29/09/2015

SÃO REFUGIADOS (parte 2)

Depois daquele primeiro contacto com os botes na água e os refugiados à espera, passámos a tarde a discutir o assunto. Tudo o que vem de trás, o que estava-se-mesmo-a-ver-que-ia-acontecer, as consequências, os perigos, os horrores, o drama humano e social.

Por um lado tínhamos noção que aqui na Turquia, nesta fase do processo, não estávamos em posição de interferir ou, de certa forma, tentar ajudar. Com alguma ingenuidade começámos a planear ir a algum supermercado comprar bóias e braçadeiras para as crianças. Fazia-nos alguma confusão pensar que estas pessoas gastam tanto dinheiro e energia a pensar no bote que os leva para "o outro lado", mas que nem se dão ao trabalho de levar bóias. Mas quando contámos a ideia ao dono do restaurante, ele riu-se e explicou-nos que a) muitos têm bóias e às vezes deitam-nas fora para ter mais espaço nos barcos e b) é preciso pagar mais para levar um colete salva-vidas, por exemplo.

"Além disso, estão à espera de encontrar os refugiados aí pela rua para lhes darem as braçadeiras? Eles estão escondidos, como aqueles naquela quinta, e estão sob o cuidado dos traficantes. Vocês não querem meter-se com os traficantes, certo?"

Okay, foi ingénuo pensar nisto.

E algumas horas depois, como que para confirmar aquilo que o senhor nos tinha dito, apareceram a boiar na água... quatro bóias pretas, tipo câmaras-de-ar. Pois.


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