas com o primeiro ministro indiano, com quem tem uma entrevista marcada para falarem do problema da tsunami. Ela eh geo-qualquer-coisa e quer ajudar na reconstrucao de algumas zonas afectadas, mas anda em pulgas porque a ministra aqui do Tamil Nadu eh uma antiga bailarina e nao sabe lidar com a situacao. Este pais eh lindo! Ah, e o primeiro ministro ontem caiu e partiu um ombro, e ela esta preocupadissima com o senhor, eh eh.
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Nota final: parabens ao Tiago Monteiro! No outro dia estava a ver televisao e pareceu-me ouvir o nome dele, mas so hoje eh que confirmei que temos mais um piloto tuga na Formula 1. E para tornar a coisa ainda melhor, o seu companheiro de equipa eh um indiano (o primeiro indiano na Formula 1!). Este ano, como podem calcular, estou a vibrar pela Jordan!

04/02/2005

HYDERABAD, BYEDERABAD

Cheguei. Vi-o-que-tinha-a-ver. Vamos lá embora. Next.

Confesso que a primeira impressão de Hyderabad não foi propriamente a melhor: passeei pela cidade, vi templos e as vistas e pouco mais, nada de especial, não morri de amores. No entanto, ao jantar conheci dois locais (um deles trabalha no hotel onde eu estou hospedado) e o segundo dia já foi bastante diferente.

Visitámos o Forte de Golconda, o Jardim Zoológico de Hyderabad (uma boa surpresa), e ainda uma espécie de Parque de Diversões, onde são filmadas uma data de cenas de filmes de Tollywood.

Ao fim do dia fomos beber um copo a um bar, num restaurante quase às escuras. O álcool é permitido há muito pouco tempo neste Estado, por isso ainda há alguns constrangimentos e a maior parte das pessoas ainda bebe meio-às-escondidas.
Enfim. Depois de mais algumas voltas pela cidade, estou praticamente de partida.

Sigo para Sul, amanhã de manhã chego a Bangalore mas deve ser praticamente de passagem. O meu destino final é Ooty, já no estado de Tamil Nadu (infelizmente muito falado recentemente, por causa do tsunami de Dezembro último).

Mas quanto a Ooty, conversamos quando lá estiver.

Fui!

31/01/2005

Novidades

Em primeiro lugar, as fotografias novas ja tem comentarios.
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Segundo: estes dias na quinta do Abbey foram um espectaculo, com duas cacadas ah noite (a primeira nao deu em nada, mas ontem cacamos dois coelhos!), uma pescaria com dinamite, muitos copos, piscina, boa comida e muita musica pelo meio. Nao se pode pedir muito mais... mas a verdade eh que ate tivemos direito a aulas de karate - e jogamos ao berlinde... e eu aprendi finalmente a jogar criquete!
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Chegamos hoje a Bombaim, amanha ou depois vou para Hyderabad, parece-me.

28/01/2005

Casorios, noivados e outros passeios

Ja pedi desculpas, vamos aos factos:
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O casamento do Abbey
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Durante uma semana inteira, comemorou-se o casamento dos meus amigos Abbey Fizardo e Luisa D'Mello. Durante sete dias e sete noites aproximadamente, bebemos muito, comemos muito, cantamos, dancamos e ate fomos ah pesca. Tudo comecou com o Roce, que basicamente serve para familia e amigos abencoarem o noivo e o padrinho (na primeira noite) e a noiva e a madrinha (na segunda noite), dando-lhes um banho de leite de coco, ovos e muito mais. Depois foi o casamento propriamente dito, chiquissimo, muito piroso para o que estamos haituados aqui em Portugal... muito giro. Ainda por cima o vosso amigo (eu!) teve a honra de abrir a cerimonia na igreja, com uma leitura, e depois ainda fui cantar com a mae do Abbey, eheh, quem diria... eu a cantar num coro de igreja, em dueto... e fui elogiado toda a noite por causa da minha bela voz, ahah! Enfim, no dia seguinte juntamos o grupo da noiva e o do noivo e fomos todos para uma praia a norte de Bombaim, onde alugamos uma casinha, fizemos churrascos, cantamos e bebemos ate as tantas... e ate fomos ah pesca, mas sem grandes resultados! Depois foram mais algumas noites de jantaradas e saidas, ate ao dia em que os recem-casados foram de lua-de-mel para Singapura, e ai o pessoal dispersou.
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Mandu e Indore
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Dispersamos... e eu fui para Norte, mas nao muito. Os comboios estavam todos cheios para onde eu queria ir, por isso meti-me num autocarro para Indore e la fui eu dar mais uma volta, e quase sem querer fui parar a Mandu. Que espectaculo de sitio... lembram-se quando fui para Hampi e fiquei fascinado com todas as ruinas, etc? Mandu eh mais ou menos o mesmo genero, mas enquanto Hampi eram essencialmente ruinas de uma civilizacao qualquer hindu, la em Mandu eram ruinas muculmanas. Muitas mesquitas e tumulos, incluindo o primeiro edificio em marmore da India, que foi utilizado como modelo para os arquitectos que construiram o Taj Mahal. Logo no primeiro dia em Mandu conheci dois gajos la da terra, um era professor da primaria e o outro era barbeiro. Mas como nesses dias celebrou-se outra vez o Eid, havia feriado e fim de semana grande. Ou seja, estes dois acompanharam-me sempre em Mandu, e como um deles tinha uma casa em Indore, acabamos por ir os tres para la, e ate foi bem giro. Sinceramente nao estava nada numa de passar muito tempo la, mas a cidade revelou-se bem interessante, provavelmente a mais aproximada da minha ideia do que eh uma cidade indiana. Muito terceiro-mundo, mas com qualquer coisa muito fascinante. Alem do comercio, que esta por todo o lado, visitei todas as atraccoes turisticas, incluindo um templo jain todo feito e espelhos... um espectaculo! Ah, e Indore foi provavelmente o sitio na India onde comi melhor... e taaaaaaao barato!
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O noivado do Shoo Shoo
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O meu amigo Taher Ali (Shoo Shoo para os amigos) vai casar-se. Nisso nao ha nada de novo, mas fui convidado para ir tratar do noivado, e nao recusei, claro. Foi uma experiencia, no minimo, interessante. Nao que tenha adorado, mas agora que ja passou, nao esqueco tao depressa. La fui entao com o Shoo Shoo, a mae, o pai e a avo num autocarro pelas estradinhas do Maharastra, quatro horas de viagem ate Chalisgaon, onde vive a rapariguinha. Muito engracada, a miuda. O Ashroft ja me tinha dito que ela era gira e boa rapariga, e confirma-se. Mas a familia... por Ala! O pai era um alcoolico do pior (sim, um muculmano alcoolico, e nao eh o primeiro que eu conheco assim), e se fosse so isso... Nao eh que o senhor tinha em casa um negocio do mais ilegal - vendia alcool aos bebados locais. Ou seja, uma parte da casa estava sempre com pessoal que vinha so para os copos. Para entrar naquela casa era preciso passar por um corredor tao fininho que so dava para passar de lado! E o ambiente era do pior, com ratos por todo o lado... enfim, vou poupar pormenores. Eu e o Shoo Shoo ficamos num hotel, valeu-me isso, e durante os dois dias que la estivemos tratou-se de marcar o noivado e o casamento, e ainda fui visitar uma mesquita onde os muculmanos de toda a India levam as pessoas que estao possuidas por espiritos ou fantasmas. Que filme! So maluquinhos, era o que era, e para garantir que eu nao tinha nenhum espirito dentro de mim, tive de por uma dedada de cinzas na lingua e outra no pescoco... enfim, pra esquecer - ou nem por isso!
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Depois de voltar a Fardapur, onde soube que o Ashroft vai ser pai, meti-me em mais nao-sei-quantos autocarros e cheguei hoje de manha a Bombaim, para os anos do Abbey, que voltou ontem da lua-de-mel.

A caminho de Gorai

Durante a semana do casamento do Abbey, eu e mais alguns amigos dele ficamos num apartamento que a mae dele alugou durante quinze dias, so para nos. Algumas amigas da Luisa ficaram em casa dela. Mas no dia a seguir ao casamento, juntaram-se os dois grupos e fomos todos para uma praia numa ilha a norte de Bombaim, chamada Gorai.
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Esta fotografia foi tirada mesmo antes de embarcarmos no ferry para a ilha, quando compramos alguns camaroes para o churrasco. Da esquerda para a direita temos o Dominic, que eh o irmao mais novo da Luisa; atras dele esta o Steven (tio do Abbey e ca da malta), depois o Abbey, a Luisa e por ultimo o Luis.
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Os pombinhos

Ca estao os dois recem-casados - vou ver se ponho aqui uma foto do casamento sem o Abbey a fazer caretas, eh capaz de ser melhor...
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Outro casorio

No meu passeio por Mandu, o Sachin (segundo a contar da esquerda) desafiou-me a ir ver de perto um casamento local. La fomos para uma aldeia no meio do nada, pouco mais de cinco ou seis casas. Havia um altifalante com a musica aos altos berros, achei que ia encontrar uma festa "ah antiga", mas quando la chegamos nao havia ninguem... so o noivo e familia. Nem a noiva estava la! O rapaz estava vestido como se ve na fotografia, ficou todo orgulhoso de eu ali estar, ofereceu-me um vinho feito la em casa (bahhh!!!!) e depois das fotografias de grupo, fez questao de tirar uma fotografia sozinho, a exibir a sua faca. Quando entrou na casa para ir buscar a faca, eu avhei que ia buscar uma espada ou qualquer coisa, tal era o orgulho na arma... mas quando voltou trazia uma especie de canivete minimo... e eu la tirei uma foto ao rapaz com a sua faca na mao... tao pequena que nem se ve! Mas fica aqui a fotografia do grupo: eu, o noivo (de amarelo) e o Sachin, alem dos curiosos do costume.
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Ganesh

Os templos hindus, tal como o resto do pais, sao do mais colorido possivel. Esta fotografia de Ganesh num templo em Indore mostra bem isso.
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Fardapur

Finalmente consegui apanhar alguem desprevenido em casa do Shoo Shoo. Normalmente, mal saco da camara saltam todos para a minha frente, a fazer poses para a fotografia. Mas desta vez ninguem deu por nada e eu aproveitei logo o momento.
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Em casa do Shoo Shoo

A rapariga da esquerda eh irma do Shoo Shoo e do Ashroft, as outras sao duas sobrinhas. A bebe ao colo eh a coisa mais querida: ao principio tinha imenso medo de mim, porque nunca tinha visto uma pessoa branca. Agora cada vez que me ve esta sempre a dizer adeus e a fazer umas caretas que sao de chorar a rir (ca entre familia, eh uma careta tipo o "burrinho velho" da Madalena).
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Para a proxima mando uma da Barky, a noiva do Shoo Shoo.
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24/01/2005

Sorry!!!

Em primeiro lugar, peco desculpa por estar tanto tempo sem dizer nada. Primeiro foi o casamento do Abbey: uma semana sempre em festa, nao tive nem tempo nem muita paciencia, confesso... mas sobre essa semana falo depois com mais calma. E depois do casamento, fui para Mandu, um sitio fabuloso cheio de ruinas e templos antigos. O lugar eh tao remoto que nao ha internet e os telefones funcionam de tempos a tempos. Adorei, conheci uns gajos porreiros e agora estou em Indore - que ha partida era so mais uma cidade sem interesse nenhum; mas como vim com dois indianos de Mandu, ate tem sido bem giro.
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Nao tenho muito tempo, ha um autocarro a minha espera na estacao... mas prometo que assim que puder mando fotos e ate vos chateio com descricoes mais pormenorizadas destas ultimas 2 semanas. Ate la... fui!

09/01/2005

Corrupcao

A India eh provavelmente o pais mais corrupto em que ja estive. A coisa esta de tal maneira instalada que eh encarada por toda a gente como parte do sistema, e nao acredito que haja quem seja "puro" na materia. Nas cartas de conducao, por exemplo: nao conheco ninguem que tenha feito o exame - todos pagaram para ter a carta sem se chatearem (o que explica, em parte, a conducao na India). Nas praias de Goa, os vendedores pagam 100 rupias por semana (as segundas feiras, ate tem data marcada) ao policia de plantao. Se mandarmos para o ar um numero tao "por baixo" como 100 vendedores so em Baga (acreditem, sao muito mais), eh so fazer as contas, como diria o outro. Sao pelo menos dez mil rupias por semana, so para os policias de Baga, num pais onde o salario medio ronda as tres mil e quinhentas. Sao so dois exemplos, mas aqui a corrupcao esta em todo o lado, ate para garantir um bilhete de comboio... acrescenta-se uma notazinha e esta feita a coisa - mesmo que o mesmo esteja "esgotado", arranja-se sempre um lugar que sobrou por acaso. Enfim... quem sou eu para mudar o sistema de um pais que nem eh o meu? Alem disso, esta fotografia nem sequer demonstra o tipo de corrupcao que eu estava a criticar, mas outra.
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Quem eh que esta senhora pensa que eh para vir mostrar os seus atributos ah juventude indiana? Sera que nao se ve ao espelho ha alguns anos? Oh pra ela em amena cavaqueira com os (antes) inocentes rapazinhos. Estive muito tentado a aproximar-me da depravada e dar-lhe um caldo: oh minha sehora, tenha la juizo!

Que tres!

Eu sei que esta fotografia nao eh muito diferente da outra... as Loucas das Compras sao as mesmas, so muda o rapazinho na fotografia... em vez de um indiano, um portugues! Eu mesmo, ali escondidinho no meio delas, todo sorrisos com uma gadelha enorme (mae, nao se preocupe que ja fui ao baeta). E que tal a minha t-shirt? Foi o meu presente de Natal para mim, eheh, e assim cumpri uma promessa que tinha feito: comprar a t-shirt da selecao de cricket da India. Algo que nao fiz no ano passado e arrependi-me todos os dias desde que sai de Bombaim ate voltar a India.

Shopping madness!!!

As duas meninas da fotografia revelaram-se umas viciadas em compras. Mas com a ajuda do Shoo Shoo, isso acabou por nem ser um grande problema, porque ele la ia dando umas dicas sobre os precos reais, e elas acabavam por comprar a precos bem razoaveis. Quando ganharam estaleca para a brincadeira, declararam independencia e era ve-las todos os dias a chegar a casa com sacos e mochilas, estafadas mas contentes:
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- Jorge... perdemos a cabeca.
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Ao fim de alguns dias, era ver as vendedoras nas suas bancas a chamar a Joana e a Assuncao pelo nome, algumas vinham a correr atras de nos, houve quem fizesse bloqueios de estrada para nao passarmos com as motas! O PIB da India aumentou drasticamente e em Goa ja se fala sobre uma eventual candidatura das nossas meninas a Patrimonio da Humanidade, "porque nunca se viu consumidores assim, e isto deve ser preservado", confessou-me Benedita de Sousa Menezes, que apesar do nome chique eh apenas uma vendedora de pulseiras e bugigangas. E tudo isto por causa da furia consumista das nossas amigas. No dia em que elas se foram embora, todas as lojas de Goa puseram faixas negras nas montras, em sinal de luto e protesto. Algumas pessoas confessaram-me que iam pedir reforma antecipada, porque com o dinheiro que tinham ganho com as garotas, ja se safavam durante umas boas geracoes.

Por as ideias em ordem

Agora que passou a euforia do Natal e Fim de Ano, parece que estou noutro lugar. Nestes ultimos dias o transito em Goa acalmou drasticamente, ha menos pessoas e confusao, finalmente um bocadinho de paz. Com a Joana e a Assuncao de volta a Lisboa e os meus amigos concentrados em fazer algum dinheiro neste ultimo mes de epoca alta, estou a aproveitar para por em ordem tudo o que escrevi nestes ultimos meses. Hoje passei algum tempo na praia, mas a meio da tarde fui para um cyber cafe e demorei-me o suficiente para passar para o computador algumas coisas que estavam escritas so em papel - nao quero correr o mesmo risco do ano passado, quando me roubaram a mochila e perdi muita coisa que tinha escrito.
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Mas voltando ah praia... eh impressionante a influencia que o maremoto teve neste lado da costa. As mares estao todas alteradas, o areal de Vagator esta repleto de algas trazidas pela mare cheia, e a mare baixa esta mais baixa que nunca, todas as praias estao enormes. Baga, Calangute e Candolim tem uma especie de degrau escavado na areia, de pelo menos meio metro de altura!
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E porque hoje eh domingo, bonito-bonito foi ver a invasao de turistas indianos vindos sei la de onde, a fazer o lixo e a barulheira do costume; a tomar banho completamente vestidos ou entao de cuecas; os rapazes a jogar criquete (e alguns futebol, estamos em Goa!) e as raparigas nos seus coloridos saris a brincar ah cabra-cega; as familias a tirar fotografias ah beira-mar; alguns grupos de rapazes a passear ao longo da praia - de maos dadas, aqui funciona assim - para ver as estrangeiras de bikini, alguns de maquina fotografica sempre pronta!
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Amanha volto para Bombaim e vao ser uns quatro ou cinco dias de festa, a celebrar o casamento do Abbey. Dessas andancas falamos depois.

05/01/2005

Goa / Bombaim / Goa

As meninas ja se foram embora. Depois de uma intensa semana em Goa e uma viagem memoravel para Bombaim, acordamos hoje as quatro da manha e fui deixa-las ao aeroporto. E agora estou tambem eu quase de partida... outra vez para Goa, mas desta vez para ver se descanso um bocadinho. E daqui a uns dias... de volta a Bombaim, para o casamento do Abbey. Esta a tornar-se um bocado monotona, esta rotina, eheheh.

04/01/2005

Trekking

Os dias passados perto de Madikeri foram de uma paz enorme e muito exercicio fisico. Os passeios entre plantacoes de cafe e arrozais, o escalar das montanhas e um banho ao fim do dia que eu nunca hei-de esquecer, so com uma vela a iluminar, a agua aquecida numa lareira dentro da propria da casa de banho... e o cheiro a fumo. Mas nesta fotografia o ar nao podia ser mais puro, e felizmente ate estou lavadinho e a cheirar bem, apesar do esforco fisico.

Om Beach

Palavras pra que?

EU TENHO ORGULHO, ORGULHO...

...em ser uma vaca!

Não é novidade nenhuma: as vacas são sagradas neste cantinho louco do mundo. E também não é a primeira vez que falo de tão santo animal aqui no blog. Mas achei por bem partilhar esta fotografia tirada em Om Beach, ao fim da tarde. Há qualquer coisa de divino na pose, de sagrado no contraste da silhueta negra com o céu.

Ou então é do meu estado de espírito, depois de um dia tão bem passado neste bocadinho especial de Índia. 

O Corpo

De dez em dez anos la mostram em Velha Goa as Sagradas Reliquias de Sao Francisco Xavier - conhecidas aqui pelo "Corpo". Como portugueses e catolicos, nao podiamos deixar escapar esta oportunidade, ainda mais porque se diz que deve ser a ultima vez que o mostram. Eu ja tinha ouvido dizer que havia uma media de dez mil pessoas por dia para o ver, mas quando la chegamos nem queriamos acreditar. Filas colossais, estivemos horas a torrar ao sol e tudo para dar uma espreitadela muito rapida ao santo. Mas valeu a pena, e com tanto tempo de espera provavelmente ja ganhamos um cantinho mais especial la em cima, eheheh.
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Giro-giro foi ver a quantidade de gente capaz de tal sacrificio por um santo que nem eh da sua religiao - sim, porque a maioria do pessoal a fazer a Fila Indiana nem eram catolicos, mas hindus. E ate muculmanos vimos! Um exemplo de fraternidade entre religioes que devia ser seguido por tantos outros lugares pelo mundo fora... muitos ate se auto-intitulam de "Primeiro Mundo".
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Mas aqui fica uma amostra muito pequenina da fila... muito pequenina mesmo! Ah, e confirmei o que ate agora nao passavam de relatos: o dedo grande do pe nao esta la!!!

Pontapes na gramatica

Os indianos sao especialistas nos erros de ingles. Esquecam os "Understands" e outros delirios algarvios e venham dar uma vista de olhos na India. No outro dia vim um placard muita giro ah porta de um restaurante, mas nao tinha a maquina comigo.
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Em vez de:
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INDIAN FOOD
ISRAELI FOOD
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o tal placard tinha escrito:
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INDIAN FOOD
IS REALLY FOOD
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Para que nao haja enganos!

Mysore

Vivia bem, o Sultao. Este eh o Palacio de Mysore, a fotografia nao faz justica a dimensao da coisa mas da para ter uma ideia. E por dentro era de chorar, de uma excentricidade que so mesmo sultoes e marajas podem ter.

01/01/2005

2005!

A passagem de ano foi um espectaculo, com muito fogo de artificio ao longo da praia, musica trance durante toda a noite... e como dizem os entendidos, "noites alegres, manhas tristes". O primeiro dia do ano comecou devagar, nao fizemos nada ate agora - so praia. Esta imenso vento e o mar esta extraordinariamente bravo, o que deve ter a ver com o maremoto, porque as mares agora estao todas alteradas. Ontem de manha falou-se num alerta de maremoto em Goa, claro que era alarmismo desnecessario, mas houve mesmo quem se tivesse ido embora. Nao aconteceu nada, mas o mar subiu, esta bravo... enfim, parece a Praia Grande, mas mais quente (o que optimo para nos, ficamos horas no banho).
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Voltando ao maremoto - peco desculpa, mas eh inevitavel - os numeros continuam a aumentar, o que comecou por parecer um pesadelo esta a transformar-se num daqueles filmes-catastrofe de Hollywood. Mas sem efeitos especiais e finais felizes. Cento e cinquenta mil mortos... nao ha palavras.
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E assim comecou 2005.