Que sensação estranha, a de estar aqui sentado, em frente a um teclado e um ecrã, neste contexto. Um quarto de hotel em Kuala Lumpur, no rescaldo da trigésima segunda - e última - edição da "Indochina com Jorge Vassallo".
Não sei por onde começar. Não sei que palavras usar, que sequência dar ao turbilhão de ideias que sacode e varre o mundo em meu redor.
Por um lado: nostalgia.
Revisito sorrisos e lugares, nove anos de peripécias e partilha; desta colorida, atribulada, inesquecível viagem que é Viver. Acabou a Indochina.
Por outro: alegria.
Das mil e uma aventuras, guardo no coração as melhores e levo na bagagem algumas menos agradáveis. Faz parte. Fez de mim quem sou, também. E os próximos passos são a consequência inesperada e ao mesmo tempo óbvia daqueles que dei ao longo destes nove anos.
Acabou a Indochina.
Não sei se já interiorizei por completo, em toda a sua dimensão, em todo o seu peso, esta frase.
Tenho tempo. Não é num só post que vou arrumar a questão. Tenho tempo, eu sei. E tenho tanto para arrumar, ainda, neste arquivo louco e caótico de personagens e paisagens, de histórias contadas e outras ouvidas; de sabores, contrastes, texturas e aromas; de princípios e meios e fins; de temperaturas e velocidades várias, dimensões que desconhecia existirem, luzes e sombras, altos e baixos, amargos e doces... e picantes.
Nove anos. Trinta e duas edições da Indochina, onze da Birmânia, seis da Turquia, cinco Transiberianos e quatro viagens especiais de fim-de-ano. Not bad.
Mas é altura de abrandar. Já o é, há algum tempo - daí ter vindo a fazer, a cada ano, nas últimas três temporadas, menos viagens com grupos. Faz parte. Afinal, quando finalmente voltei a alugar casa em Portugal, no ano passado, ao fim de quase quinze anos sem poiso, já a balança começava a pesar um bocadinho mais para "o outro lado".
E quando larguei a editora e arrisquei-me numa edição de autor... algo já tinha mudado.
Não vou parar de viajar. Não vou parar de escrever. Mas vou mudar um bocadinho a dinâmica. É como aqueles anúncios a shampoos que mudam de embalagem: novo rótulo, a qualidade de sempre. O mesmo conteúdo. Eu continuo Eu.
Um post não chega, realmente. Que sensação estranha. Tanto que apetece escrever. E, ao mesmo tempo, não apetece nada.
Escrever no blog... há tanto tempo que não o fazia. Sem ensaios nem textos trabalhados: só eu e o teclado debaixo dos meus dedos. Já tinha saudades disto. Há dois anos que praticamente não "passo aqui". Isto tem de mudar. Tem de mudar. Isto vai mudar.
E por falar em mudar: a paisagem à minha volta, a paisagem por dentro, os olhos que apreciam uma e outra. Tanto mudou.
Nove anos.