24/06/2013

PERDIDOS... NÓS?!

"A roda enfiou-se na areia..."

Larguei a minha bicicleta e fui a correr até perto do meu amigo. Estava sentado no chão, de cabeça baixa mas a rir baixinho, perplexo com o que lhe tinha acabado de acontecer. No entanto, era mais o cansaço que o dano. Tinha esfolado um dos joelhos e doía-lhe um braço e o pulso, mas percebi logo que não era nada de grave.

E apesar de apetecer descansar e recuperar forças - porque esta queda era um claro sinal de que estávamos a precisar disso -, não tivemos outra opção senão prosseguir. Como já disse antes, o sol tinha desaparecido e a temperatura estava a descer. Não nos podíamos "dar ao luxo" de não encontrar uma estrada. O mais depressa possível, se faz favor.

Tinha visto umas árvores ao longe e foi para elas que nos dirigimos. Embrenhámo-nos numa vegetação cada mais densa, convencidos que tinha de haver alguma coisa ali, nem que fosse uma horta, um poço, qualquer vestígio de actividade humana.

E o instinto provou estar certo: um pouco mais à frente encontrámos um carrinho de mão e umas tábuas, aparentemente abandonados nas ervas. Continuámos e vimos uns baldes. E uma horta! E algures... mais à frente... obrigado, sorte: uma casa. Um cão a ladrar. Uma criança a brincar perto de um carro. Estamos salvos ;)

Perguntei em tom de amigalhaço onde ficava a estrada para San Pedro, como se nada fosse, como se nem estivéssemos com sede e cansados e um-tanto-ou-quanto desesperados. O miúdo apontou para um caminho que ia dar a outra casa... e outra... e à medida que avançávamos, apercebemo-nos que estávamos numa pequena aldeola de cinco ou seis casas. Um velhote chamado Samuel juntou-se a nós e assim fomos à conversa, entre muros de lama e pedras, com um cão muito simpático sempre a correr à nossa volta, o senhor estava muito surpreendido por ver um indiano, uma pessoa de tão longe... e eis que de repente surge uma estrada - a estrada "principal"!

Ao fundo, do lado direito, vimos no topo de um pequeno monte a tal igreja que fora, desde o princípio do passeio, o nosso objectivo. Para a esquerda ficava San Pedro.

"Deixa lá a igreja em paz, já vimos muitas nesta viagem. E outras virão. Vamos para casa."


Dito e feito. Despedimo-nos do Samuel e pé no pedal, que se faz tarde. A estrada agora seguia ligeiramente a descer, só não fomos mais depressa porque o Bunty estava cheio de dores. Mais à frente, passámos junto à entrada da Garganta del Diablo, onde começara esta longa e árdua aventura de uma tarde. Cruzámo-nos com um grupo de cinco ou seis hippies locais, que caminhavam descalços com mochilas carregadas sabe-se lá do quê, guitarras debaixo do braço e garrafas de vinho. Iam passar a noite no desfiladeiro. Cumprimentámo-los e continuámos pela estrada fora, atravessámos os mesmos riachos de antes - e quando finalmente chegámos a San Pedro de Atacama, já era noite cerrada.

O rapaz da loja das bicicletas estava preocupado connosco - achava que nos tínhamos perdido, algures no deserto.

Perdidos... nós?!

Que ideia... ;)

E porque um dia intenso como o de hoje não podia acabar sem mais uma emoção forte: quando chegámos ao hotel, a menina da recepção veio a correr ter connosco, desta vez menos sorridente, a dizer que tinham ligado várias vezes da agência de viagens e que precisavam de falar urgentemente connosco.

E agora?! Não me digam que vão cancelar o passeio à Bolívia... só nos faltava mais esta.

1 comentário:

Lv disse...

Eu não acredito ... Só faltava mesmo isso.
Queremos a continuação urgente :)