14/01/2014

SHUTDOWN RATCHAPRASONG

Deixemos a bola com quem sabe da bola, e voltemos por agora a Bangkok, onde continua o Shutdown. Ontem o dia e a noite passaram sem incidentes de maior. No jornal de hoje soube que um grupo "independente" tinha ocupado uma ponte aqui ao pé, mas nem este tipo de acções não programadas foram reprimidas. A ocupação está a decorrer com alguma "normalidade", se é que posso utilizar esta palavra aqui.

Uma das coisas que me surpreendeu mais, nas voltas de ontem, foi a aparente quase-ausência de autoridades. Não se vê exército e mesmo os polícias são muito raros. Ou, pelo menos, discretos. Isso contribui para que a multidão esteja mais descontraída, não se sente reprimida ou constrangida - e acaba por funcionar bem. Claro que podemos sempre analisar isto de outra forma: e se alguma coisa acontecer, onde estão aqueles que supostamente deviam proteger as pessoas, ou resolver o que houver para resolver?

Enfim: questões há muitas. O certo é que correu tudo bem. Podia ser diferente. Podia haver canhões de água e balas de borracha, polícia anti-motins e o aparato que já vimos tantas vezes em tantos lugares. E correu melhor? Resolveu alguma coisa? Como disse: questões há muitas. E respostas também. Mas tantas vezes complicamos o que não tem de ser complicado. ..

(Estou neste momento a ouvir uma ambulância ao longe, banda sonora comum em qualquer grande cidade - mas que não deixa de ser inquietante, neste contexto...)

Voltemos ao relato de ontem. Do Lumphini Park resolvi ir a pé até Ratchaprasong, um cruzamento entre duas grandes vias de comunicação da cidade onde supostamente estaria mais um dos sete palcos principais do Shutdown. Ficava ali perto, a cerca de dois quilómetros, por isso atirei-me à estrada - eu e centenas de pessoas que, pelos vistos, andavam entre uma e outra manif.

Mas nem andei muito: cem metros e de repente um pequeno autocarro que estava a "fazer piscinas" parou mesmo à minha frente. Ratchaprasong?, perguntei. E entrei. Sempre me poupava um bocadinho. Dois minutos depois saí para o meio de mais uma multidão. Avancei na direcção do "coração" da manif... e foi aí, do topo de uma passagem "aérea" com vista para milhares e milhares de pessoas a cantar pela liberdade, com bandeiras a dançar sobre o colorido das cabeças e chapéus de sol, que fiquei irremediavelmente rendido à experiência que estava a viver. Juro que senti os olhos a ficar quentes, um nó na garganta que não me deixava falar, um aperto no coração que não conseguia explicar.

Fotos feitas, energias repostas e toca a andar para o próximo spot. Siam Square não fica longe - que tal mais um passeio? ;)









Nunca fui ao Mexefest... mas pelo que já ouvi falar deste festival em Lisboa, onte tive a sensação de estar num evento desse género. Mas em vez de concertos - ia de manif em manif.

2 comentários:

lu*a disse...

Obrigada pelo relato e pelas fantásticas fotos!

Clara Amorim disse...

Que grande reportagem...!