23/12/2022

EU NEM ERA PARA ESTAR AQUI

Aconteceu há um ano: cinco dias antes de partir para o Sudeste Asiático, onde ia celebrar o Ano Novo e viajar com três amigas, a Tailândia amuou e “quem está, está; quem não está, estivesse” – e voltou a fechar as portas ao Mundo.


Eu convencido que vaificartudobem era um hashtag fora-de-moda e a pandemia já não manda aqui – e eis senão quando... catrapum, mais um trambolhão. E agora? Vamos para onde? Se é que vamos de todo. Lançámo-nos num frenesim de cancelamentos e alterações, noves-fora-nada e decidimos ir para o México, onde eu nunca tinha estado... só que de repente catrapum outra vez, no dia a seguir ao Natal acordei enjoado e cheio de dores de cabeça, deve ser da ressaca e tal, mas afinal não, pois no dia seguinte sentia uma amêndoa entalada na garganta e nunca tinha sentido tal coisa, tu não me digas que, e deixa lá experimentar uma zaragatoa... ooops... dois riscos. Estou feito.

 

(A história está contada dois posts abaixo... é o que dá, um ano sem pôr nada aqui.)

 

2021 acabou de forma inesperada, portanto: em casa, embrulhado em cobertores e encharcado em remédios, a ver séries sobre tacos no Netflix, à procura de conteúdo credível acerca da civilização Maia... porque nem o cabrão do Omicron me ia fazer desistir do México!

 

Ou seja: quando no dia 4 de Janeiro aterrei em Cancun, depois de cumprida a quarentena necessária, não só me corria na pele, cabelos e unhas aquela electricidade típica de quem está a começar uma viagem num lugar novo, como me sentia aliviado por deixar para trás a pandemia – e se havia uma frase que não me saía da cabeça era esta: “eu nem era para estar aqui”.

 


Realmente: as cambalhotas da vida podem ser, muitas vezes, o gatilho que faltava para recuperar a criatividade, o optimismo... e até a esperança. Foi claramente o que aconteceu no México. Duas semanas antes de aterrar, sentia-me meio bloqueado, apesar do entusiasmo de ir para a Tailândia. E depois já não era para ir para a Tailândia. E depois o Covid. E depois o México. Um país que estava no meu Top 5 há muitos anos, mas que ia deixando para “outro dia”.

 

Foram duas semanas de introdução ao México, em Janeiro. Depois atravessei uma fronteira e passei mais quinze dias a explorar a Guatemala – que viagem! E em Fevereiro voltei ao México e foi quase um mês a conhecer mais lugares e pessoas e comidas incríveis.

 

Que bonito gatilho, este! Não só porque, de tão entretido que estava com tudo à minha volta, praticamente me esqueci de que a pandemia ainda existia; mas também porque o facto de estar rodeado de novidades desbloqueou alguma da inércia que vinha sentindo a instalar-se nos últimos tempos – e comecei a escrever uma série de coisas, a planear próximos passos, a recuperar confiança, ânimo e vontade de mundo e de tudo-e-mais-alguma-coisa.

 



2022 começou neste registo... e assim continuou. Lancei o meu quizz de viagens e voltei para Portugal no fim de Fevereiro. A meio de Março, o Rafael Polónia desafiou-me a levar um grupo da Landescape às Filipinas, pois a Katy Deodato (líder habitual desta viagem) não podia ir. Estava tão inspirado com o mood do arranque do ano que nem vacilei – e, em Abril, voltei pela primeira vez à Ásia, desde que tive de dar-de-frosques da Índia, em Março de 2020. Passei quase um mês nas Filipinas – e já que estava por estas bandas, segui viagem para a Indonésia, em Maio. Acabei por passar aqui, ao todo, dois meses deste ano intenso. E pelo meio fui dar uma vista de olhos a Bangkok, e outra a Kuala Lumpur, e outra ao Camboja e mais uma ao Laos. Tudo “sítios do costume”, para mim, mas aonde me soube tãããão bem voltar, depois do caos dos dois anos anteriores.

 

Voltei a Portugal no início de Agosto... mas por pouco tempo, afinal as cartas estavam lançadas para o resto do ano. Turquia, Grécia, Itália... a todos fui dar uma volta, entretanto. E cá estou na Índia, como já deves ter percebido. Também não era suposto, pelo menos agora. Era só para ser para o ano, mas outras cambalhotas precipitaram esta reviravolta – e aqui estou. Por pouco tempo, curiosamente, pois vou passar o ano ao Sudeste Asiático, desta vez é que é.

 

Aterrar em Bombaim, há cerca de uma semana, foi (na minha cabeça) o último passo nesta caminhada de vingança covidiana – e que arruma, de uma vez por todas, , o tema “pandemia”... ou assim espero, inshallah, bate três vezes na madeira.

 

Assim sendo, Boas Festas para todas e todos e todes – e enquanto não me lanço com os relatos das voltas actuais, dá licença que vou partilhar aqui uma série de posts com uma espécie de resumo, ou balanço, ou show-off – diz-me tu, depois – deste ano colorido, complicado, comovente e cheio de mundo.

 

Nem que seja porque, afinal, eu nem era para estar aqui.




21/12/2022

SERÁ DESTA?

Ando há não-sei-quanto tempo a anunciar aos meus botões que vou ser mais disciplinado, organizar ideias e retomar o blog, voltar a partilhar aqui as minhas voltas, os pensamentos e as descobertas, surpresas, desencontros, insólitos – resumidamente, todas as idas-e-vindas e os entretantos pelo meio.

Era para ter sido quando fui para o México e a Guatemala, no início deste ano. Depois prometi a mim mesmo que ia ser nas Filipinas, em Abril. E a seguir teimei que a acção no blog retomava quando estivesse a viajar na Indonésia, em Maio. E lá repeti os votos, pela 873ª vez, antes de partir para a Grécia, em Setembro...

Deu no que deu. Nem um post, este ano.
 
É que pouco parei em 2022! Depois de ano e meio em modo #vaificartudobem e um trimestre a acreditar que #jáestátudobem... toma lá zaragatoa e surpresa, dois risquinhos para ressacares o Natal – e, que remédio, acabei 2021 em casa, primeiro a contar os segundos até ao Ano Novo, e depois os minutos até ao dia 4 de Janeiro.
 
Mal completei os 10 dias da praxe, enfiei-me num avião mais depressa do que a zaragatoa entrara na minha narina; e cruzei todo um oceano... para chegar a um lugar onde nunca tinha estado na vida. E há vingança melhor do que esta?
 
Vingança – sim.
 

Comecei 2022 no México, onde nunca antes havia pousado os pés. Depois desci para a Guatemala, outra novidade no meu atlas pessoas. E, como já referi, o resto do ano foi todo um corrupio de voltas e reviravoltas. Decidi dizer "Sim!" a todas os desafios e viagens – assim, com ponto de exclamação – e acabei por ter um ritmo muito próximo daquele em que vivi nos anos mais intensos da minha fase Nomad.
 
Oito meses!
 
Viajei durante oito dos doze que fazem deste ano um ano.

Nada mau, hem? E, aqui entre nós... 2023 também promete. Mas cada tempo a seu tempo. Ainda estamos em 2022 e aterrei há poucos dias na Índia, de onde tive de dar-de-frosques quando rebentou o coron’Apocalipse.
 
(Se leste o terceiro volume da minha trilogia indiana, sabes ao que me refiro.)
 
Confesso que o facto de estar a regressar ao lugar/momento que ficou interrompido, so to say, tem para mim um simbolismo forte. É o ciclo que se fecha, uma fase que termina. É o renascer da fénix. A bonança depois da tempestade. E como se não bastassem estes motivos, pertinências e esoterismos, parece-me mais do que lógico finalmente deixar-me de tretas e recuperar de uma vez por todas o blog.
 
Vamos dar umas voltas?